Categorias
Destaque Lutas Feministas

A Defesa da democracia e a participação das mulheres nos espaços políticos

Texto de Allana Karyna e Vittória Paz, extraído do portal brasilpopular.org

A participação das mulheres nos espaços políticos sempre foi fundamental desde o processo de enfrentamento e resistência à ditadura militar até a redemocratização do país. No ano que o golpe militar completa 60 anos é crucial reconhecer que fomos nós mulheres que sempre estivemos à frente das mobilizações em defesa da memória, verdade e justiça e fomos nós as primeiras a dizer que o governo de Jair Bolsonaro representava um grande retrocesso no projeto social de nação, uma grande ameaça a nossa tão almejada democracia.

Durante o período da ditadura militar no Brasil, os movimentos de mulheres e movimentos feministas passaram por um processo de reestruturação e reconstrução a partir desse momento vivido. Foi, então, a partir das pautas que giravam em torno do custo de vida, desemprego, desigualdade social, luta anti-imperialista, violência, repressão e defesa pela democracia, que os movimentos inseridos nesses contextos encontraram e produziram uma nova fórmula de fazer política.

Foi nesse sentido, portanto, que o 8 de março voltou a ganhar um destaque de suma importância na agenda de lutas. Essa data se tornou, pelos movimentos populares, um símbolo de resistência, e passou a desempenhar um papel importante no método de luta das mulheres. A volta das articulações políticas em torno do 8M, durante a ditadura militar, marca também um momento de maior força dos movimentos de mulheres no Brasil, juntamente à instituição do Ano Internacional da Mulher, em 1975, e da Década Internacional da Mulher, pela ONU.

O 8 de março, se tornou, nesse momento da história do país, um importante instrumento político de reivindicação e de resgate da história de luta das mulheres, que teve sua primeira comemoração, desde o Golpe de 1964, no ano de 1976. E assim continua sendo.

Fazer um paralelo entre o período que estamos vivendo, em que a ditadura é exaltada e a democracia diminuída, com as lutas da segunda metade do século XX, é importante para termos dimensão da importância não apenas da organização popular, mas também de um calendário de lutas consistente e que atravesse os anos e diferentes contextos vividos, acompanhado as pautas e servindo de ferramenta de luta para a classe trabalhadora.

Apesar dos constantes ataques recentes é nítido que a democracia resiste, e com a ampliação da unidade popular conseguimos derrotar nas urnas um projeto que tinha como horizonte o desmonte de várias conquistas sociais e a instauração de um novo regime, a derrota de Bolsonaro representa uma grande vitória democrática do povo brasileiro encerrando um governo fracassado, fascista e genocida. Sua derrota mostra a força das mobilizações populares e enfrentamento ao fascismo que ainda está enraizado no seio da sociedade brasileira. O 8 de março esse ano vem como um espaço importante no nosso calendário de lutas para reforçarmos nosso compromisso com a democracia, com a luta das mulheres em espaços políticos e nos colocarmos no combate ao bolsonarismo, em torno de um projeto popular de país que alçamos.

Bolsonaro foi derrotado nas urnas, mas ainda não derrotamos o bolsonarismo e suas expressões, prova disso são os atentados antidemocráticos de 8 de janeiro promovidos por setores da extrema direita e mais recentemente o ato na avenida paulista no último domingo 25 de fevereiro. Precisamos estar atentas e em constante vigília, a luta ideológica se mostra um desafio, para isso é preciso que os envolvidos nos atos antidemocráticos sejam responsabilizados e punidos e que o debate da defesa da democracia esteja na ordem do dia.

É necessário seguirmos articuladas e unidas em torno de um projeto popular para o Brasil caminhando ao lado dos movimentos sociais, com a pluralidade dos movimentos feministas, antirracistas e LGBT´S, do campo, da cidade, com a juventude. Ocupando as ruas, ocupando os espaços políticos, resistindo e conquistando o direito ao acesso aos espaços públicos de tomadas de decisões que nos atingem diretamente, entendendo que a defesa do estado democrático de direito perpassa uma maior participação de mulheres ocupando cargos, debatendo a nossa realidade, a frente de movimentos sociais e estando presente em todos os espaços públicos.

