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Colunistas Rafaela Gurgel

A importância dos marcos do desenvolvimento

A foto que ilustra o texto de hoje, para mim, é emblemática. Foi onde tudo verdadeiramente começou a fluir. Gabriel tinha exatos 1 ano e 10 meses de idade, eu era aluna do curso de Pedagogia da UERN e havia começado a estagiar com um aluno autista em uma escola da rede municipal de ensino e estava sendo monitora na universidade, com uma professora que admiro muito, enquanto pessoa e profissional. Foi dela um bom apoio emocional quando precisei, um dos vários anjos de luz que cruzou meu caminho. Gratidão!

Neste dia, da foto especificamente, era dia de oficinas pedagógicas preparadas pelos alunos onde seriam expostos recursos confeccionados pelos mesmos, tudo muito lúdico e expositivo. Fui incentivada pela minha professora a levar Gabriel para que ele pudesse sentir um pouco o universo da educação infantil, foco da proposta. 

Ele chegou e ficou encantado, explorou os quatro cantos da sala, mexeu em todos os materiais, subia nas carteiras, corria, mas não conseguia estabelecer relações com as pessoas. Era como se não houvesse mais ninguém. Passou vários minutos girando alguns círculos e enfileirando as garrafas pet milimetricamente na mesma posição. O foco dele eram as coisas e não as pessoas.

Algumas situações só conseguimos ver com clareza com o tempo e muito estudo. Quando comecei a estudar com mais afinco pude perceber que as crianças, biologicamente, passam por fases. É científico! Elas passam por várias etapas no desenvolvimento até ganhar habilidades e passar para um novo ciclo. Interessante é que nunca tinha ouvido falar disso na tevê, cartão de vacina ou nas consultas pediátricas. Logo abaixo detalharei o que seu filho (a) precisa estar hábil a fazer nos primeiros 24 meses de vida. Fique atento!

2 meses:

  • Sorrir para as pessoas;
  • Fazer barulhos com a boca;
  • Virar a cabeça em direção aos sons;
  • Seguir objetos com os olhos e reconhecer pessoas.

4 meses:

  • Gostar de brincar com as pessoas;
  • Balbuciar;
  • Tentar pegar um brinquedo com uma mão;
  • Seguir as coisas com o movimento dos olhos;
  • Rolar de barriga para baixo.

6 meses:

  • Reconhecer rostos familiares;
  • Levar objetos à boca;
  • Observar as coisas ao redor;
  • Começar a sentar sem apoio.

9 meses:

  • Pode ter medo de estranhos;
  • Possui brinquedos favoritos;
  • Compreende “não”;
  • Começa a engatinhar.

1 ano:

  • É tímido ou nervoso com estranhos;
  • Possui pessoas e objetos preferidos;
  • Responde pedidos simples verbais;
  • Usa gestos simples, como balançar a cabeça simbolizando “não” e dar “tchau”;
  • Consegue identificar um objeto quando solicitado para mostrar.

2 anos:

  • Mostra cada vez mais independência;
  • Pode apresentar comportamento desafiador ao pedido dos pais;
  • Conhece os nomes das pessoas familiares e partes do corpo;
  • Formula frases com 2 a 4 palavras;
  • Começa a separar formas e cores;
  • Consegue correr.

Todos esses pontos são norteadores para uma evolução satisfatória nos primeiros anos de vida. É necessário que os pais se atentem a analisar os progressos de sua criança a fim de que possam intervir caso haja necessidade; certa vez li uma entrevista de um renomado neuropediatra do sul do Brasil em que ele dizia que não existe isso de “tempo da criança”, no sentido de justificar atrasos significativos. Claro que, como seres biológicos e sociais, temos interesses e tempos distintos, mas não podemos nos ater a um parâmetro limitador. Os atrasos, quando não percebidos e viabilizados a tempo trazem uma série de transtornos à vida da criança, em alguns casos perdidos dada a neuroplasticidade cerebral, que é quando o cérebro está em constante atividade envolvendo neurônios por meio de sinapses nervosas.

Espero ter dado boas contribuições. Até o próximo post…

 

