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Justiça vai investigar se mulher resgatada também era escrava sexual de pastor

A investigação que apura o caso da empregada doméstica que foi resgatada por fiscais do trabalho em Mossoró por estar sendo submetida a trabalho escravo prossegue. Além do crime de trabalho semelhante ao regime de escravidão, o acusado, que é o pastor evangélico da Assembleia de Deus, Geraldo Braga da Cunha, também poderá responder por crimes sexuais cometidos contra a vítima.

A Procuradora da Justiça do Trabalho Cecília Santos, que está cuidando do caso, divulgou que durante aproximadamente 10 anos a vítima também pode ter sido vítima de violência sexual. O pastor e a família confirmaram que havia a relação sexual entre o patrão e a vítima, mas relataram que a relação era consensual. Porém durante a conversa que teve com a procuradora, a mulher negou o suposto consentimento, o que deve caracterizar crime sexual. Esse crime será conduzido pela justiça comum, através da Polícia Civil.

O caso da empregada doméstica veio à tona recentemente e foi notícia nos principais jornais do país e na mídia local. A descoberta aconteceu após a Justiça do Trabalho receber denúncias anônimas informando sobre um possível caso de trabalho escravo no município. De posse das informações, fiscais foram até o local indicado, no caso a residência do pastor Geraldo, e encontraram a vítima que confirmou as suspeitas. A mulher que terá a identidade preservada foi resgatada e se encontra em um abrigo por determinação judicial.

Durante a investigação, a Justiça do Trabalho constatou que a vítima foi levada para a casa do pastor ainda adolescente, com apenas 16 anos, hoje está com 42, e durante todo esse tempo prestou serviços domésticos para a família, sem acesso a descanso, remuneração ou qualquer direito trabalhista. 

TRABALHO ESCRAVO – A vítima contou às fiscais que realizava todo o serviço doméstico da residência servindo ao pastor, à esposa, aos filhos e atualmente também já cuidava dos netos do casal. Durante seu relato, a vítima contou que muitas vezes precisou acordar à noite para cuidar das crianças e realizar tarefas.  

Inicialmente a Justiça do Trabalho está movendo ações trabalhistas contra o pastor que deverá ser condenado a pagar todos os valores referentes ao trabalho doméstico prestado pela vítima. A direção-geral da Assembleia de Deus em Mossoró se manifestou através de nota, alegando que não tinha conhecimento do caso e que não compactua com tais ações. Segundo a nota, um processo administrativo está sendo movido e o pastor Geraldo Braga foi afastado de suas funções.

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Symara Tâmara – Uma artista de corpo e alma

Escritora, poetisa, compositora, cantora, musicista, interprete e professora. Uma brasileira que carrega no sangue força, talento e a garra da mulher nordestina. Symara Tâmara, uma artista de voz marcante, forte, timbre único que vem construindo sua história no mundo da música com muita originalidade e criatividade. 

Vencedora de um dos mais tradicionais concursos de talentos musicais de Mossoró, o “Mais Bela Voz”, no ano de 2006, desde então Symara vem  se destacando no cenário musical do Rio Grande do Norte. O seu nome já faz parte da lista de artistas requisitados para apresentações em eventos culturais de Mossoró e recentemente a artista lançou o EP autoral “Tempo”, o qual reúne canções que falam de amor, questões sociais, reflexões sobre a relação do ser humano com o tempo e com suas memórias afetivas.

 O EP “Tempo”, primeiro da carreira da artista, marca os 20 anos de carreira da cantora Symara Tâmara. “Esse trabalho é o marco final das comemorações de vinte anos de minha trajetória musical”, destacou Symara. “Tempo” é o título de uma das faixas do EP. 

POEMA MUSICADO – A canção escolhida para intitular o trabalho vem originalmente do poema “Ribeira”, publicado no livro Peregrina, da poetisa potiguar Kalliane Amorim e musicado por Symara Tâmara, num envolvimento de muita sensibilidade e beleza. 

Para a cantora, a passagem de vinte anos de experiências artístico-musicais foi fundamental para seu amadurecimento, como artista e como ser humano, sendo essa uma razão para celebrar esse momento com uma homenagem ao tempo.

O EP “Tempo” conta com seis canções em seu set list, compostas por Symara em parceria com outros compositores, com os quais a cantora vem formando parceria ao longo de sua trajetória musical, entre eles, seu esposo e produtor César Guimarães.  

PREMIAÇÃO

As composições da artista falam de amor, questões sociais e têm rendido à cantora premiações em diversos festivais de música realizados no Brasil, como a canção “Florescer”, parceria de César Guimarães com a cearense Gabriela Mendes, com a qual Symara ficou entre as vinte melhores canções no I Festival Juazeiro do Norte de Música do Nordeste (CE) e no Prêmio Fomento à Cultura Potiguar (RN), em 2019, sendo o primeiro single lançado pela cantora nas plataformas digitais e seu primeiro videoclipe, que está em seu canal no YouTube.

