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Aryanne Queiroz Colunistas Destaque

O Poder Criativo Feminino

“Sermos nós mesmas faz com que
acabemos excluídas pelos outros.
No entanto, fazer o que os outros
querem nos exila de nós mesmas.”
(Clarissa Pinkola Estés)

A vida criativa de uma mulher é tolhida de diversos modos, tornando-a poluída, sem brilho, disfuncional. Seguir buscando novos caminhos diante do exílio de si é uma tarefa árdua, principalmente quando a própria psiquê está congelada, esgotada por tantos limites impostos: seja nas relações amorosas, onde o/a companheiro/a não nutre o amor
conforme ele merece; seja nas relações de trabalho, onde o ambiente não supre as capacidades criativas e normatizam todas as ações com uma burocracia infindável; seja em seu próprio lar, onde a rotina não dá brechas para que o novo surja, mesmo que aconteça no cozinhar ou no arrumar os móveis; seja nas ditas “amizades”, onde atualmente os laços só acontecem por interesse e exploração entre as pessoas.

Muitas mulheres se adaptam muito fácil ao que é imposto e perdem as forças e as armas internas para lutarem contra o patriarcado e as demarcações de gênero. A força criadora que cada uma possui é eivada e transformada em cinzas diante de tantas delimitações, principalmente advindas dos homens, que as incidem através de “regras de etiquetas”, as proibindo de externar as suas criações e os seus modos de ser no mundo. Sendo assim, a maioria não busca realmente ajuda, se apega a poucas migalhas e não acende a luz onipotente que há em seus espíritos; vive de ilusões dentro de cavernas interiores, exiladas dentro delas mesmas, como bem disse Clarissa Pinkola.

Sermos nós mesmas nos faz correr um sério risco de ocorrer um ostracismo na sociedade, nos estigmatizando por sermos “as loucas” que burlam os inúmeros padrões impostos, principalmente no que tange às nossas sexualidades. Uma mulher livre, que goza, que sente prazer na vida, que cria, que gera produtos e serviços diferenciados e que faz o que o patriarcado não quer será sempre taxada como uma “no sense”, uma infratora dos bons costumes, uma mulher “masculinizada”.

Como Pablo Picasso bem disse: “O maior inimigo da criatividade é o bom senso”. Eu diria diferente: o maior inimigo da criatividade é o patriarcado, pois oprime a feminilidade nos mais diversos aspectos e deseja engessar a natureza selvagem de cada mulher. Que possamos renascer de nossas próprias cinzas e sermos fênix, voando por cima de todas as fronteiras impostas ao nosso território chamado corpo. Que possamos ser o que quisermos ser, independente de orientação sexual, idade, raça, credo ou origem. Que possamos, todas, florir, produzir e dar conta de nossa própria essência criadora e sensível.

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Colunistas Destaque Suziany Araújo

Evas e Marias: As mulheres que receberam o papel de vilã

Esse texto é para uma coluna, e como tal, tenho a liberdade de tecer minhas próprias impressões e interpretações sobre fatos passados ou presentes. É comum trazermos fatos com base em dados, pesquisas e com certa relevância científica. O texto de hoje ficará no plano mais interpretativo de fatos e histórias narradas ao longo dos anos. E, principalmente, a interpretação sobre as escolhas femininas que ganharam ao longo da história mais condenações do que aprovação social.

Para entender a própria história da mulher, isso de qualquer mulher, é preciso voltar no tempo e encontrar em personagens femininas a marca do patriarcado. A origem de tudo, como tudo começou. Lendo esses dias sobre processo evolutivo, a ciência tem provas de que outras espécies semelhantes às já existentes já passam um tempo habitando a terra e que por alguma circunstância natural chegaram à extinção. Foi o que o cientista Charles Darwin chamou de seleção natural. A vida seleciona os que ficam para procriar e exclui os menos adaptados para enfim serem extintos por algo maior. A ciência hoje tem evidências através de pesquisas, fósseis e uma série de outros elementos, que afirmam, sim, partimos de um ponto em comum e os anos passados na terra nos moldaram, nos transformaram em outras espécies. Mas esse texto é sobre a interpretação que envolve as escolhas femininas, os papéis que ocupamos e como chegamos até aqui.