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Clarissa Paiva Destaque

Dilemas à porta dos 40 – O peso de uma coroa

Se foi para homenagear a experiência da mulher madura, o termo coroa acabou tendo um peso extra sobre nossas cabeças.
A temida curva chega para todos; e se os ‘coroas’ ganham ares de galãs, no feminino é aquele ‘Deus nos acuda’.
Sabe a música tosca do mais tosco ainda Sérgio Reis? “Não me interessa se ela é coroa…panela velha é que faz comida boa”. Fiz o esforço de escrever isso aqui porque, enfim, há leitoras mais jovens que podem não conhecer o sucesso nacional amplamente tocado e dançado por aí. Pois é… A gente perde o colágeno, a cor dos cabelos, mas não perde o posto de ‘objeto’.
Pra não cair na mesmice da reclamação e das explicações óbvias de que não há graça alguma em ser assediada, vou mudar o tom aqui. Deixo um recado para as manas de vinte e poucos anos:
Amores, vocês estarão prontas; não temam envelhecer. Seus pescoços e ombros já estarão fortes para o peso da coroa. É possível que vocês já tenham carregado, até lá, muitas circunstâncias, pessoas e projetos que te deram o tônus e a experiência necessária. Comemorem! Vistam a coroa com toda alegria, e elevem suas cabeças. Certamente seu caminhar estará mais suave, seu sorriso mais fácil, e seu olhar mais confiante. Seus passos serão mais seguros; e mesmo em meio a caminhos escorregadios, habilidades intrínsecas surgirão como mágica.
Se você resolver recomeçar, saiba que as voltas da vida são espirais, e ainda que pareça estar no mesmo lugar, haverá sempre a experiência, te fazendo ver a partir de um novo ângulo.
O tempo já não passará despercebido; e isso é ótimo. Mesmo assim, haverá dias (espero que sejam muitos) em que você voltará a ser criança. Essa é outra vantagem: a gente descobre que nunca estará pronta; que sempre haverá novos sonhos, e que se você não encontrar ‘roupa’ para a ocasião especial, poderá ir de qualquer jeito; já que o som da opinião alheia tem menos volume, a cada ano que passa, enquanto a vontade de viver simplesmente aumenta.
Outro dia uma amiga querida exemplificou as fases da mulher como uma matrioska (boneca russa que guarda várias outras dentro de si, como em camadas). A gente deixa de ser uma, mas mantém a anterior dentro da gente. Achei muito sábia essa analogia. É assim com todo mundo. Vamos nos preenchendo de nós mesmos, e não é má ideia nos abrirmos vez ou outra para brincar com todos os nossos outros eus.
Voltando à coroa… não hesite em arremessá-la no engraçadinho que te importunar. Use força suficiente para derrubá-lo.
Cate a coroa.
Siga em frente.
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Ady Canário Colunistas Destaque

Sementes da memória e linguagem social inclusiva: “Glossário Antirracista”

 “[…] no varal de um novo tempo/escorrem as nossas lágrimas/fertilizando toda a terra/onde negras sementes resistem/reamanhecendo esperanças em nós” (Conceição Evaristo). 

 

O verso acima sintetiza parte do nosso sentimento e nos inspira, pois dessa forma nos sentimos ao ler o “Glossário Antirracista” (SESC/SP). Ficamos na esperança, sonhos e conquistas das ondas negras de resistência, em cada palavra no caminhar da geração negra. Uma obra importante para a construção da linguagem antirracista e o enfrentamento à discriminação linguística. O glossário nasce a partir do Projeto Do 13 ao 20 (Re)Existência do Povo Negro”, do Sesc São Paulo, cuja ação visa ao fortalecimento da identidade cultural e diversidade das pessoas negras, além do enfrentamento ao racismo e todas as formas de dominação.   

No contexto da discussão sobre racismo, discriminação, preconceito e desigualdades raciais em nosso país, o “Glossário Antirracista” é um marco histórico e colabora para a ampliação da linguagem social, inclusiva e antirracista que enaltece o povo negro, seu legado extremamente importante na sociedade brasileira, incluindo todos os grupos. Sabemos que, um dos modos de produção de racismo no Brasil se dá por meio do vocabulário, uso de expressões e discurso odiosos racistas, termos usados no cotidiano, sobretudo contra mulheres negras e a juventude negra, principais alvos de opressões combinadas. Ademais, são esses grupos que estão no alto do número da violência racista em suas dimensões de classe, raça e gênero.

O “Glossário Antirracista”, em síntese, analisa a linguagem e verbetes com um rico referencial bibliográfico, conceitual e histórico, tais como: “antirracismo”, “branquitude”, “consciência negra”, “diáspora africana”, “estética negra”, “genocídio”, “movimento negro”, entre outros termos de forma objetiva e didática. Entendendo, então, que essa produção antirracista reconhece as pessoas negras no campo da linguagem e no viés inclusivo, sendo um gênero relevante para a arena discursiva, pois em cada enunciado pronunciado vemos um espaço singular para a existência negra e resistência ao longo da história na cultura brasileira. Isso representa a valorização humana e cidadã.

Assim, compreendemos que a linguagem antirracista também é inclusão. Esta acontece associada a diversas formas de relações de poder e de ações humanas, de modo subjetivo, objetivo e dinâmico nas interações verbais. Consideramos o “Glossário Antirracista” a grande possibilidade de empoderar, diariamente, as pessoas que desejam contribuir com o enriquecimento de práticas antirracistas, na esperança de ampliar as formas de superação ao racismo. É importante destacarmos que outras pesquisas existem sobre o tema na perspectiva de práticas antirracistas e antipatriarcais e igualmente importantes, além da afirmação positiva das identidades negras. 

