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Maternidade Almeida Castro registrou 1.055 partos prematuros entre novembro de 2021 e outubro de 2022

O número de crianças que nascem antes da 37ª semana de gestação, ou seja, prematuras, no Brasil, é alarmante. Uma realidade para a qual chama atenção a campanha Novembro Roxo, que tem 17 de novembro como o Dia Mundial da Prematuridade. A campanha desse ano trouxe como tema global “Garanta o contato pele a pele com os pais desde o momento do nascimento”, tendo em vista que esse modelo de cuidado, de contato, passando pela oferta de leite materno, fortalece o vínculo mãe e filho e ajuda na recuperação do bebê. 

Dados do Hospital Maternidade Almeida Castro, fornecidos pela coordenação geral de enfermagem, mostram que Mossoró e região seguem esse alto índice de nascimentos prematuros. Entre novembro de 2021 e outubro de 2022, foram realizados 1.055 partos de bebês prematuros. A coordenadora geral de enfermagem da Almeida Castro, Patrícia de Oliveira, disse que esse número corresponde aos partos de mulheres de Mossoró e região. Ela frisa que a maternidade realiza em torno de 600 a 650 partos por mês de Mossoró, sendo que 65 municípios são atendidos pelo hospital.  

A maternidade conta com 17 leitos de UTI Neonatal, 18 leitos de canguru e 15 leitos na Unidade de Cuidados Intermediários (UCIN). Normalmente estes leitos estão no limite de ocupação. 

A pediatra Regina Célia Fernandes, que atende na Maternidade Almeida Castro, fala sobre os tipos de casos da prematuridade, mostra dados estatísticos e destaca os principais cuidados para evitar. É considerado um recém-nascido prematuro as crianças abaixo de 37 semanas de idade gestacional. Estima-se que no Brasil uma média de 12% (entre 10 e 15%) dos 3 milhões de nascidos vivos ocorrem antes da gestação completar 37 semanas. Isso, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). 

Regina explica que entre as RNs prematuros existem: pré-termo tardio, entre 34 semanas e 0 dias, e 36 semanas e 6 dias; o pré termo moderado (ou moderadamente pré-termo), 32 semanas e 0 dias, e 33 semanas e 6 dias; muito pré-termo de 28 semanas e 0 dias, a 31 semanas e 6 dias; pré-termo extremo, menor que 28 semanas e 0 dias.

“As causas que levam ao trabalho de parto prematuro podem estar vinculadas a doenças obstétricas e ginecológicas. Podemos citar a doença hipertensiva na gestação, diabetes gestacional, história prévia de trabalho de parto prematuro, que aumenta quatro vezes o risco para TPP, doenças uterinas, como miomas, malformação uterina, insuficiência do colo do útero, infecções urinárias ou corrimentos na gestação, quando não tratados corretamente”, elenca. Acrescentando que, uma das principais formas evitar é realizando um pré-natal de forma adequada e rotineira.

Brasil ocupa o 10ª lugar no ranking mundial de nascimentos prematuros

De acordo com o Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos (Sinasc), do Ministério da Saúde, o Brasil está entre os países onde mais nascem prematuros. Um dado preocupante, pois a prematuridade é a principal causa de morte nos RNs e a principal causa de morte em crianças até os cinco anos de idade, no mundo. 

“O impacto ocorre não apenas para a criança, mas também para toda família. Para criança aumenta o risco de problemas no crescimento, neurológico, respiratório, na visão, audição, atraso motor, problemas de comportamento e diminuição do aprendizado. Para a família ocorre um impacto emocional gigantesco”, destaca Regina Célia. 

Para enfrentar essa realidade são muitos os desafios. Inclusive, para os hospitais maternidades. Conforme explica a pediatra, a luta começa antes mesmo do nascimento de um bebê prematuro. “Tudo começa com uma boa assistência pré-natal para todas as famílias, em especial, para as famílias carentes, que têm pouco acesso a saúde de qualidade. Em seguida, um bom modelo assistencial na maternidade, principalmente voltado para o acompanhamento do prematuro com pessoal qualificado e treinado para esses RNs e trabalho de humanização dos profissionais e equipe multiprofissional. Finalizando, o acompanhamento ambulatorial desses bebês para modificar positivamente seu prognóstico”, destacou a pediatra. 

A médica fala ainda da perinatologia, conceito integrador da obstetrícia e pediatria neonatal com enfoque na abordagem dos principais problemas de saúde da mulher durante a gravidez, o parto e puerpério, e da criança, na vida fetal e neonatal, como períodos evolutivos e indissociáveis. “Sua aplicação no cenário clínico tem como principal objetivo fornecer subsídios clínicos interdisciplinares para promoção, prevenção e identificação sistemática dos problemas para tomada de decisões na assistência à saúde materno-fetal e neonatal. A redução de mortes potencialmente evitáveis e de complicações da prematuridade demanda aplicação do conhecimento cientificamente evidenciado, além da organização dos fluxos assistenciais ao longo da gestação e período neonatal”, ressalta. 

Para além de todos os cuidados técnicos e humanizados, existem os avanços científicos e tecnológicos que têm possibilitado maiores taxas de sobrevida neonatal. Para Regina, ainda há muitos desafios para a assistência ao RNPT, tais como: gestação não planejada, altas taxas de cesarianas, déficit na formação de profissionais de saúde aptos a lidarem com a família durante a internação do recém-nascido na unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN), baixo investimento financeiro, estrutural e de recursos humanos em programas de acompanhamento ao recém-nascido prematuro após a alta, e ainda fatores socioeconômicos maternos, como é o caso do baixo índice de escolaridade materna, menor idade materna. 