E onde fica a teoria criacionista que diz que Deus criou todas as espécies, incluindo Adão e Eva, o primeiro casal?

Vamos falar sobre Eva, sobre as falas que são produzidas diante dessa personagem. Ao perguntarmos a qualquer pessoa, isso inclui também mulheres, quem foi Eva? Observe bem as respostas. Algumas são: “foi a primeira pecadora”, “foi aquela que induziu Adão ao erro”, “por conta de Eva hoje sinto cólicas e dores no parto, tudo por conta da escolha de Eva”. Podemos ouvir inúmeras afirmações desse tipo, mas antes de continuar esse texto, eu pergunto: Eva escolheu engravidar por você? Creio que a gestação é uma escolha individual e que não tem relação com personagens históricos.

Vamos mais além, se perguntarmos a pessoas ligadas a alguma religião, talvez as respostas se tornem as piores possíveis. Contudo, precisamos voltar um pouco na história, voltar ao jardim do éden e precisamos avançar para entender que todas as escolhas seguem um fluxo natural e que todas as escolhas geram consequências. Existiam vários frutos no jardim e Deus afirmou que o casal poderia comer qualquer um desses frutos, menos o fruto do conhecimento, esse era o fruto proibido, assim expresso em Gênesis 2:15-17 “Tomou, pois, Deus Jeová o homem, e o pôs no jardim do éden para o lavrar e guardar. Ordenou Deus Jeová ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”

Veja bem, o nome da árvore mencionada por Deus, árvore do conhecimento. Eva comeu o fruto proibido e ofereceu ao seu companheiro. E depois disso, ambos tomaram conhecimento sobre o bem e o mal.

Eva, de acordo com a teoria criacionista foi o primeiro ser humano a provar o fruto do conhecimento. Vocês nunca pararam para pensar na importância desse fato? A primeira pessoa na terra a tomar conhecimento foi uma mulher. Curioso é que no próprio texto bíblico existe uma passagem que diz: “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” em João 8:32. E o conhecimento está posto para nos dizer que ele liberta. Nos liberta do falso discurso, da ignorância, do erro. E atualmente a título de execução penal o conhecimento adquirido através de estudo tem possibilitado uma progressão mais rápida da pena e, consequentemente, sair mais rápido do sistema prisional.

A moral da vida é que o conhecimento é a porta para muitas liberdades, mas no caso de Eva foi apenas à porta para sua eterna condenação ao longo da história e sendo essa condenação repetida por várias mulheres ao longo de gerações: “tenho dores no parto por culpa de Eva”. Pouco se fala sobre o fato de que Eva abriu as portas do conhecimento. Mas a interpretação cruel sobre as escolhas de uma mulher não se limitava a Eva. Quantas personagens femininas foram culpadas por escolhas masculinas? Um tempo atrás li uma nova interpretação sobre a Medusa, historicamente colocada como monstro, mas que os livros esconderam a intepretação de que ela havia sofrido violência sexual. Quando falamos em Dom Casmurro, obra de renome de Machado de Assis, que interpretação tem a personagem Capitu? A memória histórica reconhece os feitos de Cleópatra? Suas habilidades de liderança e como falava vários idiomas, ou foi preferível marcá-la na história exclusivamente por sua sensualidade? Aqui também, não poderíamos deixar de falar sobre a mulher que largou o marido abusivo para então se unir ao cangaço. A Maria Bonita provou dos amargos atos de violência doméstica e familiar. Juntou-se a Lampião, e por sua escolha, veio à renegação e desaprovação social. Ela agora é bandida.