“Em 2024 as mulheres do Movimento Brasil Popular vão às ruas ‘Por soberania popular e democracia: Mulheres vivas do Brasil à Palestina’ e este texto compõe o conjunto de reflexões do Setor Nacional de Mulheres do Movimento Brasil Popular nesse processo de construção. Iremos às ruas em defesa da vida e dos direitos das nossas mulheres do campo e da cidade pautando o combate à pobreza e à fome e em defesa da soberania alimentar e das saídas feministas populares para a crise. Ocuparemos as ruas em defesa da soberania popular, reafirmando a necessidade de mais mulheres nos espaços de tomada de decisões e na construção de políticas públicas. Ocuparemos as ruas em defesa da democracia, cobrando a punição de Bolsonaro e seus aliados por todos os crimes cometidos, pois não deve haver anistia para golpistas. Também estaremos nas ruas para dizer que a luta feminista é internacional e que para as amarras do patriarcados serem destruídas precisamos estar unidas do Brasil à Palestina, em qualquer lugar do mundo!”

 

Allana Karyna e Vittória Paz são militantes do Movimento Brasil Popular.

brasilpopular.org

Categorias
Destaque Lutas Feministas

8 de março terá programação durante todo o dia em Mossoró

 

O 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é um dia de luta, e em Mossoró a programação dos movimentos de mulheres terá início pela manhã com ato de rua, e seguirá com ato político cultural pela tarde e noite. Segundo a organização do evento, o dia 8 vem com várias atividades de reflexão e debate sobre pautas importantes em torno dos direitos e pela vida das mulheres. As mobilizações são abertas para participação de todas as mulheres que acreditam que é preciso combater a desigualdade e que tenham interesse em somar nas lutas.
A partir das 8h, em frente ao Centro Feminista 8 de Março, a Marcha Mundial das Mulheres, Fetraf, Fetarn, Marcha das Margaridas e sindicatos realizarão um café da manhã coletivo seguido de caminhada pelas ruas do centro da cidade com o tema “Mulheres em defesa da vida: pela socialização do trabalho do cuidado, autonomia econômica e Palestina Livre”. O ato da manhã contará com a participação de 500 mulheres rurais e urbanas de Mossoró e região. Plúvia Oliveira, da coordenação da Marcha, explica: “Neste momento da manhã, mulheres trabalhadoras caminharão pelas ruas com pautas locais e globais, reivindicando o investimento em políticas públicas e direito para a transformação da sociedade com igualdade, justiça e paz. Em marcha até que todas sejamos livres”.
Inalda Lira, do Sindicato das trabalhadoras e trabalhadores em educação, SINTE RN, afirma que: “As trabalhadoras em educação sempre estão nas ruas e este ano levaremos o grito por direitos, valorização e contra a violência.”. Ao que a deputada estadual Isolda Dantas, sempre presente nas manifestações, acrescenta: “Temos um governo democrático eleito, por isso nossa luta é para avançarmos nos nossos direitos com políticas estruturantes que mude a vida das mulheres e de toda a sociedade. As mulheres do RN podem contar com nossa luta para isso.”.
Durante o ato da manhã haverá uma feira itinerante com produtos artesanais e agroecológicos das mulheres. E ainda será realizado o lançamento do Encontro Nacional da Marcha Mundial das Mulheres, que acontecerá em julho deste ano em Natal, reunindo mulheres rurais e urbanas de todo o Brasil para debater os desafios que enfrentam em seus territórios e pensar alternativas para construção do bem viver.
De acordo com Suamy Soares, do Núcleo de Estudos Sobre a Mulher “Simone de Beauvoir” (NEM/UERN) “o 8 de março deste ano é um momento muito importante para ocupar as ruas, em defesa da democracia, da ampliação dos espaços de participação política das mulheres, e entendendo que o espaço da rua é o espaço que a mulher pode ocupar, e contra todas as violações que a gente vem sofrendo nos últimos anos.”, destaca.
À tarde, a partir das 15:30h, as mulheres continuarão em mobilização pelo centro da cidade, na Praça do Pax, com um ato político cultural sob o mote “Mulheres que caminham juntas contra o fascismo, por vida, trabalho e dignidade”. Será uma atividade com mulheres da universidade, dos bairros populares e artistas de Mossoró em diálogo com a população através do artivismo feminista.
Telma Gurgel, da Motim Feminista, fala sobre as principais pautas desse ano. “Nesse 8M, nós mulheres teremos mais uma vez a tarefa de estar nas ruas com a pauta de uma vida sem violência, por trabalho e dignidade que se expressa na melhoria radical das condições de vida das mulheres em nosso país. Além disso, estaremos reafirmando nossa indignação com a extrema – direita fascista que está na ativa orquestrada, contra a vida do povo trabalhador e das mulheres em nosso país”.
Para a vereadora Marleide Cunha, a luta das mulheres é diária, e o 8 de março é o momento de fortalecer essa luta, inclusive no combate a violência política de gênero que as mulheres sofrem nos espaços políticos: “Não podemos tolerar a violência política de gênero! É tempo de afirmar nosso compromisso com a igualdade e a justiça. Estamos ocupando cada vez mais espaços na política e não vamos recuar. Ninguém vai calar mulheres eleitas pelo povo.”
As atividades em torno do 8 de março seguirão acontecendo ao longo do mês
A Marcha Mundial das Mulheres realizará oficinas de batucada e debates nas escolas e universidades, além de reuniões com grupos de mulheres nos bairros que será uma preparação para o 3º Encontro Nacional da Marcha Mundial das Mulheres que acontecerá em julho, no Rio Grande do Norte.
Ainda durante o mês de março as organizações envolvidas nas atividades alusivas ao 8M realizarão diversas ações em bairros, intituladas “Jornadas Feministas”, com o fechamento das atividades dia 23, no espaço do antigo Viola Lilás, com apresentações artísticas e uma feira de produtos artesanais exposta pelas mulheres das organizações.
Categorias
Destaque Lutas Feministas

