“Verão, tempo bom de ser feliz”, já dizia certa música famosa dos anos 2000. Uma das estações do ano mais aguardadas por nós brasileiros, certamente, é o verão. Entre os motivos estão as festas de fim de ano, as férias escolares e férias de trabalho (para uma boa parcela da população), além do clima propício para praia, piscina, viagens e curtição.
Em um país miscigenado que colhe até hoje os amargos frutos da teoria do embranquecimento e da ideia de democracia racial, ambas envoltas pelo falso manto da cordialidade étnico-racial, me parece interessante refletir e questionar: qual a cor do verão?
Enquanto campanhas publicitárias, agências de turismo, programas de TV e as redes sociais exibem corpos bronzeados, “morenos”, pardos e até pretos (embora em menor escala), para falar da estação mais quente do ano, a realidade nas grandes praias e centros turísticos é diferente.
A região nordeste, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) possui o maior percentual de pessoas autodeclaradas pretas no nosso país, os sujeitos pardos, por sua vez, representam mais de 60% da população. No entanto, embora os números, basta passar o olhar sobre as grandes praias e destinos turísticos da região para perceber a disparidade em relação a presença de brancos, pretos e pardos, usufruindo desses espaços. Enquanto a maioria dos turistas e pessoas que buscam descansar e aproveitar as férias são brancas (ainda que com o bronze em dia), a maioria dos garçons, vendedores, atendentes, ambulantes e quituteiros é formada por sujeitos pretos e pardos. Diante desse cenário é impossível negar como a dimensão política perpassa e estrutura a presença e ausência de corpos negros em espaços de lazer.
Estar nesses espaços usufruindo e se fazer ver neles, para nós, sujeitos/as negros/as, é desafiar a lógica racista da branquitude que nos delega apenas subespaços de servidão, mais que isso, é demarcar nossa existência e de todo um povo que foi escamoteado para longe dos grandes centros. É gritar, ainda que em silêncio, que nós existimos tanto quanto os demais, reafirmando que nos faremos resistência até que a justiça social seja estabelecida.
Se o verão tem uma cor ela é preta, no entanto, infelizmente, não pelos motivos certos. Que um dia o verão possa ser de todas as cores!