Voltando um pouco a Eva, hoje e graças à escolha de Eva, podemos escolher o que seguir se o bem ou o mal. Temos o conhecimento e no final de tudo fazemos as escolhas. É o chamado livre arbítrio. Santo Agostinho nos ensina que cabe a nós o poder de decisão.

Então hoje ao decidir se enfrentarei as dores de um parto normal ou se farei uma Cesária não é culpa de Eva, Maria, Joana ou qualquer outra mulher. Precisamos ganhar consciência sobre nossas escolhas e ficamos dispostos a aceitar as consequências. A física trata muito bem dessa parte, para cada ação existe uma reação. Para cada escolha uma consequência.

Quando as primeiras sociedades humanas foram se formando, quando a maternidade era considerada algo místico, as mulheres eram o verdadeiro centro de valorização social, pelo poder de gestação.  Até hoje existem controvérsias sobre a existência das sociedades matriarcais.

Outro dia conversando com uma amiga sobre o processo evolutivo do gênero Homo, alguns daqueles grupos perceberam a inteligência da mulher e sobrecarregaram-nas com diversas funções. E nesse ponto menciono que isso foi uma ideia muito particular.

Finalizo esse texto com um convite especial a todas as mulheres. Que interpretem com mais sororidade as dores, angústias e sofrimento de outras mulheres. Não caia no erro de fazer julgamento a partir do ponto de vista masculino, ou mesmo do ponto de vista do machismo. Precisamos dar uma interpretação mais empoderada sobre as atitudes de mulheres que marcaram um tempo histórico da humanidade.

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Colunistas Destaque Rafaela Gurgel

Vem aí mais uma Semana de Conscientização

Chegou mais um 2 de abril, Dia Mundial da Conscientização do Autismo. A data foi criada em 2007 pela ONU e tem a finalidade de promover conhecimento acerca do Transtorno do Espectro Autista, que, segundo pesquisa recentemente publicada pela Revista Autismo, com fonte do CDC (Centro de Controle de Doenças), do governo dos Estados Unidos, dados estarrecedores evidenciam que 1 em cada 36 crianças de até 8 anos dos EUA são diagnosticadas dentro do espectro.

             Isso já nos revela como o autismo é uma realidade bastante presente. Já disse aqui em outras oportunidades e reitero, se hoje você não tem familiares ou pessoas diretas de seu convívio com TEA, provavelmente eles estarão cada vez mais próximos em futuras gerações. Os Estados Unidos é um dos países que mais se pesquisa e implementa políticas públicas para essas pessoas no mundo, fato que infelizmente não acontece em nosso país. Não dispomos, ao menos, de estatísticas atualizadas que estime o tamanho dessa população, nem tampouco efetivamos com dignidade e clareza as legislações e políticas que assegurem e viabilizem ações. 

             Na esteira de toda essa discussão, vamos visibilizar a proposta-tema deste ano: “Mais informação, menos preconceito”. Muito assertiva no sentido de que quanto mais eu me informo e me aproximo dessa realidade, mais eu vejo que as diferenças são parte de um mundo neurodiverso onde o autista só precisa, muitas vezes, do acolhimento e da sensibilidade do outro.

           Dia desses conversava com uma colega da área da área da saúde onde ela relatava, angustiada, das dificuldades enfrentadas em ambiente hospitalar por outros profissionais que não manejam corretamente como administrar medicações da pessoa autista. Então, ela decidiu elencar pontos simples, diretos e passou aos colegas:

– Dar previsibilidade dos procedimentos, ter trato com a pessoa ao dirigir-se a ela (quando possível) para que ela tenha segurança e confiança em você;

– Quando estiver frente a frente com um autista, ajude-o da maneira que puder;

– Se tiver oportunidade, tente conversar;

– Elogie o que ele faz de bom;

– Não o julgue;

– Não desista dele.