Symara ficou entre os doze finalistas no I Festival da Música de Fortaleza (CE) em 2018, com a canção “Pixote”, do paraibano Ninor Freitas. Neste festival a cantora concorreu com mais de 300 canções de todo o Brasil. Em 2021, com a canção “Pescador de poesia”, do também paraibano Emiliano Pordeus, ficou em segundo lugar no 1º Festival de Música Sousense (I FESTMUS). 

O EP “Tempo” foi lançado em dezembro do ano passado nas plataformas digitais. O trabalho é um projeto realizado com recursos da lei Aldir Blanc, através da Prefeitura Municipal de Mossoró. O repertório apresenta variados gêneros, com canções que trazem do regional às raízes da música afro-brasileira. Symara explica que embora seu trabalho conte com todo aparato de elementos percussivos, de cordas e metais, porém na apresentação de lançamento do EP que aconteceu no Centro Cultural Banco do Nordeste de Souza-PB, a apresentação foi realizada em um formato mais intimista, onde a artista se apresentou acompanhada por seu produtor musical Jubileu Filho ao violão.

 A ARTISTA – Symara Tâmara, artista potiguar nascida em Natal e cidadã mossoroense, sempre conciliou música, literatura, educação e pesquisa. Tem formação acadêmica e mestrado em Letras pela UERN, membro da AFLAM e ALAMP. Na literatura, é autora do livro de poemas “O zênite da inspiração” (2000) e Antônio Francisco: tradição e modernidade – uma poética da memória (2015). Atualmente está preparando três publicações, uma de poesia (Infinita tarde finda), e duas de pesquisa na área de literatura: Antônio Francisco vai à escola – um relato de experiência com a obra antoniana em sala de aula e Reflexões e fluxos sobre literatura, através da lei Aldir Blanc do RN e do município de Mossoró. 

Na música, vem trabalhando desde 2001, cantando na noite e em bandas de rock e de baile de Mossoró, se destacando em projetos musicais dentro dos maiores eventos da cidade e do estado. Venceu o tradicional concurso A mais Bela Voz em 2006, concorrendo com mais de 800 candidatos de todo o RN. O seu nome figura na lista de artistas requisitados em projetos musicais temáticos como Mossoró Cidade Junina, Assembleia Cultural (Natal-RN) e Câmara Cultural. 

Também apresentou canções de seu projeto autoral em projetos como Canto Potiguar (2008), Projeto Seis & Meia (2010) e Abertura do Espetáculo Chuva de Balas (2011), e participou de projetos como Tributo a Clara Nunes, Elas cantam Brega, MPB Petrobrás, Sacolão Cultural e polos do Mossoró Cidade Junina. Representou o estado do RN em festivais nacionais (Festival da Música de Fortaleza e Festival Juazeiro do Norte de Música do Nordeste) e instituições culturais nacionais (CCBNB Sousa-PB). Abriu shows de artistas nacionais e internacionais, como Quarteto em CY, João Bosco, Nando Reis e Modulatus Project (Iury Matias – RN e Laura Rui – Portugal). 

É professora de Língua Portuguesa da rede pública estadual de ensino do RN. Contatos e mais informações: Acunha Produções: (84) 99120-2706 (whats app) acunhaproducoes@gmail.com Symara Tâmara: (84)98843-3357 symaratamara@hotmail.com symaracontato @gmail.com Redes sociais: Instagram: @symaratamara @acunhaproducoes Facebook: Symara Tâmara Canal no Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCp0DcB2s5_ZoMNg4hgA2LyQ

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Destaque Violência contra mulher

Uma patrulha em defesa de muitas Marias

Atender a pedidos de socorro, conter situações de violência, deter agressores, aconselhar, orientar, proteger. Essas são as principais tarefas da Patrulha Maria da Penha da Guarda Civil Municipal de Mossoró. Um serviço que acaba de completar um ano de criação, mas que já é referência quando o assunto é a proteção de mulheres vítimas de violência doméstica e familiar.

Uma patrulha composta por 18 agentes civis mulheres e 18 homens que atuam com serviço 24 horas com um único objetivo: proteger as mulheres das violências. Não importa o local e o horário, os pedidos de socorro podem chegar de Marias, Joanas, Franciscas, Márcias, Antônias, Luzias e muitas outras mulheres que encontram na patrulha Maria da Penha um apoio e, em muitos casos, a salvação de suas vidas.

Em apenas um ano de atuação em Mossoró, a única patrulha Maria da Penha do Rio Grande do Norte já conseguiu atender e proteger de violências, mais de 360 mulheres. Do total de vítimas que solicitaram o serviço da patrulha, nenhum caso de feminicídio foi registrado. 

A coordenadora geral da patrulha Maria da Penha, Jamille Silva, conta que percebe uma grande aceitação e um sentimento de gratidão e segurança por parte das mulheres que pedem através do serviço. “A partir do momento que uma mulher, vítima de violência, solicita o nosso serviço, nós percebemos que a nossa ação é muito bem-vinda e que as vítimas se sentem seguras com nossa presença e nossa atuação”, detalhou Jamille. 

