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Coletivos feministas de Mossoró se organizam para a manifestação nacional “Bolsonaro Nunca Mais”

Neste sábado (04/12) mulheres em todo o Brasil vão ocupar as ruas em protesto contra o governo Bolsonaro. A manifestação “Bolsonaro nunca mais” é motivada por todo o retrocesso que o governo Bolsonaro representa e que atinge, principalmente, as mulheres. 

De acordo com Telma Gurgel, da Coletiva Motim Feminista, em Mossoró a concentração começa às 8h na Praça do Pax. Em seguida, sairão pelas principais ruas do Centro da Cidade e encerram a mobilização nas proximidades da faculdade de enfermagem. Durante o protesto terão falas e atividades artísticas. No evento, vão estar presentes mulheres das comunidades rurais, de vários assentamentos e municípios vizinhos como Governador, Assu, Apodi e outros. 

“Amanhã é um grande dia de mobilização das mulheres em todo o Brasil em protesto e denúncia sobre o governo Bolsonaro. Nós sabemos que essa crise econômica, social, sanitária, com o crescimento do desemprego, o aumento da fome, do esfacelamento das políticas públicas, tudo isso, atinge diretamente as mulheres. Principalmente, as mulheres mais pobres, da periferia das grandes cidades, cidades de médio porte, no geral as mulheres são as mais atingidas. E é por isso que vamos às ruas, para dar um basta em Bolsonaro”, disse.  

Telma acrescenta que a saída para o povo brasileiro é ir às ruas, já que, em se tratando do Congresso Nacional, não vem sendo possível a correlação de forças. 

“O orçamento secreto está aí garantindo a blindagem de Bolsonaro, com relação ao impeachment de Bolsonaro, então, infelizmente, o Congresso não é nosso aliado nessa luta, e a única saída é ocupar as ruas para aumentar a pressão sobre as instituições. E é isso que as mulheres vão fazer amanhã em Mossoró juntamente com todas as mulheres no Brasil inteiro”, destaca. 

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Destaque Gerais

Mulheres com deficiência relatam dificuldades na acessibilidade quando precisam dos serviços básicos de saúde

Os serviços de atenção básica a saúde, a maioria, são utilizados pelas mulheres. Nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), por exemplo, o público feminino prevalece entre os usuários desses equipamentos. No entanto, muitos desses serviços oferecidos não foram pensados para todas as mulheres. Uma realidade que, infelizmente, existe em todo o país e afeta, também, quando estamos falando de saúde privada e não somente do Sistema Único de Saúde (SUS). 

A revista Matracas conversou com três mulheres com deficiência, cada uma com necessidades específicas. São vários os dramas enfrentados por elas para realizar um simples exame de prevenção. Situações de constrangimento, dificuldades de acesso a determinados aparelhos, acesso a portas de entradas são problemas comuns na vida das mulheres com deficiência quando estas precisam dos serviços básicos de saúde. Situação que, para essas mulheres, significa enfrentar uma dupla vulnerabilidade.

Yascara Samara, filósofa, tem mobilidade reduzida. Ela disse que o problema começa pelo despreparo dos profissionais de saúde que não sabem lidar com as diferenças. Em seguida vem a decadência da estrutura. “Se um deficiente auditivo precisar se dirigir a uma UBS, vai ter que ir acompanhado, pois ninguém sabe a linguagem de sinais (libras). Além disso, a sinalização é falha. Para as pessoas com deficiência visual não é diferente, não existe acesso por meio de pisos táteis, sinalização em relevo nas portas. Eles acabam necessitando de um acompanhante”, disse. 

Com base nos relatos dessas mulheres, as pessoas com deficiência são as que têm que se adaptar às estruturas que são oferecidas nos equipamentos de saúde, ainda que estejamos falando de serviços de atenção básica. “A acessibilidade é o problema mais crítico, pois os cadeirantes, pessoas com mobilidade reduzida como eu, e idosos se aventuram ao tentar subir numa maca. Se levarmos acompanhantes, eles nos ajudam a subir, nos colocam nos braços como criança.  Os equipamentos são velhos, não regulam a altura e o problema existe nas cadeiras de dentista e na maca ginecológica. Eu ainda consigo subir um pequeno degrau, para ter acesso à maca, mas muitas vezes tive que chamar uma pessoa para ajudar a subir”, conta. 

A realidade não é única das UBSs, mas em clínicas e hospitais, sejam públicos ou privados. “Na sala de raios-x, por exemplo, os mamógrafos não se ajustam ao tamanho da cadeira. É uma situação de total falta de empatia e invisibilidade de nós pessoas com deficiências. Apesar de existirem muitos profissionais com deficiência ainda não somos consultados para uma melhoria nos serviços de atenção básica e saúde”, desabafa. 

Situações constrangedoras são comuns. “Outro dia fui fazer um exame ginecológico e a cama era muito alta, o aparelho da médica não conseguia me alcançar. Foi muito constrangedor, tiveram que chamar a atendente para ajudar a me colocar numa posição que desse certo acontecer o exame”, conta.  

