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Destaque Violência contra mulher

Registro de violência doméstica cresce 51% em 2021, comparado com o mesmo período de 2020

A violência contra mulher não sai de pauta. O que já era preocupante vem se agravando desde a pandemia do Covid 19. Notícias de feminicídio estão sempre ocupando as páginas dos jornais, em um país que mata mulheres só por serem mulheres. No Rio Grande do Norte, um dos estados mais violentos para as mulheres, os episódios de violência doméstica continuam em alta.   

Dados referentes ao somatório dos registros de Lei Maria da Penha para os crimes de ameaça, calúnia, descumprimentos de medidas protetivas de urgência, injúria, lesão corporal, vias de fato, estupro, estupro de vulnerável e violência doméstica no ambiente familiar contra a mulher mostram um aumento de 51,1%, num comparativo entre 2020 e 2021. Nesses números estão incluídos casos de violência doméstica praticados contra mulher, não só pelo parceiro, mas, também, pelos familiares.

Os números foram repassados pela Secretaria de Comunicação Social da Polícia Civil (Secoms). Conforme os registros de janeiro a setembro de 2020, foram 2.945 casos de violência doméstica. Nesse mesmo período de 2021 (janeiro a setembro), foram 4.421.

Variação Mensal 2020 2021 Variação
Janeiro 346 495 43,10%
Fevereiro 343 455 32,70%
Março 314 384 22,30%
Abril 296 391 32,10%
Maio 306 419 36,90%
Junho 234 422 80,30%
Julho 330 568 72,10%
Agosto 403 596 47,90%
Setembro 373 691 85,30%
Total Geral 2945 4421 50,10%

Quando afirmamos que o machismo mata, reconhecemos que machismo e feminicídio estão intimamente relacionados. Nos últimos quinze dias, dois feminicídios foram registrados no Rio Grande do Norte. Um em Pedro Velho, interior do RN, no último dia 28 de outubro; e outro mais recente em Parelhas, também no RN, na segunda-feira (07/11). Em ambos, os ex-companheiros não aceitavam o fim do relacionamento. Um fato que já se tornou comum no Brasil: mulheres sendo assassinadas simplesmente porque terminam um relacionamento com um homem que se acha dono dela e não aceita o fim.     

Érica Canuto, promotora de Justiça do RN, em live sobre “A violência contra mulher e os desafios para efetivação da Lei Maria da Penha”, realizada pelo Núcleo de Estudo da Mulher – NEM/UERN (evento disponibilizado no canal do YouTube do NEM), destaca a medida protetiva como o centro da Lei Maria da Penha e uma das principais formas de interromper o feminicídio.

A Lei Maria da Penha veio para evitar o feminicídio. A ordem judicial que determina o afastamento tem uma força grande. Com base na experiência da promotoria em que eu trabalho, 95% dessas medidas protetivas, quando são recebidas pelos homens, elas são voluntariamente cumpridas. Essa medida protetiva tem força, ela funciona. A gente tem que repetir isso. É uma conquista, é uma Lei boa, é uma Lei que funciona, que tem salvado vida de mulheres”, destaca.

Érica explica ainda que para os 5% que não cumprem voluntariamente a ordem judicial, existem outras alternativas como a Patrulha Maria da Penha, a Casa Abrigo Estadual, que fica em Mossoró, a de Natal que atende também Parnamirim. Além disso, tem o botão do pânico, que atua em binário com a tornozeleira eletrônica, e por último tem a prisão, caso o agressor descumpra o afastamento e já tenha sido advertido.

Esse ano a Lei Maria da Penha fez quinze anos. A promotora destaca, nessa mesma live, alguns desafios a serem enfrentados mesmo depois desses quinze anos de aplicação da Lei Maria da Penha. “A gente precisa investir mais na prevenção primária, mais em educação de gênero, a gente precisa falar isso nas escolas, nas fábricas, nos bairros, em todos os recantos. A gente precisa falar sobre gênero, sobre essa desigualdade, sobre todas as facetas da violência que atinge a mulher”, elenca.

