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Colunistas Destaque Natalia Santos

6 Filmes dirigidos por mulheres que você precisa ver.

Você já assistiu a algum filme dirigido por uma mulher nesse ano? O número de mulheres no comando de sets ainda é pouco quando comparado aos nomes masculinos, mas elas ganham cada vez mais destaque e espaço no cinema. E o que não falta são obras maravilhosas para presentear os amantes da sétima arte. Que tal escolher o Dia Internacional da Mulher para prestigiar o trabalho de uma diretora? Aqui vão algumas dicas de filmes incríveis dirigidos por mulheres.

6. Encontros e Desencontros – Sofia Coppola

Este é o filme mais conhecido da diretora Sofia Coppola, que se tornou um ícone “indie” do cinema. Na trama, Bill Murray interpreta o ator de cinema Bob Harris, que está em Tóquio para fazer um comercial de uísque. Lá, Bob conhece por acaso Charlotte (Scarlett Johansson), uma mulher que está na cidade acompanhando o marido fotógrafo que a deixa sozinha o tempo todo. Em pouco tempo os dois tornam-se grandes amigos.

5. Adoráveis mulheres – Greta Gerwig

Gerwig tem um estilo muito próprio de fazer cinema, e sua adaptação ao romance de Louisa May Alcott é a minha favorita. A história se passa nos anos seguintes à Guerra de Secessão, contando a história de quatro irmãs que compartilham as dificuldades e os prazeres de suas vidas, com personalidades, talentos e sonhos bastante distintos.

4. Precisamos Falar Sobre Kevin – Lynne Ramsay

Esse é um daqueles filmes que você não vai esquecer fácil e que tem uma mensagem muito forte sobre a maternidade. A trama fala sobre Eva, uma mulher que nunca desejou ser mãe e que possui uma relação bastante complicada com seu filho Kevin. É uma história forte, densa, mas que merece ser vista e debatida.

3. Bicho de Sete Cabeças – Laís Bodanzky

Bicho de Sete Cabeças é um dos melhores filmes nacionais da história e é dirigido por uma mulher, o que me dá muito orgulho. Nele, Rodrigo Santoro interpreta Neto, um rapaz que tem um relacionamento difícil com o pai, que decide interná-lo em um manicômio. Na trama, podemos acompanhar o sofrimento do jovem na instituição, o que se traduz em uma espécie de protesto e apoio à luta antimanicomial no nosso país.

2. Relíquia Macabra – Natalie Erika James

Como uma boa fã de terror, eu não poderia deixar de trazer uma dica do gênero nessa lista. Relíquia Macabra é um filme psicológico, cheio de simbolismos e que tem como núcleo principal três gerações de mulheres: filha, mãe e avó são assombradas por uma manifestação de demência que consome a casa onde estão.

1. Emma – Autumn de Wilde

Por fim, trago uma adaptação de Emma (Jane Austen), de uma das minhas romancistas favoritas e dirigido pela cineasta Autumn de Wilde. O filme tem uma estética deslumbrante e acompanha a vida de Emma Woodhouse, uma garota bonita, inteligente e rica, mas que se aventura formando casais que considera apropriados, sem levar em conta os problemas que causa com isso.

Esses filmes foram escolhidos a dedo, portanto, espero que gostem e apreciem o trabalho dessas mulheres excepcionalmente talentosas.

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Colunistas Destaque Shemilla Paiva

A mãe, esta inadequada

Não há lugar onde a mãe não seja uma presença que melhor seria se alí não estivesse 

A mulher com náusea, vomitando ou tendo um episódio de desmaio. É assim que a novela avisa que a personagem engravidou. Na concretude dos fatos quase sempre é diferente, o alerta vem depois que a mulher chega de um dia de trabalho e sente as pernas doerem em dobro, a enxaqueca persistindo mesmo depois de tomar o analgésico encontrado no fundo da bolsa entre as notas fiscais amassadas e os seios mais sensíveis do que o habitual da ovulação. Um beta confirmado é uma sentença, e é claro que a sentenciada ainda nem faz ideia do caminho de profundas rupturas, disforias e cisões. 