Como se não bastasse uma realidade que já é difícil de encarar, Yascara fala dos retrocesso em lei da acessibilidade, referindo-se ao projeto de lei 2505\2021, que revoga um artigo da lei brasileira de inclusão que obrigava os gestores públicos a cumprirem a exigência de requisitos de acessibilidade. 

Sobre mudanças necessárias, Yascara elenca que “falta informação em suas formações, fazer pesquisas de campo, entrevistas, conhecer nossa realidade e trazer melhorias no atendimento, não só para nós mulheres com deficiência, mas também fazer os alunos que vão trabalhar na área aprenderem mais sobre a vivência das pessoas com deficiência. Colocá-los em uma cadeira de rodas, tapar seus ouvidos, vedar seus olhos e fazer de conta que são deficientes para que se tenha mais respeito, sensibilidade e um atendimento mais humanizado. A maioria considera a deficiência como algo distante, mas todos são suscetíveis a se tornar uma pessoa com deficiência, devido a acidentes ou doenças”, diz. 

Yascara acrescenta que em quase todos os espaços em que precisou passar foi necessário essa adaptação e mesmo que possam contar com algumas mudanças, existe omissão por parte dos poderes públicos de todas as esferas, e concorda que muitas coisas ainda precisam ser modificadas. 

“Aos poucos algumas mudanças foram sendo construídas. Na faculdade por exemplo, as rampas de acesso só foram colocadas depois que cadeirantes conseguiram entrar na faculdade, cotas de acesso para entrada, cotas no mercado de trabalho, lei de inclusão nas escolas, mas tudo muito deficitário e suado para conseguir. Por esses motivos, considero sim, muita omissão por parte dos representantes. Ninguém facilita não. Até para carteirinha de transporte público, estacionamentos, provas de concurso a gente precisa provar que tem sua deficiência. A cada seis meses tem que renovar, como se um dia você fosse amanhecer sem ela. É desumano você ficar correndo em busca de um laudo para provar o que não precisa ser provado. Os médicos chegam a se irritar com as idas e vindas aos consultórios para pedir estes atestados e laudos, e muitos nem dão, quando são dá área pública. Penso que seria muito importante um cadastro único para quem tem deficiências permanentes para que não necessite esse sofrimento de provar todas as vezes que tem uma deficiência. Ninguém nos ouve”, explica. 

Lília Campêlo tem sequelas de paralisia cerebral. Ela reconhece que não sofre dos mesmos problemas de um cadeirante, por exemplo. Mas como alguém que é integrada às discussões relacionadas à acessibilidade, ela também se indigna com a forma como as necessidades das pessoas com deficiências são enxergadas. “Nada é pensado em relação a nos atender de maneira adequada, fazendo com que a minha condição enquanto mulher com deficiência seja vista como alguém que esteja sempre precisando da ajuda do outro”, relata. 

Uma mulher com deficiência precisar de um serviço de atenção básica nas Unidades de Mossoró é enfrentar desafios e constrangimentos. “Deitar em uma maca para exames de qualquer espécie é algo simples para quem não tem deficiência. No entanto para mim é algo que necessito sempre de ajuda, em razão da altura da maca ser de um tamanho padrão de forma que não me dá autonomia de subir e descer por conta própria, por ser uma mulher com deficiência nos membros inferiores”, destaca. 

 Ela reforça que tanto o sistema público quanto o privado não dispõe dos serviços adequados para elas. “Os dois sistemas não distinguem o atendimento de uma pessoa com deficiência de outra que não a tenha. Nesse sentido, somos nós, pessoas com deficiência, que temos que nos adequar ao que nos é oferecido”, frisa. 

Lília também reconhece a omissão dos gestores.  “Certamente, de modo até generalista, digo que nunca conseguimos ocupar nossos lugares de maneira natural, sempre nos fizeram acreditar que, por sermos “minorias”, não há a necessidade de adequação dos espaços comum a todos enquanto indivíduo social’, relata.

As situações expostas por essas mulheres apontam para uma necessidade urgente de transformação, tanto nas práticas profissionais quanto na estrutura física dos equipamentos. “Acredito que, em primeiro lugar, precisamos ser vistas como mulheres que estão dentro da mesma sociedade, assim como as demais, que usufruem dos mesmos direitos de atendimento médico que têm as outras pessoa. Inclusive, esse é um dos princípios da dignidade da pessoa humana, que não é levada em conta se essa é ou não uma pessoa com deficiência”. 

Ela acrescenta que a omissão dos gestores é uma revolta que carrega todos que precisam de um serviço de saúde diferenciado. “A gestão pública tem a sua parcela de culpa, principalmente no que diz respeito à acessibilidade da mulher com deficiência aos serviços básicos de atendimento médico. Embora seja usado pela maioria da população, não vejo qualquer projeto que nos acolha de modo especial, dando a devida importância às nossas diferentes necessidades, muitas vezes nos tornando incapacitadas de receber um atendimento de qualidade.  Não visualizo avanço que nos faça acreditar que existe igualdade no atendimento a saúde da mulher com deficiência”, expressa.