A interiorização da Lei também foi uma necessidade apontada pela promotora. Já que os serviços em sua maioria ficam concentrados na capital e em Mossoró, que é a segunda maior cidade do Estado, enquanto as mulheres de cidades do interior ficam desprotegidas. “Eu aposto nos serviços regionalizados. Estamos vivendo um momento em que devemos pensar que nossa aposta não pode ser só em delegacia e justiça, sistema de segurança pública e de justiça. Mas também incluir o sistema de assistência. A mulher precisa ser ouvida, precisa resolver o divórcio, a pensão alimentícia, ela não vai conseguir resolver tudo isso se não tiver assistência. A gente tem que investir nesses serviços como nos centros de referências regionalizados. Essa mulher precisa de apoio para sustentar a denúncia que ela fez.” Érica ressalta ainda que a distância de uma mulher para um serviço de acolhimento é grande, além dos sentimentos de insegurança que acometem essas mulheres nessas situações. A importância de fazê-la confiar nos serviços vai além de só fazer um relatório e encaminhar a denúncia.   

 

Sobre as formas de violência doméstica e familiar contra mulher  

 A Maria da Penha reconhece cinco tipos de violência contra mulher: física, psicológica, sexual, moral e patrimonial. Segundo o texto da Lei, a violência física  é entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; a violência psicológica, como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; a violência sexual está relacionada a qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; a violência moral é qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

 

Delegacia Virtual como um dos canais de denúncia

A Delegacia virtual (Devir) da Polícia Civil, disponibilizada desde 2020, permite a realização de boletins de ocorrência pela internet 24h, inclusive é um canal pelo qual pode ser feita a solicitação da Medida Protetiva de Urgência. 

O acesso à Delegacia para registro de Boletim de Ocorrência pela internet é feito pelo site da Polícia Civil. Na Devir, as mulheres fazem o registro inicial e depois são chamadas à delegacia para os esclarecimentos necessários e para serem ouvidas. Apesar de já ter sido trabalhada a divulgação, a Secoms reconhece que ainda é um canal pouco utilizado.

Falta de investimento no momento em que a violência se agrava

O governo Bolsonaro tem sido marcado por sucessivos retrocessos no que diz respeito às políticas públicas voltadas para as mulheres. A falta de investimento em programas e ações, num período em que os casos de violência doméstica e feminicídio mais cresceram, num período em que houve um aumento das dificuldades financeiras, principalmente nas famílias monoparentais chefiadas por mulheres, só tem agravado a situação de violência.

Pesquisas divulgadas recentemente mostram que o governo federal registra o menor investimento em programas voltados para as mulheres desde 2015.  

Com os retrocessos, foram as políticas públicas voltadas para as mulheres as mais impactadas. A redução dos repasses orçamentários afetaram diretamente a segurança, saúde e assistência social. Investimentos que chegariam além das Casas Abrigo, aos Centro de Referência a Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) que, também, atuam no enfrentamento de combate à violência contra mulher.

Para mais informações sobre os impactos sofridos diretamente pelos equipamentos que atuam na violência contra mulher em Mossoró, procuramos informações da Secretaria de Desenvolvimento Social, através da assessoria de comunicação, mas não conseguimos o levantamento que precisávamos.

A reportagem solicitou, via whatsapp da assessoria de comunicação, informações do tipo: se esses cortes que vinham do Governo Federal afetaram as casas abrigo, os CRAS, CREAS e toda a rede de proteção. Se comprometeram o trabalho desses equipamentos e de que forma, mas até o momento não obtivemos respostas. Encaminhamos a demanda dia 21/10, o assessor disse que havia enviado a demanda para o secretário; dia 27 buscamos uma previsão, fomos informados de que não tinha previsão. Novamente buscamos informação dia 29, e não mais responderam.

 

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A cada dia

“Disseram que um dia
Você seria grande garota,
O mundo despertaria para você
Como o sol toda manhã.
Ao abrir os olhos,
Surgiria em sua face
O sorriso alegre
Como a brisa do mar sereno.
E assim, a cada dia,
Sem observar fielmente
A contagem dos ponteiros
Apenas seguindo-se
No espaço abstrato,
Observa a realidade
Enche o peito engrandecendo
O coração, que já é enorme,
Segue para mais um dia,
Para viver como se não houvesse
Amanhã..”