A patrulha Maria da Penha foi criada no dia 7 de dezembro de 2020, desde então o serviço vem conseguindo salvar muitas vítimas de agressões e garantindo o cumprimento de medidas protetivas concedidas pela justiça a mulheres que sofrem agressões dos parceiros ou familiares. O trabalho da patrulha inclui: acompanhamento de medidas judiciais, prisões de agressores, orientação, aconselhamento e encaminhamento de vítimas para abrigos. “Nós sabemos da importância do serviço da patrulha para as mulheres não só aqui em Mossoró, mas em todas as cidades do Brasil onde existe o serviço e isso nos motiva a trabalhar para garantir a proteção e a vida das mulheres que sofrem violência”, destacou.

O PROJETO – Elaborado pela Guarda Civil Municipal de Mossoró com o auxílio da GC Lilian Cynthia e do GC Nathan Lopes, o projeto para a criação da patrulha Maria da Penha foi submetido a um edital do Fundo de Direitos Difusos do Ministério da Justiça. O projeto recebeu aprovação e os recursos para equipar a guarda foram enviados pelo Governo Federal.

A patrulha Maria da Penha da Guarda Civil Municipal é subordinada à Secretaria Municipal de Segurança Pública, Defesa Civil, Mobilidade e Trânsito. Disponibiliza serviço de atendimento 24 horas que podem ser solicitados pelos seguintes números: 153 e WhatsApp: (84) 9 8631-7000 através dos quais a vítima pode mandar mensagem ou a localização do fato.

O serviço prestado pela patrulha Maria da Penha consiste na realização de visitas periódicas às residências de mulheres em situação de violência doméstica e familiar, com o objetivo de verificar o cumprimento das medidas protetivas de urgência deferidas pelo Juizado da Violência contra a Mulher, além de reprimir atos de violência. Todas essas designações da patrulha, que defende mulheres em situação de violência, estão previstas na Lei Maria da Penha, que dá nome ao serviço.

O serviço desenvolvido pela patrulha Maria da Penha também se estende à zona rural do município. Segundo a GC Lilian Cynthia, que é responsável pelos projetos de conscientização e orientação sobre casos de violência, muitas mulheres sequer têm conhecimento que são vítimas de violência. “A patrulha Maria da Penha desenvolve um trabalho de conscientização que visa levar ao conhecimento das mulheres os vários tipos de violência. Muitas mulheres não percebem que sofrem violência psicológica e que esse tipo de violência também é crime e o nosso trabalho também se estende a levar essas orientações às mulheres”, reforçou Lilian Cynthia.

 

Fotos: Wilson Moreno

 

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Destaque Gerais

Graicy Cunha – e o poder transformador das tranças

Hoje 20 de novembro, data em que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, a revista Matracas conta a história de Graicy Karen da Cunha, 31 anos, mulher, negra, filha adotiva de pais brancos, mãe solo de dois filhos, administradora por formação e trancista por opção.  Em seus relatos ela conta como sua vida foi transformada a partir das tranças afros. Para ela que desde muito pequena foi submetida a tratamentos capilares para alisar os cabelos, poder viver o natural dos seus cabelos foi a maior transformação de sua vida.

“Eu cresci em escola de pessoas brancas e de poder aquisitivo maior. Então até os meus 15 anos eu lembro que eu era ou uma das duas ou a única pessoa negra da sala. Sempre percebi que a sociedade vê como uma mulher bela, aquela que tem a pele branca e os cabelos lisos. Eu me sentia perdida nesse mundo que não era meu e achando que para ser aceita, eu precisava usar produtos químicos no cabelo para que ele ficasse liso”. Declarou.

A história de Graicy começa com o relato de uma vida inteira sendo submetida a tratamentos para alisar os cabelos com o pretexto de ser aceita por uma sociedade racista e preconceituosa. Porém, ainda adolescente, conseguiu virar a mesa, se rebelar e assumir a naturalidade dos seus cabelos crespos. Uma decisão que não mudou apenas a sua imagem, mas segundo ela, promoveu o resgate de sua própria identidade. “Pelo fato de não me reconhecer em um mundo do qual eu não fazia parte e não me identificava, eu era uma pessoa introspecta, tímida. Com 16 anos minha mãe me levava nos salões de beleza para alisar meu cabelo. Eu não aguentava mais, era sempre uma tortura para mim. Hoje eu tenho pavor de salão de beleza”, destacou.

Graicy se refere com muito carinho ao esforço que sua mãe fazia com a intenção que a filha fosse inserida na sociedade, sempre a levando para os salões para manter os cabelos lisos. “Um dia a minha mãe me levou até uma pessoa que ela tinha ficado sabendo que trançava cabelo e foi o dia mais importante e feliz da minha vida. Foi quando me senti livre e encontrei minha verdadeira identidade”, relatou.

