Categorias
Destaque Política

Movimenta Mulheres RN participa de audiência sobre Violência Política de Gênero na Câmara de Natal

“Não serei interrompida” – Marielle Franco

As situações de violência política de gênero são recorrentes no Brasil e acontecem em todas as esferas do poder. Intimidação, constrangimento, tentativa de silenciá-las, de desqualificá-las em suas falas, são exemplos de agressões sofridas pelas mulheres que ocupam os espaços de poder, sejam elas prefeitas, vereadoras, deputadas, senadoras. Uma realidade que, além de afetar as mulheres em seus mandatos, impactar a democracia, contribui para o distanciamento de outras do ambiente político, um lugar que se mostra cada vez mais hostil.

Os desafios são muitos e a caminhada ainda é longa, porém, as mulheres seguem juntas para mostrar que o lugar delas é, também, na política. Foi essa temática que levou militantes do Movimenta Mulheres RN a ocuparem a Câmara Municipal de Natal, na manhã desta quinta-feira (09/12), a partir de uma proposição do Movimenta, junto ao mandato da vereadora Ana Paula e a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Natal.

De acordo com uma das presidentas do Movimenta Mulheres, Isabella Lauar, o grupo lançou, juntamente com a vereadora Ana Paula Araújo e a Comissão de Direitos Humanos da Câmara,  o Observatório para mapear os casos de violência política de gênero, servindo também de canal de denúncias para a pauta.

Segundo Isabella, o debate é oportuno, considerando que os casos são cada vez mais recorrentes e invisibilizados. “Discutir a violência política de gênero é falar sobre estatísticas invisíveis, relativas a um fenômeno que ainda não é muito debatido, embora já tenhamos a tipificação do crime de Violência Política de Gênero. Por outra parte, é falar de um delito que influencia diretamente tanto na participação das mulheres na política e nos espaços institucionais de poder, quanto na própria atuação dessas mulheres que, em virtude desta violência, correm riscos até de vida (Feminicídio Político de Estado, cujo maior exemplo no Brasil é Marielle Franco).

Ela reforça ainda que “é, também, uma das causas da sub-representação das mulheres no Parlamento e nos espaços de poder e decisão e prejudica a democracia no país. Sendo assim, precisamos falar sobre isso, para garantir que as mulheres possam exercer seus mandatos e erguer suas vozes em prol da democracia e de políticas públicas interseccionais e representativas”, frisa.

Na mobilização da Câmara ocorrida hoje, estiveram presentes as Presidentas do Movimenta Mulheres RN, Karenina Hentz da Cunha Lima, Isabella Lauar e Caroline Maciel, além de autoridades como Wanessa Fialho, subsecretária da Secretaria de Estado das Mulheres da Juventude da Igualdade Racial e Direitos Humanos (SEMJIDH/RN).

Categorias
Destaque Violência contra mulher

Uma patrulha em defesa de muitas Marias

Atender a pedidos de socorro, conter situações de violência, deter agressores, aconselhar, orientar, proteger. Essas são as principais tarefas da Patrulha Maria da Penha da Guarda Civil Municipal de Mossoró. Um serviço que acaba de completar um ano de criação, mas que já é referência quando o assunto é a proteção de mulheres vítimas de violência doméstica e familiar.

Uma patrulha composta por 18 agentes civis mulheres e 18 homens que atuam com serviço 24 horas com um único objetivo: proteger as mulheres das violências. Não importa o local e o horário, os pedidos de socorro podem chegar de Marias, Joanas, Franciscas, Márcias, Antônias, Luzias e muitas outras mulheres que encontram na patrulha Maria da Penha um apoio e, em muitos casos, a salvação de suas vidas.

Em apenas um ano de atuação em Mossoró, a única patrulha Maria da Penha do Rio Grande do Norte já conseguiu atender e proteger de violências, mais de 360 mulheres. Do total de vítimas que solicitaram o serviço da patrulha, nenhum caso de feminicídio foi registrado. 

A coordenadora geral da patrulha Maria da Penha, Jamille Silva, conta que percebe uma grande aceitação e um sentimento de gratidão e segurança por parte das mulheres que pedem através do serviço. “A partir do momento que uma mulher, vítima de violência, solicita o nosso serviço, nós percebemos que a nossa ação é muito bem-vinda e que as vítimas se sentem seguras com nossa presença e nossa atuação”, detalhou Jamille. 