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Tiraram a fofoca de nós

Texto de Juliana Marinho Pires – jornalista e terapeuta holística.
Hoje eu queria falar sobre um assunto que a maioria de nós não percebe. Nascemos em uma Era em que não entendemos mais o mundo a partir da nossa perspectiva como mulheres, mas sob um olhar mastigado com dente podre, massacrado, hiperventilado de julgamentos, de andanças por caminhos tortos, de servilismo e ofuscamento. Estamos vendidas, ou melhor, compradas, por um patriarcado aliado ao capitalismo (os dois andam de mãos dadas desde sempre); dueto vil, hipócrita, mesquinho.
Era uma vez mulheres que se encontram em tabernas na antiga Bretanha, lá por volta de 1200. Falavam sobre diversos assuntos domésticos e públicos: umas davam conselhos as outras e emitiam opiniões sobre as diversas situações do cotidiano que suas amigas viviam.  Mais do que isso, elas se inteiravam do que as outras mulheres viviam, situações distintas das delas, e assim entendiam a diversidade do mundo, as nuances das relações, de cada família, dos povoados onde moravam, da essência humana.
Corta a cena: vamos para as escravizadas no Nordeste brasileiro nos idos do século XVII lavando roupa na beira do rio. Lá era, quiçá, o único lugar e momento em que elas estavam sem vigilância e sozinhas, uma certa pseudo liberdade controlada . À beira desse rio, surrando as mãos de tanto esfregar tecido, elas fofocavam, riam, conversavam, choravam; partilhavam o que viviam e contavam também o que acontecia a sua volta: uma conhecida do mercado, a sinhá que passou algum aperto, a vida dura da extração de cana-de-açúcar…enfim, mazelas e anedotas da vida daquela também pseudo sociedade que as cercava.
Vamos cortar para mais uma cena: senhoras da elite francesa moram no Vietnã, que, não tão antigamente assim, no séculos XIX e XX era Indochina, parte do império francês na Ásia. Elas se reuniam para tomar o chá da tarde em uma confeitaria francesa em Saigon. Nessa época, o patriarcado e o protagonismo masculino forjado pelos homens brancos de regiões ditas poderosas do mundo já vigorava com força – mal saberíamos naquela altura que a situação ia piorar, e muito -, mas ainda assim essas mulheres se encontravam, proseavam sobre seus casamentos, sobre o calor da região, sobre maternidade, sobre suas criadas malcriadas. Trocavam receitas, riam, choravam e desabafavam, ainda que frivolidades do próprio cotidiano.
Fofoca, até algum momento, era um ato libertador quando as mulheres se expressavam livremente sobre seus afetos e seus desafetos, sobre seus sentimentos, e também sobre a sociedade em que viviam; traçavam paralelos com a vida dos outros para entender a sua própria. Assim também, elas podiam se ajudar, se empoderar juntas, criar discursos de poder e expandir suas ideias. Uma dava segurança para outra e não se percebia mais só. Essa é a origem da fofoca.
Segundo a autora italiana Silvia Federici, em seu livro “A história oculta da fofoca”, o termo “gossip”, fofoca em inglês, originalmente significava “God parent”, uma espécie de madrinha ou padrinho, alguém com quem você poderia estar e contar. Quando olho agora no dicionário de português a palavra fofoca, lá diz: dito cheio de maldade, mexerico; aquilo que se comenta com o intuito de causar intrigas; conversa sem fundamento, e por aí vai.
Traduzido recentemente por fofoca, gossip é mais um dos conceitos distorcidos ao longo de séculos de patriarcado, que como a própria Silvia diz, narrar a história de palavras como essa que “são frequentemente usadas para definir e degradar as mulheres é um passo necessário para compreender como a opressão de gênero funciona e se reproduz”. Afinal, as mulheres são aquelas, nas piadinhas cínicas machistas, que fofocam, que tramam, que falam da vida dos outros, que se metem em tudo, que conspiram. Os homens, ó pobres seres, são objetivos, éticos, frios, concisos, sintéticos, desinteressados, eficientes. E de que esses rótulos  disfarçados de realidade nos serviu? Para criar separação e guerra entre nós, mulheres, e diminuir nossos grandes atributos.
Já ouvi de algumas pessoas que sou fofoqueira, já até vesti essa carapuça algumas vezes, de maneira inconsciente, entendendo que não fazia sentido, mas sem saber exatamente o porquê. Precisei desconstruir muita coisa dentro de mim para entender que adoro saber das histórias alheias e contar as minhas, bem diferente da fofoca aplicada para enfraquecer os encontros inspiradores e de ajuda mútua de mulheres e suas trocas profundas.
Não tenho nada a ver com a vida das pessoas, mas me interesso genuinamente por elas, até por quem eu não conheço. Perceber isso como uma virtude em mim foi libertador e me liberou de muitos julgamentos internos e autopunição. Isso a partir de muito autoconhecimento, do olhar para dentro, do me permitir ser quem eu sou de verdade e assumir minha identidade real. Quero resgatar o conceito primitivo de fofoca sem culpa. A época de ser reprimida e distorcida passou.
Um salve a todas as mulheres taberneiras, lavadeiras, madames e suas criadas! Vocês abriram os caminhos pra mim.
*Legenda da ilustração: *Ilustração publicada em 1894 em uma revista britânica da época. A arte retrata um tenebroso objeto de tortura colocado em mulheres consideradas “inoportunas”, “rebeldes”, suspeitas de bruxaria. O objeto de ferro travava a língua das mulheres e as impedia de falar. Muitas eram conduzidas em praça pública  para “servir de exemplo” à sociedade (arcaica e misógina).
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Ekarinny, cientista mossoroense, ministrará palestra em evento nacional