São muitos os riscos que um bebê prematuro enfrenta, e a idade gestacional é o que mais conta quando se fala em sobrevivência. “Quanto menor a idade gestacional maior é o risco de mortalidade. Essa porcentagem vai depender de cada serviço com grande variabilidade no Brasil. 

“Prematuros de 22 semanas, pesquisas têm mostrado taxas de sobrevivência de 2% a 15%; prematuros de 23 a 25 semanas, a taxa de sobrevivência é entre 15% e 40%; 25 semanas é em torno de 55% a 70%; prematuros de 26 a 28 semanas, as taxas de sobrevivência são de 75% a 85%; prematuros de 29 a 32 semanas, a taxa de sobrevivência é entre 90% e 95%. de 33 a 36 semanas, a taxa de sobrevivência é maior do que 95%”, mostra.

Existe todo um processo de tratamento para sobrevivência do bebê. “A utilização de corticoide antenatal, incubadoras e respiradores adequados, uso de surfactante melhoraram a sobrevida dos RNs prematuros. Além disso, protocolos para o recebimento do RN prematuro, preparação de toda equipe para realizar a reanimação nos bebês, melhoraram a mortalidade nessa faixa”, frisa. Para isso, todo o trabalho que envolve a sobrevivência de um prematuro, é feito em conjunto hospital/pais. Isso contribui para um resultado mais rápido na recuperação dos bebês. 

“A assistência neonatal humanizada estimula o desenvolvimento físico e emocional do bebê, reduz o estresse, a dor e o choro do recém-nascido; estabiliza o batimento cardíaco, a oxigenação e temperatura do corpo do bebê; ao ouvir o som do coração e da voz da mãe, o bebê fica mais calmo e sereno; aumenta o vínculo mãe-filho; favorece o aleitamento materno; contribui para a redução do risco de infecção hospitalar; proporciona maior confiança dos pais nos cuidados com o bebê e contribui para a otimização dos leitos de UTI. O programa é uma das medidas que complementam o cuidado integral de bebês, assim como a Rede Cegonha – estratégia que oferece atendimento humanizado à saúde das mulheres e crianças até dois anos na rede pública com acompanhamento do pré-natal, parto e puerpério”, explica. 

A presença dos pais na recuperação é fundamental 

No período de internamento o vínculo entre a família é fortalecido, e os bebês que são acompanhados respondem mais rapidamente aos estímulos dos pais, o que auxilia no amadurecimento e equilíbrio da vida da criança, além de acelerar sua recuperação. 

Para essa ligação, a medicina conta com o método canguru, que por definição, trata-se de um modelo de assistência ao recém-nascido prematuro e sua família. O método é voltado para o cuidado humanizado que reúne estratégias de intervenção biopsicossocial. O bebê prematuro é colocado em contato pele a pele com sua mãe ou com seu pai. 

São três etapas que compõe esse método. “A primeira inicia-se no pré-natal na gestação de alto risco e, após, na internação do recém-nascido prematuro na Unidade Neonatal. Os pais devem ter livre acesso à unidade, sendo que os estímulos ambientais prejudiciais da unidade neonatal, como ruídos, iluminação e odores devem ser evitados. Na segunda, o bebê permanece de maneira contínua com a mãe e a posição canguru deve ser realizada o maior tempo possível. A mãe participa ativamente dos cuidados do prematuro, e deve estar apta para colocar o bebê na posição canguru. Na terceira etapa, o bebê vai para casa, após a alta hospitalar. O bebê retorna para ser acompanhado, de 48 a 72 horas, por uma equipe de profissionais, juntamente com sua família, no ambulatório”, apresenta a pediatra. 

Ser mãe de um bebê prematuro é lidar com o medo e a insegurança 

Quando uma mulher engravida o que ela mais deseja é uma gravidez tranquila e que o bebê venha com saúde. Tudo isso, claro, dentro do tempo esperado de uma gestação normal, no caso numa gestação completa que varia entre 37 e 42 semanas. Ou seja, ao mesmo tempo em que a mãe conta os dias para o nascimento do filho, ela não quer que ele venha antes desse tempo. No entanto, nem sempre as coisas saem como programado, como é o caso dos “apressadinhos” que chegam antes do previsto e, nessa situação, há uma grande batalha a ser enfrentada. 

Seja prematuro extremo, seja aqueles que nascem numa fase mais segura, há sempre uma angústia e medo. Sara Maria nasceu em 15 de junho de 2022, com 34 semanas e pouco mais de 2kg. Antes disso, a mãe,  Gigriola Lima, já vinha de um processo de idas e vindas ao hospital devido à problemas de hipertensão gestacional. Ou seja, antes do parto, ela já convivia com o medo de ter a filha antes do tempo. Sara nasceu no dia 15 de junho e recebeu alta hospitalar no dia 25 do mesmo mês.   

