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A BELEZA DO FEMININO QUE HABITA LIVRE EM MIM

“Que nada nos defina, que nada nos sujeite.
Que a liberdade seja a nossa própria substância,
já que viver é ser livre.”

(Simone de Beauvoir)

Cada mulher, com útero ou não, deveria se juntar às outras mulheres para aprender que todas podem dizer “não” ao patriarcado; além disso, deveria tentar compreender que o tempo da alma é Kairós e que o senhor do relógio é Chronos e que ninguém tem o controle de nenhum deles.

Toda mulher deveria se autoanalisar e perceber que o poder é dela; que o útero é uma benção; que a força é a sua aliada, mas que esta não deve escravizá-la.

Toda mulher deveria ressignificar alguns sintomas ao observar o próprio corpo, ao revisitar as suas vivências, ao encarar, frente a frente, a vida.

Toda mulher deveria reinventar o seu existir ao escutar a voz interior, ao sentir o coração, cheio de amor, que bate em seu peito…

Toda mulher deveria reavaliar as suas feridas, olhando com carinho para as suas cicatrizes…

Toda mulher deveria ver beleza em cada história que viveu e em todas as formas de resiliência que conseguiu fazer acontecer.

Toda mulher deveria enxergar a sua própria potência; sentir os abraços sinceros de outras mulheres; moldar o seu olhar com carinho, cuidado e amor para consigo e para com outras mulheres.

Toda mulher deveria cuidar do feminino que pulsa dentro de si; apurar a força Yang e a força Yin que se complementam sem dar nós.

Toda mulher, cada uma, com a sua presença feminina, deveria se afirmar como pessoa, mostrando os seus poderes e a sua própria dignidade ao mundo.

Toda mulher deveria se conectar com os quatro elementos da natureza – Terra, Fogo, Água e Ar -, os quais se revelam presentes e vivos, dentro e fora, na vida dela e de todas as mulheres.

Toda mulher deveria dançar, cantar, rezar, chorar, de maneira intensa, forte, sem medo de julgamentos, desatando os nós que nos prenderam às crenças limitantes, impostas socialmente.

Todas nós, mulheres do Leste, do Oeste, do Sul e do Norte, nos fazemos retalhos para formar uma colcha linda chamada “feminino”. Em nome desse feminino, deveríamos, sempre, balançar os chocalhos para saldar a deusa Afrodite e as demais deusas que habitam em cada uma de nós, regendo as nossas histórias.

Todas nós, mulheres, devemos aprender a respirar, a dançar, a escutar, a sensualizar…a se embelezar diante do patriarcado, que tenta nos paralisar.

Todas nós, mulheres, deveríamos seguir criando vínculos, acolhendo com o olhar, abraçando com carinho as outras mulheres que carregam dores e sabores de uma vida.

Desejo que, cada uma de nós, mulheres, tenha a força do feminino habitando dentro do coração, fazendo morada constante; que nunca nos afastemos, uma das outras; que sempre possamos desaguar em nossa própria foz!

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O Poder Criativo Feminino

“Sermos nós mesmas faz com que
acabemos excluídas pelos outros.
No entanto, fazer o que os outros
querem nos exila de nós mesmas.”
(Clarissa Pinkola Estés)

A vida criativa de uma mulher é tolhida de diversos modos, tornando-a poluída, sem brilho, disfuncional. Seguir buscando novos caminhos diante do exílio de si é uma tarefa árdua, principalmente quando a própria psiquê está congelada, esgotada por tantos limites impostos: seja nas relações amorosas, onde o/a companheiro/a não nutre o amor
conforme ele merece; seja nas relações de trabalho, onde o ambiente não supre as capacidades criativas e normatizam todas as ações com uma burocracia infindável; seja em seu próprio lar, onde a rotina não dá brechas para que o novo surja, mesmo que aconteça no cozinhar ou no arrumar os móveis; seja nas ditas “amizades”, onde atualmente os laços só acontecem por interesse e exploração entre as pessoas.

Muitas mulheres se adaptam muito fácil ao que é imposto e perdem as forças e as armas internas para lutarem contra o patriarcado e as demarcações de gênero. A força criadora que cada uma possui é eivada e transformada em cinzas diante de tantas delimitações, principalmente advindas dos homens, que as incidem através de “regras de etiquetas”, as proibindo de externar as suas criações e os seus modos de ser no mundo. Sendo assim, a maioria não busca realmente ajuda, se apega a poucas migalhas e não acende a luz onipotente que há em seus espíritos; vive de ilusões dentro de cavernas interiores, exiladas dentro delas mesmas, como bem disse Clarissa Pinkola.

