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Colunistas Destaque Natalia Santos

6 Filmes dirigidos por mulheres que você precisa ver.

Você já assistiu a algum filme dirigido por uma mulher nesse ano? O número de mulheres no comando de sets ainda é pouco quando comparado aos nomes masculinos, mas elas ganham cada vez mais destaque e espaço no cinema. E o que não falta são obras maravilhosas para presentear os amantes da sétima arte. Que tal escolher o Dia Internacional da Mulher para prestigiar o trabalho de uma diretora? Aqui vão algumas dicas de filmes incríveis dirigidos por mulheres.

6. Encontros e Desencontros – Sofia Coppola

Este é o filme mais conhecido da diretora Sofia Coppola, que se tornou um ícone “indie” do cinema. Na trama, Bill Murray interpreta o ator de cinema Bob Harris, que está em Tóquio para fazer um comercial de uísque. Lá, Bob conhece por acaso Charlotte (Scarlett Johansson), uma mulher que está na cidade acompanhando o marido fotógrafo que a deixa sozinha o tempo todo. Em pouco tempo os dois tornam-se grandes amigos.

5. Adoráveis mulheres – Greta Gerwig

Gerwig tem um estilo muito próprio de fazer cinema, e sua adaptação ao romance de Louisa May Alcott é a minha favorita. A história se passa nos anos seguintes à Guerra de Secessão, contando a história de quatro irmãs que compartilham as dificuldades e os prazeres de suas vidas, com personalidades, talentos e sonhos bastante distintos.

4. Precisamos Falar Sobre Kevin – Lynne Ramsay

Esse é um daqueles filmes que você não vai esquecer fácil e que tem uma mensagem muito forte sobre a maternidade. A trama fala sobre Eva, uma mulher que nunca desejou ser mãe e que possui uma relação bastante complicada com seu filho Kevin. É uma história forte, densa, mas que merece ser vista e debatida.

3. Bicho de Sete Cabeças – Laís Bodanzky

Bicho de Sete Cabeças é um dos melhores filmes nacionais da história e é dirigido por uma mulher, o que me dá muito orgulho. Nele, Rodrigo Santoro interpreta Neto, um rapaz que tem um relacionamento difícil com o pai, que decide interná-lo em um manicômio. Na trama, podemos acompanhar o sofrimento do jovem na instituição, o que se traduz em uma espécie de protesto e apoio à luta antimanicomial no nosso país.

2. Relíquia Macabra – Natalie Erika James

Como uma boa fã de terror, eu não poderia deixar de trazer uma dica do gênero nessa lista. Relíquia Macabra é um filme psicológico, cheio de simbolismos e que tem como núcleo principal três gerações de mulheres: filha, mãe e avó são assombradas por uma manifestação de demência que consome a casa onde estão.

1. Emma – Autumn de Wilde

Por fim, trago uma adaptação de Emma (Jane Austen), de uma das minhas romancistas favoritas e dirigido pela cineasta Autumn de Wilde. O filme tem uma estética deslumbrante e acompanha a vida de Emma Woodhouse, uma garota bonita, inteligente e rica, mas que se aventura formando casais que considera apropriados, sem levar em conta os problemas que causa com isso.

Esses filmes foram escolhidos a dedo, portanto, espero que gostem e apreciem o trabalho dessas mulheres excepcionalmente talentosas.

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Colunistas Destaque Shemilla Paiva

A mãe, esta inadequada

Não há lugar onde a mãe não seja uma presença que melhor seria se alí não estivesse 

A mulher com náusea, vomitando ou tendo um episódio de desmaio. É assim que a novela avisa que a personagem engravidou. Na concretude dos fatos quase sempre é diferente, o alerta vem depois que a mulher chega de um dia de trabalho e sente as pernas doerem em dobro, a enxaqueca persistindo mesmo depois de tomar o analgésico encontrado no fundo da bolsa entre as notas fiscais amassadas e os seios mais sensíveis do que o habitual da ovulação. Um beta confirmado é uma sentença, e é claro que a sentenciada ainda nem faz ideia do caminho de profundas rupturas, disforias e cisões. 

O arquétipo da mãe é posto como lugar de chegada natural para a mulher. Essa naturalização da maternidade, ou seja, esse movimento compulsório que nos lança para o gerar, o parir e o cuidar tem uma força proporcionalmente inversa ao suporte, acolhimento e investimentos políticos voltados para o maternar. Dizemos, então, numa tentativa de sermos validadas, que nós criamos os cidadãos do amanhã. Não adianta.  

É preciso entender que ser mãe numa racionalidade neoliberal envolve nutrir e fazer vingar aqueles que serão a força de trabalho do futuro. Talvez seja esse o único argumento com alguma chance de convencer que isso que fazemos é trabalho. Trabalho que não exclui o amor retumbante. E é uma lástima ainda ter que fazer esse adendo para evitar o risco de receber o título de menos mãe.