            Essas foram algumas informações que ela disseminou em seu ambiente de trabalho ajudando a desmistificar situações e ampliando possibilidades para uma conduta humanizada e inclusiva. Espero que você abra seu coração neste mês de abril, basta ser sensível, amoroso, vestir-se de azul e juntar-se a nós neste domingo, dia 2, às 16 horas, ao lado do Teatro Dix-huit Rosado, em uma caminhada rumo à conscientização.

            Até lá! 

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Destaque Gerais

Festival “É pela vida das mulheres” leva ao palco diversas artistas mossoroenses

Encerrando as atividades do mês de março em Mossoró, vai acontecer neste sábado (25/03) o festival “É Pela Vida das Mulheres”, com a participação de várias artistas locais. O evento começa às 13h, no antigo Viola Lilás, na rua Santa Cecília, bairro Pintos. 

 O festival é uma realização da Motim Feminista e integra as ações do mês dedicado as mulheres. Estão confirmadas a participação da CoisaLuz, Roberta Lúcida, Odara, Marília Kardinally e Gorete Alves. O show que une luta e arte, é um momento de comemorar a vida das mulheres e presenciar o talento e a potência das grandes artistas mossoroenses. 

 De acordo com Telma Gurgel, militante da Motim Feminista, “o festival mais um vez vai reunir um conjunto de artistas locais para homenagear a luta, a resistência e a vida das mulheres. E também para celebrar as conquistas que as mulheres tiveram ao longo da história, ao mesmo tempo em que divulgamos nossas pautas em torno de uma vida sem violência, livre de preconceito, por mais emprego e principalmente por políticas públicas de qualidade. Esse é o festival, ao mesmo tempo que comemoramos, reivindicamos dias melhores para as mulheres”.   

 Bebidas, bingo e feijoada – Além do show das mulheres, o espaço terá disponível a venda de bebidas, feijoada e será realizado um bingo. O evento é para toda a família, por isso, o convite  estende-se a todos e todas.    

 “O Festival É Pela Vida das Mulheres vem para encerrar o mês de março em grande estilo, com muito Artivismo e cultura! Nesse mês que marca a luta das mulheres, é necessário não somente ocupar as ruas e reivindicar direitos, mas também e principalmente, celebrar nossas vidas que resistem apesar das violências cotidianas que nos atravessam. Então, fica o convide para toda a população, para prestigiar o trabalho de nossas artistas locais, com muita música boa e feijoada, além de um bingo imperdível com prêmio em dinheiro que vai agitar esse sábado (25)!”, destaca Layanne Alencar, da Motim Feminista.