Sermos nós mesmas nos faz correr um sério risco de ocorrer um ostracismo na sociedade, nos estigmatizando por sermos “as loucas” que burlam os inúmeros padrões impostos, principalmente no que tange às nossas sexualidades. Uma mulher livre, que goza, que sente prazer na vida, que cria, que gera produtos e serviços diferenciados e que faz o que o patriarcado não quer será sempre taxada como uma “no sense”, uma infratora dos bons costumes, uma mulher “masculinizada”.

Como Pablo Picasso bem disse: “O maior inimigo da criatividade é o bom senso”. Eu diria diferente: o maior inimigo da criatividade é o patriarcado, pois oprime a feminilidade nos mais diversos aspectos e deseja engessar a natureza selvagem de cada mulher. Que possamos renascer de nossas próprias cinzas e sermos fênix, voando por cima de todas as fronteiras impostas ao nosso território chamado corpo. Que possamos ser o que quisermos ser, independente de orientação sexual, idade, raça, credo ou origem. Que possamos, todas, florir, produzir e dar conta de nossa própria essência criadora e sensível.

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A todas as mulheres

Parabéns a você
Loira ou morena
Ruiva ou albina
Que nunca deixe de ser menina
Que nunca esqueça que és M-U-L-H-E-R!!!

Parabéns a você que és filha
Que és mãe, que és rainha
Que não se acomoda
Que desatina
Que não se cansa de sonhar!

Parabéns a você mulher guerreira
Daquelas que não tem fronteiras
Que não se acanha de pensar
Que sejas rio, fonte ou mar
Que se permitas desaguar!

Parabéns a nós, heroínas
Fontes de mel, de luz e de amor
Que nossas vidas tenham valor
Que nossos desejos tenham a sina
De não se perderem, de haver multicor!

Parabéns àquela multifacetada
Que não desiste por nada de fazer o melhor
Mesmo quando a vida não é camarada ou quando está menstruada
Faz tudo pra ser a mulher-mor!

Parabéns a você, independente de gênero, de ideologia ou de cor
Que não se permitas viver com rancor
Que o machismo não apague a sua graça de ser Mulher, de ser Amor!

 

💥Feliz Dia, Poderosa! Seja sempre maravilhosa, nunca perca a sua grandeza!!!💥

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O (S/s)er mulher

“Eu sou lúcida na minha loucura”.

(Cláudia Letti)

 

Finalizamos o mês de setembro, o qual se denominou de “Setembro Amarelo”, para discutir as questões de saúde mental e promoção da vida. Venho conversar sobre como a nossa imagem de “mulher louca” tem sido moldada e reescrita. Provavelmente o movimento Feminista é o “culpado” por essa tentativa de ressignificação, durante todas as suas “ondas”, lutando para lapidar esse conceito tão múltiplo que é o conceito de “Mulher”.

Pelo olhar do Patriarcado, fomos taxadas como um ser incognoscível para muitos, fonte de mistério e de loucura para a maioria deles. Ou seja, sempre definidas, de algum modo, como um problema a ser resolvido (ou extirpado). Se a mulher é tida como louca, fica mais fácil de impor a cultura masculinista racional; se é histérica, vamos de “dar lições” com um “pau” (porque é assim que eles acham que resolvem todos os seus problemas, vide o atual presidente do Brasil como exemplo, com o seu discurso insano, se autodeclarando “imbrochável” e puxando um coro para tentar acreditar naquilo que dizia – porque ele é daqueles que acredita que uma mentira dita várias vezes pode se tornar verdade).

O Feminismo contesta esse lugar imposto a nós, mulheres (independentemente de cor de pele, classe social ou origem étnica), de pessoas insanas e desajustadas. Geralmente, quando se fala em Setembro Amarelo, se fala do “louco” (no masculino), pois a maioria das pessoas que cometem suicídio são do gênero masculino. Sabemos que o índice é altíssimo entre esse grupo, há estudos sérios comprovando esse fato, não há dúvidas. No entanto, o que quero discutir aqui é a imagem que ainda se impõe sobre as mulheres que contestam o seu lugar de fala, expõem o seu cansaço físico e, principalmente, mental e não são tão reparadas como os homens. Na realidade, estamos todos/as/és cansados/as/es dessa estrutura patriarcal que nos adoece como um todo e muitas vezes nos fazem desistir da nossa própria vida.

