O CORPO-EXÍLIO FEMININO

“Sermos nós mesmos faz com que acabemos excluídos pelos outros. No entanto, fazer o que os outros querem nos exila de nós mesmos”. 

              (Clarissa Pinkola Estés)

Quando foi que começaram a fazer com que nós, mulheres, passássemos a esconder o nosso poder? A mulher realmente não pode controlar a si mesma, precisa de uma fala masculina para repreendê-la e representá-la? Por que a feminilidade é tão recriminada pela sociedade e tão escondida por nós, mulheres? Por que servimos tanto a esse patriarcado, se ele não nos protege, não nos beneficia em nada? Por que as nossas vivências incomodam tanto? Por que os nossos corpos são tão menosprezados e abusados moralmente e sexualmente? Por que nossa força foi substituída por uma fragilidade que nos paralisa e não nos permite ver o quanto somos poderosas? Por que vivemos satisfazendo e obedecendo a tantas ordens que em nada nos agrega? Por que os limites impostos não são questionados por muitas de nós? Será que somente a força física dos homens é o que nos impede de fluir? Será que as crenças limitantes são realmente suficientes para nos oprimir? Será que a dominação masculina vai, pra sempre, nos imobilizar? Até quando admitiremos essa anulação do feminino, o qual habita em nós, mulheres? Viver uma vida inteira cheia de amarras e de autocontrole é favorável para quem, afinal? Reprimir-se tem sido algo benéfico para a nossa saúde mental? Quem vai nos libertar, se não formos nós mesmas? Por que os padrões corporais femininos são tão inalcançáveis? Você já se perguntou por quem a indústria cosmética e farmacêutica é controlada? Por que a paz com o nosso corpo tem sido sinônimo de utopia? O que nos faz sentir necessidade de nos sentirmos ‘gostosas’, se nem alimento nós somos? Em falar em alimento, por que estamos alimentando a nossa alma com tanto ódio a nós mesmas? Por que, ao invés de nos unirmos, cada vez mais estamos nos separando e concorrendo, umas com as outras? O controle dos corpos femininos, através da mídia, das falas e dos olhares, está servindo a quem? Não sei se tais perguntas acima farão você se libertar; meu intuito é fazer você, pelo menos, refletir e não viver no automático.

Essa automaticidade é provocada por essa prisão em que vivemos há tanto tempo e já esquecemos que possuímos um poder. O exílio desse poder feminino acontece dentro do nosso próprio corpo. Tal poder não está fora de nós; não se encontra no cume do Monte Everest (montanha mais alta da Terra) ou nas Fossas Marianas (maior abismo oceânico do mundo); não está no Ponto Nemo (local mais distante de qualquer continente neste planeta em que vivemos) ou na Favela Dharavi (lugar mais densamente povoado). Está tão perto, tão próximo, mas tão negligenciado: o corpo feminino, ou seja, está aí, fazendo parte de sua constituição, do seu próprio ser! Mas, parafraseando o que Clarissa Pinkola Estés bem disse, fazendo o que os outros – diga-se, o patriarcado – querem, nós fomos deportadas de nós mesmas. O nosso corpo tem sido, esse tempo todo, o nosso próprio exílio…

Será que já não é tempo de nos libertarmos? Aliás, será que não já se passou a hora disso acontecer?! Fico com a frase de Mahatma Gandhi: A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência”. Desejo que possamos, todas, nos libertar, juntas, dessa prisão e ter essa consciência tão almejada por nós, feministas.

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