O arquétipo da mãe é posto como lugar de chegada natural para a mulher. Essa naturalização da maternidade, ou seja, esse movimento compulsório que nos lança para o gerar, o parir e o cuidar tem uma força proporcionalmente inversa ao suporte, acolhimento e investimentos políticos voltados para o maternar. Dizemos, então, numa tentativa de sermos validadas, que nós criamos os cidadãos do amanhã. Não adianta.  

É preciso entender que ser mãe numa racionalidade neoliberal envolve nutrir e fazer vingar aqueles que serão a força de trabalho do futuro. Talvez seja esse o único argumento com alguma chance de convencer que isso que fazemos é trabalho. Trabalho que não exclui o amor retumbante. E é uma lástima ainda ter que fazer esse adendo para evitar o risco de receber o título de menos mãe.

A mãe que está inserida no ambiente da academia se vê receosa de sequer citar o filho sob o fantasma de poder parecer estar usando a criança como desculpa ou – sic – vantagem. A mãe que está no setor privado se desespera com a possibilidade de ser descartada após voltar da licença. A mãe que deixa de trabalhar no mercado formal parece de cada olhar que a julga feito chicote. A mãe é esta inadequada e não há lugar onde a mãe não seja uma presença que melhor seria se alí não estivesse.

Maternar é um ato político. É preciso chover nesse molhado em looping infinito até que as mães sejam ouvidas, respeitadas, valorizadas. Nós não somos mãezinhas. A produção de sentidos sobre a maternidade reveste a mulher mãe de uma aura de candura e benevolência que em nada agrega, ao contrário, só nos afasta dos direitos e  acessos. Nós não queremos estudar, trabalhar e ocupar espaços como se nós não tivéssemos filhos. Nós queremos que o fato de sermos mães não soe como um motivo para duvidarem de nossa capacidade, disponibilidade e potência. E nós queremos devolver essa desconfiança que a sociedade tem para conosco em forma de indagações: por que desconfiam de nossa capacidade de entrega se apenas ocupamos um papel que sempre nos foi vendido como dádiva? Parece que vocês sabem muito bem a solidão e sobrecarga às quais somos lançadas assim que o útero cumpre seu trabalho, não é mesmo?

Esses são os aspectos políticos, mas, há também os quesitos humanos neste solo da maternidade. Há, pasmem, mães que detestam seus filhos. Há mães que amam seus filhos e detestam serem mães. Há mães que amam seus filhos e a maternidade. A mulher mãe é um sujeito que se compõe em atravessamentos muitos. Escapulimos do já posto presente nas tão difundidas narrativas religiosas, publicitárias ou psicanalíticas. 

Uma mãe sempre irá se sentir inadequada. A mãe sempre irá sentir que você já não confia que ela possa entregar o trabalho no prazo. A mãe sabe muito bem que você acha que agora ela está mais propensa a se deixar levar pelo emocional. Afinal, a mãe, essa instável. Sugiro que assistam Maid, A Filha Perdida e Mães Paralelas na próxima busca audiovisual. Sugiro que vejam nossos filhos como responsabilidade de uma sociedade inteira. Sugiro que não descartem nossa existência depois que nosso corpo reproduz. Sugiro que não coloquem a maternidade como realização ou irrealização feminina. A maternidade escapa. 