A patrulha Maria da Penha foi criada no dia 7 de dezembro de 2020, desde então o serviço vem conseguindo salvar muitas vítimas de agressões e garantindo o cumprimento de medidas protetivas concedidas pela justiça a mulheres que sofrem agressões dos parceiros ou familiares. O trabalho da patrulha inclui: acompanhamento de medidas judiciais, prisões de agressores, orientação, aconselhamento e encaminhamento de vítimas para abrigos. “Nós sabemos da importância do serviço da patrulha para as mulheres não só aqui em Mossoró, mas em todas as cidades do Brasil onde existe o serviço e isso nos motiva a trabalhar para garantir a proteção e a vida das mulheres que sofrem violência”, destacou.

O PROJETO – Elaborado pela Guarda Civil Municipal de Mossoró com o auxílio da GC Lilian Cynthia e do GC Nathan Lopes, o projeto para a criação da patrulha Maria da Penha foi submetido a um edital do Fundo de Direitos Difusos do Ministério da Justiça. O projeto recebeu aprovação e os recursos para equipar a guarda foram enviados pelo Governo Federal.

A patrulha Maria da Penha da Guarda Civil Municipal é subordinada à Secretaria Municipal de Segurança Pública, Defesa Civil, Mobilidade e Trânsito. Disponibiliza serviço de atendimento 24 horas que podem ser solicitados pelos seguintes números: 153 e WhatsApp: (84) 9 8631-7000 através dos quais a vítima pode mandar mensagem ou a localização do fato.

O serviço prestado pela patrulha Maria da Penha consiste na realização de visitas periódicas às residências de mulheres em situação de violência doméstica e familiar, com o objetivo de verificar o cumprimento das medidas protetivas de urgência deferidas pelo Juizado da Violência contra a Mulher, além de reprimir atos de violência. Todas essas designações da patrulha, que defende mulheres em situação de violência, estão previstas na Lei Maria da Penha, que dá nome ao serviço.

O serviço desenvolvido pela patrulha Maria da Penha também se estende à zona rural do município. Segundo a GC Lilian Cynthia, que é responsável pelos projetos de conscientização e orientação sobre casos de violência, muitas mulheres sequer têm conhecimento que são vítimas de violência. “A patrulha Maria da Penha desenvolve um trabalho de conscientização que visa levar ao conhecimento das mulheres os vários tipos de violência. Muitas mulheres não percebem que sofrem violência psicológica e que esse tipo de violência também é crime e o nosso trabalho também se estende a levar essas orientações às mulheres”, reforçou Lilian Cynthia.

 

Fotos: Wilson Moreno

 

Categorias
Destaque Gerais

E o Futebol Feminino é Campeão

Ontem no Estádio do Corinthians, que já possui o nome fantasia, mas aqui vou chamar de Estádio do Corinthians, nem arena, nem arena com nome de indústria farmacêutica, foi realizada a Final Paulista Feminino. Ainda acredito no futebol da alegria, da diversidade, da inclusão, da popularização da FESTA, que não cabe naming rights.

O primeiro jogo da final do Paulistão ocorreu no Estádio do Morumbi e o público foi baixo para uma decisão. Não chegou a 5 mil pessoas, segundo Lucas Lins, que atravessa a cidade pelo seu time do coração. O São Paulo venceu a partida por 1×0 e foi para o segundo jogo com certa vantagem. As duas equipes foram impecáveis no campeonato e o Corinthians, invicto, perdeu apenas o jogo para o São Paulo. A equipe do Morumbi só havia perdido para o Corinthians nas fases classificatórias. É preciso ser dito que não há justiça no futebol, essa justiça abstrata que conhecemos por aí, mas a final se fazia “justa” às duas melhores equipes disputando o título.