A saúde mental é pauta urgente, há a necessidade de perceber o principal vetor (mas, não o único) de tanto adoecimento psíquico, principalmente das mulheres: a opressão do patriarcado, direcionado a toda e qualquer mulher que não se encaixa nos padrões e se depara com tantas regras inalcançáveis, como o estereótipo de “mulher nova, bonita e carinhosa”, no qual a mulher deve se referenciar a todo instante para alcançar a perfeição desejada pelos homens, para  fazê-los “gemer, sem sentir dor”. Desta forma, o mito da beleza é imposto de formas sutis e escancaradas, exigindo que não devemos envelhecer, ser feia ou insensível (pra não dizer louca). E eu pergunto: como não enlouquecer diante de tantas cobranças? Como escapar de algo que nos é cobrado em todos os lugares, por todas as pessoas, a todo instante? Como ter sanidade mental se não há a proposta de cura dessa doença social chamada patriarcado, tão hostil e opressora? 

Clarice Lispector disse que “a loucura é vizinha da mais cruel sensatez. Engulo a loucura porque ela me alucina calmamente”. Precisamos pensar em conjunto sobre isso, porque o “Ser Mulher” é um modelo que nos faz sermos mulheres, todos os dias, em uma histeria contínua e desenfreada. Nos faz sermos loucas, com lucidez. E parafraseando a frase de Clarice, temos que engolir a loucura, senão ela nos engole…

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Não se cale!

Não se cale, menininha,
É um bem que você faz.
Não se cale mulher, jovem,
Diante de um rapaz.

Não se cale, querida adulta,
Se algum mal te fizerem.
Não se cale mulher, idosa,
Se o assédio te impuserem.

Não se cale, não se cale!
Pois a voz você possui.
A Lei está contigo,
Não deixe que ele continue!

O direito de falar
É algo que você tem
E se quiser denunciar
Existem meios também.

Seja em casa ou no trabalho,
Se a violência bater,
Não se deixe acanhar,
O Direito acolhe você!

O assédio sexual não é cantada ou paquera;
É algo muito mais sério, vire logo uma fera!

O assediador vai tentar obter vantagens em cima de sua inocência;
Vai querer se favorecer sexualmente, cheio de saliência.

No assédio moral, a vítima é degradada e constrangida.
O assediador repete o ato e ela se sente perseguida.

Ele critica o seu trabalho, comete várias injustiças,
Duvida de sua competência e lhe deixa assustadiça.

Se você se identificou, coloque a boca no trombone;
Comunique a violência, denuncie esse “cabrone”

Para que ele pague a pena pelo crime executado,
Fique de 1 a 2 anos detido, vendo o sol nascer quadrado.

By Aryanne Queiroz, em 03/08/2022, às 20:50 p.m.

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O CORPO-EXÍLIO FEMININO

“Sermos nós mesmos faz com que acabemos excluídos pelos outros. No entanto, fazer o que os outros querem nos exila de nós mesmos”. 

              (Clarissa Pinkola Estés)

Quando foi que começaram a fazer com que nós, mulheres, passássemos a esconder o nosso poder? A mulher realmente não pode controlar a si mesma, precisa de uma fala masculina para repreendê-la e representá-la? Por que a feminilidade é tão recriminada pela sociedade e tão escondida por nós, mulheres? Por que servimos tanto a esse patriarcado, se ele não nos protege, não nos beneficia em nada? Por que as nossas vivências incomodam tanto? Por que os nossos corpos são tão menosprezados e abusados moralmente e sexualmente? Por que nossa força foi substituída por uma fragilidade que nos paralisa e não nos permite ver o quanto somos poderosas? Por que vivemos satisfazendo e obedecendo a tantas ordens que em nada nos agrega? Por que os limites impostos não são questionados por muitas de nós? Será que somente a força física dos homens é o que nos impede de fluir? Será que as crenças limitantes são realmente suficientes para nos oprimir? Será que a dominação masculina vai, pra sempre, nos imobilizar? Até quando admitiremos essa anulação do feminino, o qual habita em nós, mulheres? Viver uma vida inteira cheia de amarras e de autocontrole é favorável para quem, afinal? Reprimir-se tem sido algo benéfico para a nossa saúde mental? Quem vai nos libertar, se não formos nós mesmas? Por que os padrões corporais femininos são tão inalcançáveis? Você já se perguntou por quem a indústria cosmética e farmacêutica é controlada? Por que a paz com o nosso corpo tem sido sinônimo de utopia? O que nos faz sentir necessidade de nos sentirmos ‘gostosas’, se nem alimento nós somos? Em falar em alimento, por que estamos alimentando a nossa alma com tanto ódio a nós mesmas? Por que, ao invés de nos unirmos, cada vez mais estamos nos separando e concorrendo, umas com as outras? O controle dos corpos femininos, através da mídia, das falas e dos olhares, está servindo a quem? Não sei se tais perguntas acima farão você se libertar; meu intuito é fazer você, pelo menos, refletir e não viver no automático.