A mãe quer estudar, quer trabalhar, quer fazer dinheiro, quer ser e estar em completude. A mãe embala a cria e sente seu coração bater em uníssono com aquele ser que, na maioria das vezes, ela ama perdidamente. A mãe pode querer se contorcer numa siririca num domingo de neblina. A mãe escreve teorias. A mãe compõe. A mãe cozinha. A mãe sente os coágulos de sangue escorrendo entre as pernas no pós parto a cada vez que o bebê suga sua mama. A mãe possibilita o trabalho masculino. A mãe lida com a filha que foi e com a mãe que teve. A mãe toca o barco. A mãe salta no bote. Agora, veja bem, se tudo continua é porque a mãe faz continuar. E a mãe, ainda que vocês pensem que estão fingindo bem, sabe que vocês melhor achariam se alí ela não estivesse.

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Aryanne Queiroz Colunistas Destaque

O que é ser mulher?

É doar-se, sem medidas.
É cicatrizar feridas.
É ser sem fronteiras.
É ir além das boas maneiras.
É reiventar-se, constantemente.
É amar e amar e amar, sucessivamente.
É saber lidar com os desafios.
É também viver por um fio.
É vencer a TPM, mês a mês.
É dizer que foi lá e fez!
É ter coragem de enfrentar leões.
É encarar, dia a dia, tantos machões.
É ter o direito de ser fraca ou forte.
É não desanimar, é não perder o norte.
Ser mulher é sinônimo de muito combate.
Não há quem possa com uma mulher de verdade!
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Ady Canário Colunistas Destaque

“Como ela conseguiu passar no doutorado?”: Racismo genderizado e as (in)visibilidades históricas das mulheres

Em 8 de março é comemorado o Dia Internacional das Mulheres, data instituída a partir das Organizações Internacionais. Ao longo desse processo, são muitos os desafios e conquistas na luta do movimento de mulheres. Assim, aproveitamos para trazer as “Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano” (2019), da escritora Grada Kilomba. Uma importante obra para refletirmos individual e coletivamente as variadas questões que ainda nos inquietam, ontem e hoje. Com escrita reveladora, trata-se de uma abordagem interdisciplinar na perspectiva de novos conhecimentos, reunindo relatos reais de racismo por meio de narrativas contundentes. Uma excelente leitura, a quem se interessar pelo tema. São muitos ensinamentos e novos conhecimentos.

     Destacamos alguns pontos e trechos extraídos do capítulo 4. Nos chamou a atenção a discussão acerca do conceito de racismo genderizado. Lemos atentamente a narrativa de um acontecimento quando ela tinha entre 12 e 13 anos. Durante uma consulta foi interpelada por um médico, homem branco em Portugal: “Você gostaria de limpar nossa casa?”. A filósofa indaga se ela fosse uma paciente branca ele teria perguntado? Diante disso, conta que: “O homem transformou nossa relação médico/paciente em uma relação senhor/servente: de paciente me tornei a servente negra, assim como ele passou de médico a um senhor branco simbólico, […]”, descreve Kilomba (p. 93). Sem sombra de dúvida, são episódios que nos marcam.

           Tal episódio, dentre outros contados no livro são  recorrentes na realidade das mulheres negras. Nesse contexto, partilhamos semelhantes histórias em nosso percurso. Quando assumimos um cargo institucional, um homem entrou na nossa sala e falou: – “Já está aí?”. Essa foi a “saudação de boas vindas”. Outra ocorrência, fui a um espaço para entregar o meu  currículo e os comprovantes. Uma melhor perguntou: “Esse  currículo é dessa daí”? Será se eu fosse uma mulher branca, teriam pronunciado tais enunciados? Por que essas falas e não outras em seu lugar? São as formas do racismo genderizado nos espaços de poder?  Outro ocorrido, quando fomos aprovada no curso de doutorado,  uma mulher perguntou a minha mãe,  “como ela conseguiu passar?”

     Dessa forma, o racismo genderizado pontua as relações entre raça, gênero e racismo no cenário da violência às mulheres negras. A filósofa aborda que: “Mulheres negras têm sido, portanto, incluídas em diversos discursos que mal interpretam nossa própria realidade: um debate sobre racismo no qual o sujeito é o homem negro; um discurso genderizado no qual o sujeito é a mulher branca; e um discurso de classe no qual “raça” não tem nem lugar. Nós ocupamos um lugar muito crítico dentro da teoria”, destaca (p. 97).