Nesse sentido, compartilhamos o link, a quem interessar ler a obra, nos desafios de estimular a leitura reafirmando o antirracismo na memória do passado, presente e futuro. Parabéns aos que fazem o “Glossário Antirracista” e pela disponibilização em ambiente digital a fim do alcance público, bem como a ampliação da linguagem antirracista e inclusiva no que diz respeito ao protagonismo negro.

https://www.sescsp.org.br/online/artigo/15462_GLOSSARIO+ANTIRRACISTA

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Colunistas Destaque Natalia Santos

Bela Vingança: o desconforto da verdade inevitável.

Dramas do cotidiano feminino dificilmente são roteirizados e dirigidos por mulheres e chegam a ter o devido reconhecimento tanto da crítica quanto do público. Por isso, é gratificante ver que obras como Bela Vingança (Promising Young Woman) conquistaram certo prestígio. 

O longa de Emerald Fennell, lançado em 2020, chegou um pouco mais tarde no Brasil, e, em uma exibição única feita durante o Festival do Rio no serviço de streaming Telecine, tive a oportunidade de mergulhar nessa história ácida, atual e implacável.

Em seus primeiros momentos, o filme passeia pelo suspense com pitadas humor sarcástico, apresentando a protagonista em situações corriqueiramente vivenciadas pelas mulheres. Cassandra, interpretada brilhantemente por Carey Mulligan, passa suas noites fingindo estar bêbada em bares e boates, com o intuito de atrair “caras legais” para uma armadilha, surpreendendo os sujeitos que tentam abusá-la em sua embriaguez forjada. 

No decorrer da trama, no entanto, nossas expectativas são completa e positivamente subvertidas, visto que o título do filme e as situações iniciais que ele apresenta ao espectador sugerem que a vingança de Cassie poderia ser digna de filmes de terror “gore”, onde vemos uma “final girl” que detona qualquer malandro que ousar aparecer em sua frente.

Fennell vai além do esperado, adentrando no drama pessoal da protagonista, fazendo o espectador sentir e se conectar, por vezes diminuindo ou mudando o tom, para no fim retomar o ritmo inicial com uma reflexão válida e muito necessária. 

Bela Vingança se arrisca com uma história cujo ponto principal é escancarar o desconforto suportado pelas mulheres, mas que também traz certa satisfação (e nesse ponto não posso me alongar sem dar spoilers), sem falar na trilha sonora cuidadosamente pensada e na atuação incrível da Carey Mulligan. Temos diante de nós uma das melhores obras sobre os desafios de ser mulher em uma sociedade tomada pelo patriarcado.

 

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Colunistas Destaque Socorro Silva

Qual o lugar ocupado pelas mulheres negras na sociedade?

As mulheres negras tiveram uma experiência histórica diferenciada que o discurso clássico sobre a opressão da mulher não tem reconhecido, assim como não tem dado conta da diferença qualitativa que o efeito da opressão sofrida teve e ainda tem na identidade feminina destas mulheres. (Carneiro, Sueli, 2019, p. 313).

 

Inicio este texto, trazendo a reflexão da escritora Sueli Carneiro, no que se refere ao peso das opressões que as mulheres negras carregam, decorrente das múltiplas discriminações e preconceitos, resultantes do racismo e sexismo, marcas da brutal exploração e violência praticada pelo colonialismo contra as mulheres negras, o que subordinou e hierarquizou as   relações de gênero e raça na sociedade. Construindo a partir daí, o processo de objetificação e coisificação dos corpos das mulheres negras, conforme afirma Carneiro (2019), “a violência sexual colonial, é também o cimento de todas as hierarquias de gênero e raça, presentes em nossa sociedade”.  Em que as mulheres negras, foram vítimas do abuso sexual e das inúmeras violações de direitos que resultaram nas desigualdades sociais e estruturais que conhecemos hoje, invisibilizando desta forma, suas lutas e conquistas!

Falar sobre a ausência das mulheres negras na sociedade e o seu não lugar nos espaços sociais, requer recuperar a história e trajetória destas mulheres, vítimas das discriminações e preconceitos devido ao seu pertencimento racial, o que provocou o silenciamento e a subalternidade nas relações sociais, no contexto de uma cultura cisheteropratriarcal, que não reconhece os diferentes e a pluralidade existentes nestes processos de luta e resistência. Como afirmava Lélia Gonzalez (1982), “ser negra e mulher no Brasil, repetimos, é ser objeto de tripla discriminação, uma vez que os estereótipos gerados pelo racismo e sexismo a colocam no mais baixo nível de opressão”. O que culmina para a exploração da mão de obra, a dupla jornada de trabalho, bem como a precarização e a desvalorização de seu trabalho. 