Mulheres de Mossoró realizam ato unificado pela vida das mulheres e em defesa da democracia neste 8 de março

Em Mossoró, o Dia Internacional da Mulher é tradicionalmente celebrado pelos movimentos de mulheres da cidade como uma data de luta. Neste ano, o ato do 8 de março tem como tema: “Pela vida das mulheres e em defesa da democracia”. Acontecerá a partir das 8h em frente à sede do Centro Feminista 8 de Março (na Praça da igreja do Perpétuo Socorro). Após café da manhã coletivo, as mulheres seguirão em marcha pelas ruas do centro.

O ato unificado do 8 de março é articulado entre os movimentos Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Núcleo de Estudos da Mulher (NEM), Coletiva Motim Feminista, Casa de Acolhimento às Mulheres Vítimas de Violência e Centro Feminista, sindicatos, movimento estudantil e demais movimentos sociais, além das mandatas da vereadora Marleide Cunha, das deputadas Isolda Dantas, Natália Bonavides e Divaneide Basílio. Estima-se a participação de 200 mulheres de Mossoró e região – Caraúbas, Apodi, Tibau, Governador Dix Sept Rosado e Assu.

De acordo com a representante da Marcha Mundial das Mulheres, Plúvia Oliveira, o 8 de março deste ano não poderia não defender a democracia: “Nós dissemos não ao golpe na presidenta Dilma, ecoamos os #elenão, resistimos com o Fora Bolsonaro e elegemos Lula presidente. Agora que temos nossa democracia de volta, precisamos fortalecê-la e que isso se traduza em um Brasil sem fome, sem violência e do bem viver pra todas nós”.

A luta em defesa dos direitos das mulheres acontece o ano todo, todos os dias. No entanto, o 8M é um momento de grande enfrentamento.

Para Telma Gurgel, da Articulação de Mulheres do Brasil (AMB) e militante da Motim Feminista “o ato do 8M representa força política das mulheres em defesa de uma vida sem violência, com mais emprego, com acesso a saúde de qualidade. Neste ano em particular, estamos comemorando a retomada da democracia no Brasil. Será portanto um ato especial.”. Telma acrescenta que, ainda dentro da programação do 8M, acontecerá a “Alvorada Feminista”, que consiste numa ação  artivista, que é feita diretamente na Estátua Dix-Sept Rosado na Praça Vigário Antônio Joaquim, a partir das 6h.

Larissa Ellem, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), ressalta a importância da participação de todas para a realização de um ato potente pela reconstrução do país.

“Com a eleição de Lula, nós mulheres, precisamos fortalecer as organizações e continuar na luta pelos nossos direitos para reconstruir o país. E, nós, mulheres camponesas, em toda nossa diversidade, demarcaremos nas ruas a importância do campo, da organização de mulheres e da luta pelos nossos direitos, dentre eles, a nossa soberania alimentar”.