Essa automaticidade é provocada por essa prisão em que vivemos há tanto tempo e já esquecemos que possuímos um poder. O exílio desse poder feminino acontece dentro do nosso próprio corpo. Tal poder não está fora de nós; não se encontra no cume do Monte Everest (montanha mais alta da Terra) ou nas Fossas Marianas (maior abismo oceânico do mundo); não está no Ponto Nemo (local mais distante de qualquer continente neste planeta em que vivemos) ou na Favela Dharavi (lugar mais densamente povoado). Está tão perto, tão próximo, mas tão negligenciado: o corpo feminino, ou seja, está aí, fazendo parte de sua constituição, do seu próprio ser! Mas, parafraseando o que Clarissa Pinkola Estés bem disse, fazendo o que os outros – diga-se, o patriarcado – querem, nós fomos deportadas de nós mesmas. O nosso corpo tem sido, esse tempo todo, o nosso próprio exílio…

Será que já não é tempo de nos libertarmos? Aliás, será que não já se passou a hora disso acontecer?! Fico com a frase de Mahatma Gandhi: A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência”. Desejo que possamos, todas, nos libertar, juntas, dessa prisão e ter essa consciência tão almejada por nós, feministas.

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MEMÓRIAS DE VIRGINDADES ‘PERDIDAS’

No início, era projeto. Hoje, concretude. Tudo começou no componente curricular História e Psicanálise, no curso de graduação em História, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Certo dia, a turma adentrou em uma discussão (em sala online, no contexto de Pandemia do COVID-19) sobre a “perda da virgindade”. 

Depois dessa aula, ficou o assunto reverberando em mim. Paralelamente, estava eu fazendo leituras de textos sobre Feminismos, os quais eram obrigatórios para serem discutidos em sala de aula no Doutorado de Ciências Sociais, na disciplina Seminários Temáticos de Gênero – Conexões entre feminismos clássicos e contemporâneos, no Programa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 

Tais leituras discutiam sobre o controle dos corpos das mulheres cisgênero no Quênia, país do continente africano, onde ocorre um ritual para realizar a mutilação genital feminina, com o intuito de “purificação dos corpos”. O corpo feminino significa sexo e sexo é algo pecaminoso. E se é pecaminoso, precisa ser corrigido, senão se tornará amaldiçoado. Em sala virtual, debatemos sobre essa forma de “purificar” as mulheres, como se todas nascessem “impuras”; dialogamos sobre como o nosso olhar Ocidental visualiza essa prática e enxerga como contrária aos Direitos Humanos. Percebemos também o quanto as pessoas evitam falar sobre sexo, como se fosse algo ruim, algo prejudicial à moral social. Analisamos como as culturas são diferentes em vários aspectos, mas preservam algo em comum: o tabu em relação aos corpos sexualizados; o tabu em relação ao sexo.

Esses dois debates citados se entrelaçaram em minha mente e advieram alguns questionamentos: por que esse tabu ainda permeia a nossa sociedade, em pleno Século XXI? Por que não dialogar mais sobre isso com as pessoas comuns? Será que as pessoas estariam dispostas a falar e escrever um pouco sobre as suas histórias? Será que a palavra (falada ou escrita) poderia reverberar em algo positivo, caso as pessoas pudessem expor as suas vivências sexuais? Será que as primeiras experiências sexuais estão sendo tão traumáticas que as pessoas estão ocultando no inconsciente, como se um mecanismo de defesa estivesse atuando sobre elas? Como eu posso ajudar para que esse diálogo sobre o referido tabu aconteça? Como fazer para que essa interlocução não se perca?