É necessário compreender que “as mulheres negras tiveram uma experiência histórica diferenciada que o discurso clássico sobre a opressão da mulher não tem reconhecido, assim como não tem dado conta da diferença qualitativa que o efeito da opressão sofrida teve e ainda tem na identidade feminina destas mulheres” (CARNEIRO, 2019).  Reconhecer estas diferenças e o processo de exploração vivenciado por estas mulheres, nos ajudam a compreender as origens das desigualdades sociais  e políticas  em áreas como emprego e renda, educação, saúde moradia, representatividade política, dentre outros. Buscando elucidar e combater estas opressões, “o projeto feminista negro desde sua criação, trabalha o marcador racial para superar os estereótipos de gênero, privilégios de classe e cisheteronormatividades articuladas em nível global (Akotirene, 2019).

 Precisamos conhecer e analisar estas desigualdades, com base em uma perspectiva feminista interseccional, entendida antes de tudo “como uma lente analítica sob a interação estrutural em seus efeitos políticos e legais” (AKOTIRENE, 2019), no sentido de compreender quais os efeitos dos estereótipos de gênero, raça e classe na construção das desigualdades e como atuam para exclusão e invisibilidade destas opressões. O que Carneiro (2019), já nos alerta em que “o que não depende apenas de nossa capacidade de superar as desigualdades geradas pela histórica hegemonia masculina, mas exige também a superação das ideologias complementares deste sistema de opressão, como no caso do racismo. Fato este que corrobora apara acentuar os níveis de desigualdades e o privilégio de classes obtido pelas mulheres brancas em várias situações como podemos destacar nos dados seguintes. 

Os  dados estatísticos do  Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), de 2019, destaca que as mulheres negras ainda ocupam as piores condições de trabalho como, o subemprego, o trabalho informal e precarizado, com direitos trabalhistas flexibilizados, como ocorre no caso do trabalho doméstico, onde as mulheres correspondem a 92% da força de trabalho e em sua maioria mulheres negras, que sofrem com a baixa escolaridade, visto que são  oriundas das classes empobrecidas e vulnerabilizadas  socialmente. Sendo que, deste percentual de trabalhadoras doméstica somente 30% possuem carteira assinada, o que precariza ainda mais suas relações sociais e de trabalho.

  Ainda, sobre os dados estatísticos, os indicadores sociais das mulheres no Brasil do IBGE de 2019, comprovam a segregação e a exclusão das mulheres negras no acesso à educação, onde ainda persiste as diferenças, oriundas dos marcadores de gênero, raça e classe. Como no caso do atraso escolar, proveniente da repetência e ou abandono escolar, entre jovens na faixa etária de 15 a 17 anos, onde as mulheres brancas, representam 19,9, e as negras de 30, 7% deste atraso escolar. Isso significa dizer, que as mulheres negras tardam muito mais a completar seus anos de estudo, decorrente de inúmeras situações, como cuidados da casa, falta de condições materiais e estruturais para manter-se na escola, a necessidade de trabalhar para ajudar na renda da família desde muito cedo, já que necessitam garantir sua subsistência e de sua família, sendo que, estes fatores contribuem sobremaneira, para o sucesso ou abandono escolar e a repetência. 

Realidade esta que se repete no ensino superior, onde as mulheres brancas têm o dobro do percentual (23,5), do que as mulheres pretas e pardas que representam (10,4), referente ao curso superior completo. Outro fato importante, apresentado na pesquisa, é a diferença quanto aos homens negros, que no total representam 7,0 deste percentual mencionado aos homens brancos com 20, 7%. O que mais uma vez constatamos o peso do racismo estrutural. Vale ressaltar que nesta conjuntura educacional as mulheres negras formam maioria nas universidades brasileiras, segundo pesquisa PNAD do IBGE, onde elas representam 27% deste contingente universitário. Fato este, que podemos atribuir, sem dúvida nenhuma a Lei 12.711 de 2012, a chamada Lei das Cotas Raciais, que promoveu o acesso a população negra e pobre de nosso país ao acesso ao ensino superior.

 As Políticas Afirmativas são fundamentais para promover a inclusão social e reparar as desigualdades históricas e sociais oriundas desde o processo de escravidão até os dias atuais. 

No que se refere a representatividade política das mulheres negras, ainda estamos bem distantes do que deveria representar a realidade brasileira, já que as mulheres são maioria da população brasileira, e as mulheres negras representam 25% deste percentual, sendo o maior grupo da população no Brasil, tendo em vista que a população negra corresponde a 56% desta população, um percentual bastante representativo e que merece refletirmos sobre estes dados.  Infelizmente os dados representados, ainda estão bem distantes do real, no campo da representatividade política, onde as mulheres negras representam apenas 3% dos (as) parlamentares eleitos (as) na Câmara Federal em 2018, segundo o relatório “Democracia Inacabada- um retrato das desigualdades brasileiras, da Oxfam Brasil. Do total de 513 Deputados (as) na Câmara Federal, apenas 12 mulheres negras foram eleitas e 01 apenas no Senado, o que demonstra a falta de sintonia com os números da maioria geográfica e ainda o reconhecimento  de sua identidade racial.