Dentro da programação do ato será realizado o lançamento da preparação para a 7ª edição da Marcha das Margaridas: a maior ação de mulheres do campo da América Latina que, desde os anos 2000, reúne mulheres do campo, das águas e florestas de todo o Brasil em Brasília para reivindicar políticas públicas e igualdade e este ano se realizará em agosto.

*Evento cultural* – Na parte da tarde as mobilizações em torno do 8 de março seguirão a partir das 15:50h na Praça do Pax com feira e apresentações culturais de mulheres artistas de Mossoró.

 

Segue a programação cultural:

15h50 – Toré (Motim Feminista)

16h15 – Marília Kardenally

16h40 – Cabocla de Jurema

16h55 – Corde e apresentação de bonecas com Sammy Tenório

17h05 – Odara Júlia

17h25 – Nida Lira e Kelly Lira

17h40- Poesia com Elayne e Joriana

17h45- Vitória Fernandes

17h55- Coisa Luz

Categorias
Destaque Lutas Feministas

“Mulheres Juntas Pelo Brasil” ocuparão as ruas em ato unificado neste sábado

O aumento da violência contra mulher, do preço dos alimentos, que tem atingido de forma mais intensa a vida das mulheres negras e suas famílias. O racismo, o machismo e todos os retrocessos que têm consequências maiores sobre a vida das mulheres, são motivos para a construção do grande ato que acontecerá em todo o país no próximo sábado (13/08).

O chamado vem do Comitê Popular de Luta Nacional, “Mulheres com Lula”, o composto por diversas organizações feministas, como o Movimentos de Mulheres Camponesas (MMC), Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Marcha Mundial das Mulheres (MMM), GT de Mulheres da Associação Nacional de Agroecologia (ANA), e mulheres dos partidos que compõe a coligação da chapa Lula/Alckmin (PT, PSOL, PSB, PV, Rede), e outros movimentos sociais populares, como o Movimento Negro Unificado e do Movimento de Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), grupo que juntas construíram as propostas que farão parte do programa da chapa Lula/Alckmin.

A mobilização vai ser realizada em todas os estados brasileiros, e no Rio Grande do Norte, as mulheres das várias regiões do Estado se unirão em Natal, no calçadão da João Pessoa, às 9:30, para saírem em ato pelas ruas dialogando sobre como reconstruir o país a partir do protagonismo das mulheres.

Segundo Michela Calaça, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), o motivo principal de irem às ruas é para dialogar sobre o programa do governo Lula que, de fato, responde aos diversos desafios que a sociedade brasileira tem enfrentado, a partir do debate das mulheres e do entendimento de que esse programa está expresso em sua candidatura.

“O ato é uma realização de uma diversidade de organizações de mulheres que estão apostando no programa e na candidatura de Lula para colocar a vida das mulheres numa realidade mais digna. Um programa que aponta para o enfrentamento da violência contra mulher, que aponta como resolver a questão da carestia e da fome que tem atingido majoritariamente as mulheres negras no Brasil”, destaca.

Eliane Bandeira, presidenta da CUT, licenciada e pré-candidata a Deputada Estadual, diz que “só ganharemos essa eleição nas urnas, se tivermos durante toda campanha ações e lutas de rua. Por isso, é muito importante fortalecer o 13”.

Telma Gurgel, da Coletiva Motim Feminista, afirma que o momento é de ocupar as ruas mais uma vez para dizer não aos retrocessos do atual governo “que está condenando mais de vinte milhões de mulheres a viver na extrema pobreza e sujeitas ao aumento da violência, tanto a doméstica quando a violência das ruas. Em particular, a violência de gênero que tem sido recorrente em todos os espaços em nosso país. Neste sábado é dia das mulheres dizerem nas ruas que estamos com Lula, que vamos virar essa parte da história do Brasil, que vamos radicalizar nessa próxima conjuntura e que vamos garantir a vitória de uma proposta política que representa o interesse das mulheres e os interesses da maioria da classe trabalhadora”, ressaltou.

Isolda Dantas, Deputada Estadual e militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), também chama atenção para importância do ato. “Fomos nós, mulheres, que estivemos nas trincheiras dizendo Ele Não. Sabemos o quanto o nosso país retrocedeu e que essa é a eleição da esperança do povo brasileiro. Temos um papel fundamental nessa disputa para reconstruir nosso país para a classe trabalhadora, sem fome, sem machismo, sem racismo, sem lgbtifobia. Neste 13 de agosto vamos mostrar que estamos prontas e somos muitas. Vamos sem medo!”