“Ter um filho prematuro nos coloca diante de um desafio para o qual não estamos preparados. A gente lida com o medo, a insegurança, principalmente, com o medo de haver alguma intercorrência que traga complicações para o bebê que já nasce em condições tão frágeis. A vivência no hospital, mesmo com todo o acolhimento, também não é fácil. E quando a gente presencia a situação de outras mães que as vezes é mais dramática que a nossa, a gente fica apreensiva”, disse. Gigriola afirma que foram dez dias difíceis, mas para a felicidade de toda a família correu tudo bem na recuperação de Sara.

Direitos das mães que tem bebês prematuros 

A advogada Heloísa Souza, esclarece sobre os principais direitos das mães e dos bebês prematuros. Um assunto que ainda não é muito discutido, talvez pelo fato da prematuridade ainda ser um tema que não tem tanta visibilidade. São direitos que os pais e familiares precisam ter conhecimentos para que não lhes sejam negados. 

Segundo Heloísa, garantir esses direitos cumpre o dispositivo 7° do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o qual estabelece que “a criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”. 

Sobre os direitos das mães de bebês prematuros estão garantidos: acompanhar o bebê durante 24 horas no espaço neonatal. De acordo com a advogada, a Lei considera que nesta situação a mãe não é visita. Além disso, nos casos em que a mãe ou o pai não puderem acompanhar filho, eles podem ser substituídos por algum responsável. 

“Outra garantia que precisa ser do conhecimento de mães que tem filhos prematuros é a licença maternidade, que só começa a contar da alta hospitalar da mãe e do bebê. Nos casos em que ocorrem em datas diferentes, conta-se aquele que for dado por último”, frisa.

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Cultura Destaque

Exposição Afrocentro, da artista visual Malu, será neste sábado (19) em Mossoró

Acontece neste sábado (19), em Mossoró, a exposição “Afrocentro” da artista visual potiguar Malu, em celebração ao dia da consciência negra.

O evento ocorrerá no conhecido Beco dos Artistas, a partir das 18h, no centro da cidade, com a proposta de um aquilombamento cultural que envolverá artistas potiguares das cidades de Mossoró e Natal.

A programação é composta pela rapper e ativista Cabocla de Jurema e o rapper de Natal, Cazasuja, tocando pela primeira vez em Mossoró. Cazasuja convida ainda outros artistas que compõem a cena do rap de Natal para fazer a festa coletiva, como Cafuzo da Baixada e Ujvlly.

O evento contará ainda com a participação de Thiago Odílio que realizará a discotecagem, para animar o público em meio a arte, cultura e o reavivamento de um espaço cultural esquecido pelo poder público da cidade.

O Beco dos Artistas já foi palco de inúmeras manifestações culturais de Mossoró e região e renasce com a proposta de trazer cultura e lazer em uma noite afrocentrada, assinada pela cabeça pensante de uma artista de apenas 25 anos de idade, que empresta seu corpo e suas obras ao expor em um evento de rua, de forma totalmente independente.

A atividade conta com o apoio da entidade estudantil máxima do estado, da União Nacional dos Estudantes, da deputada federal Natália Bonavides, professores da UERN, entre outros que acreditam na força e potência da juventude negra do estado. Todos e todas estão convidados a comparecer e prestigiar esse momento histórico para a vida cultural de Mossoró.

 19 de novembro às 18h

Beco dos Artistas, Travessa Martins de Vasconcelos, Centro.

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Destaque Violência contra mulher

Uern, com a participação de demais entidades, prepara agenda alusiva ao Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher

O Dia 25 de novembro é o Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher. Uma data que vem para reforçar a luta de combate e eliminação das várias formas de violência que afeta mulheres em todo o mundo. Em virtude da data, o mês de novembro se tornou um mês de luta, quando movimentos de mulheres em todo país se articulam por meio de uma série de ações que fortalecem o debate em torno da violência doméstica. Além disso, o 25 de novembro marca, também, o pontapé inicial para os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, uma campanha anual e internacional, que segue até 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Segundo Suamy Soares, Coordenadora do Núcleo de Estudos Sobre a Mulher – Simone de Beauvoir (NEM/Uern), a violência contra mulheres, adolescentes e meninas tem sido uma pauta fundamental dos movimentos de mulheres nos últimos trinta anos.  “Apesar de avanços no campo da garantia de direitos e elaboração de legislações específicas, como a Lei Maria da Penha e a Lei do feminicídio (nº 13.104/15), ainda convivemos com dados alarmantes que dimensionam o Brasil no 5° lugar no ranking internacional de feminicídios”, destaca. Acrescentando que, o mês de novembro amplia o debate e chama atenção da sociedade brasileira para o desafio que é “a prevenção, punição e erradicação da violência contra as mulheres”.

Suamy aponta um estudo recente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública sobre feminicídios, que mostra uma realidade preocupante. “Em 2021, uma mulher foi assassinada, em média, a cada sete horas no país. Estima-se que uma em cada três mulheres tem vivenciado violência física e/ou sexual por parceiro íntimo ao longo da sua vida. A subnotificação das violências é um problema frequente que incide na estimação do número real de casos e na formulação de políticas de enfrentamento e prevenção à questão. Ademais, há entraves quanto a identificação por parte das mulheres das violências sofridas e a constituição de denúncia junto a rede de atendimento às mulheres”, explica.

No que diz respeito ao papel da Universidade dentro dessa realidade, a professora destaca a função que ela vem exercendo no sentido de incentivar a comunidade em geral a enfrentar as múltiplas formas de violência contra as mulheres e as desigualdades de gênero, seja fomentando projetos de pesquisa e extensão na área, seja encorajando as mulheres em situação de violência a buscar ajuda, rompendo o ciclo da violência dentro e fora do espaço acadêmico.

