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Oito mulheres foram vítimas de feminicídios em pouco mais de dois meses no RN

Ingrid Carolinny Soares dos Santos, de 28 anos, foi encontrada morta na noite da última quinta-feira (3) dentro do “açude do padre”, na cidade de Campo Grande. O principal suspeito do crime é Willame Xavier do Nascimento, 36 anos, com quem Ingrid foi vista bebendo na última quarta-feira (2). (fonte: mossorohoje.com.br) 

Na mesma noite da última quinta-feira (3) um homem matou a ex-mulher com um tiro na cabeça no conjunto Parque dos Coqueiros, na Zona Norte de Natal, e depois cometeu suicídio. Manuela Josino Miranda, de 32 anos, foi morta na frente das duas filhas e da mãe. (fonte: g1.com.br).

Em 22 de fevereiro de 2022, Kalina de Azevedo Marques, 43 anos, foi morta a tiros pelo marido, na grande Natal. Maurício Rocha de Farias Neto, 39 anos, não aceitava a separação. Após matar a esposa, ele cometeu suicídio. (fonte: g1.com.br).   

Ingrid, Manuela e Kalina estão entre os oito casos de feminicídio já registrados entre 1° de janeiro e 4 de março de 2022, segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed/RN).  São mulheres que foram mortas por sua condição de ser mulher, pelo machismo.  

De acordo com a professora Suamy Soares, do curso de Serviço Social da Uern, e coordenadora do Núcleo de Estudos sobre a Mulher (NEM/Uern), os dados são um indício de que a violência contra mulher está se agravando e que a condição das mulheres no RN é de extrema vulnerabilidade. “A gente sabe que a violência contra mulher é um fenômeno social, histórico, cultural, que está arraigado na formação social do Brasil e que impacta a vida das mulheres, seja na esfera do trabalho, em casa, na rua. Mas elas têm acontecido com bastante força nesse período pandêmico”, ressalta.     

Para a professora, o quadro demonstra a necessidade de políticas de prevenção a violência contra mulher e o feminicídio, considerando que apenas a Lei Maria da Penha como instrumento de punição não vem sendo eficaz no enfrentamento à violência contra mulher. Uma realidade que se constata através das próprias estatísticas. Ela acrescenta que as violências que ocorrem na esfera doméstica têm assumido dados alarmantes. O Brasil segue sendo o quinto país que mais mata mulheres no mundo, e o RN, também, o quinto Estado do Brasil mais violento para mulheres. 

“Tivemos oito casos de feminicídio em três meses e precisamos destacar que essas violências que são praticadas contra mulheres se agravam quando a gente acrescenta recorte de classe, de raça. Então, é importante destacar que todas as mulheres sofrem violências, mas que as mulheres negras e pobres sofrem mais abatimentos. Os números têm mostrado que, apesar de existir lei para punição dos agressores, as mulheres seguem sendo violentadas e isso mostra a necessidade de políticas eficazes de prevenção a violência e educação e gênero. É preciso que a gente fortaleça a discussão de gênero. Estamos num momento em que o país passa por cortes orçamentários no campo das políticas públicas destinadas às mulheres, um rebaixamento do debate dos direitos humanos e da defesa das mulheres, e tudo isso repercute no aumento das violações. Nosso cenário atual é pavoroso e muito difícil, e a conjuntura atual só fortalece esse cenário de dificuldades e vulnerabilidades para as mulheres”, destaca.      

O Rio Grande do Norte já é considerado um dos Estados mais violentos para as mulheres. Em 2021 o RN registrou elevadas estatísticas de violências praticadas contra mulheres. Dados referentes ao somatório dos registros da Lei Maria da Penha para os crimes de ameaça, calúnia, descumprimentos de medidas protetivas de urgência, injúria, lesão corporal, vias de fato, estupro, estupro de vulnerável e violência doméstica no ambiente familiar contra a mulher apontaram um aumento de 51,1%, num comparativo entre 2020 e 2021, segundo dados da Secretaria de Comunicação Social da Polícia Civil (Secoms). Incluídos nesse número os casos de violência doméstica praticados contra mulher não só pelo parceiro, mas, também, pelos familiares. Conforme os registros de janeiro a setembro de 2020, foram 2.945 casos de violência doméstica. Nesse mesmo período de 2021 (janeiro a setembro), foram 4.421.

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Cebi realiza Vigília de Oração Pela Vida das Mulheres na praça São José, as 18h

Faltam poucos dias para o 8 de Março. Em Mossoró uma série de atividades estão programadas para acontecer, como é o caso do grande ato na Praça do Pax, às 16h30, e outras já estão sendo executadas. Além do ato principal, as organizações e coletivos feministas já vêm desenvolvendo ações alusivas ao 8M.

Neste sábado (05) acontece a Vigília pela Memória das Mulheres Presentes na Caminhada, na Praça Pe. Guido Tonelloto (Praça da Igreja S. José), às 18h. O ato é organizado pelo Centro de Estudos Bíblicos (Cebi), que integra as entidades que lutam pela Vida das mulheres.

De acordo com Zélia Cristina Pedrosa, da assessoria da Cebi, é importante a presença de todas em mais um momento de luta. Na Vigília serão lembradas, especialmente, as mulheres que se dedicaram à luta antes de nós.

“Como entidade ecumênica que se dedica à leitura libertadora da Bíblia, nós propomos uma vigília de oração, preparando esta jornada de lutas. Celebramos a grande bênção de sermos mulheres. Nossas ideias, nossos dons, tudo o que nos faz mulher e que nos fortalece cada dia para seguir lutando e abrindo caminhos para que este mundo seja diferente, inclusivo e igualitário em relação a direitos e oportunidades”, destaca Zélia.