A Deputada Federal, Natália Bonavides, destaca que o país passa por um momento crítico e que as eleições surgem como o caminho para se chegar a mudança. “Estamos vivendo tempos duros. Aumento da fome, desemprego, miséria, violência crescente contra pessoas mais vulneráveis. Temos um caminho a seguir para melhorar a vida da classe trabalhadora e esse caminho passa pelas eleições. Essa é a eleição das nossas vidas. É sobre vida ou morte. Por isso, dia 13, nós, mulheres, vamos ocupar as ruas de todo o país pela vida, por direitos e democracia e juntas venceremos. Até a vitória”, diz.

O chamado oficial do ato estende-se a todas as mulheres brasileiras: “nós mulheres trabalhadoras dos campos, nas águas, florestas e cidades, de todos os recantos do país, que sempre estivemos na linha de frente das lutas populares por direitos e por melhores condições de vida e pela construção de outra relação entre os seres humanos e a natureza, convidamos todas a estarem conosco nas ruas no dia 13 de agosto de 22, para mostrar o Brasil que queremos, um Brasil sem machismo, racismo, violência, desigualdades e exclusões sociais”.

Categorias
Destaque Lutas Feministas

Mulheres formam comitês populares de luta para discutir a reconstrução do país

O ano de 2022 é, sem dúvida, de grande impotência para o futuro do Brasil. Diante de todo o retrocesso que o país vem sofrendo, dos efeitos destrutivos do atual governo, do aumento no preço dos alimentos, do índice de desemprego, de pessoas em situação de vulnerabilidade, não há outro caminho que não seja levantar uma base forte de luta. 

É apostando nas mudanças que o ano apresenta e com foco na esperança de que é possível um novo Brasil, que movimentos e organizações populares em todo o país vem se articulando através da construção de comitês populares na ideia de, junto com o povo, debater sobre soluções para os principais problemas sociais. O objetivo é criar movimentos fortes e bem articulados que possam discutir sobre a reconstrução do Brasil.

Em Mossoró, essa jornada de luta já está acontecendo. Mulheres de diversas organizações vem realizando encontros mensais, com o intuito de construir esses espaços pelos quais a militância recebe orientação sobre como mobilizar sua comunidade e trazer mais gente para a luta. A proposta é construir diálogos nos bairros, com a classe trabalhadora e a sociedade em geral, assegurando uma luta que inclua a participação de todas as classes sociais. 

Segundo Michela Calaça, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), os comitês populares de lutas são espaços de diálogos sobre o Brasil que a gente quer. “Espaços onde a gente quer conversar com as pessoas sobre o preço do alimento, ampliação da violência, qual o projeto que elas querem para o país. Eles pretendem conversar com todo mundo, com todas as pessoas que tiverem interesse em construir um país melhor, sem fome, um país que seja, de fato, para todos e todas. O comitê popular é esse lugar de debate de que país a gente quer construir”, destaca. 

Michela acrescenta ainda que o objetivo é proporcionar um espaço para que as pessoas possam falar sobre o que estão vendo acontecer no país e como tem impactado na vida dessas pessoas o aumento do preço combustível, o aumento do preço dos alimentos, a falta de transporte público, entre outros problemas como o crescimento da violência homofóbica, que vem sendo registrada em Mossoró. 

Para Layanne Alencar, gastrônoma, mestra em ciências naturais e também militante da Coletiva Motim Feminista/AMB-RN, a formação e atuação dos comitês populares é fundamental para reconstruir um país melhor para todos, todas e todes. Ela acredita que por meio desses espaços organizativos é possível fortalecer a luta por um país mais justo. 

“Precisamos urgentemente debater pautas sociais que são chave para superarmos nossa condição atual a qual o capitalismo traz, que massacra a vida de milhares, sobretudo povos tradicionais – indígenas, quilombolas e pesqueiros -, pessoas da periferia, além de devastar desenfreadamente nossa biodiversidade em função do lucro de poucos”, ressalta. 

Mesmo tendo que dividir o tempo entre os estudos e o trabalho, Layanne tem disponibilizado espaço para luta, sendo uma das que atua na formação dos comitês. 