Neste quesito da participação das mulheres no parlamento nacional, o Brasil ocupa a 133ª posição no Ranking Mundial, dentre os 192 países participantes neste acompanhamento. O que reflete a baixa representatividade das mulheres na política.  Apesar de algumas ações afirmativas criadas para estimular a participação feminina e o aumento da representatividade política, como a Lei de Cotas de 1997, que garantiu uma reserva de no mínimo 30% das vagas para mulheres nos partidos e coligações. Outro fator importante foi a decisão do TSE de 2018, que estabeleceu um repasse do valor de 30% das verbas do fundo partidário para candidaturas femininas, bem como o aumento no tempo de propaganda eleitoral. Iniciativa bastante positiva e que contribuiu significativamente para o aumento da representatividade das mulheres nas eleições de 2018, mas que ainda não vimos impactar numericamente nos dados concernentes a presença das mulheres na política, inclusive as negras, que ainda veem o peso do racismo estrutural e do sexismo definindo a ocupação destes espaços.

A Carta da Mulheres Negras aprovadas em 2015, na Marcha Nacional das Mulheres Negras, destaca que “as mulheres negras e seu legado civilizatório, precisam ganhar visibilidade, para além dos estereótipos correntes, capaz de conferir a elas o estatuto de humano”. O que se percebe, no nível de aprofundamento das desigualdades estruturais enraizadas no campo institucional e político, o que reflete a falta do reconhecimento de suas identidades, saberes, conhecimento e sua cultura.  “A ausência das mulheres negras nas raias do poder deriva diretamente da falta de reconhecimento de sua capacidade de partilhar o comum, de sua plena humanidade, que a faz partícipe da coisa pública”. (Carta MN, 2015).

Em 2015, a ONU proclamou o período de 2015 a 2024, como a “Década Internacional dos Afrodescendentes”, como forma de exigir da comunidade internacional e dos organismos públicos, o reconhecimento, a justiça e a Democracia, deste segmento, cujos direitos humanos devem ser promovidos e protegidos. Significa, exigir dos governos locais, a reparação das desigualdades historicamente construídas desta população, em especial as mulheres negras que constituem o grupo mais vulnerabilizado socialmente em decorrências do racismo e sexismo, que estruturam as relações sociais.    

Promover ações de visibilidade das mulheres negras, suas trajetórias, experiências e o reconhecimento de seus saberes e sua humanidade, nos permitem construir novos alicerces éticos e políticos, engendrados nas desconstruções do racismo, sexismo, da misoginia, LGBTfobia e tantos outros marcadores sociais que excluem, oprimem e silenciam nossos corpos. Precisamos construir um mundo do bem comum, da equidade racial, dos valores do bem viver, da justiça social e da solidariedade. Só assim, podemos lograr melhores resultados de inclusão e participação das mulheres negras em nossa sociedade. E assim, responder com mais segurança, sobre qual o lugar que as mulheres negras ocupam na sociedade.

 

Referências:

Akotirene, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. 

Carneiro. Sueli. Enegrecer o Feminismo: A situação da mulher negra na América Latina, a partir de uma perspectiva de gênero. In: Pensamento Feminista; conceitos fundamentais, et al. Organização Heloisa Buarque de Holanda.  Rio de Janeiro.  Bazar do Tempo, 2019.440 p.

AMNB. Carta das Mulheres Negras contra o Racismo. Brasília. 2015. Disponível em:  http://fopir.org.br/wp-content/uploads/2017/01/Carta-das-Mulheres-Negras-2015.pdf

IBGE- Estatísticas de Gênero- Indicadores sociais das mulheres no Brasil- Estudos e Pesquisas. Informação Demográfica e socioeconômica. 38. Brasília. 2019.

González. Lélia. A mulher negra na Sociedade brasileira. In: O lugar da mulher: estudos sobre a condição feminina na sociedade atual. Organização de Madel T. Luz. Rio de Janeiro. Edições Graal. Coleção Tendências. vol. 1. 1982.

Oxfam Brasil. Relatório Democracia Inacabada- um retrato das desigualdades brasileiras. Disponível em: https://www.oxfam.org.br/um-retrato-das-desigualdades-brasileiras/democracia-inacabada/. Acesso em 22 de out de 2021.

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Clarissa Paiva Colunistas Destaque

As mulheres de Marighella

Bonita de ver a representação do feminino em Marighella – O Filme, que estreou no Brasil no início deste mês, após repetidas tentativas de censura por parte do governo federal.

As mulheres, presentes em quase todos os momentos, retratam com muita verdade, não só a realidade da mulher brasileira no final dos anos 60, mas a força revolucionária feminina que sempre existiu, mesmo em meio aos piores cenários.

Enquanto a personagem nordestina esposa de um dos membros da ALN (Ação Libertadora Nacional) fica em casa, tendo filhos e à espera angustiada por condições de criá-los sem a presença do pai, Bella – integrante da luta armada, atua em igualdade entre os companheiros durante assaltos, sequestros, e movimentos estratégicos do movimento – incluindo a preparação de grupo de resistência no campo.