A estudante de biomedicina, Ekarinny Myrela de Medeiros, 21 anos, mostra que ciência é coisa de menina. Uma inspiração para outras jovens cientistas, ela se prepara para, nesta sexta-feira (5), participar do VI Congresso Nacional de Pesquisa e Ensino em Ciências (CONAPESC) como palestrante. “Eu vou participar do Webinário 02 que acontecerá no primeiro dia do Conapesc com o tema: Jovens na ciência: o futuro é hoje”, explica.

As desigualdades de gênero na ciência brasileira ainda são evidentes. Embora sejam perceptíveis as transformações em relação à posição das mulheres na ciência, com avanços significativos no que diz respeito à inserção e à participação das mulheres no campo científico, é evidente a necessidade de superar as desigualdades.

Graduanda de biomedicina pela FACENE-RN, Ekarinny desenvolve projetos na Iniciação Científica Júnior desde 2016 na Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA). Ela conta que entre 2016 e 2019 participou de diversas feiras de ciências nacionais e internacionais, sendo contemplada com o quarto lugar em medicina translacional na Intel ISEF no ano de 2019. Além disso, possui experiência na produção de polímeros biodegradáveis, atualmente com atividade antimicrobiana frente a patógenos humanos e é voluntária do programa Ciência para Todos.

Desenvolvi três projetos científicos, a Embacaju: embalagem biodegradável produzida a partir do reaproveitamento da folha do caju (Anacardium occidentale); Cashew Bottle: garrafa biodegradável produzida a partir do reaproveitamento de resíduos do cajueiro (Anacardium occidentale L.) e o Desenvolvimento de cateter bioativo, proveniente do aproveitamento do líquido da castanha do caju (Anacardium Occidentale) como alternativa na prevenção de infecção sistêmica”, detalha.

Os desafios enfrentados pela geração de jovens cientistas no Brasil são muitos. Em tempos de retrocessos e da falta de investimentos voltados para ciência e tecnologia, não tem sido fácil para os jovens que optam por essa carreira. Para além dessas dificuldades, quando falamos de mulheres nestes espaços, ampliamos esses desafios. O preconceito e os estereótipos ainda acompanham a trajetória das mulheres no campo científico, lugar que culturalmente é visto como sendo dos homens.

Acredito que estou apenas no começo da minha vida acadêmica e como uma jovem cientista e mulher ainda terei que enfrentar muitos desafios, não somente por falta de recursos financeiros, mas também lutar por respeito na academia. Minha história com a ciência começou desde 2016, quando ainda estava no ensino médio. Descobri que poderia ser uma cientista, mesmo estudando em uma escola pública, sem laboratório e que poderia mudar o mundo com uma boa ideia. Foi com esse querer mudar o mundo que consegui participar da maior feira de ciências do mundo e de diversos eventos científicos nacionais e internacionais”, destaca.

Sobre ser cientista no Brasil, Ekarinny considera que “a principal dificuldade que eu posso destacar é a de existir enquanto cientista no Brasil. Os desmontes na ciência e na educação, que vêm se tornado frequente no nosso país nos últimos cinco anos, estão tornando a produção científica um desafio para além do processo laborioso que normalmente se é pesquisar. Entrei no ensino médio sonhando em me tornar uma cientista numa realidade que hoje praticamente não existe mais.