Camila Morais, assistente social e palestrante educacional, também tem mobilidade reduzida. Para ela a ausência da visita do agente comunitário de saúde é um problema. Sempre que busca por um agente, recebe a orientação para ir até a UBS. Apesar dos diferentes tipos de deficiência, alguns problemas elas sofrem em comum: a questão da maca para exame ginecológico e quando precisam fazer serviços odontológicos.  

“O meu primeiro exame ginecológico não teve como ser feito na UBS, foi feito na minha casa. Outra vez, precisei ir ao dentista, o profissional fez o atendimento no meu próprio equipamento de locomoção, precisando ficar em uma posição desconfortável, mas efetuou o serviço pois viu que eu não poderia acessar a cadeira convencional que a UBS tem”, afirma. 

Sobre a sexualidade das mulheres com deficiência, a saúde sexual e reprodutiva, ela afirma que é preciso lidar com o despreparo dos profissionais, começa pela forma de abordagem. “Alguns profissionais, durante a consulta, não fazem referência ao atendimento a mim e sim ao meu/minha acompanhante, isso já mostrando uma percepção diante deles que não posso responder aqueles questionamentos e noto receio quando vão fazer perguntas em relação à atividade sexual, traduzindo uma ideia, ainda bem compartilhada, que nós, pessoas com deficiência, não podemos ter relações sexuais”, aborda. 

Lília, Yáscara e Camila concordam que existe um desinteresse em demandas consideradas específicas das pessoas com deficiência. Camila diz que já deixou de realizar exames por dificuldade no acesso aos equipamentos, isso tanto no SUS quanto na rede privada. “Quando vou fazer exames oftalmológicos, preciso de adequações durante todo o exame. Sempre preciso sentar no colo de alguém ou levar de casa algo que possa me deixar em uma altura maior para a realização desse exame”, explica. 

A visão correta de quem elas são seria um passo de mudança social, considera Camila.  Elas lutam para que sejam vista antes de pessoas com deficiência, como pessoas, principalmente, como mulheres. “Como qualquer outra cidadã, temos direitos e deveres. Devemos fazer esse trabalho de conscientização, ou seja, de que nossas deficiências são uma condição e não devem nos resumir somente a elas”, frisa.

Todas discutem e se indignam por serem invisibilizadas. “Há avanços, mas precisamos sempre estar reivindicando, alertando e mostrando que estamos aqui e somos usuárias de todos os espaços. Não é um favor e sim, um direito. Precisamos nos conscientizar e conscientizar as demais pessoas que somos cidadãs legítimas de direitos, como todas as outras”, finaliza Camila. 

 

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Gerais

Coletivo Negras encerra ciclo do Encontro Formativo de 2021 abordando a obra de Angela Davis

O Coletivo Negras – Núcleo de Estudos de Gênero, Relações Étnico-Raciais, Aprendizagens e Saberes do Semiárido, vai estar concluindo, nesta sexta-feira (26), o ciclo de Encontros Formativos do semestre 2021.

O próximo e último encontro desse ano vai abordar a temática Mulheres, Raça e Classe, inspirada na obra de Angela Davis, e terá como facilitadora a professora da Ufersa, Auristela Crisanto da Cunha.

Auristela explica que os encontros formativos e palestras do grupo são sempre voltados à pauta inclusiva e respeito à diversidade, com preponderância da temática negra, que é a razão primeira do projeto. “De minha parte, farei uma apresentação sobre Angela Davis, em Mulheres, Raça e Classe”, frisa.

Segundo Ady Canário, professora da Ufersa e coordenadora do projeto, o Encontro de novembro, conclui o ciclo que foi iniciado antes da pandemia com o estudo de autoras negras, a partir do olhar das participantes do Coletivo Negras. Apesar de ter sido adaptado a um novo formato, Ady destaca que o projeto foi imenso e bem recepcionado.

“Os encontros foram mensais e adaptados ao remoto. O balanço é positivo por afirmar um espaço interdisciplinar e estendido a escola e comunidade, dando visibilidade às mulheres negras e suas próprias leituras e partilhas”, disse.

Ao longo dos encontros foram trabalhadas autoras como Djamila Ribeiro, Carla Akotirene, Joice Berth, Bell hooks, Chimamanda, Sandra Petit, Vilma Piedade e, por último, Angela Davis.

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Destaque Violência contra mulher

Registro de violência doméstica cresce 51% em 2021, comparado com o mesmo período de 2020

A violência contra mulher não sai de pauta. O que já era preocupante vem se agravando desde a pandemia do Covid 19. Notícias de feminicídio estão sempre ocupando as páginas dos jornais, em um país que mata mulheres só por serem mulheres. No Rio Grande do Norte, um dos estados mais violentos para as mulheres, os episódios de violência doméstica continuam em alta.   