À frente ou não dos atos revolucionários, uma característica marcante da maioria das personagens feminina é a consciência social, tão bem retratada em cenas como os momentos de despedida e reencontro de Clara com Marighella; e na assertividade da médica Gorete, mãe de Bella, em cena dramática que expõe todo o risco e loucura que envolvia o enfrentamento à ditadura.

Essas mulheres reais, dignamente resgatadas pelo diretor Wagner Moura, deram nos anos de chumbo mais do que o próprio sangue. Elas entregaram toda a sua dor e vulnerabilidade enquanto exerciam o direito de lutar; ofereceram todo o seu medo e zelo pelos que amavam, ao respeitarem a decisão dos companheiros em seguir a guerrilha urbana; e já silenciadas pela sociedade e pela vida, suportaram silenciar ainda mais, em lealdade e apoio à revolução.

Cinicamente ‘protegidas’ pelo regime militar (contanto que aceitassem ser objetos decorativos de uma sociedade sordidamente “boa”, “moral” e “próspera”), muitas foram as que atuaram em calabouços existenciais – com as ferramentas que tinham – para a manutenção da esperança de dias diferentes. Nem que isso se traduzisse em resistir e viver após tortura e morte de seus filhos, companheiros e amigos.

Ser mulher nessa época já era própria tortura – ao lado dos opressores ou cara a cara com eles. Mesmo com essa realidade, sinto que as insubordinadas experimentaram a absoluta liberdade de quem abre um caminho para nunca mais ser fechado.

Cabe a nós, hoje, continuarmos. Em honra a todas elas, no combate à opressão sob todos os seus nomes e apelidos.

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Ady Canário Colunistas Destaque

Linguagem inclusiva, consciência negra e racismo à brasileira: mulheres negras reexistem

“Assim, ecoa dentro de muitos brasileiros uma voz muito forte que grita: ‘não somos racistas, racistas são os outros’  (Kabengele Munanga).

 

Entre adolescência e juventude, estava entrando numa escola de informática em Mossoró e no mural da recepção desse lugar nos deparamos com um cartaz no mural contendo mais de vinte frases pejorativas com as pessoas negras: “negro não é gente”, “negro só é gente quando bate na porta e pergunta tem gente” e, ao final, dizia: “se cuide negão que a lei áurea foi assinada a lápis”. Chamada a atenção do proprietário para o sentido de tal linguagem, foi evidenciado que se tratava de uma brincadeira. Essas são apenas algumas frases de cunho racista e de constrangimento causado pelo preconceito racial e discriminação racial. É um dos modos do racismo brasileiro, que tende a naturalizar a negação do racismo no dizer que: foi apenas uma “piada” e uma “brincadeira”. Isso se chama racismo recreativo, usar da linguagem como piadinha para ofender o negro.

 

No Brasil é celebrada a luta e resistência negra desde o regime escravista, assim, o Dia da Consciência Negra faz reverência a Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, símbolo maior da história, e localizado na Serra da Barriga, atual estado de Alagoas um dos maiores e movimento de reexistência. Nesse novembro de 2021, o Dia da Consciência Negra completa meio século. Idealizado pelo movimento negro em 1970 em Porto Alegre-RS do Grupo Palmares, no legado de Oliveira Silveira, visando enaltecer a luta de Zumbi dos Palmares. Em 1978, na Bahia, o Movimento Negro Unificado (MNU) propôs esse dia pela memória da resistência negra e ressignificação do 13 de maio. Em 2003, com a Lei 10.639, que obriga o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas, o Dia da Consciência Negra entrou para o calendário escolar.  Em 2011, foi instituído o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra pela Lei 12.519, sendo feriado por leis específicas. 

 

Ao longo desses anos, os desafios continuam na luta contra o racismo à brasileira, a discriminação racial e a desigualdade racial.  Nossa reflexão é compreender o potencial desse marco para uma linguagem inclusiva com consciência negra, sobretudo para as mulheres que resistem nessa luta por visibilidade e representatividade. No Brasil, o racismo se assenta na sua própria negação. Segundo dados “Desigualdades Sociais por Cor e Raça no Brasil” (2019), mulheres negras (pretas ou pardas) estão em situação desvantajosa. Por exemplo, no Brasil, a diferença salaria onde recebem menos da metade do que os homens brancos. Tendo sobre elas a maior carga de atividades em trabalhos domésticos, dentre outros não remunerados, embora apresentem melhores indicadores educacionais que os homens. Na representação nos espaços de poder, em 2018, as mulheres negras (pretas ou pardas) “constituíram 2,5% dos deputados federais e 4,8% dos deputados estaduais eleitos, e, em 2016, 5,0% dos vereadores. Consideradas apenas as mulheres eleitas, foram 16,9%, 31,1% e 36,8%, respectivamente”. 

