Se dizem que a vida acontece nos bastidores, crio coragem de escrever na primeira edição da Matracas, mesmo não estando pronta para essa estreia. Me vejo uma mulher de sonhos tão simples que assustam por não serem concretizados. Heranças de uma criação entre a cidade e o sítio, rodeada de regras; a maioria delas indicando a necessidade de se completar com um companheiro para ser feliz.
É como se a política da incapacidade tivesse me “encruado” como uma menina incapaz, mesmo beirando os 39 anos. Ainda assim, diante da autocrítica e nesse ritmo de estar “mesmo depois de estourar o tempo regulamentar”, eu permito que a minha menina dance.
A vida toca a música o tempo todo, e eu danço pra não dançar.
Vão ficando para trás os sonhos da bela, recatada e do lar, que dá ordens aos ajudantes (ou aos filhos). Vai perdendo a paciência a fadinha que fazia mágica mandando embora os medos dos seus protegidos. Vai caindo o véu da ignorância que achava bonito pertencer* a alguém, porque esta lhe parecia ser a solução de todos os problemas.
Aí a vida acontece, os desafios chegam, e mostram pra gente a urgência em conhecer a nossa própria força, e resistir.
Ninguém está totalmente pronto. Eu também não estou. Permito-me vir aqui mesmo ainda ensaiando.
De tropeço em tropeço, sinto-me grata pelos aprendizados que tive, e pelas memórias de dor que trago costuradas em minha saia, porque sem elas eu não teria conseguido me conhecer.
Refazendo a mulher que sou, digo (agora como um ato revolucionário) que me permito voltar a sonhar com as coisas simples, tradições de cuidado e amor transmitidas pelas minhas avós. Mas pra que isso aconteça sem a sombra da Amélia, muita coisa ainda precisa ser transformada…