A partir de então, Graicy aprendeu e passou a trançar o próprio cabelo e afirma que as tranças para uma mulher, principalmente se ela for negra, não é apenas um penteado, simboliza poder, libertação. “As tranças me deram liberdade e poder, eu me sinto tão forte com minhas tranças que passei a pesquisar sobre a origem das tranças, o que elas significam, foi como um reencontro com minhas raízes”, comentou.

A DESCOBERTA DE UMA PROFISSÃO

Formada em Administração, Grayce foi fazer estágio em uma empresa de comunicação e ao fim do estágio veio a contratação. Em menos de um ano foi convidada a assumir o cargo de produtora e por fim passou a diretora de produção. “Essa foi uma fase profissional pra mim muito importante, porém, difícil. Eu lembro que nos primeiros dois anos diretora de produção eu ia trabalhar chorando. Na ocasião, a maioria das pessoas com quem eu trabalhava eram homens e muitos eram irredutíveis às minhas ordens e isso me deixava muito pra baixo. Porém resisti por muito tempo e sou muito grata pelas oportunidades que me foram dadas porque me renderam grandes aprendizados”, Relata.

Grayce conta que assumir um cargo de liderança e o fato de ter que comandar um grupo composto, em sua maioria, por homens e os problemas com a não aceitação de suas ordens e opiniões a levaram a uma depressão. “Foi muito difícil, mas consegui superar. Eu lembro de casos de pessoas que chegavam para ser entrevistadas e me pediam para eu servir água e cafezinho me confundindo com a profissional que realizava esse serviço, mas nunca me incomodei e trabalhei nessa empresa por 10 anos”, detalhou.

Durante o trabalho na empresa de comunicação Graicy foi incentivada a fazer tranças em outras pessoas, colegas de trabalho. “As pessoas viam que eu tinha habilidade para fazer tranças e me pediam para trançar os cabelos delas e foi lá que consegui minha primeira cliente”, comentou. A partir de então, quando saiu da empresa de comunicação já tinha planos para trabalhar fazendo tranças e montar seu próprio espaço.

VIDAS RESGATADAS ATRAVÉS DAS TRANÇAS

Hoje, Graicy é trancista profissional e montou um espaço para atender as clientes em sua residência. É o “Ébanos Tranças”. Além de trançar o próprio cabelo e de ter conquistado uma lista de clientes, ainda ministra oficinas para mulheres que residem nas periferias, ensinando a elas a fazer tranças e diz ser um trabalho que faz com muito prazer. “Eu descobri essa minha habilidade a partir da minha necessidade de trançar o meu próprio cabelo e hoje esse é o meu trabalho. Eu estou tendo a oportunidade de conhecer histórias de mulheres incríveis, como as mulheres que fazem tratamento de câncer e chegam aqui quase sem cabelo e quando eu tranço o cabelo delas e vejo a reação após o resultado, isso pra mim não tem preço”, comentou emocionada.

O contato com as clientes que fazem tratamento de câncer surgiu a partir de amizades com pessoas que trabalham no AAPCM. Graicy conta que cada história que chega até ela é uma lição de vida. “Eu tenho cliente que chega aqui cheia de marcas e cicatrizes e depositam no meu trabalho a esperança de resgatar a autoestima e isso é uma responsabilidade muito grande e uma experiência muito importante pra mim como profissional e mulher. Quando eu consigo devolver para essa mulher um pouco de dignidade não há nada que pague isso”, detalhou

A trancista conta que ainda existe muito preconceito com as mulheres que decidem trançar os cabelos. “A intolerância com as mulheres que decidem ser o que querem ser é absurda. Tem casos aqui de mulheres que dizem que os maridos não aceitam que elas trancem os cabelos e quando elas decidem fazer mesmo contra a vontade deles sofrem retaliações dentro de casa”, contou.

As histórias entre elas, são repassadas através de um grupo de Whatsapp onde elas compartilham experiências e relatam que o preconceito com quem usa trança afro ainda é muito presente. “Eu conheço uma advogada que já manifestou o desejo de trançar os cabelos, mas não fez por medo de sofrer represália em seu trabalho”, exemplificou.

HISTÓRIA – Manipular o cabelo com tranças é técnica histórica, presente em muitas nações africanas. O princípio é simples, único, entrelaçamento de três mechas de cabelo a partir do couro cabeludo. Mas o simbolismo vai além do movimento e da beleza. Representa poder, luta, resistência ostensiva, informação, sistema de linguagem.

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Violência contra mulher

A violência contra a mulher sob o olhar de Fernanda Marques

A violência contra a mulher em suas mais diferentes faces vem sendo tema de pesquisas realizadas há mais de duas décadas pela professora-doutora Fernanda Marques, pesquisadora apontada como uma referência nessa área. A busca por entender o universo das mulheres que sofrem violências e o que  pode ser feito para mudar esse cenário cada vez mais desigual são também os objetivos que movimentam o Núcleo de Estudos da Mulher (NEM), departamento da Faculdade de Serviço Social (FASSO) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

Fernanda Marques, durante entrevista para a revista Matracas, revelou que as suas pesquisas em torno dessa abordagem foi iniciada no final da década de 90 e desde então vem direcionando seu trabalho a essa temática. “Desde o final da década de 70, protagonizado pelos movimentos feministas, quando as mulheres foram às ruas exibindo slogans ‘quem ama não mata’, ‘o silêncio é cúmplice da violência’, a mulher vem lutando contra a violência”, destacou.