        Isso revela  […] “um sério dilema teórico, em que os conceitos de raça e gênero se fundem estreitamente em um só. Tais narrativas separadas mantém a invisibilidade das mulheres negras nos debates acadêmicos e políticos” (p. 98), argumenta. Realmente, ainda há muito a estudar e discutir acerca das relações raciais como parte da nossa tarefa cotidiana. Para a escritora: “Um fenômeno que atravessa várias concepções de “raça” e de gênero, nossa realidade só pode ser abordada de forma adequada quando esses conceitos são levados em conta” (p. 98).

     Nesse sentido, afirma as intersecções como não singulares, pois se entrecruzam na constituição da subjetividade e experiências das mulheres negras. Isso em razão do racismo que estrutura visões racistas de gênero nos espaços e debates. Há lugar para raça? A autora afirma que mulheres negras também são genderizadas, isto é, tornadas invisíveis e ignoradas, contudo não podem ser invisibilizadas na hierarquia de poder.

      Portanto, o conceito de racismo genderizado, em estudo, se reveste de suma importância na produção de novos modos de subjetividade à luz de feministas negras, bem como no enfrentamento às invisibilidades históricas das mulheres negras e demais grupos étnico-raciais. Devemos considerar, conforme Grada: “O movimento e a teoria de mulheres negras têm tido, nesse sentido, um papel central no desenvolvimento de uma crítica pós-moderna, oferecendo uma nova perspectiva a debates contemporâneos sobre gênero e pós-colonialismo” (p. 108). Continuamos empreendendo.

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Destaque Lutas Feministas

8 de Março: Dia de resistência e luta pela vida das mulheres

Com o mote “Pela Vida das Mulheres Bolsonaro Nunca Mais! Por um Brasil sem Machismo, Racismo e Fome”, mulheres tomam as ruas neste 8 de Março, Dia Internacional da Mulher.

Em Mossoró várias ações já estão acontecendo desde o início da manhã de hoje. Cada organização e movimentos feministas vem registrando sua presença na luta, com atividades em vários pontos da cidade.

No início da manhã a Coletiva Motim Feminista realizou a Alvorada Feminista, na praça da catedral. A ação contou com um abordagem de populares nas ruas, com entrevistas para o programa simbólico “Rádio TV Feminista”.

Ainda dentro da programação do 8M, a Marcha Mundial das Mulheres em Mossoró realiza uma ação política em frente ao Centro Feminista 8 de Março, desde as 8h, com feira de economia feminista e solidária, dando visibilidade ao trabalho das mulheres, baseado nos princípios da agroecologia, da economia solidária.

Além da feira, o evento contou com o debate: Feminismo popular e as lutas de 2022 com a deputada estadual Isolda Dantas; Michela Calaça do Movimento Mulheres Camponesas; Hilberlandia Fernandes da Comissão Pastoral da Terra e Rejane Medeiros do Centro Feminista 8 de Março.

A tarde acontece o ato unificado das mulheres de Mossoró que será às 16h30, na Praça do Pax. Antes de chegar a praça haverá a concentração em dois pontos específicos. São dois blocos, um sai da praça do shopping Boulevar e o outro da praça da Igreja do Perpétuo Socorro, nas proximidades do Centro Feminista 8 de Março.

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Destaque Violência contra mulher

Oito mulheres foram vítimas de feminicídios em pouco mais de dois meses no RN

Ingrid Carolinny Soares dos Santos, de 28 anos, foi encontrada morta na noite da última quinta-feira (3) dentro do “açude do padre”, na cidade de Campo Grande. O principal suspeito do crime é Willame Xavier do Nascimento, 36 anos, com quem Ingrid foi vista bebendo na última quarta-feira (2). (fonte: mossorohoje.com.br) 

Na mesma noite da última quinta-feira (3) um homem matou a ex-mulher com um tiro na cabeça no conjunto Parque dos Coqueiros, na Zona Norte de Natal, e depois cometeu suicídio. Manuela Josino Miranda, de 32 anos, foi morta na frente das duas filhas e da mãe. (fonte: g1.com.br).