Conforme explicou, a falta de estrutura para os estudantes de todos os níveis da educação, a falta de investimento em produção científica e hoje, mais do que nunca, a descredibilização da Ciência são as principais dificuldades enfrentadas. “Não que essas dificuldades vão me parar de ser a cientista que venho trabalhando pra ser, as dificuldades não me impedem de construir os sonhos que eu tenho, mas crescer enquanto cientista, num momento como esse, talvez tivesse me impedido de sonhar. Talvez tivesse me privado de existir enquanto cientista”.

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Escola de Formação Feminista e sua contribuição para o conhecimento sobre feminismo

As lutas das mulheres pela igualdade de direitos e condições sociais entre homens e mulheres é constante numa sociedade estruturalmente machista que relativiza a violência contra mulher e sustenta a ideia de que as mulheres são inferiores. Dentro desse contexto, considerando o longo caminho que há pela frente, o feminismo segue discutindo questões que afetam as mulheres de uma forma geral, como a desvalorização do trabalho, assédio, violência em suas variadas formas, entre outros tipos de opressão. O fato é que, o feminismo continua sendo necessário para as mulheres.

Em Mossoró, o Núcleo de Estudos sobre a Mulher Simone de Beauvoir (NEM/Uern), iniciou em abril desse ano a Escola de Formação Feminista. Um espaço de formação feminista que vem ampliando a compreensão do feminismo, da cidadania e dos direitos humanos. De acordo com a professora Suamy Soares, do curso de Serviço Social (FASSO), coordenadora do NEM, a ideia era que o curso fosse de uma formação continuada, construindo um espaço dentro do núcleo e que fosse um espaço de formação para discentes, docentes da Uern e para a comunidade em geral.

“Pensamos na escola de formação feminista com sete módulos, bem introdutório, para pensar sobre as pensadoras”, explica. Ao longo do curso, a Escola já trouxe estudos sobre o pensamento da bell hooks, facilitado pela professora Janaiky Alemida (UFRN); Judith Butler, com a professora Cristiane Marinho (UECE); Heleiteth Saffioti, com a professora Fernanda Marques (UERN) e Ilidiana Dinis (Ufersa); Lélia Gonzalez, com a professora Lucélia Pereira (UNB); Nancy Frazer, com a professora Mariana Manzini (UFRN) e Simone de Beauvoir, por Suamy. Ela acrescenta que a Escola de Formação Feminista será fechada esse ano com o módulo das feministas francesas, que será com Verônica Ferreira do Instituto SOS Corpo.

O curso já é considerado um sucesso e atendeu as expectativas das idealizadoras. Foram sete módulos de pensadoras clássicas e cerca de quatrocentas pessoas participaram. A consolidação desse espaço fez com que o Núcleo já projetasse a continuação. Na próxima Escola de Formação Feminista o curso será voltado para as pensadoras negras. “A gente quer focar o pensamento negro na Escola de Formação Feminista. O pensamento do feminismo negro tem grande contribuições para o entendimento do patriarcado brasileiro, machismo brasileiro, até mesmo da nossa formação sócio-histórica, enfim, a ideia é que a gente comece o ano que vem, pensando a partir dessas pensadoras negras, a partir dessa contribuição cientifica que elas estão fazendo para gente”, destaca.

A professora destaca ainda que a ideia para 2022 é que o curso seja presencial e hibrido, considerando a boa receptividade e a participação de pessoas de todo o país nos módulos que foram trabalhados no formato remoto. Dessa forma, a proposta de ser presencial e hibrido é para que continue sendo possível a participação de pessoas de outros estados. “A escola teve como fazer alguns intercâmbios nesse contexto de ensino remoto. Algumas ações foram fortes e potentes e juntou gente do brasil todo”, disse.

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Mossoró tem a primeira mulher comentarista de futebol em rádio e televisão no RN

O pioneirismo é marca registrada na história de mulheres mossoroenses. No esporte, não é diferente. Na época em que futebol ainda era considerado “coisa de homem”, a professora Celina Guimarães liderava a turma do Grupo Escolar 30 de Setembro, ao traduzir as regras do inglês e, literalmente, ensinar a prática da bola em campo. Até o início do século XX, Celina ainda não encontrava-se representada como a primeira mulher a conquistar o direito ao voto, mas já ocupava o título de primeira mulher a arbitrar uma partida de futebol.

