Se foi para homenagear a experiência da mulher madura, o termo coroa acabou tendo um peso extra sobre nossas cabeças.
A temida curva chega para todos; e se os ‘coroas’ ganham ares de galãs, no feminino é aquele ‘Deus nos acuda’.
Sabe a música tosca do mais tosco ainda Sérgio Reis? “Não me interessa se ela é coroa…panela velha é que faz comida boa”. Fiz o esforço de escrever isso aqui porque, enfim, há leitoras mais jovens que podem não conhecer o sucesso nacional amplamente tocado e dançado por aí. Pois é… A gente perde o colágeno, a cor dos cabelos, mas não perde o posto de ‘objeto’.
Pra não cair na mesmice da reclamação e das explicações óbvias de que não há graça alguma em ser assediada, vou mudar o tom aqui. Deixo um recado para as manas de vinte e poucos anos:
Amores, vocês estarão prontas; não temam envelhecer. Seus pescoços e ombros já estarão fortes para o peso da coroa. É possível que vocês já tenham carregado, até lá, muitas circunstâncias, pessoas e projetos que te deram o tônus e a experiência necessária. Comemorem! Vistam a coroa com toda alegria, e elevem suas cabeças. Certamente seu caminhar estará mais suave, seu sorriso mais fácil, e seu olhar mais confiante. Seus passos serão mais seguros; e mesmo em meio a caminhos escorregadios, habilidades intrínsecas surgirão como mágica.
Se você resolver recomeçar, saiba que as voltas da vida são espirais, e ainda que pareça estar no mesmo lugar, haverá sempre a experiência, te fazendo ver a partir de um novo ângulo.
O tempo já não passará despercebido; e isso é ótimo. Mesmo assim, haverá dias (espero que sejam muitos) em que você voltará a ser criança. Essa é outra vantagem: a gente descobre que nunca estará pronta; que sempre haverá novos sonhos, e que se você não encontrar ‘roupa’ para a ocasião especial, poderá ir de qualquer jeito; já que o som da opinião alheia tem menos volume, a cada ano que passa, enquanto a vontade de viver simplesmente aumenta.
Outro dia uma amiga querida exemplificou as fases da mulher como uma matrioska (boneca russa que guarda várias outras dentro de si, como em camadas). A gente deixa de ser uma, mas mantém a anterior dentro da gente. Achei muito sábia essa analogia. É assim com todo mundo. Vamos nos preenchendo de nós mesmos, e não é má ideia nos abrirmos vez ou outra para brincar com todos os nossos outros eus.
Voltando à coroa… não hesite em arremessá-la no engraçadinho que te importunar. Use força suficiente para derrubá-lo.
Cate a coroa.
Siga em frente.