 

De tudo isso, vemos o quão é necessária uma consciência negra como prática de luta e resistência, pois “Numa sociedade racista não basta não ser racista é preciso ser antirracista”, como nos diz a filósofa Ãngela Davis. A desconstrução do racismo é um tema que em todo tempo precisamos afirmar e em toda transversalidade que nos impõe. Assim, mulheres negras resistem e as brancas também, lutando por uma sociedade mais justa e igualitária. Ressaltamos todo um processo que se constitui na linguagem, memória e história, em reconhecer a nossa história e as contribuições para a construção da cidade/país. Precisamos sobremaneira de uma consciência antirracista e inclusiva para que tenhamos uma sociedade livre, sem preconceito e sem discriminação. Esperamos por mais políticas públicas de promoção da igualdade racial na sociedade brasileira.

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Colunistas Fernanda Valéria

Leituras da vida: a indevida apropriação do termo liberdade de expressão na disseminação do ódio

Quando foi que adquirimos o direito de ofender o outro com o entendimento de que a opinião umbilical está resguardada sob a proteção da liberdade de expressão? Eu mesma respondo: nunca. Não vou aqui citar os casos recorrentes de crimes de ódio que se acham protegidos na aba deste direito constitucional para evitar dar palco aos protagonistas e reverberar tais  discursos.
 
Tendo a curiosidade de saber de que episódios da vida real estamos falando, procure os casos do jogador de vôlei, Maurício Souza, e tudo o que rolou na internet após o anúncio da bissexualidade do personagem Superman. Vou dar um spoiler aos desavisados, Superman não existe.
 
A Constituição Brasileira, no artigo V, considerado o mais importante da nossa Carta Magna, em se tratando dos Direitos e Garantias Fundamentais, diz que “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente da censura ou licença;”
 
No entanto, não existe nenhum direito irrestrito, embora alguns nunca tenham atingido tais restrições. Um dia ou outro, os deveres e responsabilidades de cada um podem ser acionados, basta que o indivíduo em exercício dos seus direitos interpele nos dos outros, é o que o diz o inciso X, em outras palavras, claro, do mesmo artigo. “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra, a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
 
 Não quero entrar na complexidade deste limítrofe, porque não sou da área do Direito, e o assunto de que vamos refletir já deveria ter, há tempos, ter ultrapassado a complexidade da polêmica e ter o seu significado consensual: liberdade de expressão! No entanto, uma interpretação equivocada do termo, ou mesmo, mal-intencionada, o usa indevidamente na prática disseminativa do ódio. Os ecos desse sentimento contaminam ou tiram da dormência pensamentos semelhantes, e, aos poucos, uma legião de odiadores da mesma causa se juntam em propagação ainda maior e perigosa.
 
Portanto, o direito à opinião é garantido desde que ela não cause um dano moral, material ao outro,  está aqui o limite. Mas é ainda pior quando ela ultrapassa a característica opinativa e recai dentro da criminalidade. Racismo e homofobia podem dar entre 2 a 5 anos de reclusão segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF). O Senado também já aprovou o Projeto de Lei que torna a homofobia um crime.
 
Apesar disso, a sociedade ainda insiste em se manter conservadora. Após comentários homofóbicos, o jogador já citado ganhou milhares de novos seguidores e até mesmo já foi cogitado a concorrer às eleições representativas do Legislativo. Sabemos: qualquer discurso é uma prática social de persuasão mental, alguns exercem maior influência (para usar um termo da moda) que outros. E sobre o exercício e uso dessa persuasão devemos refletir criticamente, pois a receita do caos está pronta: um odiador com voz agrupa semelhantes e alguém se aproveita da legião em uso político, local simbólico e também atuante de tomadas de decisões que interferem na sociedade.
 
Não é por acaso que, desde 2001, temos um projeto que torna a homofobia crime tramitando na Câmara Federal, esperando ser colocado em andamento. Todo esse tempo de espera vai inclusive na contramão tradicional da Casa que já formou várias leis em proteção às minorias, mas devemos lembrar da representatividade congressista feita por homens héteros, conservadores e defensores de uma família tradicional como única, dificultando as discussões dessas pautas.
 
Por isso, quando discurso e poder se casam para prejuízos da dignidade humana dos cidadãos, precisamos levantar a voz e acionar o que de direito temos para impedir.  Um pedido de desculpas é muito leve para o prejuízo de uma ação criminosa discursiva. É como dito popular diz: palavras soltas, são como penas de galinhas ao vento, não dá para recuperar.
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Colunistas Destaque Natalia Santos Sem categoria

Swallow: Um retrato da opressão feminina

Swallow1 (2019) é um thriller psicológico de Carlo Mirabella-Davis cuja trama gira em torno da vida de Hunter, uma dona de casa grávida, que, pressionada para satisfazer as expectativas do marido e dos sogros, desenvolve um hábito perigoso de engolir objetos não comestíveis.

Hunter é a figura da “esposa perfeita” dedicada ao lar e ao marido, mas que tem sua personalidade completamente tolhida em função de atender às expectativas impostas por uma sociedade patriarcal. Quando descobre sua gravidez, passa a desafiar o seu corpo engolindo objetos nocivos como forma de retomar o controle sobre sua própria vida.