O momento é de recordar as muitas mulheres que abriram caminhos e lutaram pelo fim da violência contra mulher e reivindicaram nossos direitos. “Unimo-nos em uma corrente, em uma rede com toda nossa rica região latino-americana e caribenha para celebrar este dia, dando graças a Deus por nos criar à sua imagem e semelhança, delicadas e fortes, sensíveis, inteligentes e valentes, lutando dia a dia e fazendo que nossas vozes sejam escutadas”, finaliza.

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Talento, criatividade e empreendedorismo das crocheteiras messienses

É de uma agulha, um novelo de lã, criatividade e, principalmente, da paciente arte de alinhavar fios, que nascem as produções das crocheteiras de Messias Targino. Roupas, produtos de enxoval, chapéus, moda praia e mais uma variação de produtos já ultrapassam o mercado messiense e hoje chegam às lojas de renome nacional.  

O crochê sempre fez parte da história da cidade, porém, poucas mulheres se dedicavam à arte. Atualmente um grupo de mulheres vem se destacando no segmento com a produção de peças modernas e que seguem as tendências do mercado. A cidade hoje conta com mais de trinta artesãs, de todas as idades. As mais novas, influenciadas pelas veteranas que têm se engajado no trabalho de ensinar e orientar a quem é iniciante. 

Atualmente o crochê não é mais visto com a percepção apenas de um trabalho realizado pela mulher “prendada” que “já pode casar”, mas como uma expressão artística, empoderamento, autonomia financeira. Afinal parte das mulheres tem essa arte como fonte principal de renda, outras, como complemento que faz a diferença no orçamento no final do mês.

 

 

A forma tradicional de produzir ainda existe entre parte delas. Algumas ainda ficam nas calçadas, geralmente em grupos, em suas cadeiras de balanço, fazendo sua própria jornada de trabalho. Maria das Dores da Silva, 74 anos, é das mais antigas. Profissional que se destaca no bordado, corte e costura e no crochê, dona Maria é considerada uma verdadeira artista e sempre foi muito solicitada na cidade pela dedicação nas peças que produz. “A minha vida toda me dediquei a esse trabalho. Hoje, sigo fazendo minhas peças e orgulhosa do meu trabalho”, frisa.    

Luciete Jales tem sua história profissional diretamente ligada ao crochê. Desde os 12 anos que sua fonte de renda vem do artesanato. Habilidade registrada e reconhecida no biscuit, boneca de pano, pedrarias e, com um foco maior nos produtos de crochê. O mais importante, segue repassando o conhecimento e garantindo novos talentos. “Ter esse trabalho reconhecido e ver nossos produtos sendo valorizados é muito estimulante para gente continuar produzindo e reproduzindo novos talentos. É um prazer poder transmitir o que sei para as novas gerações, dessa forma, garantindo o seguimento dessa arte”, disse.

Além de ser fonte de renda, o crochê também movimenta a economia local, considerando que muitos dos produtos são vendidos dentro da cidade. Os preços variam. Existem peças de quatro reais e existem peças que chegam a trezentos reais. A venda é feita individual, ou seja, por cada crocheteira, e através de negociação entre lojas e a Secretaria de Cultura, que é quem dirige o projeto Messias Targino Terra do Crochê. 

A contrapartida do Município é feita por meio de um convênio com a Moda Depedro, uma marca que vem proporcionando voos a empreendimentos do segmento da moda e quem abriu as portas para o projeto. “Nesse convênio, a Prefeitura paga um determinado valor à marca e ela compra a produção das crocheteiras de Messias”, destaca George Almeida, coordenador do projeto. Inclusive, através dessa parceria com a Depedro, peça produzida por crocheteiras messienses já foi destaque na revista Vogue Brasil. 

George ressalta que em breve será instalada a loja das crocheteiras, um espaço onde cada uma delas terá seu ponto de venda. Além da loja, a Secretaria de Cultura planeja a formação de turmas para realização para cursos que serão destinados a quem tiver interesse em aprender a crochetar, tendo em vista a procura de mulheres interessadas em entrar no segmento. 

Mizaele Jales afirma que é do crochê que vem a principal ajuda no orçamento. A alta demanda pelas peças tem estimulado as mulheres a produzirem. “É uma fonte que eu posso contar. Além da parte financeira, esse projeto trouxe a oportunidade de novos aprendizados e novos projetos para minha vida. E quanto mais a gente se dedicar mais a gente vai ter retorno, principalmente financeiro. Posso dizer que tem sido muito importante o projeto e a intermediação da coordenação nas vendas, para que nossos produtos sejam valorizados e reconhecidos em outros lugares. Hoje nós temos uma boa demanda”, destacou Mizaela.  

Na produção das peças algumas delas recorrem à internet para se atualizar das tendências de cores e modelos, mas o que importa mesmo é entregar o produto como o cliente quer. “O crochê me proporcionou a oportunidade de criar peças que nunca imaginei conseguir criar. Estimula a minha criatividade. Cada peça concluída, logo me vem a vontade de começar a produzir outra. Além disso, tem sido uma fonte que complementa o orçamento, conquistando minha independência financeira e autonomia, ajudando a realizar meus projetos. Sou apaixonada pela arte de crochetar e vejo a possibilidade de empreender através das linhas e agulhas”, disse a pedagoga e também crocheteira Gigriola Lima.