A partir dessas indagações, me veio o insight: convidar diversas pessoas independentemente de idade, etnia, origem, credo, identidade de gênero, orientação sexual, etc a participarem da produção de um livro em formato e-book, o qual seria nomeado com o título “Memórias de Virgindades ‘Perdidas’”, visando possibilitar reflexões acerca do Tabu da Virgindade, que ainda permanece para muitas pessoas como algo a não ser discutido de forma ampla. 

Sabemos que algumas instituições como a escola, a família e a Igreja preferem que esse assunto continue sendo silenciado para facilitar o controle dos corpos, como bem teorizou Michel Foucault (2009), ao dizer que “O poder disciplinar é invisível, pode vigiar sem ser visto, se expressando pelo olhar e exercendo seu controle sobre os corpos em questão. Mantendo o indivíduo disciplinado”.

Deste modo, unida ao amigo, pesquisador e filósofo Lucas Súllivam Marques Leite, nos reunimos para realizar a tarefa de organizar este e-book, pretendendo escancarar esse debate, trazer à tona o que realmente se passa na vida cotidiana das pessoas em relação à “perda” da virgindade. Desejamos fazer com que os/as leitores/as tentem descobrir o que realmente “se perde”; se é que se “perde” algo. 

Queremos igualmente fomentar a discussão, diante das narrativas de pessoas comuns, sobre como os acontecimentos do antes, do durante e do depois dessa “perda” da virgindade ficaram gravadas em suas memórias; alertamos que devemos estar atentos/as/es sobre como a cultura influencia nas Sexualidades dos mais diversos sujeitos. Para isso, contamos com a voluntária participação de 25 pessoas, de variados locais e variadas regiões do país. Divulgamos a nossa Carta-Convite nas nossas redes sociais (Instagram e Whatsapp) e os/as interessados/as/es entraram em contato, informando alguns dados pessoais, além de escolherem um nome fictício para as suas narrativas. Os seus nomes de registros não foram expostos nesta obra, portanto, mantivemos as suas identidades preservadas e substituímos por nomes fictícios, sugeridos pelos/as próprios/as colaboradores/as. Somente a/o organizador/a desse projeto teve acesso ao nome de registro das pessoas envolvidas. Algumas pessoas preferiram enviar áudios, contando um pouco sobre suas histórias e transcrevemos de forma fidedigna ao que fora dito em palavras faladas, tentando preservar ao máximo o modo de falar e escrever dos sujeitos.

A obra contou com a colaboração e análise técnica do historiador e professor-pesquisador mestre e doutorando em História Social da Cultura Regional na Universidade Federal Rural de Pernambuco, Lucas Gomes de Medeiros, dedicado ao estudo dos marcadores sociais da diferença (gênero e sexualidade) para construção do prefácio

Cabe destacar que essa produção se insere entre as propostas e ações do Ìgbín Ateliê de Lembranças – uma produtora cultural e educativa – ainda não legalizada – que surge no sertão mossoroense no contexto da pandemia do COVID-19, como dispositivo incentivador da preservação e valorização da história, da cultura e da educação em contextos locais. O Ìgbín se propõe a desenvolver projetos artísticos, pedagógicos, literários, filosóficos, sociais, científicos, musicais e audiovisuais, com destaque nos estudos de Memória, (Auto) Biografia e Diversidade Cultural, iniciativas que revelam perspectivas sobre as histórias do lugar, das pessoas do lugar e dos acontecimentos do lugar.

Essa publicação não teve custo algum para aqueles/as que desejaram colaborar disponibilizando as narrativas publicadas e também não receberam nenhum valor, pois este e-book ficará disponível de forma gratuita na Internet, com o único objetivo de difundir conhecimentos acerca do tema ao público em geral, assim como aos/às literários/as, aos/às escritores/as e aos/às pesquisadores/as que desejarem fomentar os seus trabalhos acadêmicos.

Vamos juntos/as/es romper esse silêncio que gera esse Tabu da Virgindade, o qual, muitas vezes, prejudica a Sexualidade das pessoas, omitindo a importância do diálogo e da Educação Sexual, em todas as fases da vida!

Pedimos aos/às leitores/as que compartilhem este e-book ao máximo de pessoas que você conhece! Quanto mais pessoas envolvidas e unidas a favor desse diálogo, melhor!

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Aryanne Queiroz Colunistas Destaque

O que é ser mulher?