Em 22 de fevereiro de 2022, Kalina de Azevedo Marques, 43 anos, foi morta a tiros pelo marido, na grande Natal. Maurício Rocha de Farias Neto, 39 anos, não aceitava a separação. Após matar a esposa, ele cometeu suicídio. (fonte: g1.com.br).   

Ingrid, Manuela e Kalina estão entre os oito casos de feminicídio já registrados entre 1° de janeiro e 4 de março de 2022, segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed/RN).  São mulheres que foram mortas por sua condição de ser mulher, pelo machismo.  

De acordo com a professora Suamy Soares, do curso de Serviço Social da Uern, e coordenadora do Núcleo de Estudos sobre a Mulher (NEM/Uern), os dados são um indício de que a violência contra mulher está se agravando e que a condição das mulheres no RN é de extrema vulnerabilidade. “A gente sabe que a violência contra mulher é um fenômeno social, histórico, cultural, que está arraigado na formação social do Brasil e que impacta a vida das mulheres, seja na esfera do trabalho, em casa, na rua. Mas elas têm acontecido com bastante força nesse período pandêmico”, ressalta.     

Para a professora, o quadro demonstra a necessidade de políticas de prevenção a violência contra mulher e o feminicídio, considerando que apenas a Lei Maria da Penha como instrumento de punição não vem sendo eficaz no enfrentamento à violência contra mulher. Uma realidade que se constata através das próprias estatísticas. Ela acrescenta que as violências que ocorrem na esfera doméstica têm assumido dados alarmantes. O Brasil segue sendo o quinto país que mais mata mulheres no mundo, e o RN, também, o quinto Estado do Brasil mais violento para mulheres. 

“Tivemos oito casos de feminicídio em três meses e precisamos destacar que essas violências que são praticadas contra mulheres se agravam quando a gente acrescenta recorte de classe, de raça. Então, é importante destacar que todas as mulheres sofrem violências, mas que as mulheres negras e pobres sofrem mais abatimentos. Os números têm mostrado que, apesar de existir lei para punição dos agressores, as mulheres seguem sendo violentadas e isso mostra a necessidade de políticas eficazes de prevenção a violência e educação e gênero. É preciso que a gente fortaleça a discussão de gênero. Estamos num momento em que o país passa por cortes orçamentários no campo das políticas públicas destinadas às mulheres, um rebaixamento do debate dos direitos humanos e da defesa das mulheres, e tudo isso repercute no aumento das violações. Nosso cenário atual é pavoroso e muito difícil, e a conjuntura atual só fortalece esse cenário de dificuldades e vulnerabilidades para as mulheres”, destaca.      

O Rio Grande do Norte já é considerado um dos Estados mais violentos para as mulheres. Em 2021 o RN registrou elevadas estatísticas de violências praticadas contra mulheres. Dados referentes ao somatório dos registros da Lei Maria da Penha para os crimes de ameaça, calúnia, descumprimentos de medidas protetivas de urgência, injúria, lesão corporal, vias de fato, estupro, estupro de vulnerável e violência doméstica no ambiente familiar contra a mulher apontaram um aumento de 51,1%, num comparativo entre 2020 e 2021, segundo dados da Secretaria de Comunicação Social da Polícia Civil (Secoms). Incluídos nesse número os casos de violência doméstica praticados contra mulher não só pelo parceiro, mas, também, pelos familiares. Conforme os registros de janeiro a setembro de 2020, foram 2.945 casos de violência doméstica. Nesse mesmo período de 2021 (janeiro a setembro), foram 4.421.