O tempo passa e, 79 anos depois, Michelline Maciel e Edgar Pereira trazem ao mundo, na mesma Mossoró de Celina, uma menininha chamada Larissa Maciel. O gosto por futebol acompanhou o crescimento de Larissa. Ela explica como tudo começou: “a minha história com o esporte surgiu desde muito pequena, quando eu era criança. A minha família sempre foi muito ligada, principalmente ao futebol, a maioria é flamenguista. Meu avô incentivava a assistir aos jogos com ele, assim como meu tio por parte de pai. As minhas primas, que eram como irmãs e cresceram comigo, também gostavam de futebol. Eu possuía um laço familiar forte com o esporte e todo domingo tinha algo pra assistir. Então, fui crescendo com base nisso, pegando gosto e já notava que o esporte seria uma tradição na minha vida”, afirma.

O placar: 1×0 pra quem já consegue acompanhar ou imaginar a figura emblemática na qual Larissa se tornou. Primeira mulher comentarista de futebol em rádio e televisão no Rio Grande do Norte, apresentadora e repórter da área esportiva, atuante de frente no universo virtual, dona de um conteúdo todo voltado para essa área. E olha que esporte vai muito além do futebol. O universo é vasto. Larissa estudou, cresceu, construiu memórias em família, escolheu o jornalismo esportivo para seguir carreira e hoje entra em campo para jogar a partida que empresta sentido à vida.

Assim como toda boa disputa esportiva tem emoção e às vezes o atleta precisa lidar com as contrariedades, Larissa faz um aquecimento, se prepara e vai. Ser mulher em uma sociedade patriarcal é desafiador e exige preparo mental para administrar os absurdos que chegam: “Já senti o assédio por parte de jogadores, técnicos, dirigentes. Infelizmente, o caso mais atual foi agora, durante a segunda divisão do Campeonato Potiguar, quando fui ameaçada por uma pessoa que não gosta dos meus comentários. Neste mesmo campeonato, outra figura ligada ao futebol também me enviou áudios com falas tentando diminuir o meu trabalho e apuração de notícias por eu ser mulher”, revela. Engana-se quem pensa que ela abandona o jogo. A mulher de 1,56m é gigante em ousadia e aposta no conhecimento capaz de conquistar diariamente, afinal, o conhecimento é o bem que nenhuma pessoa pode nos tirar.

Subir ao pódio e trabalhar abrindo caminhos para que outras mulheres possam dominar a área esportiva no que diz respeito ao jornalismo é mais um desafio de Larissa. Ela revela que a representatividade feminina no esporte ainda é muito complexa, seja nos meios de comunicação ou na prática de atividades esportivas: “como é que em Mossoró não existe um fomento ao futebol feminino por parte das equipes profissionais? Temos equipes amadoras que precisam desse incentivo”. E quanto às mulheres na cobertura esportiva, é hora de avançar. “Se depender de mim, eu vou batalhar pra que eu possa crescer e abrir portas para outras mulheres, porque de outra forma, se formos depender do mundo masculino, não conseguiremos”, afirma.

Além de jornalista, comentarista de esporte, Larissa também adota o feminismo como movimento de vida. Se é preciso seguir regras no esporte, fora das quadras funciona da mesma forma: “feminismo pra mim está presente todos os dias, quando abro o meu blog e faço uma publicação, ou estou ao vivo na TV e posso incentivar outras meninas a buscarem espaço. E se eu puder estender a mão pra essas pessoas, me sinto dentro da causa feminista. É onde, também, entra a sororidade, quando você vê que existem outras mulheres que estão na cobertura pela imprensa, e você ajuda com uma informação”. Ela ainda destaca que abraça o feminismo, principalmente dentro do jornalismo esportivo, pois ele é uma peça importante para combater o assédio que pode acontecer.

Certamente, Celina Guimarães gostaria de ter conhecido a destemida e preparada Larissa Maciel. Taí, uma pergunta que faltou em meu roteiro, mas que deixo no ar, voltada para essa personagem inspiradora: quais projetos ligados à área esportiva você, Larissa, tocaria ao lado de Celina? A resposta servirá para um segundo momento.  Por hora, continue jogando com todo brilho! A história adaptada de Celina para Larissa não é linear, mas é construída de avanços e conquistas e é isso que verdadeiramente conta. Um Gol de placa para cada mulher que decide fazer revolução em seus espaços.

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Ensaio Feminista

Se dizem que a vida acontece nos bastidores,  crio coragem de escrever na primeira edição da Matracas, mesmo não estando pronta para essa estreia. Me vejo  uma mulher de sonhos tão simples que assustam por não serem concretizados. Heranças de uma criação entre a cidade e o sítio,  rodeada de regras; a maioria delas indicando a necessidade de se completar com um companheiro para ser feliz.