“A UERN em consonância com a sua função social e a necessidade de consolidar as pautas nos campos da diversidade, atendimento às mulheres e à população negra e indígena criou a Diretoria de Ações Afirmativas e Diversidade (DIAAD)”, frisa.  A diretoria “tem por objetivo promover e concretizar políticas de promoção de igualdade e o reconhecimento das diferenças e diversidades no âmbito da Universidade”.

Semana pela vida das mulheres da UERN

18 de novembro, às 18h, na Praça do bairro Pintos – Espetáculo Mulheres à vista (Cia Bagana de Teatro)

21 de novembro, às 8h30, no Centro de Convivência – Espetáculo Mulheres à vista (Cia Bagana de Teatro)

24 de novembro, às 9h, encontro da Rede de Atendimento à mulher em situação de violência (Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher )

24 de novembro, às 8h, no Centro de Convivência – Feira de artesanato com mulheres empreendedoras

25 de novembro, às 16h, na Praça do Pax – Exposição “Os passos interrompidos pelo feminicídio”

25 de novembro, às 16h (online), Mesa Redonda: O papel das Universidades no enfrentamento às violências contra as mulheres. Facilitadoras: Dra Fernanda Marques de Queiroz (NEM/UERN) e Dra. Ilidiana Diniz – (Levante Contra o Feminicídio no RN/UFERSA)

25 de novembro, às 18:30, no Centro de Convivência – Sarau pela vida das mulheres

08 e 09 de dezembro – Capacitação dos vigilantes da UERN sobre a Lei Maria da Penha e o enfrentamento a violência contra as mulheres

Entidades que participam da agenda: Cia Bagana de Teatro, DCE-URN, NEM, Motim Feminista, Movimento de Mulheres Campesinas- MMC, Ouvidoria UERN, PROGEP, PRAE, Comissão Permanente de Enfrentamento às violências contra as mulheres, Diretoria de Ações Afirmativas e Diversidade – DIAAD

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Destaque Gerais

PL de Marleide Cunha instituiu o Dia Municipal de Tereza de Benguela e da Mulher Negra

A vereadora Marleide Cunha (PT) conseguiu aprovação de um projeto de grande importância histórica e social. Na sessão ordinária da última terça-feira (01/11), foi aprovado o Projeto de Lei que institui o Dia Municipal de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, na data de 25 de julho. 

Tereza de Benguela, líder quilombola, se tornou heroína para o povo negro do país, principalmente para as mulheres. A data é uma oportunidade para trazer à tona temas como o racismo, o machismo e a opressão de gênero que ainda estão em pauta e tem consequências maiores sobre a vida das mulheres negras. 

Nacionalmente o dia 25 de julho foi decretado em 2014 como Dia de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, pela presidente Dilma Rousseff, com o objetivo de celebrar a vida e a luta de Tereza, reconhecida por liderar o Quilombo de Quariterê por mais de duas décadas. Por todo significado que a data representa, todo ano, o mês de julho é de memória, luta e reconhecimento para mulheres negras, e isso acontece por meio de várias atividades. 

Para Marleide, por vivermos em uma sociedade racista, machista e excludente, a luta e a resistência das mulheres negras sempre foram invisibilizadas pela história. Somando a isso, avaliando o contexto atual, a grande maioria das mulheres negras vive em situação de vulnerabilidade, pois são as que mais sofrem desigualdade no Brasil.   

“Instituir no calendário oficial do Município de Mossoró o Dia Municipal de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, é uma forma de preservação da nossa memória histórica e de reconhecimento da luta das mulheres negras líderes de resistências. Lutas estas, de bravas, corajosas guerreiras negras, são ignoradas, apagadas, pela história brasileira. Principalmente, devido a um racismo que encontra na misoginia um mecanismo de silenciamento. E nós precisamos apagar esse silenciamento, precisamos combater esse apagamento histórico dessas lutas. Por isso, a lei é importante, ela simboliza e reforça a luta das mulheres negras pela promoção da igualdade racial no Brasil e ajuda a gente a se reconhecer e conhecer a nossa história”, destaca a vereadora.     

A jornalista, pesquisadora e mulher negra, Pâmella Rochelle, destaca que a aprovação dessa PL a nível municipal, reforça a Lei instituída no Brasil pela presidenta Dilma Rousseff e contribui diretamente para um movimento de visibilização da história e das pautas das mulheres negras que ainda hoje são as mais afetadas pelo racismo e preconceito.

“Conhecer a história de Teresa de Benguela é conhecer a própria história do Brasil e das mulheres negras, tendo em vista que Teresa, conhecida como rainha Teresa, líder do Quilombo do Piolho, é um símbolo de resistência e luta contra as opressões raciais e sociais. Acredito que a PL contribui diretamente para que a população mossoroense não esqueça a história de luta e resistência do povo negro, como também que se fomente discussões étnico-raciais na sociedade de modo geral, levando os sujeitos a manterem uma atitude antirracista”, disse.