“Quem ama não mata…”

A pesquisadora lembra que quando iniciou suas pesquisas, no final dos anos 90, já existiam vários movimentos que cobravam punições mais rígidas para agressores de mulheres. “Naquela época, o que tínhamos a nosso favor era um Juizado Especial pelo qual eram julgados vários outros tipos de agressões e os casos de violência contra a mulher. No Juizado Especial, as punições para os agressores eram: pagar cestas básicas ou prestar serviços comunitários, ou seja, eram punições que na verdade não puniam e acabavam por banalizar a violência contra as mulheres”, explica.

LEI MARIA DA PENHA

A pesquisadora Fernanda Marques ressalta a importância da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) que foi sancionada em 7 de agosto de 2006 e entrou em vigor no dia 21 de setembro de 2006. Ela destaca que se trata de uma das leis mais avançadas do mundo e reforça que a lei é fruto dos movimentos feministas que foram iniciados no final da década de 70. Para a professora, a lei é uma importante ferramenta de combate às violências sofridas por mulheres no Brasil. “As minhas pesquisas são todas voltadas para as violências domésticas que são as violências preconizadas na Lei Maria da Penha”, pontua.

Sobre a Lei Maria da Penha, Fernanda destaca que a violência doméstica se divide em cinco tipos: violência física, sexual, moral, psicológica e patrimonial, mas todas são praticadas, na grande maioria dos casos, no ambiente doméstico. A tese de doutorado de Fernanda Marques foi transformada no livro “Não se Rima Amor e Dor”, obra que está com a 1ª edição esgotada e trata exatamente da violência doméstica.

Outra pesquisa também coordenada por Fernanda foi desenvolvida no espaço do trabalho, onde foram abordados casos de violência moral e sexual sofridos por mulheres comerciárias. O levantamento foi feito em quatro cidades do RN: Natal, Mossoró, Caicó e Pau dos Ferros.

O tema violência contra as mulheres está sempre apontando novos caminhos para pesquisas. A nova pesquisa da professora é voltada para as violências sociais contra as mulheres. O levantamento inclui a abordagem sobre a frágil participação das mulheres na política, as discriminações no mercado de trabalho onde as mulheres ganham menos que os homens, entre outros pontos. “Esse meu novo trabalho está sendo direcionado para as questões étnicos-raciais e de classe, o racismo e a violência estrutural contra as mulheres negras. Nós temos um levantamento que aponta que números de violências contra mulheres brancas diminuiu enquanto que a violência contra as mulheres negras aumentou, então nesse trabalho nós vamos aprofundar nossos estudos para este novo eixo”, adiantou.

NÚMEROS ALARMANTES DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES

As pesquisas da professora Fernanda Marques revelam que o Brasil é o 5º país no mundo que mais mata mulheres e o Rio Grande do Norte é o 5º estado brasileiro que mais pratica violências contra mulheres. Segundo a Agência Patrícia Galvão, a cada 8 minutos uma mulher é estuprada no Brasil, sendo que em aproximadamente 84% dos casos o crime é cometido por pessoas próximas da vítima, familiares ou pessoas de confianças da família. Os números mostram que, apesar de existir no Brasil uma lei que pune os agressores, as violências cometidas contra mulheres ainda continuam muito presentes e a mulher continua sendo um alvo fácil.

Para a pesquisadora uma das formas de se combater a violência contra as mulheres é denunciando o agressor. Ela acrescenta que quando a vítima se cala, está, de certa forma, contribuindo para que a violência continue. Além disso, segundo ela, estudos mostram que a mulher não consegue sair de um ciclo de violência sozinha e que a seu favor tem a Lei Maria Da Penha que garante a essas mulheres proteção e punição para os agressores. “O que posso dizer para as mulheres é que, ao primeiro sinal de violência, denuncie, pois a denuncia pode evitar que as agressões continue e que mais mulheres sejam vítimas de feminicídio”, reforçou.

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Cultura

Mulheres se juntam, fazem música e se tornam indomáveis

“Pois mulheres que caminham juntas, ninguém é capaz de domar”. Esse trecho da música “Afroameríndia” expressa muito bem o estilo e a força que tem a CoisaLuz, uma banda formada por mulheres que cantam, encantam, revolucionam e espalham muita luz.

Talento, musicalidade, criatividade e feminismo. Esses são os elementos da química que une Bianca Cardial, Dayanne Nunes e Flávia Fagundes, três mulheres artistas que respiram música, esbanjam talento, graciosidade e muita força.