Dados referentes ao somatório dos registros de Lei Maria da Penha para os crimes de ameaça, calúnia, descumprimentos de medidas protetivas de urgência, injúria, lesão corporal, vias de fato, estupro, estupro de vulnerável e violência doméstica no ambiente familiar contra a mulher mostram um aumento de 51,1%, num comparativo entre 2020 e 2021. Nesses números estão incluídos casos de violência doméstica praticados contra mulher, não só pelo parceiro, mas, também, pelos familiares.

Os números foram repassados pela Secretaria de Comunicação Social da Polícia Civil (Secoms). Conforme os registros de janeiro a setembro de 2020, foram 2.945 casos de violência doméstica. Nesse mesmo período de 2021 (janeiro a setembro), foram 4.421.

Variação Mensal 2020 2021 Variação
Janeiro 346 495 43,10%
Fevereiro 343 455 32,70%
Março 314 384 22,30%
Abril 296 391 32,10%
Maio 306 419 36,90%
Junho 234 422 80,30%
Julho 330 568 72,10%
Agosto 403 596 47,90%
Setembro 373 691 85,30%
Total Geral 2945 4421 50,10%

Quando afirmamos que o machismo mata, reconhecemos que machismo e feminicídio estão intimamente relacionados. Nos últimos quinze dias, dois feminicídios foram registrados no Rio Grande do Norte. Um em Pedro Velho, interior do RN, no último dia 28 de outubro; e outro mais recente em Parelhas, também no RN, na segunda-feira (07/11). Em ambos, os ex-companheiros não aceitavam o fim do relacionamento. Um fato que já se tornou comum no Brasil: mulheres sendo assassinadas simplesmente porque terminam um relacionamento com um homem que se acha dono dela e não aceita o fim.     

Érica Canuto, promotora de Justiça do RN, em live sobre “A violência contra mulher e os desafios para efetivação da Lei Maria da Penha”, realizada pelo Núcleo de Estudo da Mulher – NEM/UERN (evento disponibilizado no canal do YouTube do NEM), destaca a medida protetiva como o centro da Lei Maria da Penha e uma das principais formas de interromper o feminicídio.

A Lei Maria da Penha veio para evitar o feminicídio. A ordem judicial que determina o afastamento tem uma força grande. Com base na experiência da promotoria em que eu trabalho, 95% dessas medidas protetivas, quando são recebidas pelos homens, elas são voluntariamente cumpridas. Essa medida protetiva tem força, ela funciona. A gente tem que repetir isso. É uma conquista, é uma Lei boa, é uma Lei que funciona, que tem salvado vida de mulheres”, destaca.

Érica explica ainda que para os 5% que não cumprem voluntariamente a ordem judicial, existem outras alternativas como a Patrulha Maria da Penha, a Casa Abrigo Estadual, que fica em Mossoró, a de Natal que atende também Parnamirim. Além disso, tem o botão do pânico, que atua em binário com a tornozeleira eletrônica, e por último tem a prisão, caso o agressor descumpra o afastamento e já tenha sido advertido.

Esse ano a Lei Maria da Penha fez quinze anos. A promotora destaca, nessa mesma live, alguns desafios a serem enfrentados mesmo depois desses quinze anos de aplicação da Lei Maria da Penha. “A gente precisa investir mais na prevenção primária, mais em educação de gênero, a gente precisa falar isso nas escolas, nas fábricas, nos bairros, em todos os recantos. A gente precisa falar sobre gênero, sobre essa desigualdade, sobre todas as facetas da violência que atinge a mulher”, elenca.

A interiorização da Lei também foi uma necessidade apontada pela promotora. Já que os serviços em sua maioria ficam concentrados na capital e em Mossoró, que é a segunda maior cidade do Estado, enquanto as mulheres de cidades do interior ficam desprotegidas. “Eu aposto nos serviços regionalizados. Estamos vivendo um momento em que devemos pensar que nossa aposta não pode ser só em delegacia e justiça, sistema de segurança pública e de justiça. Mas também incluir o sistema de assistência. A mulher precisa ser ouvida, precisa resolver o divórcio, a pensão alimentícia, ela não vai conseguir resolver tudo isso se não tiver assistência. A gente tem que investir nesses serviços como nos centros de referências regionalizados. Essa mulher precisa de apoio para sustentar a denúncia que ela fez.” Érica ressalta ainda que a distância de uma mulher para um serviço de acolhimento é grande, além dos sentimentos de insegurança que acometem essas mulheres nessas situações. A importância de fazê-la confiar nos serviços vai além de só fazer um relatório e encaminhar a denúncia.   

 

Sobre as formas de violência doméstica e familiar contra mulher  

 A Maria da Penha reconhece cinco tipos de violência contra mulher: física, psicológica, sexual, moral e patrimonial. Segundo o texto da Lei, a violência física  é entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; a violência psicológica, como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; a violência sexual está relacionada a qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; a violência moral é qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

 

Delegacia Virtual como um dos canais de denúncia

A Delegacia virtual (Devir) da Polícia Civil, disponibilizada desde 2020, permite a realização de boletins de ocorrência pela internet 24h, inclusive é um canal pelo qual pode ser feita a solicitação da Medida Protetiva de Urgência. 