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Coletivo Negras da Ufersa realiza Seminário de Educação e Antirracismo

O projeto de extensão Coletivo Negras da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), está com inscrições abertas para o I Seminário de Linguagem, Educação e Antirracismo, que acontecerá nos dias 24 e 25 de novembro. O Seminário dispõe de 100 vagas, que garantem a certificação integral de 15 horas. As inscrições podem ser feitas até o dia 1 de novembro por meio do SIGAA.

O tema “Mulheres Negras, Sociedade e Educação Antirracista”, divide-se em três eixos de discussões com as contribuições da comunidade interna e externa. De acordo com Pâmella Rochelle, jornalista, pesquisadora e uma das organizadoras do evento, este é o primeiro Seminário de Educação e Antirracismo de Mossoró. Ela fala da importância do seminário e destaca a participação da conferencista Matilde Ribeiro, doutora, escritora de literatura negra e professora na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afrobrasileira (UNILAB – Ceará).

“Com esse Seminário nós do coletivo NEGRAS desejamos fomentar a discussão racial tanto no âmbito acadêmico, educacional, como na sociedade de modo geral. Tendo em vista que a construção de uma sociedade mais justa e igualitária passa tanto pelas questões de gênero como de raça/etnia”, frisa.

Matilde, militante do movimento negro e do feminismo, tem uma trajetória de luta registrada. Foi Ministra Chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil, durante o Governo Lula e é reconhecida pela sua importância nas lutas pela implantação das políticas de igualdade racial no Brasil. Durante o evento, a professora abordará a temática “Saberes populares e acadêmicos: linguagem, educação e antirracismo”.

A conferência de abertura do evento será no formato online, no dia 24, e será transmitida pelo canal oficial da UFERSA no Youtube. No dia 25 a programação segue de forma presencial, no Auditório da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC), localizado no Lado Leste do Campus de Mossoró. Pela manhã, a partir das 7h30, haverá a exibição do documentário Solo Negro e o lançamento da cartilha “Combate às Práticas de Racismo em Tempos de Pandemia”. À tarde, a partir das 13h:30, acontecerão rodas de “Linguagens Extensão, Discursos e Práticas Decoloniais” com três diferentes eixos: I “Racismo, inclusão e Juventudes Negras na Educação e Mídia”; II “Gênero, Diversidade Sexual e Violências Múltiplas”; e III “Justiça, Autoestima, Mulheres Negras no Campo e Cidade”.

Apoiam a atividade os Grupos de Pesquisas GEPEDS, Observatório do Semiárido e GEFOR, através dos estudantes e professores do Curso de Licenciatura em Educação do Campo e construção de parcerias.

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Jéssica Mendes fala sobre a 2ª edição da Feira Bangalô 

Consolidar uma marca no mercado em meio a um cenário de grande competividade não é tarefa fácil, principalmente, quando estamos falando de empreendedores que não dispõe de tanta estrutura de marketing para que possa tornar a sua marca conhecida e, consequentemente, ampliar as vendas de seus produtos. As redes sociais são, atualmente, um espaço que tem facilitado a divulgação de uma marca ou empresa, no entanto, nem sempre é suficiente quando o objetivo é ampliar vendas e fidelizar clientes. 

Foi pensando em para além das vendas virtuais que surgiu em Mossoró a Feira Bangalô, uma iniciativa da empreendedora Jéssica Mendes, que já podemos considerar que deu certo. Prova disso está na adesão que vem tendo a segunda edição da feira que acontecerá no próximo sábado (08/10) na Cervejaria Cabocla, a partir das 16h. 

O evento se tornou destaque na cidade enquanto espaço para empreendedores e empreendedoras exporem seus produtos. Durante a exposição os visitantes podem comprar os produtos que estão à venda e ainda contam com várias atrações musicais locais, enquanto durar a feira.  

O crescimento do evento, especialmente em termos de número de participantes, registrado de uma edição para outra, já mostra o sucesso da ideia. Na primeira edição foram 32 expositores. Nesta, já são em torno de 50 inscritos. “A Feira Bangalô surgiu com o intuito de promover os empreendedores que estavam apenas no virtual, inicialmente prevalecendo o segmento do artesanato. Mas o projeto foi tomando forma, passou a agregar outros segmentos e, ao mesmo tempo, foi se alinhando a cultura de Mossoró. Hoje a feira promove arte, comércio e cultura local”, destaca.

A Bangalô vem atendendo o propósito que é impulsionar as vendas dos que atuam como micro empreendedores e torná-los conhecidos no mercado. Através de um evento que reúne cultura, música, exposição de uma variedade de produtos e comidas artesanais, a feira oportuniza, também, uma interação direta entre o empreendedor e o cliente. Uma interação que ultrapassa apenas o virtual, o que é uma grande vantagem para os pequenos empresários.  

Até o momento estão inscritos em torno de 50 expositores. Deste total, 90% é das inscrições são de mulheres. A idealizadora da Feira acredita que até lá podem haver novos inscritos, considerando que diariamente tem surgido interessados em participar.

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Destaque Política

Fome, miséria e ignorância: instrumentos de poder

Texto de Paula Duarte

 

Se a arte imita a vida ou vice-versa, eis a questão! Entretanto, utilizaremos o filme Mad Max: Estrada da Fúria como alusão ao título do presente texto para nossa reflexão. Na ficção cinematográfica, o povo vive a mais bárbara miséria, privados das condições básicas de sobrevivência como alimentação e água, aliás, a água é controlada pelo vilão e através desse poder o povo é escravizado e alienado, tornando seu vil algoz em uma divindade, um mito.

