Mossoró tem a primeira mulher comentarista de futebol em rádio e televisão no RN

O pioneirismo é marca registrada na história de mulheres mossoroenses. No esporte, não é diferente. Na época em que futebol ainda era considerado “coisa de homem”, a professora Celina Guimarães liderava a turma do Grupo Escolar 30 de Setembro, ao traduzir as regras do inglês e, literalmente, ensinar a prática da bola em campo. Até o início do século XX, Celina ainda não encontrava-se representada como a primeira mulher a conquistar o direito ao voto, mas já ocupava o título de primeira mulher a arbitrar uma partida de futebol.

O tempo passa e, 79 anos depois, Michelline Maciel e Edgar Pereira trazem ao mundo, na mesma Mossoró de Celina, uma menininha chamada Larissa Maciel. O gosto por futebol acompanhou o crescimento de Larissa. Ela explica como tudo começou: “a minha história com o esporte surgiu desde muito pequena, quando eu era criança. A minha família sempre foi muito ligada, principalmente ao futebol, a maioria é flamenguista. Meu avô incentivava a assistir aos jogos com ele, assim como meu tio por parte de pai. As minhas primas, que eram como irmãs e cresceram comigo, também gostavam de futebol. Eu possuía um laço familiar forte com o esporte e todo domingo tinha algo pra assistir. Então, fui crescendo com base nisso, pegando gosto e já notava que o esporte seria uma tradição na minha vida”, afirma.

O placar: 1×0 pra quem já consegue acompanhar ou imaginar a figura emblemática na qual Larissa se tornou. Primeira mulher comentarista de futebol em rádio e televisão no Rio Grande do Norte, apresentadora e repórter da área esportiva, atuante de frente no universo virtual, dona de um conteúdo todo voltado para essa área. E olha que esporte vai muito além do futebol. O universo é vasto. Larissa estudou, cresceu, construiu memórias em família, escolheu o jornalismo esportivo para seguir carreira e hoje entra em campo para jogar a partida que empresta sentido à vida.

Assim como toda boa disputa esportiva tem emoção e às vezes o atleta precisa lidar com as contrariedades, Larissa faz um aquecimento, se prepara e vai. Ser mulher em uma sociedade patriarcal é desafiador e exige preparo mental para administrar os absurdos que chegam: “Já senti o assédio por parte de jogadores, técnicos, dirigentes. Infelizmente, o caso mais atual foi agora, durante a segunda divisão do Campeonato Potiguar, quando fui ameaçada por uma pessoa que não gosta dos meus comentários. Neste mesmo campeonato, outra figura ligada ao futebol também me enviou áudios com falas tentando diminuir o meu trabalho e apuração de notícias por eu ser mulher”, revela. Engana-se quem pensa que ela abandona o jogo. A mulher de 1,56m é gigante em ousadia e aposta no conhecimento capaz de conquistar diariamente, afinal, o conhecimento é o bem que nenhuma pessoa pode nos tirar.

Subir ao pódio e trabalhar abrindo caminhos para que outras mulheres possam dominar a área esportiva no que diz respeito ao jornalismo é mais um desafio de Larissa. Ela revela que a representatividade feminina no esporte ainda é muito complexa, seja nos meios de comunicação ou na prática de atividades esportivas: “como é que em Mossoró não existe um fomento ao futebol feminino por parte das equipes profissionais? Temos equipes amadoras que precisam desse incentivo”. E quanto às mulheres na cobertura esportiva, é hora de avançar. “Se depender de mim, eu vou batalhar pra que eu possa crescer e abrir portas para outras mulheres, porque de outra forma, se formos depender do mundo masculino, não conseguiremos”, afirma.

Além de jornalista, comentarista de esporte, Larissa também adota o feminismo como movimento de vida. Se é preciso seguir regras no esporte, fora das quadras funciona da mesma forma: “feminismo pra mim está presente todos os dias, quando abro o meu blog e faço uma publicação, ou estou ao vivo na TV e posso incentivar outras meninas a buscarem espaço. E se eu puder estender a mão pra essas pessoas, me sinto dentro da causa feminista. É onde, também, entra a sororidade, quando você vê que existem outras mulheres que estão na cobertura pela imprensa, e você ajuda com uma informação”. Ela ainda destaca que abraça o feminismo, principalmente dentro do jornalismo esportivo, pois ele é uma peça importante para combater o assédio que pode acontecer.

Certamente, Celina Guimarães gostaria de ter conhecido a destemida e preparada Larissa Maciel. Taí, uma pergunta que faltou em meu roteiro, mas que deixo no ar, voltada para essa personagem inspiradora: quais projetos ligados à área esportiva você, Larissa, tocaria ao lado de Celina? A resposta servirá para um segundo momento.  Por hora, continue jogando com todo brilho! A história adaptada de Celina para Larissa não é linear, mas é construída de avanços e conquistas e é isso que verdadeiramente conta. Um Gol de placa para cada mulher que decide fazer revolução em seus espaços.

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