A banda CoisaLuz nasceu em outubro de 2019 por acaso. Bianca conta que havia recebido um convite para cantar em um evento denominado de “Feira das Bruxas” e diz que, na época, não reunia experiência necessária para assumir o compromisso sozinha. Foi então que surgiu a ideia de convidar a cantora Dayanne Nunes para se juntar a ela nesse evento. A partir desse convite, mais duas mulheres foram convocadas a somar para completar a apresentação, a professora de música Flávia Fagundes e a violonista Roberta Lúcia. O show, segundo elas, deu super certo e foi desse evento que surgiu a ideia de formar a banda CoisaLuz.

INFLUÊNCIAS

O estilo da banda, segundo as integrantes, é influenciado pelo ritmo africano, pela musicalidade brasileira e pelos elementos da natureza. “A nossa inspiração vem da mãe natureza, das plantas, da terra, da água, do fogo, do ar, lua, sol, irmandade e autoconhecimento. As nossas composições vêm de dentro pra fora”, explica a cantora Dayanne.

Dayanne comenta que, inicialmente, o repertório da banda era composto por músicas de artistas que expressassem feminismo e a força da mulher. Porém, com a pandemia, os shows foram paralisados e o tempo em casa serviu para que as artistas começassem a compor suas próprias músicas. “Fomos juntando ritmo, pesquisa, elementos da natureza, os nossos sentimentos, colocamos todas essas inspirações no papel e musicamos. E quando nos demos conta estávamos compondo nossas próprias músicas”, explicou.

ANCESTRALIDADE

A banda CoisaLuz está prestes a lançar um clipe da música Afroameríndia, carro-chefe do EP só com músicas autorais (EP – sigla que vem do inglês “extended play”, usada para um disco longo demais para ser um single, geralmente com duas faixas, e curto demais para ser um LP, ou “long play”, de cerca de doze músicas). Bianca explica que Afroameríndia foi uma grande revelação pra banda, porque surgiu de uma pesquisa sobre ancestralidade. “Nessa pesquisa que estava sendo desenvolvida por uma amiga eu descobri que tinha uma bisavó indígena, eu sou negra, então a junção dessas duas raças com a nossa ideia de formar uma banda só de mulheres que pudesse mostrar força, expressão e arte resultou na música Afroameríndia que é também o tema do nosso EP”, detalhou.

Flávia é professora de música na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Segundo ela, o convite para fazer parte da banda surgiu de uma forma bem descontraída. “Eu conhecia Dayanne e ela me ligou me chamando para tocar pandeiro em um show e eu respondi: ‘quem disse que eu sei tocar bandeiro mulher?’ Mas fui, deu certo e estamos seguindo o projeto com muito entrosamento e irmandade”, revelou Flávia.

O trabalho da CoisaLuz vai muito além de compor e cantar. As três integrantes da banda são responsáveis por toda a produção dos cenários, dos figurinos, da imagem da banda. Levam tudo muito a sério, qualidade do som, iluminação, ambiente, tudo é sempre cuidadosamente avaliado por elas. “Quando começamos, não tínhamos a menor ideia que a coisa ia tomar essa proporção, então essa nossa ideia se tornou coisa séria e dedicamos boa parte de nosso tempo à banda CoisaLuz”, ressaltou Bianca.

“Quando começamos não tínhamos a menor ideia que a coisa ia tomar essa proporção…”

INCENTIVO

Bianca relata que quando a banda começou a fazer shows, elas foram orientadas a buscar incentivos culturais e a CoisaLuz acatou a sugestão e começou a participar dos editais. “Começamos a nos inscrever nos editais e deu muito certo, fomos contempladas em três editais e com os recursos estamos investindo no projeto”, destacou.

O nome da banda segue o mesmo padrão da formação, por acaso. Dayanne explica que durante uma conversa elas estavam buscando um nome diferente e que representasse o que elas queriam passar para o público. “Eu pensei em uma coisa que fosse diferente, mas que ao mesmo tempo espalhasse luz e foi então que surgiu a ‘CoisaLuz”, revelou.

Nos projetos futuros, a banda está prestes a gravar um clip através da Lei Aldir Blanc de Incentivo à Cultura e pensa também em gravar um CD. Os convites para participar de projetos culturais não param de chegar. “A CoisaLuz hoje é uma empresa e estamos muito empenhadas em fazer o melhor para que continue dando certo”, concluiu Bianca.

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Política

Marleide Cunha – Uma Maria na luta por igualdade social

Por Sayonara Amorim

Uma vida inteira marcada pelo trabalho e pela luta por igualdade social. Uma mulher que aos 13 anos de idade iniciou sua trajetória de trabalhadora como operária em uma fábrica de doces. Sempre estudou em escola pública, mas precisou conciliar os estudos com o tralho e enxergou na educação uma saída para transformar realidades. Maria Marleide da Cunha Matias, mulher, mãe, trabalhadora, potiguar, nordestina, brasileira. Uma Maria que, assim como muitas outras Marias, conhece muito bem os efeitos que a desigualdade social causa na vida dos brasileiros pobres, em especial das mulheres.