A garoa rasgando a carne num verão típico da cidade de São Paulo, mas as crianças se fizeram presentes, famílias inteiras, avós, netas, irmãs, amigas. É impensável numa final de campeonato masculino que esteja presente uma família com dois adultos e três crianças, por exemplo. Sem exageros, a conta seria no mínimo uns 500 reais. Ou seja, ver famílias inteiras no estádio é cena rara no futebol masculino espetacularizado. Imagine no futebol feminino. Mas vi mulheres demostrando amor ao seu time e afeto a suas companheiras, os casais de mulheres eram maioria no setor onde assisti à partida. As tradicionais torcidas fizeram-se presente, davam o tom da festa, incentivavam e não fizeram distinção ao gênero. Era o time do coração, da vida da história daquelas(es) que ocupavam a arquibancada. É preciso ser dito que há tempos estamos vivendo a lei do rei pelado. Isto é, nos jogos entre times da mesma cidade, os famosos derbis, não se permite torcida das duas equipes. É torcida única. E como em todo jogo de torcida única, lá estavam as(os) infiltradas(os), torcedoras(es) do time rival, segurando o grito, a raiva, a alegria, em silêncio, se fazendo invisível, pra que ninguém notasse o que estava estampado na alma.

O jogo começou com as jogadoras do São Paulo apáticas, era o frio, a torcida, a pressão de uma final, não sei, mas só deu Corinthians. Além dos dois gols de Gabi Zanotti, teve bola na trave e uma defesa incrível de Carla. Corinthians dominava a partida, porém estamos falando de uma final de campeonato e, aos 45 minutos do primeiro tempo, o São Paulo marca pelos pés de Naná.

No telão a narradora anuncia, temos na torcida a skatista Rayssa Leal, corintiana. Com sua família no camarote, a adolescente corria entre as cadeiras e uma sala que compõe o camarote. Ninguém havia notado a campeã. Após o anúncio, os pedidos de foto para quem estava próximo foi inevitável. Eu, como uma criança que pede um doce, acenava das cadeiras inferiores. Mas não, ela não me viu. Eu clamei apenas por um aceno, mas não fui notada.

Roberta Pereira

Começa o segundo tempo e o São Paulo voltou imbatível. O gol deu ânimo à equipe, que atacou e chutou mais ao gol e nos lembrou que estávamos num clássico!!! O jogo ganhava ares dramáticos, se terminasse 2×1 teríamos PENALTIS, SIM pênaltis! Aquilo né, não é caixinha de surpresas nem sorte, a galera treina muito, mas na hora de bater são muitas variantes em jogo e aqui não estamos falando de máquinas nem robôs, são seres humanos, então de fato tudo pode acontecer.

Jogo se arrasta, jogadoras exaustas nas duas equipes, cãibras e desgaste físico, estamos em dezembro do segundo ano de pandemia. Mesmo as atletas podem dizer, “fora do storys”, ninguém tá bem. Ponto importante o condicionamento físico das atletas está muuuuuito superior ao de anos atrás, mostra das melhores condições de trabalho, isso não foi opinião somente dessa colunista eufórica, mas das(os) corintianas(os) Rafaela e Henrique. Para não dizer que não falei das desigualdades, certamente isso se aplica a times maiores e com mais estrutura, visto que há equipes que não possuem o mínimo para a prática do futebol.

O jogo em campo e o coração na chuteira deixavam as(os) torcedoras(es) em agonia. Entre insultos, a juíza era xingada no masculino, e gritos de é Jogo da Vida é Sangue no Olho é Tapa na Orelha, o jogo ia chegando ao final. E de novo aos 45 minutos Adriana marca para o time do Povo. No telão a hasteg #respeitaasminas.

41 mil ingressos trocados, a entrada era gratuita, os ingressos encerraram três dias antes da partida. Público presente: 30 mil pessoas numa quarta-feira fria. Em campo juízas. No jornalismo mulheres (repórteres), não sei como foi a transmissão, mas imagino que foi narrado e comentado por uma mulher. Mas na direção, dois técnicos à beira do campo. Eu quero festa, quero gol e quero mulheres em todos os espaços e funções. Posto isso, o Futebol Feminino foi Campeão, um jogo histórico com recorde de público.  Eu, que sou de arquibancada, afirmo: um recorde de público diverso, de público inclusivo.

Em tempo, sim o Corinthians foi campeão e levou a tríplice coroa. Em 2021 a equipe feminina foi Campeã Paulista, Brasileira e da Libertadores.