É doar-se, sem medidas.
É cicatrizar feridas.
É ser sem fronteiras.
É ir além das boas maneiras.
É reiventar-se, constantemente.
É amar e amar e amar, sucessivamente.
É saber lidar com os desafios.
É também viver por um fio.
É vencer a TPM, mês a mês.
É dizer que foi lá e fez!
É ter coragem de enfrentar leões.
É encarar, dia a dia, tantos machões.
É ter o direito de ser fraca ou forte.
É não desanimar, é não perder o norte.
Ser mulher é sinônimo de muito combate.
Não há quem possa com uma mulher de verdade!
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MULHERES, LEIAM(,) MULHERES!

Extremistas mostram o que mais os assusta: uma menina com um livro.(Malala Yousafzai)

Desde pequena amo ler, porém, pelo que me recordo, a maioria dos livros que li foram escritos por homens. Da Literatura Infantil, com certeza as leituras que mais me recordo são dos Irmãos Grimm: Chapeuzinho Vermelho, A Gata Borralheira (Cinderela), Bela Adormecida, Branca de Neve e os Sete Anões, Rapunzel. Dessas histórias, todas as mulheres eram passivas, precisavam ser “socorridas” de alguma forma por homens (a maioria príncipes), os quais as salvariam de alguma situação embaraçosa, pois eles, nesses contos, são os heróis, aqueles que sempre chegam na hora certa, demonstrando bravura e perfeição, garra e determinação. Lembro, vagamente, de me questionar sobre o porquê que as mulheres eram tão ingênuas, tão dóceis, tão frágeis…Cresci acreditando nisso. Me envergonho? Talvez. O que posso dizer é que fui uma menina, fruto de uma geração que também acreditou nisso e que sofreu ao se deparar com a realidade: homens batendo em mulheres nas ruas, gritando e esmurrando sem ninguém chegar perto para socorrer. Lembro-me de acordar, várias vezes, assustada, ao escutar gritos de mulheres sendo espancadas em frente a minha casa, dentro de carros, em cima de motos, no canto dos muros, deitadas no asfalto, enquanto a vizinhança olhava pelas frestas das janelas, sem reagir, sem socorrer, sem fazer absolutamente nada, como se aquele show de horrores fosse natural. Eu não conseguia mais dormir: voltava pra cama e ficava questionando os motivos pelos quais aquelas mulheres apanhavam tanto; me perguntava se “o príncipe” delas iriam aparecer para salvá-las. Só depois de passar por desilusões amorosas na adolescência foi que a ficha caiu: não existe “príncipe”, não existe. Claro, não estou aqui dizendo que não existem homens de boa índole. Não é isso. Estou aqui querendo mostrar que o que estava escrito nos livros infantis que li era pura ilusão, mas que não me foi explicado isso por ninguém. Aqueles livros que li eram produzidos por homens e lá estava o ideal, o vir-a-ser, o desejo deles de serem algo que não são. E nada disso foi explicitado. E essas histórias continuam se reproduzindo por aí, cabe a nós explicá-las para as nossas crianças que são fantasias. Cabe a nós também ler mais histórias reais, como a história da menina Malala. Quem dera ter lido, na minha infância, sobre meninas/mulheres reais, sobre a coragem dessa criança que enfrentou terroristas (homens!) para ter o direito de ler! Que sobreviveu e luta para que outras mulheres possam ter acesso à Educação. Quem dera que nas próximas gerações tenhamos mais Malalas, fazendo um percurso diferente e transformando vidas, através da escrita e da leitura. Almejo que com um livro na mão, nossas meninas sejam corajosas e não esperem por heróis, pois elas podem ser as heroínas das suas próprias vidas! Descobri tarde esse poder que me pertence, mas não tão tarde ao ponto de não me mover para plantar as minhas sementes na escrita. Escrevo para que meninas/mulheres possam ver que nunca é tarde para transformar o mundo através da leitura. Que possamos combater o terrorismo do dia a dia com livros – e de preferência, com livros escritos por mulheres que lutam, para nos inspirar e fugir das ilusões que tentaram/tentam inserir em nossas mentes e nos anestesiar, a todo custo.