Professora e mestre em educação, Marleide adotou como bandeira de luta a defesa dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores. Hoje vereadora de Mossoró pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em seu primeiro mandato, a parlamentar que tem como característica forte a fala incisiva em defesa dos menos favorecidos continua sendo alvo de ataques e tentativas de calar sua fala. “Eu sempre vou ser alvo de violências porque eu não me calo”, revelou Marleide, se referindo aos ataques que sofre e sempre sofreu por denunciar, defender e revelar casos de injustiças e desigualdades contra as trabalhadoras, os trabalhadores e a população menos favorecida.

“Eu sempre vou ser alvo de violências porque eu não me calo…”

Há pouco mais de uma semana, a vereadora Marleide Cunha foi duramente atacada de forma verbal em pleno parlamento por se posicionar contrária a um fato exposto durante a sessão na Câmara de Mossoró. O agressor, um colega vereador, não mediu palavras e, em uma clara demonstração de ódio, a taxou de cadela ao comparar sua fala com latido de um cão. Porém, nem mesmo a gravidade da agressão foi capaz de sensibilizar os demais colegas, com exceção de um casal de vereadores que se manifestou para defender a mulher política que estava, tão somente, exercendo o seu direito de expressão.

Marleide relata, durante entrevista para a revista Matracas, que os ataques contra ela fazem parte de sua trajetória. “Quando adolescente eu não pude participar dos movimentos estudantis, porque precisei trabalhar, mas sempre me engajei nas lutas sindicais porque eu sabia que precisava lutar para garantir meus direitos de trabalhadora e de toda a categoria. Portanto, desde que comecei como integrante dos sindicatos, sofro ataques porque sempre enxerguei as injustiças e nunca me conformei com elas”, declarou.

“Quando adolescente eu não pude participar dos movimentos estudantis, porque precisei trabalhar…”

“PERSONA NON GRATA”

Persona non grata é uma expressão em língua latina cujo significado literal é “pessoa não agradável”, “não querida” ou “não bem-vinda”. De todas as violências sofridas até então, receber esse título foi marcante para Marleide. O fato aconteceu no ano de 2019, durante uma luta dos trabalhadores da educação. Na época, Marleide era também a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação. O título de “Persona non grata” foi concedido pelos vereadores de Mossoró.

Foi exatamente nesse período que, apoiada por seu companheiro (in memoriam), Marleide tomou a decisão de se candidatar à vereadora. “Eu não me conformei com aquele título e me perguntava o tempo todo: meu Deus o que eu fiz de tão grave para receber essa denominação? Enfrentei a campanha, venci e quando me tornei vereadora a Câmara teve que retirar esse título que havia sido atribuído a mim. Eu não me conformei, porque sabia que não havia feito nada de ruim para merecer ser chamada de persona non grata. Felizmente esse título foi retirado e eu continuo lutando por dias melhores, por igualdade, pela não violência, por políticas públicas e por respeito”, declarou.

“Eu não me conformei, porque sabia que não havia feito nada de ruim para merecer ser chamada de persona non grata…”

REPRESENTATIVIDADE FEMININA

Em 1995 foi criada uma legislação específica que prevê cotas eleitorais: a Lei 9.100, que estabeleceu normas para a realização das eleições municipais de outubro de 1996, dispondo sobre a reserva do percentual mínimo de vinte por cento (20%) das vagas para candidaturas de mulheres. Para a vereadora Marleide, a criação da lei é importante no sentido de que antes não existia nada, porém, ainda não conseguiu atingir o propósito e parece distante de grandes mudanças nesse cenário.

“A gente considera importante porque antes não existia nada…”

No contexto local, por exemplo, a política continua sendo um espaço de dominação masculina e isso tem consequências diretas na institucionalização da democracia representativa.

Marleide identifica esse problema com muita preocupação. Segundo ela, a falta de representatividade das mulheres no Legislativo em Mossoró, por exemplo, é sentida no debate público em torno de questões que envolvem a mulher, de projetos que muitas vezes não são considerados pela bancada masculina como importante e acaba havendo uma resistência na aprovação desses projetos. Uma realidade que chega a outras esferas de poder.

Ela acrescenta que as mulheres ainda têm dificuldade de se inserirem nesses espaços e isso se deve, também, à exclusão histórica das mulheres na política e que, embora venha progredindo essa participação, ainda está longe do desejado e do que é preciso.

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Cultura Destaque

Banda Scream Out – Lugar de mulher é tocando rock sim!

Na guitarra Hannah Melo, no baixo Laysa Santiago e na bateria Zara Caroline. Três mulheres com gostos incomuns pela música rompem a barreira do som, quebram tabus, normas e regras e decidem formar uma banda. A primeira banda de rock de Mossoró formada totalmente por mulheres. Eu me refiro à Scream Out, denominação que em português significa “gritar”, nome escolhido propositalmente para dizer que uma banda formada só por mulheres estava chegando para ocupar seu espaço e fazer muito barulho.