É como se a política da incapacidade tivesse me “encruado” como uma menina incapaz, mesmo beirando os 39 anos.  Ainda assim, diante da autocrítica e nesse ritmo de estar “mesmo depois de estourar o tempo regulamentar”, eu permito que a minha menina dance.

A vida toca a música o tempo todo, e eu danço pra não dançar.

Vão ficando para trás os sonhos da bela, recatada e do lar, que dá ordens aos ajudantes (ou aos filhos). Vai perdendo a paciência a fadinha que fazia mágica mandando embora os medos dos seus protegidos. Vai caindo o véu da ignorância que achava bonito pertencer* a alguém,  porque esta lhe parecia ser a solução de todos os problemas.

Aí a vida acontece, os desafios chegam,  e mostram pra gente a urgência em conhecer a nossa própria força,  e resistir.

Ninguém está totalmente pronto.  Eu também não estou.  Permito-me vir aqui mesmo ainda ensaiando.

De tropeço em tropeço,  sinto-me grata pelos aprendizados que tive,  e pelas memórias de dor que trago costuradas em minha saia, porque sem elas eu não teria conseguido me conhecer.

Refazendo a mulher que sou, digo (agora como um ato revolucionário) que me permito voltar a sonhar com as coisas simples, tradições de cuidado e amor transmitidas pelas minhas avós. Mas pra que isso aconteça sem a sombra da Amélia, muita coisa ainda precisa ser transformada…

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Inteiramente minha… e sua

Mulher é só dela
E sendo dela
Ela é de quem
Ela quiser
E sendo sua
Sou muito mais
De mim mesma.
Sou todas, sou inteira
Sou inteiramente minha
E sua.

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Coisa

Meu corpo não é carne
em promoção na prateleira;
Não é vala para fluidos,
Amarguras,
Descarga de amores frustrados.
Meu corpo não é alegoria,
Fetiche para seus dias de solidão.
Ele não é a peça que falta encaixar,
Uma coisa andante, um nada pensante.
Meu corpo não é à parte de mim – vazio, indolor.
Meu corpo pulsa.

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Nordeste: nossa terra, nosso lugar

Nordeste: nossa terra, nosso lugar
Não vim da Paraíba
Sou Potiguar
Mas somos irmãos
Pertencemos ao mesmo lugar

Terra que é lembrada
Pelo chão batido, “rachado”
Chapéu de couro, de “cangaceiros”
O Gibão e a sandália
Fazem a roupa dos nossos vaqueiros,

Terra lembrada também pela seca
Ela existe mas não é eterna
Temos seca, de vez em quando,
Mas só de água
Porque se depender dessa gente
A cultura e o amor
Transborda por toda a terra

Também somos lembrados
Como um povo de vida sofrida
E que tem sempre no rosto
O sorriso pra deixar leve o dia
Uma parte desse trecho ta correta,
Já a outra, quase certa,
Pra ficar condizente
Trocamos a palavra “sofrida”
Para guerreira, assim
Fica correto, ao se falar
Do povo dessa terra

Temos seca, temos praia
Temos rios e cachoeiras
Temos deserto e montanhas
Só não temos neve
Porque o sol não deixa

Somos ricos em beleza
De todas as formas que se imagina
Das paisagens naturais
Da arquitetura criada
Do povo diversificado
Dos sotaques falados
Das palavras só nossas
Da cultura viva

Somos nordestinos
Somos uma terra rica
Muitas vezes esquecidas
E quando somos lembrados
Generalizam nossos estados
Generalizam nosso povo
Nos generalizam de forma pejorativa
Nos chamando de “Paraíbas”

SAIBAM: Povo ignorante
Que nos orgulhamos da nossa terra
A Paraíba é estado lindo
Orgulhosamente faz parte dela
E para você que não conhece
Fazemos questão de lembrar
Somos Paraibanos, Potiguares
Baianos, Sergipanos
Alagoanos, Maranhenses
Piauienses, Pernambucanos
E Cearenses
Compondo esse belo lugar

Chegue cá, fique acanhado não
Se quiseres conhecer nossa região
Fique a vontade, venha cá
Mas saiba antes de um fato
O NORDESTE não é só uma região
O NORDESTE não é um só estado
O NORDESTE é a nossa terra
O NORDESTE é nosso lugar!

Thaiz Medeiros