“Devemos agir enquanto ainda podemos reverter esses quadros e o Projeto Brasil Popular traz consigo uma perspectiva muito interessante de como podemos seguir adiante, fornecendo a base teórica e mecanismos práticos para construirmos esse sonho possível”, diz. 

As reuniões acontecem mensalmente e é um espaço aberto a todos e todas que queiram somar nessa luta de reconstruir o país. Além de tratar dos principais problemas, os comitês são espaços para pensar que as mudanças são possíveis. 

“É também um espaço para pensar esperança, pensar como mudar esse cenário. Os comitês vão estar em todos os bairros, todos os lugares, e neles é só chegar, caso tenha interesse em discutir um país melhor, uma expectativa de esperança”, Michela.

Categorias
Destaque Lutas Feministas

8 de Março: Dia de resistência e luta pela vida das mulheres

Com o mote “Pela Vida das Mulheres Bolsonaro Nunca Mais! Por um Brasil sem Machismo, Racismo e Fome”, mulheres tomam as ruas neste 8 de Março, Dia Internacional da Mulher.

Em Mossoró várias ações já estão acontecendo desde o início da manhã de hoje. Cada organização e movimentos feministas vem registrando sua presença na luta, com atividades em vários pontos da cidade.

No início da manhã a Coletiva Motim Feminista realizou a Alvorada Feminista, na praça da catedral. A ação contou com um abordagem de populares nas ruas, com entrevistas para o programa simbólico “Rádio TV Feminista”.

Ainda dentro da programação do 8M, a Marcha Mundial das Mulheres em Mossoró realiza uma ação política em frente ao Centro Feminista 8 de Março, desde as 8h, com feira de economia feminista e solidária, dando visibilidade ao trabalho das mulheres, baseado nos princípios da agroecologia, da economia solidária.

Além da feira, o evento contou com o debate: Feminismo popular e as lutas de 2022 com a deputada estadual Isolda Dantas; Michela Calaça do Movimento Mulheres Camponesas; Hilberlandia Fernandes da Comissão Pastoral da Terra e Rejane Medeiros do Centro Feminista 8 de Março.

A tarde acontece o ato unificado das mulheres de Mossoró que será às 16h30, na Praça do Pax. Antes de chegar a praça haverá a concentração em dois pontos específicos. São dois blocos, um sai da praça do shopping Boulevar e o outro da praça da Igreja do Perpétuo Socorro, nas proximidades do Centro Feminista 8 de Março.

Categorias
Destaque Lutas Feministas

“Bolsonaro Nunca Mais” será uma das pautas centrais das ações do 8 de março

Movimentos e organizações feministas, locais e nacionais, já começaram a articular as ações que serão desenvolvidas no mês de março, dentro da programação alusiva ao 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Os encontros, que já vêm acontecendo para discutir as atividades que serão executadas ao longo do mês, são uma continuação das ações que encerraram o calendário de luta de 2021. As pautas centrais já foram definidas e o “Fora Bolsonaro”, juntamente com tudo que decorre da política genocida de seu governo, continua nas principais pautas do manifesto que foi elaborado pelos grupos.

De acordo com Michela Calaça, do Movimento de Mulheres Camponesas, nacionalmente as organizações aprovaram como mote “Pela Vida das Mulheres – Bolsonaro Nunca Mais! Por um Brasil sem Machismo, Racismo e Fome”.

“Essa é alinha do nosso diálogo. Temos um manifesto que foi feito no dia 4 dezembro, em que a gente explana tudo que entendemos que a política genocida de Bolsonaro ataca na vida das mulheres. Seja a partir da degradação ambiental, que afeta as mulheres indígenas ou quilombolas em especial, mas atinge o planeta como um todo. A gente tá partindo desse acúmulo político coletivo. A gente parte do que a gente já vem construído unitariamente nos 8 de março há mais de cinco anos, mas de forma mais orgânica, a partir dessa articulação do Bolsonaro Nunca Mais”, disse.

As reuniões já estão acontecendo com várias organizações nacionais e locais, entre elas o Movimento de Mulheres Camponesas, várias organizações da via campesina, Marcha Mundial de Mulheres, Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Liga Brasileira de Lésbicas, com as secretárias de mulheres dos vários partidos de esquerda, a União Brasileira de Mulheres e demais organizações de nível local e nacional como o Núcleo de Estudos da Uern (NEM), Associação dos Professores da Ufersa (Adufersa), o Andes, entre outros.