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Destaque Gerais

Educação: uma medida eficaz contra a violência

Anualmente, o que se noticia no Brasil a fora é greve na educação pública. Milhares de profissionais da educação se veem obrigados a paralisarem suas atividades laborais para terem suas vozes ouvidas e um dos seus direitos (conquistado e determinado pela Lei 11.738/2008) cumprido por gestores municipais e estaduais, os quais insistem em descumprir a Lei e com isso humilham e desvalorizam ainda mais a imagem do professor perante a sociedade.
Ora, se para cumprir uma Lei já instituída desde 2008 os gestores não o fazem, quiçá investir em melhores condições de trabalho para os profissionais da educação, bem como para os nossos estudantes.
Quando vemos as propagandas na tevê de escolas públicas com uma boa estrutura física a imagem que se quer passar é de que, todas as escolas se encontram naquela mesma condição de funcionamento, porém a realidade é bem diferente, para cada escola que apresentam condições dignas de trabalho, há dezenas com a fiação elétrica em colapso, banheiros inapropriados, ausência de quadra para práticas esportivas, escolas sem o mínimo de investimento em tecnologia, estrutura físicas comprometidas com uma variante de problemas que muitas vezes põe em risco cotidianamente a vida de estudantes e funcionários, sem mencionar a falta de concurso público que supra a necessidade de professores efetivos em sala de aula.
Esse descaso com a educação pública reflete o descaso com a população mais pobre e periférica do nosso país, que poderia através da escola pública e com qualidade enxergar oportunidades para a ascensão social.
Há pouco mais de quarenta anos, o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) previu que: “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”.
A profecia se cumpriu, hoje o Brasil é o 3º país com a maior população carcerária do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos e China. E o que a educação tem haver com isso? Tudo! Pois as nossas crianças e jovens ao invés de receberem: acolhimento, dignidade, perspectiva de oportunidades nas escolas públicas, que deveriam oferecer qualidade, acabam sendo acolhidas em escolas que mais parecem uma extensão das condições periféricas nas quais residem e conhecem muito bem. A elas, são negadas: uma estrutura física apropriada, a prática de esportes, o acesso à tecnologia, muitas vezes nem sequer o livro didático lhes chegam às mãos, pois o número deles não é suficiente para todos.
Nesse sentido, o submundo do crime surge como uma proposta atraente e às vezes a única e necessária para sobreviver em um país em que a desigualdade é uma constante; e como solução para o crescimento do crime cada vez mais organizado, investe-se em mais construções de presídios que não dão conta dessa crescente.
Assim, vivemos a seguinte contradição: nossos governantes gastam com sistema prisional quatro vezes mais do que investem em educação básica no Brasil. Cada preso, custa em média R$ 1,8 mil por mês, enquanto um aluno de escola pública recebe R$ 470 mil em investimentos mensais, segundo levantamento realizado em 2022 pela Universidade Estadual de São Paulo.
O nosso discurso, entretanto, não segue em direção oposta à ressocialização dos apenados, ao contrário, o caminho para diminuição do crime e da violência no país é também o investimento em educação dentro do sistema prisional.
Mas se a educação é o antídoto (e de fato é) contra o recrutamento para ingressar na vida do crime porque não investir de verdade na qualidade da educação pública, especialmente na educação básica sempre tão esquecida, lembrada tão somente em discurso político demagógico de quatro em quatro anos, em época de eleição? Os números revelam que a maioria dos apenados apresenta baixa escolaridade, ou seja, se as escolas realmente fossem de qualidade em nosso país com professores valorizados, escolas fisicamente estruturadas e equipadas com politicas públicas de educação voltadas para oportunidades, muitos jovens e adultos que compõe a população carcerária hoje, poderiam ter sido alcançados pela transformação que a educação gera, consequentemente, o gasto com presídios seria bem menor como alertou o grande antropólogo Darcy Ribeiro.
Portanto, o investimento em educação pública e com qualidade: enfraquece o crescimento do crime organizado, valoriza o talento do seu povo, gera desenvolvimento profissional para o país e constrói-se, assim, uma sociedade menos violenta.
Finalizo esse artigo com uma reflexão que continua atual para esse texto e o contexto social em que vivemos hoje do grande mestre, Paulo Freire: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.

Paula Regina da Silva Duarte – Professora da Rede Estadual de Ensino, Mestre em Letras e Diretora de Juventude do SINTE/Regional de Mossoró.

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Colunistas Destaque Natalia Santos

A Importância da vitória de Michelle Yeoh no Oscar

Em 2002 Halle Berry venceu o Oscar de Melhor Atriz pelo filme A Última Ceia, tornando-se a primeira mulher não branca a alcançar tal feito. Vinte anos se passaram até que pudéssemos ver outra mulher não branca e a primeira asiática a vencer tal categoria: Michelle Yeoh, por Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo.

É uma vitória extremamente significativa e motivos não faltam para comemorar, mas não podemos deixar de notar que, durante todos esses anos, diversas outras atrizes não brancas não tiveram a oportunidade de alcançar tal patamar em suas carreiras.

A atriz Viola Davis, por exemplo,  tornou-se a primeira mulher negra a ganhar o Emmy de Melhor Atriz em Série Dramática em 2015, usando de seu momento para lembrar que o abismo da falta de oportunidade para mulheres negras ainda é enorme. Como bem apontado por Viola,  “você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem”.