A realidade de muitos países em desenvolvimento segue a mesma lógica, e a fórmula é a seguinte: quanto mais fome e miséria, menos acesso à Educação e as condições devidas para absorver conhecimento e questionar sua realidade, consequentemente, mais o ambiente se torna propício para formação de uma sociedade anestesiada pela ignorância e criação de falsos mitos. Os líderes de países que utilizam essa fórmula, agem como boiadeiros que tangem a boiada para direção que lhes for conveniente, o povo transforma-se em massa de manobra facilmente manipulada.

Aqui no Brasil, vivemos essa triste realidade, os dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil realizada em junho deste ano revelam que 33,1 milhões de pessoas estão em situação de fome no país. Isso significa que só quatro entre dez famílias conseguem acesso à alimentação. A pesquisa revela também que o Brasil retrocedeu aos patamares equivalentes aos anos de 1990.

É fato, percebermos o crescente número de pedintes, moradores de rua, pessoas vasculhando o lixo para se alimentar, outras na fila do osso… Não à toa, o Brasil voltou a integrar o Mapa da Fome.

A proliferação alarmante da fome está atrelada a outro fator também preocupante: o alto índice de desemprego no país, cerca de quase 15 milhões, quando soma-se os número de desempregados e desalentados, conforme aponta o IBGE. Ou seja, no Brasil atual, três em cada dez trabalhadores e trabalhadoras estão desempregados. 

O efeito dominó segue a seguinte ordem: sem emprego, sem salário, sem condições de moradia, sem acesso à alimentação, ao fim só restam: a miséria e o sofrimento humano de milhares de famílias.

Governos que promovem fome e miséria não podem deixar de desinvestir em Educação e promover o sucateamento das mesmas, caso contrário, a fórmula de dominação de poder estará seriamente comprometida. Afinal, há uma máxima em protestos populares que diz assim: “O governo é contra a Educação, porque a Educação derruba o governo”. De fato, o povo consciente de seus direitos torna-se um instrumento letal para aqueles que se beneficiam financeiramente com miséria humana, com a fragilidade de leis trabalhistas, com a precariedade dos empregos, ao passo que garantem a manutenção dos seus status de poder através da miséria e da escravidão moderna.

Felizmente, o Brasil ainda é um país democrático em que a cada quatro anos o povo tem o poder de mudar sua realidade através da escolha de seus representantes por meio do voto. Por isso a importância da Educação em um país, pois é através dela que se deve construir cidadãos reflexivos, críticos e éticos. É através dela que pode-se levar o conhecimento da história e da importância do voto, por exemplo,  bem como o que é democracia e o porquê de lutarmos por sua defesa em tempos sombrios. 

Hoje, dia emblemático no Brasil, é dia de celebrarmos o poder de escolha de um povo por meio do voto, depositemos, pois, a esperança por dias melhores. Viva a democracia!

 

Paula Regina da Silva Duarte Mestra em Letras; professora da Rede Estadual de Ensino e Diretora da Juventude do SINTE/Regional.

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Peças que vêm do barro e o talento que atravessa gerações

O artesanato em barro, trabalho que em grande parte nasce dentro dos ambientes familiares e vai passando de geração para geração, por muito tempo foi visto apenas como um trabalho para sobrevivência e não como uma arte. No entanto, essa habilidade de transformar barro em peças, sejam peças utilitárias ou peças decorativas, passa a ser vista por uma outra perspectiva, ou seja, como uma arte e, naturalmente, os artesãos uns verdadeiros artistas.

Podemos dizer que o Rio Grande do Norte é um Estado que se destaca no artesanato e, nesse segmento, destacam-se os produtos de barro como uma riqueza da nossa cultura. No Nordeste, inclusive no RN, são muitas as famílias que seguem a tradição da produção desses artigos.

Itamara Almeida, militante do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), formada em Letras pela Uern, e doutoranda pela UFPB, vem de uma família que trabalha com a produção de peças de barro em Assú. Segundo ela, a atividade na família atravessa várias gerações, e nem os mais velhos conseguem dizer quando foi iniciado esse trabalho na família. Embora a atuação da família nessa arte carregue uma longa história, um tempo incontável, pode-se dizer, ela começou a produzir, de fato, em 2015, inspirada no trabalho do seu tio que morava próximo de sua casa, e que veio a falecer em 2017.

Ela conta que passou a frequentar mais a calçada do tio, espaço onde ele realizava seu trabalho, e foi se aproximando de tudo que envolvia o barro e suas obras. Passou a conhecer mais sobre todo o processo de produção, fazia os registros das peças que seu tio produzia, e procurou entender sobre o processo de feitura das peças, desde a queima do barro até o produto final.

“O meu tio faleceu em 2017 e deixou toda a argila dele para mim. Então, esse foi um momento forte da minha vida. Foi quando comecei a me apropriar mais disso, comecei a fazer um outro tipo de produção, diferente do que a minha família produzia, que era a produção de objetos mais artísticos, mais decorativos e menos utilitários. Minha família sempre produziu potes, panelas, alguidares, coisas que estão ligadas ao uso no cotidiano. Eu buscava uma produção ligada a elementos mais artísticos, que poderiam decorar ou expressar alguma coisa que eu estava sentindo”, destaca.

