A revolução feminina de cuidar de si mesma

Ia começar falando que estou atrasada para escrever sobre o dia da mulher, mas como muito se gosta de dizer que “dia da mulher é todo dia”, estou dentro do prazo. Passei o dia 8 de março inteiro irritada. Na verdade, é quase impossível ser mulher, ter consciência do que isso significa, e não ficar de saco cheio de ter um dia de “glória” e outros 364 de porradas.

Eu não odeio o fato de ser mulher, mas sei que existe um peso nisso que eu vou carregar até o último dia da minha vida. Na verdade, pesos, no plural. Recentemente, por exemplo, eu estava dividindo uma tarefa doméstica com um homem. Ele me observou esfregar o chão com uma vassoura por uns dois minutos até se sentir confortável para falar que fazia melhor que eu.

“É assim que você limpa a sua casa? Eu faço melhor que você. Minha casa quem arruma sou eu”. E em seguida, aos risos, foi me mostrar como esfregar o chão. Acho que na cabeça dele deve ter passado algo do tipo “Não sabe fazer coisa de homem e nem coisa de mulher”. Nascidas com útero, ensinadas a servir e cuidar, aos outros, nunca a si mesmas. Deve ser realmente chocante para a lógica masculina descobrir que mulheres não são domésticas natas. Se tornam pela obrigação que é imposta.

Assistindo a cena patética de mais um ego masculino querendo provar ser melhor que eu em algo, dei uma revirada de olhos, bati palma e parabenizei ele. Disse que ficava feliz em perder essa competição, afinal o grande objetivo da minha vida não é ser dona de casa. Eu prefiro dedicar meus dias a aperfeiçoar meu trabalho profissional, do que minha habilidade com a vassoura.

Eu venho de um lar matriarcal, e apesar da minha avó e da minha mãe não saberem o que é feminismo, elas foram grandes professoras no que diz respeito a independência feminina. Claro, reproduziram muitos atos e discursos machistas, e alguns perduram até hoje. Mas quando elas me deram uma vassoura a primeira vez para varrer, elas fizeram por mim, não por eles.

Me ensinaram de tudo: limpar casa, lavar roupa, cozinhar, trocar lâmpada, gás, botijão de água. Me ensinaram o que todo ser humano, independentemente de gênero, precisa saber: cuidar de si, cuidar do seu lar, gerir e manter sua vida. Não lembro de ouvir a clássica “já pode casar” dentro de casa (só fora). Mas sempre ouvi que precisava aprender essas coisas porque não teria elas para cuidarem de mim para sempre e também para quando eu fosse morar fora.

Hoje, tenho orgulho de dizer que não sou a melhor dona de casa. Faço o básico e sou satisfeita com isso. Claro que vez ou outra ligo para mainha para perguntar como cozinhar uma batata doce. Mas desde que me livrei do peso de ter que ser boa em afazeres domésticos, eles se tornaram mais fáceis, e eu passei a fazê-los por gosto, e não por obrigação.

E depois de um dia como ontem, que eu trabalhei, dediquei tempo ao meu lazer, fiz minhas marmitas e limpei minha casa para começar a semana bem, eu disse o que repito para mim mesma todos os dias: obrigada eu, por cuidar tão bem de mim, de um jeito que só eu sei! A cada dia que se passa confirmo a certeza que tenho: apenas mulheres cuidam de mulheres. E a tão sonhada revolução feminista mora ai.

Thífanny Alves

Jornalista

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on whatsapp
WhatsApp
Share on telegram
Telegram