A denominação da banda se encaixou perfeitamente com a proposta das integrantes, que é mostrar que lugar de mulher também é no palco tocando e cantando rock. O estilo da Scream Out reúne as várias vertentes do rock. Elas uniram os gostos particulares de cada uma e essa junção resultou no trabalho que está sendo apresentado nos palcos da noite mossoroense.

A Scream Out tem pouco tempo de estrada, mas já coleciona fãs e uma agenda bem movimentada. A banda se apresentou pela primeira vez no dia 26 de junho deste ano e de lá pra cá vem traçando um caminho vertical. O repertório, cuidadosamente selecionado, inclui: indie rock, pop rock e heavy metal. Nos shows, que as meninas da Scream Out costumam chamar de “tocadas”, são apresentados covers de nomes nacionais e internacionais como: Artict Monkeys; Autoramas; White Stripes; Supercombo; Two Door Cinema Club; Interpol; The Cramberries; Pitty; Pink Floyd; Katy Perry; Amy Winehouse; Nirvana; Kings of Leon; Bon Jovi; Green Day; Maneskin; Audioslave; Red Hot Chilli Peppers; Foo Fighters; Muse; Cássia Eller; Legião Urbana; Scorpions; Marilyn Manson; Deftones, etc.

O INÍCIO

A ideia de montar uma banda só de mulheres partiu de Hannah, que convidou Laysa e por fim o convite foi feito à Zara que aceitou de imediato. Apesar de cursar veterinária, Zara respira música desde criança e conhece bem vários instrumentos. Segundo ela, o potencial de cada uma das integrantes é suficiente para executar qualquer repertório.

Zara conta que a escolha pelo instrumento bateria foi proposital mesmo. “Eu toco desde os oito anos de idade, tocava na igreja e todos os instrumentos que aprendi a tocar foi sozinha. Eu era sempre o quebra galho na igreja, quando faltava algum instrumentista eles me chamavam para substituir. Mas o meu instrumento por definição é a bateria. Eu comecei a tocar bateria há uns cinco anos na igreja da qual eu faço parte. A banda da igreja precisava de um baterista porque há muito tempo não tinha e me fizeram a proposta para tocar bateria, me deram o repertório para ensaiar e em menos de um mês eu já estava afinada”, detalhou. Ela continua dizendo que tem verdadeira paixão por bateria e inclusive acompanha o trabalho de algumas bateristas mulheres e é fã da baterista Nina Pará, inclusive tem uma tatuagem da artista. “Outra coisa que fez me apegar à bateria é que é um instrumento bem machista, os homens acham que só eles podem tocar bem e nós mulheres bateristas estamos aqui para provar o contrário”, declara Zara.

A guitarrista Hannah teve que enfrentar outros obstáculos para seguir na música e tocar guitarra, instrumento que domina muito bem. Ela explica que o machismo dentro de casa impediu que sua família a apoiasse. Porém, munida de uma característica muito particular das mulheres, a coragem, arregaçou as mangas, foi pra escola de música aprender a tocar guitarra e hoje é um dos destaques da banda Scream Out como guitarrista.  “Eu comecei a tocar com 16 anos e na aula de música eu era a única mulher que estava aprendendo a tocar guitarra. A música sempre esteve presente na minha vida, mas ao contrário de Laysa e Zara nunca tive incentivo em casa, o apoio pra seguir fazendo o que gosto vem do meu namorado que também é músico e das meninas da banda”, relata Hannah, que também é fisioterapeuta.

O primeiro ensaio foi dia 23 de fevereiro deste ano. “Nós já tínhamos definido que formaríamos a banda e que o nosso estilo seria rock, então começamos a ensaiar. Logo no primeiro ensaio, já percebemos uma conexão muito boa e vem sendo assim a cada vez que nos reunimos para montar um show”, detalhou Zara.

Desafiar. Essa é uma palavra que faz parte do dia a dia da banda Scream Out. Laysa, que é multi-instrumentista e desde muito criança toca instrumentos como flauta, teclado e violão, sabe muito bem o que significa ser desafiada. Mostrar que é capaz e que não há limites pelo fato de ser mulher é uma tarefa que ela desempenha com o mesmo prazer com que sobe aos palcos. “Eu ainda não tocava baixo e na banda precisava de uma baixista e o que eu ouvi foi que era muito difícil tocar baixo e cantar ao mesmo tempo, que era o que eu estava me propondo a fazer. Disseram até que era impossível. Foi então que decidi provar o contrário, apendi a tocar baixo e na banda eu canto e toco baixo sim”, afirmou Laysa.

A banda Scream Out, em apenas quatro meses no cenário musical de Mossoró, já acumula participações marcantes em shows realizados em vários pubs da cidade. “A primeira vez que subimos no palco como banda foi para fazer uma participação em um show e já nos emocionamos, porque a ideia era cantar apenas três músicas e o público pediu mais e foi muito massa. A partir daí começamos a montar um repertório completo e desde então estamos sempre recebendo convites para tocar em algum lugar e tudo está sendo muito maravilhoso. Estamos amando esse nosso projeto,” completou Hannah.