Itamara acrescenta que começou a fazer material com barro entre 2015 e 2016. “Apesar da minha família fazer isso há muitas gerações, a minha mãe foi parando de fazer, meus tios, as minhas tias, porque era uma lembrança penosa da vida delas e deles, da família como um todo”, frisa. Acrescentando que o sofrimento enfrentado para produção dos artigos foi um dos motivos que levou a família a deixar a produção de lado.

“O processo de pegar o barro longe, a pé, tudo isso trazia uma memória para minha mãe especial muito forte de uma condição de miséria. E minha mãe sempre dizia que não ia me ensinar a fazer porque eu tinha que estudar, então fui sendo privada dessa coisa de produzir o barro”, conta.

O foco do trabalho de Itamara começou com a produção de peças decorativas, ou que emitissem sentimentos. Na sua produção, encontrou mais um desafio. Ela percebeu que a argila utilizada pela família não passa por um tipo de melhoramento, considerando que para a produção de um pote, por exemplo, não precisa de um melhoramento como precisa para produzir escultura.

Então, a partir daí, o processo foi de buscar melhoramento dessa argila, e estudar a composição “sobre qual a melhor argila, sobre como fazer a limpeza dela, sobre todos esses processos que, de alguma forma, poderia me ajudar a ter uma qualidade, mais condições de produzir outros materiais, como as esculturas”, explica.

Mesmo que tenha direcionado seu trabalho à produção de peças diferentes do que sua família costuma produzir, Itamara deixa claro que a intimidade com a produção de peças em barro está ligada ao modo que sua família faz.

“Minha família trabalha com uma técnica totalmente manual sem a utilização de ferramentas muito elaboradas, ou materiais que são adquiridos via compra. Todo o material da produção vem do que elas mesmas fazem, são ferramentas disponibilizadas no seu próprio espaço. Elas mesmas que produzem. Não tenho dúvida que parte das minhas escolhas para o futuro tem a ver com a argila e parte dessas escolhas tem a ver com o quanto é significativo para minha família essa produção”, disse.

Retornando à produção das peças sob outra perspectiva 

Itamara afirma que sua mãe (Damiana de Souza) e sua tia (Francinete de Souza Araújo) voltaram a fazer as peças com muita vontade e muita força. “Atualmente elas estão fazendo parte da equipe que está trabalhando na repaginação do Mercado da Agricultura Familiar de Natal. Elas trabalham com a produção de potes, vasos grandes, que serão utilizados na repaginação do mercado, por meio de um projeto via governo”.

O diferencial desse trabalho atual vem de que, para a família de Itamara a produção com argila, de artigos utilitários, sempre teve o sentido de sobrevivência, ou seja, não era visto como a produção de uma arte, mas como uma forma de produzir para sobreviver. No entanto, o trabalho que sua mãe e sua tia fazem hoje para a repaginação do Mercado da Agricultura tem outro significado. “É diferente de fazer um pote para vender e comprar um almoço. E isso contribui para uma visão diferenciada, com mais positividade, de um trabalho tão bonito e tão significativo”, frisa.

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Não basta votar em mulher, escolha candidatas comprometidas com as lutas sociais

As mulheres são maioria no eleitorado do país. De acordo com dados divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de eleitoras representa 53% do eleitorado, enquanto o de homens equivale a 47%. No entanto, a sub-representação no âmbito político permanece e é vista como uma realidade que não é apenas injusta, mas, principalmente, prejudicial.

A ausência das mulheres reflete negativamente no avanço em defesa das pautas femininas. Além disso, se consideramos que existe uma democracia representativa, onde a maioria da população e do eleitorado é formada por mulheres, essa sub-representação feminina é, de fato, um sintoma de desigualdade de gênero.

Nas eleições de 2018, de acordo com o TSE, apenas seis das 81 vagas do Senado Federal foram conquistadas por mulheres. Na Câmara dos Deputados, o cenário é semelhante: dos 513 eleitos, somente 77 eram do sexo feminino. Em 2018, apenas uma governadora foi eleita, que foi Fátima Bezerra, no Rio Grande do Norte.

São muitos os motivos pelos quais as mulheres têm receio de ocupar esses espaços. O machismo, a violência política de gênero, o racismo, falta de financiamento, misoginia entre outros. É uma realidade histórica, ao longo dos anos os espaços de decisão política têm sido majoritariamente ocupados por homens, e apesar do debate sobre a baixa representatividade das mulheres na política ter sido ampliado, a participação feminina nesses espaços continua sendo um grande desafio.

Para além de todas as discussões em torno da necessidade de mais mulheres ocupando os espaços de poder, um outro ponto é evidenciado quando se pergunta quem são as mulheres inseridas nos espaços políticos que, realmente, representam as pautas femininas? Nesse caso, é sobre a importância de levar em consideração o comprometimento com as pautas que as coloquem numa situação de igualdade entre os gêneros na sociedade. É sobre perguntar, quais mulheres defendem as causas da classe trabalhadora? Então, o que se questiona é: basta votar em mulher?