Segundo Michela, a ideia de construir um 8 de março de forma unitária já vem sendo praticada há alguns anos, sendo que no ano passado foi possível uma maior organicidade desse processo com a realização do #4D, o ato “Bolsonaro Nunca Mais” organizado pelas mulheres em todo país no dia 4/12. Ato que encerrou o calendário de luta de 2021 e já apontando para o início do calendário desse ano.

“A articulação continua. Já tivemos a terceira reunião nacional. A ideia é construir um mote e uma identidade comum, mas tendo os estados total liberdade de ampliar esse mote e fazer uma construção que tenha o máximo de diálogo com as realidades estaduais. Dando unidade à luta das mulheres no 8 de março”, explicou.

Em nível local, duas reuniões já foram feitas. Todas as discussões seguem essa linha do Fora Bolsonaro, ou seja, priorizando o mote Bolsonaro Nunca Mais.

“O oito de março está priorizando a pauta do Fora Bolsonaro porque queremos que ele caia. Sua política de morte faz muito mal à vida das mulheres, principalmente mulheres negras”, destaca.

Michela chama atenção para as consequências de um governo genocida que recaem com mais força na vida das mulheres e das mulheres negras, que são as que mais têm que lidar com a carestia, com a fome, quem mais perdeu emprego, quem tem sofrido mais violência com a ampliação do conservadorismo.

“É sobre o corpo de quem recai as violências do conservadorismo e tudo que o governo genocida propaga. O nosso mote vai ser nesse diálogo, pela vida das mulheres, denunciar o machismo, racismo e a carestia no preço dos alimentos”, frisa.

As ações são construídas de forma unitária, porem cada estado e cada localidade tem autonomia para construir sua programação de acordo com sua realidade. Michela afirma que em Mossoró já foram realizadas reuniões com organizações para entender como cada uma vem pensando ou sobre o que já tem definido individualmente. Cada uma tem jornada e pensa atividade diferente.

“As Mulheres Camponesas estão com uma jornada que vai de 7 a 12 de março e estamos também nessa linha da denúncia, em defesa da vida, fora genocida, Bolsonaro nunca mais. A gente entende que ele ataca todas as formas de vida, seja no negacionismo da pandemia, seja com a degradação do meio ambiente e ampliação do conservadorismo que tem impactado a vida das mulheres”, diz.

Categorias
Lutas Feministas

Desafios de criar filhos sozinhas e a cobrança da sociedade pela “mãe maravilha”

Independentemente do contexto familiar em que a mulher exerça a maternidade, ser mãe, por si só, já é um grande desafio. Ser mãe solo, enfrentar a responsabilidade de educar, cuidar e, muitas vezes, assumir sozinha as obrigações financeira da casa, tendo até que enfrentar o desemprego, a missão se torna ainda mais desafiadora. Medo, insegurança, sobrecarga, julgamentos fazem parte da vida de mulheres que criam filhos sozinhas e que, não raro, precisam administrar tudo isso enquanto sofrem com os impactos psicológicos que inevitavelmente surgem.

Vanessa Dantas cuida de dois filhos: Suilly de 13 anos e Samuel de 5 meses. Sem rede de apoio e sem ter com quem dividir os cuidados, o cansaço físico e psicológico já interferem na saúde mental dela. Estresse, cansaço, ansiedade, medo de não conseguir arcar com a responsabilidade são sentimentos que ela carrega enquanto precisa lidar com a sobrecarga de maternar. “São muitas as dificuldades. Acaba que as tarefas são sempre da gente. Não temos com quem contar no dia a dia em casa e isso deixa a gente muito sobrecarregada, exausta”, desabafa.

Sabemos que a criação de um filho vai além de amar, cuidar e educar. Mães que arcam sozinhas com essa responsabilidade também sofrem por outras questões. Numa sociedade patriarcal, machista, essas mulheres também enfrentam o preconceito social. Vanessa conta que as perguntas invasivas são comuns. “Sempre tem alguém questionando o porquê do pai do meu filho não está comigo. E quando essas pessoas que perguntam sobre minha vida não têm minhas respostas elas deduzem a resposta que gostariam de ouvir e descrevem a minha vida a partir de uma realidade que elas não conhecem e quase sempre de forma depreciativa”, frisa.