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O DESEJO DE TORNAR-SE MULHER

“Não se nasce mulher, torna-se mulher.” (Simone de Beauvoir)

 

Falar sobre o conceito de “ser mulher” parece algo simples, se for feita uma comparação, dentro do padrão binário, entre macho e fêmea. Mas não é. Vai muito mais além. O lugar de fala de uma pessoa que se autodenomina como “mulher” pode ser visto de vários ângulos, sob várias camadas, através de várias interfaces. Ao nascer, somos caracterizadas simplesmente por uma vulva, a qual, por sinal, é chamada de vagina, pois a maioria das pessoas não tiveram educação sexual o suficiente para saber que há diferença entre vagina e vulva (mas isso é assunto que irei explorar em outro momento). Olhar para um ser humano que nasce e dizer que o mesmo será condenado, por toda uma vida, a ser tratado como mulher por causa de um órgão genital ― sem perceber que o corpo é um sistema complexo, que se transforma através do tempo e que sofre modificações biosocioculturais ― é algo muito minimalista e, porque não dizer, cruel.

Diante da multiplicidade de identidades de gênero que existe, reduzir os sujeitos em apenas dois modelos de seres é querer o mesmo que um camelo entre por um buraco de uma agulha, como foi escrito na Bíblia e muita gente acreditou que Jesus disse isso. E sabiamente Simone de Beauvoir proferiu que “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Essa frase é bastante conhecida no meio da diversidade de mulheres feministas, mas para quem está iniciando nesse “mundo do feminismo”, é bem impactante. Pelo menos foi para mim, quando a ouvi pela primeira vez. 

Me causou uma enorme repercussão, pois cresci com aquela ideia que mencionei inicialmente, de que nascemos e percorremos uma existência inteira, até a morte, como mulheres, em razão de um “buraco” que está entre nossas pernas; percorri a minha infância e adolescência achando que ser mulher era obra divina e que eu teria a obrigatoriedade de reproduzir outro ser, pois Deus me criou para fecundar a Terra; me foi incutida a ideia de que, nós, as mulheres, só poderíamos nos relacionar com uma pessoa do “sexo” masculino, porque Deus retirou uma costela de Adão para criar uma mulher e ser sua companheira e que toda a Humanidade deveria seguir o mesmo caminho; observava que nós, mulheres, deveríamos ser silenciosas, aceitar ordens de homens e deixar que eles sentassem à mesa e comessem primeiro. Não poderíamos discutir com eles; enquanto eles iam à rua, na hora que quisessem, para onde quisessem e com quem quisessem, deveríamos ficar em casa, aguardando-os docilmente e quando eles chegassem, era para tratar muito bem, sem nada questionar. Minha criação ― de mulher branca, hétero, cis, classe média ― foi assim e eu me debatia muito por dentro, sem entender o real motivo dessa diferenciação, dessa liberdade e poder que os homens ―brancos, hétero, cis, classe média ― tinham na sociedade e nós, mulheres (brancas, hétero, cis, classe média), não.

Percebi, portanto, que “tornar-se mulher” era ir de encontro com todos esses ensinamentos e romper com esse padrão simplista que separa os corpos em razão dos órgãos reprodutores “pênis” e “vagina”. “Tornar-se mulher” é assumir as próprias conquistas e não dar crédito aos homens por seus próprios feitos; é poder falar alto, debater, criar vínculos afetivos com quem bem entender; é ser muito mais do que um corpo reprodutor e submisso; é viver com autonomia e dignidade, mesmo que digam que não podemos. 

Dessa forma, “tornar-se mulher” tem sido um caminho, um processo, um porvir constante, uma construção e não uma sentença, uma condenação, um veredicto, uma decisão arbitrária advinda daqueles que se autodeclaram seres masculinos (hétero-cis-brancos-classe média/alta). Graças ao feminismo, tenho me tornado mulher, dia após dia, livrando-me, aos poucos, dos ditames do machismo, o qual prende e condena tantas mulheres, há tanto tempo. Não é um caminho fácil, mas se faz necessário. E esse trajeto se faz através da educação, da leitura, dos debates, das discussões em redes sociais e de revistas como a Matracas, que abre a oportunidade para que possamos expressar as nossas vivências e, quem sabe, inspirar outras a entrarem nessa jornada de “tornar-se mulher”. É o meu desejo, é o nosso desejo. E como bem diz o Provérbio Chinês: “os nossos desejos são como crianças pequenas: quanto mais lhes cedemos, mais exigentes se tornam”. Sendo assim, que as meninas que habitam em nós cresçam como os nossos desejos e tornem-se exigentes também!