Fernanda Medeiros, do Movimento Brasil Popular, destaca que, por muito tempo o espaço político não foi visto como espaço das mulheres, no entanto, as mulheres sempre fizeram política, seja no dia a dia, seja no seu histórico de luta dentro dos espaços coletivos. “Então, é importante que nós tenhamos candidatura de mulheres para entender que esse é um espaço que deve ser ocupado por nós e que à medida que nós temos mulheres nos processos de tomada de decisão, na formulação de políticas públicas, nós podemos ter a possibilidade de transformar a vida das mulheres. Mas, para isso, é importante atentar para a eleição de candidatas que tenham compromisso com a classe trabalhadora, que tenham uma trajetória de luta com o povo, junto aos movimentos sociais, sindicatos, a coletivos organizados e que estejam, de fato, se colocando em defesa da vida das mulheres e em defesa da vida do povo”, enfatiza.

Para Telma Gurgel, militante da Coletiva Motim Feminista, a participação das mulheres na política é fundamental. “Podemos dizer que é imprescindível para a mudança da realidade das mulheres. Nós sabemos que além do processo cultural de construção do patriarcado, da expressão do machismo, da violência contra mulher, nós temos os elementos estruturais, que determinam a desigualdade entre homens e mulheres. E na política essa desigualdade é imensa”, destaca. Mesmo assim, ela acrescenta que não basta ser mulher. “Tem que ter o compromisso com as lutas das mulheres, com a luta feminista, com a luta pela igualdade da sociedade e, principalmente, com a luta de classe, pois a luta de classe perpassa todas as condições sociais, inclusive as desigualdades de gênero”, frisa.

Telma ressalta que, nem todas as mulheres que estão ocupando cargo, ou que já ocuparam cargo, representava a classe trabalhadora. Ao longo da história, tivemos mulheres, tanto no Brasil quanto em outros países, que contribuíram diretamente com o processo de empobrecimento e violação dos direitos das mulheres e da classe como um todo. “Resta lembrar as ministras que tivemos vinculadas ao governo Temer, ou ao próprio Governo Bolsonaro, o que elas fizeram de ataque aos direitos das mulheres. Damaris Alves, por exemplo, tem sido hoje a principal inimiga das mulheres no Brasil”, disse.

E dentro desse contexto ainda existe as chamadas “mulheres laranjas”. Telma lembra que, por muito tempo, e ainda hoje, os partidos não são convencidos da necessidade do protagonismo das mulheres. “Muitas vezes os partidos burlam a lei com candidaturas de mulheres laranjas. Antes era comum as mulheres se candidatarem em nome dos seus maridos e do seus pais, porque estes não podiam mais ser candidatos. E elas colocavam toda a sua política desenvolvida por esses homens. E ainda tem a laranja mais moderna, que são as falsas candidatura de mulheres para angariar recursos para o fundo partidário. Então, isso é jogatina na política brasileira que exige das mulheres cada vez mais auto-organização no interior dos partidos e o fortalecimento de uma bancada que represente, realmente o interesse das mulheres”, acrescenta.

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Dia do Estudante: comemorar ou protestar?

Dia 11 de agosto, uma data emblemática para milhares de estudantes brasileiros, pois hoje é dia de celebrar a vida, o esforço e a dedicação de crianças, jovens e adultos que buscam o conhecimento por meio dos estudos.
Entretanto, neste dia de hoje, não só os estudantes brasileiros precisam fazer uma reflexão, mas toda a sociedade, afinal, o que os estudantes têm a comemorar?
Será a Emenda Constitucional aprovada em 2016 no governo do Presidente Michel Temer que congelou o investimento em Educação por vinte anos?
Serão os constantes cortes nas verbas que deveriam ser destinadas à Educação desde 2019 quando milhares de estudantes de escolas públicas, dos Institutos Federais e Universitários foram às ruas protestar pelo fato das instituições não terem condições de pagar gastos básicos como o consumo de energia ou manter a limpeza das instituições?
Será o abandono sofrido por milhares de estudantes no período da pandemia, especialmente os mais vulneráveis, que ficaram esquecidos por não terem acesso à internet e equipamentos tecnológicos que os amparassem no momento em que o distanciamento social era vital?
Serão os desvios de verbas do Ministério da Educação com a compra de kits de robóticas e a compra de ônibus escolares superfaturados para beneficiar aliados do governo e lobistas?
Serão os casos de corrupção envolvendo o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro e os seus comparsas pastores ao pedirem propina para ceder verbas do MEC para determinadas prefeituras que se dispusessem a aceitar os moldes da falcatrua?
Será a falta de uma política de educação que vise investir nas estruturas escolares sucateadas, bem como na qualidade de educação oferecida aos estudantes das capitais aos rincões deste país?
Pelo visto, aos estudantes brasileiros não há o que se comemorar já que a Educação é considerada a inimiga principal do maior representante da nação, o presidente. Nesse sentido, só resta aos estudantes, neste dia emblemático, tomar as ruas do país e protestar em prol da democracia, pois sem democracia não há Educação, não há perspectiva para a realização dos sonhos dos nossos estudantes.
Monteiro Lobato disse que: “Um país se faz com homens e livros”. Eu acrescento que um país se faz com homens, livros e investimento. Um país que não investe na Educação do seu povo, é um país fadado à pobreza, à miséria, ao fracasso e ao insucesso.
Jovens estudantes e sociedade brasileira, a quem interessa a ignorância de uma nação?
Lutemos estudantes, professores e familiares por dias melhores em que a educação romperá de vez com os grilhões da ignorância.
Paula Regina da Silva Duarte é professora mestre em Letras; professora da rede estadual de ensino e diretora da juventude do SINTE/Regional.