Além dos comentários invasivos, outros tipos de preconceitos são enfrentados. Ela conta que quando esteve à procura de uma casa para alugar, a pergunta que foi feita como requisito para que ela pudesse alugar o imóvel foi se ela não tinha marido. “Inclusive perdi a preferência da casa por não ter um companheiro”, conta.

Vanessa teve duas gravidezes difíceis. Durante a primeira, aos 15 anos, ela perdeu o pai da filha, vítima de assassinato. A segunda, e recente gravidez, veio sem ser planejada, no momento crítico da pandemia, e um fator ainda mais difícil é que o pai não reconheceu o filho. “Meu filho não foi registrado com o nome do pai. Em meio a toda essa situação difícil, veio o medo de não conseguir administrar a situação sozinha, principalmente, pela instabilidade financeira”, frisa. A rede de apoio ela não teve, o acolhimento também não, mas comentários invasivos e desrespeitosos sobre sua última gravidez foi o que não faltou. Uma sociedade em que exige a perfeição das mães, mesmo quando estas não têm tempo nem para viver, o resultado não poderia ser outro: mães adoecidas. Vanessa diz que toda a situação em que se viu inserida veio como um gatilho para as sucessivas crises de ansiedade e pânico.

Mulheres que criam filhos sozinhas têm muitos desafios em comum. A sobrecarga de trabalho, a insegurança em relação à instabilidade financeira, falta de apoio, preconceitos e julgamentos são coisas que elas enfrentam mesmo que estejam em realidades de vida diferentes. São cobradas constantemente, enfrentam dificuldades financeiras na maioria dos casos e ficam lá, carregando suas dores e frustrações, enquanto maternam silenciosamente como se fosse leve e tranquilo, sempre.

Cristiane Ferreira, mãe de três filhos: Kaio de 13 anos, Christian, 4, e Cayron, 5 meses, trabalha nove horas por dia numa fábrica de roupa. Sai de casa todos os dias às 5h, pois ainda tem que deixar as crianças na casa de uma prima. Dos três filhos, o pai dos dois primeiros chega junto na responsabilidade financeira, porém, nenhum deles é presente no dia a dia das crianças e na divisão de responsabilidades.

“Tudo fica mais difícil ser mãe sozinha e ter que arcar com a responsabilidade que também é do pai. Tento proporcionar o melhor que posso. Todos os dias fico pedindo a Deus força e determinação para que nunca falte nada para eles”, diz.

Com uma rotina puxada, pois trabalha o dia todo e à noite tem que ter disposição para cuida das crianças e da casa, Cristiane aproveita o fim de semana para se dedicar às crianças e oferecer algo diferente do estresse diário. “Fico com eles assistindo televisão e brincando quando tenho tempo. O meu tempo é corrido e cansativo porque quando consigo colocá-los para dormir já é meia-noite e já estou exausta”, conta.

Da solidão das mães solo, quem fala?

Para além do amor incondicional pelos filhos, existe a exaustão e a necessidade de também sentir que tem vida e que precisa de momentos só para si. Além das questões de ordem financeira e da sobrecarga de trabalho, Vanessa e Cristiane têm muitas coisas em comum: enfrentam o julgamento da sociedade, a falta de uma vida social e a falta de tempo para elas. As duas deixam claro que quando falam de solidão elas não se referem à falta de um homem, de relacionamento amoroso, mas a falta da companhia de amigas e amigos, falta de um momento de lazer, de uma viagem, de um passeio ou qualquer situação que não seja apenas maternar.

“Tenho poucas amigas que me dão a mão. Família sei que posso contar com poucos, mas sou grata aos que ainda tentam me ajudar. Afinal, todos têm seus problemas. O que posso dizer é que ser mãe é um misto de sofrimento e dor que temos que conciliar com o amor que sentimos pelos nossos filhos”, destacou Vanessa.

“A sociedade julga muito, as pessoas falam o que não devem. É horrível ter que ouvir coisas desagradáveis de quem não conhece a nossa realidade. Ninguém chega para apoiar, a maioria chega para apontar o dedo. A maioria das mães solo não conta com a acolhida da sociedade. Na maioria das vezes, quem se aproxima é para fazer comentários indiscretos e nos deixar mal, julgar nosso formato de vida. Ser mulher numa sociedade machista é difícil e ser mulher e mãe solo o desafio é maior ainda”, acrescenta Cristiane.