O acesso à Delegacia para registro de Boletim de Ocorrência pela internet é feito pelo site da Polícia Civil. Na Devir, as mulheres fazem o registro inicial e depois são chamadas à delegacia para os esclarecimentos necessários e para serem ouvidas. Apesar de já ter sido trabalhada a divulgação, a Secoms reconhece que ainda é um canal pouco utilizado.

Falta de investimento no momento em que a violência se agrava

O governo Bolsonaro tem sido marcado por sucessivos retrocessos no que diz respeito às políticas públicas voltadas para as mulheres. A falta de investimento em programas e ações, num período em que os casos de violência doméstica e feminicídio mais cresceram, num período em que houve um aumento das dificuldades financeiras, principalmente nas famílias monoparentais chefiadas por mulheres, só tem agravado a situação de violência.

Pesquisas divulgadas recentemente mostram que o governo federal registra o menor investimento em programas voltados para as mulheres desde 2015.  

Com os retrocessos, foram as políticas públicas voltadas para as mulheres as mais impactadas. A redução dos repasses orçamentários afetaram diretamente a segurança, saúde e assistência social. Investimentos que chegariam além das Casas Abrigo, aos Centro de Referência a Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) que, também, atuam no enfrentamento de combate à violência contra mulher.

Para mais informações sobre os impactos sofridos diretamente pelos equipamentos que atuam na violência contra mulher em Mossoró, procuramos informações da Secretaria de Desenvolvimento Social, através da assessoria de comunicação, mas não conseguimos o levantamento que precisávamos.

A reportagem solicitou, via whatsapp da assessoria de comunicação, informações do tipo: se esses cortes que vinham do Governo Federal afetaram as casas abrigo, os CRAS, CREAS e toda a rede de proteção. Se comprometeram o trabalho desses equipamentos e de que forma, mas até o momento não obtivemos respostas. Encaminhamos a demanda dia 21/10, o assessor disse que havia enviado a demanda para o secretário; dia 27 buscamos uma previsão, fomos informados de que não tinha previsão. Novamente buscamos informação dia 29, e não mais responderam.

 

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Destaque Gerais

Ekarinny, cientista mossoroense, ministrará palestra em evento nacional

A estudante de biomedicina, Ekarinny Myrela de Medeiros, 21 anos, mostra que ciência é coisa de menina. Uma inspiração para outras jovens cientistas, ela se prepara para, nesta sexta-feira (5), participar do VI Congresso Nacional de Pesquisa e Ensino em Ciências (CONAPESC) como palestrante. “Eu vou participar do Webinário 02 que acontecerá no primeiro dia do Conapesc com o tema: Jovens na ciência: o futuro é hoje”, explica.

As desigualdades de gênero na ciência brasileira ainda são evidentes. Embora sejam perceptíveis as transformações em relação à posição das mulheres na ciência, com avanços significativos no que diz respeito à inserção e à participação das mulheres no campo científico, é evidente a necessidade de superar as desigualdades.

Graduanda de biomedicina pela FACENE-RN, Ekarinny desenvolve projetos na Iniciação Científica Júnior desde 2016 na Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA). Ela conta que entre 2016 e 2019 participou de diversas feiras de ciências nacionais e internacionais, sendo contemplada com o quarto lugar em medicina translacional na Intel ISEF no ano de 2019. Além disso, possui experiência na produção de polímeros biodegradáveis, atualmente com atividade antimicrobiana frente a patógenos humanos e é voluntária do programa Ciência para Todos.

Desenvolvi três projetos científicos, a Embacaju: embalagem biodegradável produzida a partir do reaproveitamento da folha do caju (Anacardium occidentale); Cashew Bottle: garrafa biodegradável produzida a partir do reaproveitamento de resíduos do cajueiro (Anacardium occidentale L.) e o Desenvolvimento de cateter bioativo, proveniente do aproveitamento do líquido da castanha do caju (Anacardium Occidentale) como alternativa na prevenção de infecção sistêmica”, detalha.

Os desafios enfrentados pela geração de jovens cientistas no Brasil são muitos. Em tempos de retrocessos e da falta de investimentos voltados para ciência e tecnologia, não tem sido fácil para os jovens que optam por essa carreira. Para além dessas dificuldades, quando falamos de mulheres nestes espaços, ampliamos esses desafios. O preconceito e os estereótipos ainda acompanham a trajetória das mulheres no campo científico, lugar que culturalmente é visto como sendo dos homens.

Acredito que estou apenas no começo da minha vida acadêmica e como uma jovem cientista e mulher ainda terei que enfrentar muitos desafios, não somente por falta de recursos financeiros, mas também lutar por respeito na academia. Minha história com a ciência começou desde 2016, quando ainda estava no ensino médio. Descobri que poderia ser uma cientista, mesmo estudando em uma escola pública, sem laboratório e que poderia mudar o mundo com uma boa ideia. Foi com esse querer mudar o mundo que consegui participar da maior feira de ciências do mundo e de diversos eventos científicos nacionais e internacionais”, destaca.