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Destaque Gerais

Cebi realiza Vigília de Oração Pela Vida das Mulheres na praça São José, as 18h

Faltam poucos dias para o 8 de Março. Em Mossoró uma série de atividades estão programadas para acontecer, como é o caso do grande ato na Praça do Pax, às 16h30, e outras já estão sendo executadas. Além do ato principal, as organizações e coletivos feministas já vêm desenvolvendo ações alusivas ao 8M.

Neste sábado (05) acontece a Vigília pela Memória das Mulheres Presentes na Caminhada, na Praça Pe. Guido Tonelloto (Praça da Igreja S. José), às 18h. O ato é organizado pelo Centro de Estudos Bíblicos (Cebi), que integra as entidades que lutam pela Vida das mulheres.

De acordo com Zélia Cristina Pedrosa, da assessoria da Cebi, é importante a presença de todas em mais um momento de luta. Na Vigília serão lembradas, especialmente, as mulheres que se dedicaram à luta antes de nós.

“Como entidade ecumênica que se dedica à leitura libertadora da Bíblia, nós propomos uma vigília de oração, preparando esta jornada de lutas. Celebramos a grande bênção de sermos mulheres. Nossas ideias, nossos dons, tudo o que nos faz mulher e que nos fortalece cada dia para seguir lutando e abrindo caminhos para que este mundo seja diferente, inclusivo e igualitário em relação a direitos e oportunidades”, destaca Zélia.

O momento é de recordar as muitas mulheres que abriram caminhos e lutaram pelo fim da violência contra mulher e reivindicaram nossos direitos. “Unimo-nos em uma corrente, em uma rede com toda nossa rica região latino-americana e caribenha para celebrar este dia, dando graças a Deus por nos criar à sua imagem e semelhança, delicadas e fortes, sensíveis, inteligentes e valentes, lutando dia a dia e fazendo que nossas vozes sejam escutadas”, finaliza.

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Destaque Gerais

Talento, criatividade e empreendedorismo das crocheteiras messienses

É de uma agulha, um novelo de lã, criatividade e, principalmente, da paciente arte de alinhavar fios, que nascem as produções das crocheteiras de Messias Targino. Roupas, produtos de enxoval, chapéus, moda praia e mais uma variação de produtos já ultrapassam o mercado messiense e hoje chegam às lojas de renome nacional.  

O crochê sempre fez parte da história da cidade, porém, poucas mulheres se dedicavam à arte. Atualmente um grupo de mulheres vem se destacando no segmento com a produção de peças modernas e que seguem as tendências do mercado. A cidade hoje conta com mais de trinta artesãs, de todas as idades. As mais novas, influenciadas pelas veteranas que têm se engajado no trabalho de ensinar e orientar a quem é iniciante. 

Atualmente o crochê não é mais visto com a percepção apenas de um trabalho realizado pela mulher “prendada” que “já pode casar”, mas como uma expressão artística, empoderamento, autonomia financeira. Afinal parte das mulheres tem essa arte como fonte principal de renda, outras, como complemento que faz a diferença no orçamento no final do mês.

 

 

A forma tradicional de produzir ainda existe entre parte delas. Algumas ainda ficam nas calçadas, geralmente em grupos, em suas cadeiras de balanço, fazendo sua própria jornada de trabalho. Maria das Dores da Silva, 74 anos, é das mais antigas. Profissional que se destaca no bordado, corte e costura e no crochê, dona Maria é considerada uma verdadeira artista e sempre foi muito solicitada na cidade pela dedicação nas peças que produz. “A minha vida toda me dediquei a esse trabalho. Hoje, sigo fazendo minhas peças e orgulhosa do meu trabalho”, frisa.    

