MULHERES, LEIAM(,) MULHERES!

Extremistas mostram o que mais os assusta: uma menina com um livro.(Malala Yousafzai)

Desde pequena amo ler, porém, pelo que me recordo, a maioria dos livros que li foram escritos por homens. Da Literatura Infantil, com certeza as leituras que mais me recordo são dos Irmãos Grimm: Chapeuzinho Vermelho, A Gata Borralheira (Cinderela), Bela Adormecida, Branca de Neve e os Sete Anões, Rapunzel. Dessas histórias, todas as mulheres eram passivas, precisavam ser “socorridas” de alguma forma por homens (a maioria príncipes), os quais as salvariam de alguma situação embaraçosa, pois eles, nesses contos, são os heróis, aqueles que sempre chegam na hora certa, demonstrando bravura e perfeição, garra e determinação. Lembro, vagamente, de me questionar sobre o porquê que as mulheres eram tão ingênuas, tão dóceis, tão frágeis…Cresci acreditando nisso. Me envergonho? Talvez. O que posso dizer é que fui uma menina, fruto de uma geração que também acreditou nisso e que sofreu ao se deparar com a realidade: homens batendo em mulheres nas ruas, gritando e esmurrando sem ninguém chegar perto para socorrer. Lembro-me de acordar, várias vezes, assustada, ao escutar gritos de mulheres sendo espancadas em frente a minha casa, dentro de carros, em cima de motos, no canto dos muros, deitadas no asfalto, enquanto a vizinhança olhava pelas frestas das janelas, sem reagir, sem socorrer, sem fazer absolutamente nada, como se aquele show de horrores fosse natural. Eu não conseguia mais dormir: voltava pra cama e ficava questionando os motivos pelos quais aquelas mulheres apanhavam tanto; me perguntava se “o príncipe” delas iriam aparecer para salvá-las. Só depois de passar por desilusões amorosas na adolescência foi que a ficha caiu: não existe “príncipe”, não existe. Claro, não estou aqui dizendo que não existem homens de boa índole. Não é isso. Estou aqui querendo mostrar que o que estava escrito nos livros infantis que li era pura ilusão, mas que não me foi explicado isso por ninguém. Aqueles livros que li eram produzidos por homens e lá estava o ideal, o vir-a-ser, o desejo deles de serem algo que não são. E nada disso foi explicitado. E essas histórias continuam se reproduzindo por aí, cabe a nós explicá-las para as nossas crianças que são fantasias. Cabe a nós também ler mais histórias reais, como a história da menina Malala. Quem dera ter lido, na minha infância, sobre meninas/mulheres reais, sobre a coragem dessa criança que enfrentou terroristas (homens!) para ter o direito de ler! Que sobreviveu e luta para que outras mulheres possam ter acesso à Educação. Quem dera que nas próximas gerações tenhamos mais Malalas, fazendo um percurso diferente e transformando vidas, através da escrita e da leitura. Almejo que com um livro na mão, nossas meninas sejam corajosas e não esperem por heróis, pois elas podem ser as heroínas das suas próprias vidas! Descobri tarde esse poder que me pertence, mas não tão tarde ao ponto de não me mover para plantar as minhas sementes na escrita. Escrevo para que meninas/mulheres possam ver que nunca é tarde para transformar o mundo através da leitura. Que possamos combater o terrorismo do dia a dia com livros – e de preferência, com livros escritos por mulheres que lutam, para nos inspirar e fugir das ilusões que tentaram/tentam inserir em nossas mentes e nos anestesiar, a todo custo.

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