Sobre ser cientista no Brasil, Ekarinny considera que “a principal dificuldade que eu posso destacar é a de existir enquanto cientista no Brasil. Os desmontes na ciência e na educação, que vêm se tornado frequente no nosso país nos últimos cinco anos, estão tornando a produção científica um desafio para além do processo laborioso que normalmente se é pesquisar. Entrei no ensino médio sonhando em me tornar uma cientista numa realidade que hoje praticamente não existe mais.

Conforme explicou, a falta de estrutura para os estudantes de todos os níveis da educação, a falta de investimento em produção científica e hoje, mais do que nunca, a descredibilização da Ciência são as principais dificuldades enfrentadas. “Não que essas dificuldades vão me parar de ser a cientista que venho trabalhando pra ser, as dificuldades não me impedem de construir os sonhos que eu tenho, mas crescer enquanto cientista, num momento como esse, talvez tivesse me impedido de sonhar. Talvez tivesse me privado de existir enquanto cientista”.

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Escola de Formação Feminista e sua contribuição para o conhecimento sobre feminismo

As lutas das mulheres pela igualdade de direitos e condições sociais entre homens e mulheres é constante numa sociedade estruturalmente machista que relativiza a violência contra mulher e sustenta a ideia de que as mulheres são inferiores. Dentro desse contexto, considerando o longo caminho que há pela frente, o feminismo segue discutindo questões que afetam as mulheres de uma forma geral, como a desvalorização do trabalho, assédio, violência em suas variadas formas, entre outros tipos de opressão. O fato é que, o feminismo continua sendo necessário para as mulheres.

Em Mossoró, o Núcleo de Estudos sobre a Mulher Simone de Beauvoir (NEM/Uern), iniciou em abril desse ano a Escola de Formação Feminista. Um espaço de formação feminista que vem ampliando a compreensão do feminismo, da cidadania e dos direitos humanos. De acordo com a professora Suamy Soares, do curso de Serviço Social (FASSO), coordenadora do NEM, a ideia era que o curso fosse de uma formação continuada, construindo um espaço dentro do núcleo e que fosse um espaço de formação para discentes, docentes da Uern e para a comunidade em geral.

“Pensamos na escola de formação feminista com sete módulos, bem introdutório, para pensar sobre as pensadoras”, explica. Ao longo do curso, a Escola já trouxe estudos sobre o pensamento da bell hooks, facilitado pela professora Janaiky Alemida (UFRN); Judith Butler, com a professora Cristiane Marinho (UECE); Heleiteth Saffioti, com a professora Fernanda Marques (UERN) e Ilidiana Dinis (Ufersa); Lélia Gonzalez, com a professora Lucélia Pereira (UNB); Nancy Frazer, com a professora Mariana Manzini (UFRN) e Simone de Beauvoir, por Suamy. Ela acrescenta que a Escola de Formação Feminista será fechada esse ano com o módulo das feministas francesas, que será com Verônica Ferreira do Instituto SOS Corpo.

O curso já é considerado um sucesso e atendeu as expectativas das idealizadoras. Foram sete módulos de pensadoras clássicas e cerca de quatrocentas pessoas participaram. A consolidação desse espaço fez com que o Núcleo já projetasse a continuação. Na próxima Escola de Formação Feminista o curso será voltado para as pensadoras negras. “A gente quer focar o pensamento negro na Escola de Formação Feminista. O pensamento do feminismo negro tem grande contribuições para o entendimento do patriarcado brasileiro, machismo brasileiro, até mesmo da nossa formação sócio-histórica, enfim, a ideia é que a gente comece o ano que vem, pensando a partir dessas pensadoras negras, a partir dessa contribuição cientifica que elas estão fazendo para gente”, destaca.

A professora destaca ainda que a ideia para 2022 é que o curso seja presencial e hibrido, considerando a boa receptividade e a participação de pessoas de todo o país nos módulos que foram trabalhados no formato remoto. Dessa forma, a proposta de ser presencial e hibrido é para que continue sendo possível a participação de pessoas de outros estados. “A escola teve como fazer alguns intercâmbios nesse contexto de ensino remoto. Algumas ações foram fortes e potentes e juntou gente do brasil todo”, disse.

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Violência contra mulher

Cordelistas de todo o país se mobilizam contra o machismo na literatura de cordel

A invisibilização de escritoras e poetas mulheres na literatura brasileira atravessa a história. No mundo da escrita, universo que por séculos foi de dominação masculina, muitas escritoras tiveram que lutar para garantir seus espaços, algumas tiveram que recorrer ao anonimato, pseudônimo masculino, para terem suas obras publicadas.

A escrita literária feminina tem ascendido ao longo da história, mas a literatura continua sendo, também, um espaço de resistência das mulheres.  Para as mulheres que atuam na Literatura de Cordel, por exemplo, a luta contra o machismo continua e levantou uma grande mobilização. Através do Movimento Nacional das Mulheres Cordelistas Unidas em Combate ao Machismo, as mulheres tentam denunciar as variadas formas de violência sofridas nesse espaço.