A mãe que está inserida no ambiente da academia se vê receosa de sequer citar o filho sob o fantasma de poder parecer estar usando a criança como desculpa ou – sic – vantagem. A mãe que está no setor privado se desespera com a possibilidade de ser descartada após voltar da licença. A mãe que deixa de trabalhar no mercado formal parece de cada olhar que a julga feito chicote. A mãe é esta inadequada e não há lugar onde a mãe não seja uma presença que melhor seria se alí não estivesse.

Maternar é um ato político. É preciso chover nesse molhado em looping infinito até que as mães sejam ouvidas, respeitadas, valorizadas. Nós não somos mãezinhas. A produção de sentidos sobre a maternidade reveste a mulher mãe de uma aura de candura e benevolência que em nada agrega, ao contrário, só nos afasta dos direitos e  acessos. Nós não queremos estudar, trabalhar e ocupar espaços como se nós não tivéssemos filhos. Nós queremos que o fato de sermos mães não soe como um motivo para duvidarem de nossa capacidade, disponibilidade e potência. E nós queremos devolver essa desconfiança que a sociedade tem para conosco em forma de indagações: por que desconfiam de nossa capacidade de entrega se apenas ocupamos um papel que sempre nos foi vendido como dádiva? Parece que vocês sabem muito bem a solidão e sobrecarga às quais somos lançadas assim que o útero cumpre seu trabalho, não é mesmo?

Esses são os aspectos políticos, mas, há também os quesitos humanos neste solo da maternidade. Há, pasmem, mães que detestam seus filhos. Há mães que amam seus filhos e detestam serem mães. Há mães que amam seus filhos e a maternidade. A mulher mãe é um sujeito que se compõe em atravessamentos muitos. Escapulimos do já posto presente nas tão difundidas narrativas religiosas, publicitárias ou psicanalíticas. 

Uma mãe sempre irá se sentir inadequada. A mãe sempre irá sentir que você já não confia que ela possa entregar o trabalho no prazo. A mãe sabe muito bem que você acha que agora ela está mais propensa a se deixar levar pelo emocional. Afinal, a mãe, essa instável. Sugiro que assistam Maid, A Filha Perdida e Mães Paralelas na próxima busca audiovisual. Sugiro que vejam nossos filhos como responsabilidade de uma sociedade inteira. Sugiro que não descartem nossa existência depois que nosso corpo reproduz. Sugiro que não coloquem a maternidade como realização ou irrealização feminina. A maternidade escapa. 

A mãe quer estudar, quer trabalhar, quer fazer dinheiro, quer ser e estar em completude. A mãe embala a cria e sente seu coração bater em uníssono com aquele ser que, na maioria das vezes, ela ama perdidamente. A mãe pode querer se contorcer numa siririca num domingo de neblina. A mãe escreve teorias. A mãe compõe. A mãe cozinha. A mãe sente os coágulos de sangue escorrendo entre as pernas no pós parto a cada vez que o bebê suga sua mama. A mãe possibilita o trabalho masculino. A mãe lida com a filha que foi e com a mãe que teve. A mãe toca o barco. A mãe salta no bote. Agora, veja bem, se tudo continua é porque a mãe faz continuar. E a mãe, ainda que vocês pensem que estão fingindo bem, sabe que vocês melhor achariam se alí ela não estivesse.

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Aryanne Queiroz Colunistas Destaque

O que é ser mulher?

É doar-se, sem medidas.
É cicatrizar feridas.
É ser sem fronteiras.
É ir além das boas maneiras.
É reiventar-se, constantemente.
É amar e amar e amar, sucessivamente.
É saber lidar com os desafios.
É também viver por um fio.
É vencer a TPM, mês a mês.
É dizer que foi lá e fez!
É ter coragem de enfrentar leões.
É encarar, dia a dia, tantos machões.
É ter o direito de ser fraca ou forte.
É não desanimar, é não perder o norte.
Ser mulher é sinônimo de muito combate.
Não há quem possa com uma mulher de verdade!
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Ady Canário Colunistas Destaque

“Como ela conseguiu passar no doutorado?”: Racismo genderizado e as (in)visibilidades históricas das mulheres

Em 8 de março é comemorado o Dia Internacional das Mulheres, data instituída a partir das Organizações Internacionais. Ao longo desse processo, são muitos os desafios e conquistas na luta do movimento de mulheres. Assim, aproveitamos para trazer as “Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano” (2019), da escritora Grada Kilomba. Uma importante obra para refletirmos individual e coletivamente as variadas questões que ainda nos inquietam, ontem e hoje. Com escrita reveladora, trata-se de uma abordagem interdisciplinar na perspectiva de novos conhecimentos, reunindo relatos reais de racismo por meio de narrativas contundentes. Uma excelente leitura, a quem se interessar pelo tema. São muitos ensinamentos e novos conhecimentos.