Para além da representatividade das mulheres não brancas, Yeoh abre ainda um precedente para ilustrar a capacidade das mulheres acima de 60 anos terem carreiras significativas não só em Hollywood, mas em qualquer aspecto de suas vidas. Em seu discurso emocionado, a atriz deixa uma mensagem clara para nós: “Mulheres, não deixem que ninguém diga que você já passou do seu auge”.

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Destaque Matracas Literárias

A revolução feminina de cuidar de si mesma

Ia começar falando que estou atrasada para escrever sobre o dia da mulher, mas como muito se gosta de dizer que “dia da mulher é todo dia”, estou dentro do prazo. Passei o dia 8 de março inteiro irritada. Na verdade, é quase impossível ser mulher, ter consciência do que isso significa, e não ficar de saco cheio de ter um dia de “glória” e outros 364 de porradas.

Eu não odeio o fato de ser mulher, mas sei que existe um peso nisso que eu vou carregar até o último dia da minha vida. Na verdade, pesos, no plural. Recentemente, por exemplo, eu estava dividindo uma tarefa doméstica com um homem. Ele me observou esfregar o chão com uma vassoura por uns dois minutos até se sentir confortável para falar que fazia melhor que eu.

“É assim que você limpa a sua casa? Eu faço melhor que você. Minha casa quem arruma sou eu”. E em seguida, aos risos, foi me mostrar como esfregar o chão. Acho que na cabeça dele deve ter passado algo do tipo “Não sabe fazer coisa de homem e nem coisa de mulher”. Nascidas com útero, ensinadas a servir e cuidar, aos outros, nunca a si mesmas. Deve ser realmente chocante para a lógica masculina descobrir que mulheres não são domésticas natas. Se tornam pela obrigação que é imposta.

Assistindo a cena patética de mais um ego masculino querendo provar ser melhor que eu em algo, dei uma revirada de olhos, bati palma e parabenizei ele. Disse que ficava feliz em perder essa competição, afinal o grande objetivo da minha vida não é ser dona de casa. Eu prefiro dedicar meus dias a aperfeiçoar meu trabalho profissional, do que minha habilidade com a vassoura.

Eu venho de um lar matriarcal, e apesar da minha avó e da minha mãe não saberem o que é feminismo, elas foram grandes professoras no que diz respeito a independência feminina. Claro, reproduziram muitos atos e discursos machistas, e alguns perduram até hoje. Mas quando elas me deram uma vassoura a primeira vez para varrer, elas fizeram por mim, não por eles.

Me ensinaram de tudo: limpar casa, lavar roupa, cozinhar, trocar lâmpada, gás, botijão de água. Me ensinaram o que todo ser humano, independentemente de gênero, precisa saber: cuidar de si, cuidar do seu lar, gerir e manter sua vida. Não lembro de ouvir a clássica “já pode casar” dentro de casa (só fora). Mas sempre ouvi que precisava aprender essas coisas porque não teria elas para cuidarem de mim para sempre e também para quando eu fosse morar fora.

Hoje, tenho orgulho de dizer que não sou a melhor dona de casa. Faço o básico e sou satisfeita com isso. Claro que vez ou outra ligo para mainha para perguntar como cozinhar uma batata doce. Mas desde que me livrei do peso de ter que ser boa em afazeres domésticos, eles se tornaram mais fáceis, e eu passei a fazê-los por gosto, e não por obrigação.

E depois de um dia como ontem, que eu trabalhei, dediquei tempo ao meu lazer, fiz minhas marmitas e limpei minha casa para começar a semana bem, eu disse o que repito para mim mesma todos os dias: obrigada eu, por cuidar tão bem de mim, de um jeito que só eu sei! A cada dia que se passa confirmo a certeza que tenho: apenas mulheres cuidam de mulheres. E a tão sonhada revolução feminista mora ai.