De acordo com a cordelista Izabel Nascimento, o movimento foi uma resposta aos ataques históricos que todas as mulheres sofrem individual e coletivamente no cordel. “Ele teve início durante um encontro virtual da Feira Literária de Campina Grande, em 27 de junho de 2020, onde participei de uma Mesa ao lado dos cordelistas e amigos Aderaldo Luciano (RJ) e Nando Poeta (RN), ressaltei a presença da mulher no cordel. Ainda durante a live, mais precisamente no chat, sofri ataques, que se multiplicaram em grupos de WhatsApp. Deste evento, surgiu o Movimento Nacional das Mulheres Cordelistas contra o Machismo”, explica.

A mobilização ganhou força a partir da nota de repúdio que foi feita na ocasião e compartilhada nas redes sociais. Atualmente dezenas de coletivos de mulheres, dentro e fora do universo da poesia, estão engajados nas ações. Izabel confirma que até o momento mais de 1500 nomes já integram a luta, inclusive nomes que chegaram potencializando a luta como o de Maria da Penha, Monja Cohen, Socorro Lira, Camila Mendes e outras.

O machismo sofrido pelas cordelistas não difere do machismo que ocorre dentro da sociedade, conforme constata Izabel. “Não se trata apenas de um problema isolado, ou de uma lista com itens que afetam somente as mulheres cordelistas. O machismo que está estruturado e profundamente enraizado na sociedade também se manifesta no cordel. Este é o ponto principal da nossa denúncia: dizer que há machismo no cordel, ao contrário do que se imagina. A tentativa de apagamento, o assédio, o desrespeito, a objetificação da mulher são pés através dos quais o machismo caminha também no universo poético cordelista.

Izabel defende que o cordel tem um potencial gigantesco no diálogo com a sociedade, inclusive, atuando em outras bandeiras de lutas sociais como a homofobia e racismo. “Historicamente, o cordel tem narrativas do cotidiano que levantam importantes discussões. Quando o movimento nacional das mulheres cordelistas denuncia o preconceito e promove um debate sério e profundo dentro de uma sociedade ainda fechada para nós, estamos também fazendo outras denúncias de apagamento, preconceito e exclusão. Desse modo, nossa luta está sim, engajada às lutas contra o racismo e a homofobia, que também são marcados no cordel brasileiro.

A hashtag Cordel sem Machismo ganha força e adesão

O movimento vem se fortalecendo a cada dia e tem contado, também, com o apoio de parte dos cordelistas homens.  “A luta tem sido articulada através das redes sociais, canais de comunicação, no YouTube e Instagram. Dentro das ações vem sendo realizadas palestras, encontros e vídeos informativos. Acessando a Hashtag #cordelsemmachismo é possível acessar muito do que foi produzido e divulgado nas redes. O coletivo também formou um grupo de estudos chamado Estante Feminista para estudar, compreender e valorizar a produção acadêmica feminina sobre o cordel. Temos um planejamento para as próximas ações, que divulgaremos em momento oportuno”, destaca.

O “Cordel sem Machismo” certamente já colhe bons resultados. Ainda segundo Izabel após o movimento, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) elegeu como Presidenta a cordelista e médica Paola Torres. “Uma ação que, mesmo não estando diretamente ligada ao movimento, faz parte, certamente, dos desdobramentos das lutas das mulheres na sociedade. Para mim, a Academia tem muito a ganhar com a presença feminina liderando a instituição, tanto pela capacidade, responsabilidade, talento e respeito com o qual a Dra. Paola conduz o cordel, quanto pelo que significa neste momento da História, uma mulher nos espaços de liderança, até que não seja mais uma novidade liderarmos”, diz.

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Lutas Feministas

Desafios de criar filhos sozinhas e a cobrança da sociedade pela “mãe maravilha”

Independentemente do contexto familiar em que a mulher exerça a maternidade, ser mãe, por si só, já é um grande desafio. Ser mãe solo, enfrentar a responsabilidade de educar, cuidar e, muitas vezes, assumir sozinha as obrigações financeira da casa, tendo até que enfrentar o desemprego, a missão se torna ainda mais desafiadora. Medo, insegurança, sobrecarga, julgamentos fazem parte da vida de mulheres que criam filhos sozinhas e que, não raro, precisam administrar tudo isso enquanto sofrem com os impactos psicológicos que inevitavelmente surgem.

Vanessa Dantas cuida de dois filhos: Suilly de 13 anos e Samuel de 5 meses. Sem rede de apoio e sem ter com quem dividir os cuidados, o cansaço físico e psicológico já interferem na saúde mental dela. Estresse, cansaço, ansiedade, medo de não conseguir arcar com a responsabilidade são sentimentos que ela carrega enquanto precisa lidar com a sobrecarga de maternar. “São muitas as dificuldades. Acaba que as tarefas são sempre da gente. Não temos com quem contar no dia a dia em casa e isso deixa a gente muito sobrecarregada, exausta”, desabafa.