     Destacamos alguns pontos e trechos extraídos do capítulo 4. Nos chamou a atenção a discussão acerca do conceito de racismo genderizado. Lemos atentamente a narrativa de um acontecimento quando ela tinha entre 12 e 13 anos. Durante uma consulta foi interpelada por um médico, homem branco em Portugal: “Você gostaria de limpar nossa casa?”. A filósofa indaga se ela fosse uma paciente branca ele teria perguntado? Diante disso, conta que: “O homem transformou nossa relação médico/paciente em uma relação senhor/servente: de paciente me tornei a servente negra, assim como ele passou de médico a um senhor branco simbólico, […]”, descreve Kilomba (p. 93). Sem sombra de dúvida, são episódios que nos marcam.

           Tal episódio, dentre outros contados no livro são  recorrentes na realidade das mulheres negras. Nesse contexto, partilhamos semelhantes histórias em nosso percurso. Quando assumimos um cargo institucional, um homem entrou na nossa sala e falou: – “Já está aí?”. Essa foi a “saudação de boas vindas”. Outra ocorrência, fui a um espaço para entregar o meu  currículo e os comprovantes. Uma melhor perguntou: “Esse  currículo é dessa daí”? Será se eu fosse uma mulher branca, teriam pronunciado tais enunciados? Por que essas falas e não outras em seu lugar? São as formas do racismo genderizado nos espaços de poder?  Outro ocorrido, quando fomos aprovada no curso de doutorado,  uma mulher perguntou a minha mãe,  “como ela conseguiu passar?”

     Dessa forma, o racismo genderizado pontua as relações entre raça, gênero e racismo no cenário da violência às mulheres negras. A filósofa aborda que: “Mulheres negras têm sido, portanto, incluídas em diversos discursos que mal interpretam nossa própria realidade: um debate sobre racismo no qual o sujeito é o homem negro; um discurso genderizado no qual o sujeito é a mulher branca; e um discurso de classe no qual “raça” não tem nem lugar. Nós ocupamos um lugar muito crítico dentro da teoria”, destaca (p. 97).

        Isso revela  […] “um sério dilema teórico, em que os conceitos de raça e gênero se fundem estreitamente em um só. Tais narrativas separadas mantém a invisibilidade das mulheres negras nos debates acadêmicos e políticos” (p. 98), argumenta. Realmente, ainda há muito a estudar e discutir acerca das relações raciais como parte da nossa tarefa cotidiana. Para a escritora: “Um fenômeno que atravessa várias concepções de “raça” e de gênero, nossa realidade só pode ser abordada de forma adequada quando esses conceitos são levados em conta” (p. 98).

     Nesse sentido, afirma as intersecções como não singulares, pois se entrecruzam na constituição da subjetividade e experiências das mulheres negras. Isso em razão do racismo que estrutura visões racistas de gênero nos espaços e debates. Há lugar para raça? A autora afirma que mulheres negras também são genderizadas, isto é, tornadas invisíveis e ignoradas, contudo não podem ser invisibilizadas na hierarquia de poder.

      Portanto, o conceito de racismo genderizado, em estudo, se reveste de suma importância na produção de novos modos de subjetividade à luz de feministas negras, bem como no enfrentamento às invisibilidades históricas das mulheres negras e demais grupos étnico-raciais. Devemos considerar, conforme Grada: “O movimento e a teoria de mulheres negras têm tido, nesse sentido, um papel central no desenvolvimento de uma crítica pós-moderna, oferecendo uma nova perspectiva a debates contemporâneos sobre gênero e pós-colonialismo” (p. 108). Continuamos empreendendo.

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Destaque Lutas Feministas

8 de Março: Dia de resistência e luta pela vida das mulheres

Com o mote “Pela Vida das Mulheres Bolsonaro Nunca Mais! Por um Brasil sem Machismo, Racismo e Fome”, mulheres tomam as ruas neste 8 de Março, Dia Internacional da Mulher.

Em Mossoró várias ações já estão acontecendo desde o início da manhã de hoje. Cada organização e movimentos feministas vem registrando sua presença na luta, com atividades em vários pontos da cidade.

No início da manhã a Coletiva Motim Feminista realizou a Alvorada Feminista, na praça da catedral. A ação contou com um abordagem de populares nas ruas, com entrevistas para o programa simbólico “Rádio TV Feminista”.

Ainda dentro da programação do 8M, a Marcha Mundial das Mulheres em Mossoró realiza uma ação política em frente ao Centro Feminista 8 de Março, desde as 8h, com feira de economia feminista e solidária, dando visibilidade ao trabalho das mulheres, baseado nos princípios da agroecologia, da economia solidária.

Além da feira, o evento contou com o debate: Feminismo popular e as lutas de 2022 com a deputada estadual Isolda Dantas; Michela Calaça do Movimento Mulheres Camponesas; Hilberlandia Fernandes da Comissão Pastoral da Terra e Rejane Medeiros do Centro Feminista 8 de Março.

A tarde acontece o ato unificado das mulheres de Mossoró que será às 16h30, na Praça do Pax. Antes de chegar a praça haverá a concentração em dois pontos específicos. São dois blocos, um sai da praça do shopping Boulevar e o outro da praça da Igreja do Perpétuo Socorro, nas proximidades do Centro Feminista 8 de Março.