Thífanny Alves

Jornalista

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Destaque Violência contra mulher

Pesquisadora prepara e-book com histórias de mulheres que sofreram violência doméstica

Você conhece alguém que passou por alguma situação de violência doméstica? Ou você mesma já sobreviveu a alguma relação abusiva? Deseja falar sobre isso de forma ANÔNIMA e deixar registrada a sua vivência em um e-book? Sua história de “supervivente” pode servir de guia para alguém que esteja passando pela mesma situação.

A pesquisadora Aryanne Queiroz vem preparando um e-book com narrativas de mulheres que passaram por um relacionamento abusivo e que conseguiram se livrar, e você pode contribuir com esse trabalho. “O livro tem como objetivo ser um instrumento de apoio às mulheres que ainda vivem em relacionamento abusivo, ou seja, servir de norte, mostrando que há saída para as que ainda permanecem nessas relações a partir das histórias que serão contadas no e-book”, frisa.

Uma outra função do livro é ajudar as mulheres a identificarem se estão em relacionamentos abusivos. Para a idealizadora do e-book, existe uma realidade de mulheres que vivem em situação de violência e não conseguem identificar, pois há uma constatação comum de que a violência é só física. Então, as narrativas registradas no livro ajudarão nesse contexto.

Aryanne é graduada em direito pela Uern , mestra em Ciências Sociais e Humanas, doutoranda em Ciências Sociais pela UFRN e especialista em violência contra mulher. Já tem realizado vários trabalhos com foco nas questões de gênero e sexualidade. Esse mais novo trabalho será publicado pela Editora Universitária da Uern (Edições Uern), e serão publicadas no mínimo umas dez narrativas anônimas.

Ela acrescenta que a contribuição dessas mulheres ajuda nos estudos de gênero, servindo de fonte para se ampliar o debate sobre os diversos tipos de violência. “Não importa onde, quando ou como ocorreu. O que importa é que essa história não pode ser esquecida e precisa ser capturada em uma plataforma onde várias pessoas terão acesso. Repito: a identidade da pessoa será devidamente preservada. A violência pode ter sido física, sexual (abuso ou assédio), patrimonial, psicológica ou moral”, explica e reforça o anonimato dos depoimentos.

A mulher que estiver disposta a contribuir com o trabalho poderá  entrar em contato pelo whatsapp: (84) 99176-7530.

Entre os trabalhos já realizados, Aryanne lançou o e-book “Michel Foucault: Reflexões acerca dos saberes”, e ano passado foi publicado um outro e-book com narrativas de pessoas diversas que falam da “perda da virgindade”. As narrativas incluem histórias de pessoas do Brasil inteiro, contando com depoimentos de homens, gays, lésbicas e bissexuais.

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Aryanne Queiroz Colunistas Destaque

A todas as mulheres

Parabéns a você
Loira ou morena
Ruiva ou albina
Que nunca deixe de ser menina
Que nunca esqueça que és M-U-L-H-E-R!!!

Parabéns a você que és filha
Que és mãe, que és rainha
Que não se acomoda
Que desatina
Que não se cansa de sonhar!

Parabéns a você mulher guerreira
Daquelas que não tem fronteiras
Que não se acanha de pensar
Que sejas rio, fonte ou mar
Que se permitas desaguar!

Parabéns a nós, heroínas
Fontes de mel, de luz e de amor
Que nossas vidas tenham valor
Que nossos desejos tenham a sina
De não se perderem, de haver multicor!

Parabéns àquela multifacetada
Que não desiste por nada de fazer o melhor
Mesmo quando a vida não é camarada ou quando está menstruada
Faz tudo pra ser a mulher-mor!

Parabéns a você, independente de gênero, de ideologia ou de cor
Que não se permitas viver com rancor
Que o machismo não apague a sua graça de ser Mulher, de ser Amor!