Sabemos que a criação de um filho vai além de amar, cuidar e educar. Mães que arcam sozinhas com essa responsabilidade também sofrem por outras questões. Numa sociedade patriarcal, machista, essas mulheres também enfrentam o preconceito social. Vanessa conta que as perguntas invasivas são comuns. “Sempre tem alguém questionando o porquê do pai do meu filho não está comigo. E quando essas pessoas que perguntam sobre minha vida não têm minhas respostas elas deduzem a resposta que gostariam de ouvir e descrevem a minha vida a partir de uma realidade que elas não conhecem e quase sempre de forma depreciativa”, frisa.

Além dos comentários invasivos, outros tipos de preconceitos são enfrentados. Ela conta que quando esteve à procura de uma casa para alugar, a pergunta que foi feita como requisito para que ela pudesse alugar o imóvel foi se ela não tinha marido. “Inclusive perdi a preferência da casa por não ter um companheiro”, conta.

Vanessa teve duas gravidezes difíceis. Durante a primeira, aos 15 anos, ela perdeu o pai da filha, vítima de assassinato. A segunda, e recente gravidez, veio sem ser planejada, no momento crítico da pandemia, e um fator ainda mais difícil é que o pai não reconheceu o filho. “Meu filho não foi registrado com o nome do pai. Em meio a toda essa situação difícil, veio o medo de não conseguir administrar a situação sozinha, principalmente, pela instabilidade financeira”, frisa. A rede de apoio ela não teve, o acolhimento também não, mas comentários invasivos e desrespeitosos sobre sua última gravidez foi o que não faltou. Uma sociedade em que exige a perfeição das mães, mesmo quando estas não têm tempo nem para viver, o resultado não poderia ser outro: mães adoecidas. Vanessa diz que toda a situação em que se viu inserida veio como um gatilho para as sucessivas crises de ansiedade e pânico.

Mulheres que criam filhos sozinhas têm muitos desafios em comum. A sobrecarga de trabalho, a insegurança em relação à instabilidade financeira, falta de apoio, preconceitos e julgamentos são coisas que elas enfrentam mesmo que estejam em realidades de vida diferentes. São cobradas constantemente, enfrentam dificuldades financeiras na maioria dos casos e ficam lá, carregando suas dores e frustrações, enquanto maternam silenciosamente como se fosse leve e tranquilo, sempre.

Cristiane Ferreira, mãe de três filhos: Kaio de 13 anos, Christian, 4, e Cayron, 5 meses, trabalha nove horas por dia numa fábrica de roupa. Sai de casa todos os dias às 5h, pois ainda tem que deixar as crianças na casa de uma prima. Dos três filhos, o pai dos dois primeiros chega junto na responsabilidade financeira, porém, nenhum deles é presente no dia a dia das crianças e na divisão de responsabilidades.

“Tudo fica mais difícil ser mãe sozinha e ter que arcar com a responsabilidade que também é do pai. Tento proporcionar o melhor que posso. Todos os dias fico pedindo a Deus força e determinação para que nunca falte nada para eles”, diz.

Com uma rotina puxada, pois trabalha o dia todo e à noite tem que ter disposição para cuida das crianças e da casa, Cristiane aproveita o fim de semana para se dedicar às crianças e oferecer algo diferente do estresse diário. “Fico com eles assistindo televisão e brincando quando tenho tempo. O meu tempo é corrido e cansativo porque quando consigo colocá-los para dormir já é meia-noite e já estou exausta”, conta.

Da solidão das mães solo, quem fala?

Para além do amor incondicional pelos filhos, existe a exaustão e a necessidade de também sentir que tem vida e que precisa de momentos só para si. Além das questões de ordem financeira e da sobrecarga de trabalho, Vanessa e Cristiane têm muitas coisas em comum: enfrentam o julgamento da sociedade, a falta de uma vida social e a falta de tempo para elas. As duas deixam claro que quando falam de solidão elas não se referem à falta de um homem, de relacionamento amoroso, mas a falta da companhia de amigas e amigos, falta de um momento de lazer, de uma viagem, de um passeio ou qualquer situação que não seja apenas maternar.

“Tenho poucas amigas que me dão a mão. Família sei que posso contar com poucos, mas sou grata aos que ainda tentam me ajudar. Afinal, todos têm seus problemas. O que posso dizer é que ser mãe é um misto de sofrimento e dor que temos que conciliar com o amor que sentimos pelos nossos filhos”, destacou Vanessa.

“A sociedade julga muito, as pessoas falam o que não devem. É horrível ter que ouvir coisas desagradáveis de quem não conhece a nossa realidade. Ninguém chega para apoiar, a maioria chega para apontar o dedo. A maioria das mães solo não conta com a acolhida da sociedade. Na maioria das vezes, quem se aproxima é para fazer comentários indiscretos e nos deixar mal, julgar nosso formato de vida. Ser mulher numa sociedade machista é difícil e ser mulher e mãe solo o desafio é maior ainda”, acrescenta Cristiane.