Luciete Jales tem sua história profissional diretamente ligada ao crochê. Desde os 12 anos que sua fonte de renda vem do artesanato. Habilidade registrada e reconhecida no biscuit, boneca de pano, pedrarias e, com um foco maior nos produtos de crochê. O mais importante, segue repassando o conhecimento e garantindo novos talentos. “Ter esse trabalho reconhecido e ver nossos produtos sendo valorizados é muito estimulante para gente continuar produzindo e reproduzindo novos talentos. É um prazer poder transmitir o que sei para as novas gerações, dessa forma, garantindo o seguimento dessa arte”, disse.

Além de ser fonte de renda, o crochê também movimenta a economia local, considerando que muitos dos produtos são vendidos dentro da cidade. Os preços variam. Existem peças de quatro reais e existem peças que chegam a trezentos reais. A venda é feita individual, ou seja, por cada crocheteira, e através de negociação entre lojas e a Secretaria de Cultura, que é quem dirige o projeto Messias Targino Terra do Crochê. 

A contrapartida do Município é feita por meio de um convênio com a Moda Depedro, uma marca que vem proporcionando voos a empreendimentos do segmento da moda e quem abriu as portas para o projeto. “Nesse convênio, a Prefeitura paga um determinado valor à marca e ela compra a produção das crocheteiras de Messias”, destaca George Almeida, coordenador do projeto. Inclusive, através dessa parceria com a Depedro, peça produzida por crocheteiras messienses já foi destaque na revista Vogue Brasil. 

George ressalta que em breve será instalada a loja das crocheteiras, um espaço onde cada uma delas terá seu ponto de venda. Além da loja, a Secretaria de Cultura planeja a formação de turmas para realização para cursos que serão destinados a quem tiver interesse em aprender a crochetar, tendo em vista a procura de mulheres interessadas em entrar no segmento. 

Mizaele Jales afirma que é do crochê que vem a principal ajuda no orçamento. A alta demanda pelas peças tem estimulado as mulheres a produzirem. “É uma fonte que eu posso contar. Além da parte financeira, esse projeto trouxe a oportunidade de novos aprendizados e novos projetos para minha vida. E quanto mais a gente se dedicar mais a gente vai ter retorno, principalmente financeiro. Posso dizer que tem sido muito importante o projeto e a intermediação da coordenação nas vendas, para que nossos produtos sejam valorizados e reconhecidos em outros lugares. Hoje nós temos uma boa demanda”, destacou Mizaela.  

Na produção das peças algumas delas recorrem à internet para se atualizar das tendências de cores e modelos, mas o que importa mesmo é entregar o produto como o cliente quer. “O crochê me proporcionou a oportunidade de criar peças que nunca imaginei conseguir criar. Estimula a minha criatividade. Cada peça concluída, logo me vem a vontade de começar a produzir outra. Além disso, tem sido uma fonte que complementa o orçamento, conquistando minha independência financeira e autonomia, ajudando a realizar meus projetos. Sou apaixonada pela arte de crochetar e vejo a possibilidade de empreender através das linhas e agulhas”, disse a pedagoga e também crocheteira Gigriola Lima.

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Colunistas Destaque Roberta Pereira

Machistas? Temos e aos montes! Pequenas notas sobre o óbvio

Santos e São Paulo, partida válida pelo campeonato Paulista, não vale nada, mas time grande tem que ganhar e derrota demite técnico.

O que importa nesse texto não é a péssima atuação do Santos por 3×0, tampouco se o campeonato é importante ou não. Apenas quero tecer algumas linhas sobre a arbitragem. 

…apitou a partida e errou, errou feio, errou rude. E não adianta, o machismo está lá guardado, pronto a ser destilado. Os xingamentos misóginos e machista ecoaram no campo, nas redes, nos grupos. Vi homens fazendo o de sempre, vi mulheres reproduzindo o que aprenderam. Nenhuma solidariedade, nenhuma identificação, somente o ódio que nos ensinaram a ter de nós.

Poucas linhas para dizer que não se alteram as relações machistas e patriarcais apenas ocupando posições, temos que estar em todos os lugares mas a que preço? As vezes penso que é apenas uma moratória e eles estão a espreita esperando o primeiro erro.