O filme é recheado de elementos que enfatizam a solidão e o silenciamento da figura da mulher, sendo reforçado, inclusive, com a presença de outras personagens femininas que reproduzem padrões de comportamentos machistas, o que nos faz experimentar ainda mais a sensação de clausura no próprio corpo enfrentada pela protagonista.

Embora tenha uma resolução demasiado simplista para o problema que se propõe a discutir, Swallow é um filme que merece ser visto, discutido e compartilhado, justamente por abordar questões tão frágeis e presentes na vida das mulheres. A atuação de Haley Bennett (Hunter) é um dos pontos altos do longa, juntamente com uma estética e fotografia primorosas. O suspense aqui se constrói de maneira gradativa, mas é impossível não ansiar pelo desfecho da trama.

Engana-se quem pensa que é somente mais uma história de cinema, isto porque muitas mães, avós e tias nossas vivenciaram formas de silenciamento e aniquilamento das próprias escolhas. Nesse ponto, a representatividade no cinema revela-se, mais uma vez, de extrema importância ao dar voz às inúmeras mulheres que sofreram ou sofrem qualquer forma de violência psicológica e opressão, trazendo um pontinho de esperança para nossa luta, que, embora não esteja perto do fim, vem ganhando cada dia mais força.

1. Swallow, palavra do inglês, em português significa engolir, deglutir.

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Colunistas Destaque Rafaela Gurgel

Vida além do autismo sim!

Passado o baque do diagnóstico vem um turbilhão de emoções e perguntas inquietantes, como algumas destas: “E agora, como vai ser?”, “Por onde começar?”, “Será que meu filho (a) irá se desenvolver, falar…? Dentre tantas, a mais recorrente: “E quando eu não estiver mais aqui?”. Esta é a mais doída e inconsistente pois a morte é nossa única certeza neste plano. É quase inevitável que em algum momento da vida não passe essa questão em nossa cabeça, mas, quando há um filho com limitações, essa é a mais latente preocupação.
Essas perguntas mostram uma evidente realidade, isso acaba
refletindo na vida de muitas famílias, surgindo conflitos conjugais, financeiros, falta de vida social e libido… O choque da descoberta, divergência entre um dos genitores para aceitação, passando pelas dificuldades financeiras em manter terapias e as rotinas que elas nos impõem. A vida após o autismo é dura, mas não é uma sentença de morte ou incapacidade para quem tem e para quem convive.
Esses gatilhos acabam nos levando à exaustão física e mental, pois
somos instigadas a fazer o que estiver ao nosso alcance para o bem-estar da cria. É instintivo. Porém, o que precisamos entender é que nós somos o piloto da aeronave e para estarmos bem para conduzir o voo, em caso de turbulência, é necessário pôr a máscara de oxigênio em você primeiro para em seguida colocá-la em seu filho (a). É o cuidado com quem cuida. Até chegar esse entendimento é difícil e desgastante, pois infelizmente muitos casais não se sustentam à pressão e acabam se divorciando.
Certa vez li um artigo de opinião que citava uma pesquisa feita nos
EUA, no Journal of Autism and Developmental Disorders, que comparava o cansaço e nível de estresse de mães de pessoas com autismo comparado a soldados em guerra. Segundo os responsáveis pelo estudo, o efeito a longo prazo sobre a saúde das mães poderia afetar níveis de glicose, funcionamento do sistema imunológico e atividade mental.
Até nisso temos que filtrar muito bem as informações que nos chegam.
Este é um dado relevante, mas não dá para fazer tudo e nem pensar muito, os “se” ficam suspensos, pela nossa saúde mental. Muito tempo e água passaram embaixo da ponte até que pude chegar a pensar em mim, enquanto mãe e mulher, mas até lá ouvi verdadeiros absurdos que todos os dias tentaram me arrastar como âncora; o pior é quando ouvimos das próprias mulheres: “Ah, tá reclamando de quê?, “Você não quis ser mãe, agora aguente!”, “Tá cansada de quê?”, “Muitas queriam estar no seu lugar”, “Hum, saiu, e quem ficou com as crianças?”. Estes comentários são só a ponta do iceberg que enfrentamos por sermos mães e mulheres, uma recomendação: FAÇAM TERAPIA, se puder, claro! Pois, como já dizia Belchior, “a minha alucinação e suportar o dia a dia…”
Tem dias difíceis, chuvosos, cinzentos, mas também tem dias
ensolarados e de arco-íris para continuar. A terapia tem me ajudado muito a me reconhecer, me aceitar e aceitar o outro, conviver com as circunstâncias que não me compete intervir e mudar e tudo bem. Vivo todas as minhas emoções sem culpa e continua tudo bem. Não sou modo mãe/profissional o tempo todo e continuo vivendo, pois “amar e mudar as coisas me interessam mais…”