 

💥Feliz Dia, Poderosa! Seja sempre maravilhosa, nunca perca a sua grandeza!!!💥

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Destaque Lutas Feministas

Mulheres de Mossoró realizam ato unificado pela vida das mulheres e em defesa da democracia neste 8 de março

Em Mossoró, o Dia Internacional da Mulher é tradicionalmente celebrado pelos movimentos de mulheres da cidade como uma data de luta. Neste ano, o ato do 8 de março tem como tema: “Pela vida das mulheres e em defesa da democracia”. Acontecerá a partir das 8h em frente à sede do Centro Feminista 8 de Março (na Praça da igreja do Perpétuo Socorro). Após café da manhã coletivo, as mulheres seguirão em marcha pelas ruas do centro.

O ato unificado do 8 de março é articulado entre os movimentos Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Núcleo de Estudos da Mulher (NEM), Coletiva Motim Feminista, Casa de Acolhimento às Mulheres Vítimas de Violência e Centro Feminista, sindicatos, movimento estudantil e demais movimentos sociais, além das mandatas da vereadora Marleide Cunha, das deputadas Isolda Dantas, Natália Bonavides e Divaneide Basílio. Estima-se a participação de 200 mulheres de Mossoró e região – Caraúbas, Apodi, Tibau, Governador Dix Sept Rosado e Assu.

De acordo com a representante da Marcha Mundial das Mulheres, Plúvia Oliveira, o 8 de março deste ano não poderia não defender a democracia: “Nós dissemos não ao golpe na presidenta Dilma, ecoamos os #elenão, resistimos com o Fora Bolsonaro e elegemos Lula presidente. Agora que temos nossa democracia de volta, precisamos fortalecê-la e que isso se traduza em um Brasil sem fome, sem violência e do bem viver pra todas nós”.

A luta em defesa dos direitos das mulheres acontece o ano todo, todos os dias. No entanto, o 8M é um momento de grande enfrentamento.

Para Telma Gurgel, da Articulação de Mulheres do Brasil (AMB) e militante da Motim Feminista “o ato do 8M representa força política das mulheres em defesa de uma vida sem violência, com mais emprego, com acesso a saúde de qualidade. Neste ano em particular, estamos comemorando a retomada da democracia no Brasil. Será portanto um ato especial.”. Telma acrescenta que, ainda dentro da programação do 8M, acontecerá a “Alvorada Feminista”, que consiste numa ação  artivista, que é feita diretamente na Estátua Dix-Sept Rosado na Praça Vigário Antônio Joaquim, a partir das 6h.

Larissa Ellem, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), ressalta a importância da participação de todas para a realização de um ato potente pela reconstrução do país.

“Com a eleição de Lula, nós mulheres, precisamos fortalecer as organizações e continuar na luta pelos nossos direitos para reconstruir o país. E, nós, mulheres camponesas, em toda nossa diversidade, demarcaremos nas ruas a importância do campo, da organização de mulheres e da luta pelos nossos direitos, dentre eles, a nossa soberania alimentar”.

Dentro da programação do ato será realizado o lançamento da preparação para a 7ª edição da Marcha das Margaridas: a maior ação de mulheres do campo da América Latina que, desde os anos 2000, reúne mulheres do campo, das águas e florestas de todo o Brasil em Brasília para reivindicar políticas públicas e igualdade e este ano se realizará em agosto.

*Evento cultural* – Na parte da tarde as mobilizações em torno do 8 de março seguirão a partir das 15:50h na Praça do Pax com feira e apresentações culturais de mulheres artistas de Mossoró.

 

Segue a programação cultural:

15h50 – Toré (Motim Feminista)

16h15 – Marília Kardenally

16h40 – Cabocla de Jurema

16h55 – Corde e apresentação de bonecas com Sammy Tenório

17h05 – Odara Júlia

17h25 – Nida Lira e Kelly Lira

17h40- Poesia com Elayne e Joriana

17h45- Vitória Fernandes

17h55- Coisa Luz