A árbitra em questão já foi punida uma vez por errar. E certamente o será novamente. Porque não se discute arbitragem no Brasil. É fácil resolver o problema de forma individual e sendo uma mulher quem ganha o jogo novamente é o machismo.

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Aryanne Queiroz Destaque Sem categoria

MULHERES, LEIAM(,) MULHERES!

Extremistas mostram o que mais os assusta: uma menina com um livro.(Malala Yousafzai)

Desde pequena amo ler, porém, pelo que me recordo, a maioria dos livros que li foram escritos por homens. Da Literatura Infantil, com certeza as leituras que mais me recordo são dos Irmãos Grimm: Chapeuzinho Vermelho, A Gata Borralheira (Cinderela), Bela Adormecida, Branca de Neve e os Sete Anões, Rapunzel. Dessas histórias, todas as mulheres eram passivas, precisavam ser “socorridas” de alguma forma por homens (a maioria príncipes), os quais as salvariam de alguma situação embaraçosa, pois eles, nesses contos, são os heróis, aqueles que sempre chegam na hora certa, demonstrando bravura e perfeição, garra e determinação. Lembro, vagamente, de me questionar sobre o porquê que as mulheres eram tão ingênuas, tão dóceis, tão frágeis…Cresci acreditando nisso. Me envergonho? Talvez. O que posso dizer é que fui uma menina, fruto de uma geração que também acreditou nisso e que sofreu ao se deparar com a realidade: homens batendo em mulheres nas ruas, gritando e esmurrando sem ninguém chegar perto para socorrer. Lembro-me de acordar, várias vezes, assustada, ao escutar gritos de mulheres sendo espancadas em frente a minha casa, dentro de carros, em cima de motos, no canto dos muros, deitadas no asfalto, enquanto a vizinhança olhava pelas frestas das janelas, sem reagir, sem socorrer, sem fazer absolutamente nada, como se aquele show de horrores fosse natural. Eu não conseguia mais dormir: voltava pra cama e ficava questionando os motivos pelos quais aquelas mulheres apanhavam tanto; me perguntava se “o príncipe” delas iriam aparecer para salvá-las. Só depois de passar por desilusões amorosas na adolescência foi que a ficha caiu: não existe “príncipe”, não existe. Claro, não estou aqui dizendo que não existem homens de boa índole. Não é isso. Estou aqui querendo mostrar que o que estava escrito nos livros infantis que li era pura ilusão, mas que não me foi explicado isso por ninguém. Aqueles livros que li eram produzidos por homens e lá estava o ideal, o vir-a-ser, o desejo deles de serem algo que não são. E nada disso foi explicitado. E essas histórias continuam se reproduzindo por aí, cabe a nós explicá-las para as nossas crianças que são fantasias. Cabe a nós também ler mais histórias reais, como a história da menina Malala. Quem dera ter lido, na minha infância, sobre meninas/mulheres reais, sobre a coragem dessa criança que enfrentou terroristas (homens!) para ter o direito de ler! Que sobreviveu e luta para que outras mulheres possam ter acesso à Educação. Quem dera que nas próximas gerações tenhamos mais Malalas, fazendo um percurso diferente e transformando vidas, através da escrita e da leitura. Almejo que com um livro na mão, nossas meninas sejam corajosas e não esperem por heróis, pois elas podem ser as heroínas das suas próprias vidas! Descobri tarde esse poder que me pertence, mas não tão tarde ao ponto de não me mover para plantar as minhas sementes na escrita. Escrevo para que meninas/mulheres possam ver que nunca é tarde para transformar o mundo através da leitura. Que possamos combater o terrorismo do dia a dia com livros – e de preferência, com livros escritos por mulheres que lutam, para nos inspirar e fugir das ilusões que tentaram/tentam inserir em nossas mentes e nos anestesiar, a todo custo.