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Caso Givaldo Alves e uma análise sobre o sentimento de ódio à figura feminina

Que estamos inseridos numa cultura machista, misógina e sexista, isso boa parte das mulheres sabem, por que de uma forma ou outra, um desses elementos vai chegar à sua vida. Mas para que fique claro o significado real de cada termo, vamos às definições de cada um, acompanhados de alguns exemplos para que fique clara nossa percepção. 

O machismo pode ser definido como um sistema de representação e comportamentos que diferencia as relações entre homens e mulheres, ou seja, tem ligação com gênero, sendo caracterizado por um sistema de dominação que se confirma nas relações, onde um comporta-se de forma superior ao outro. O machismo nem sempre se apresenta de forma tão explicita, em grande parte, mostra-se sutil nas relações cotidianas, principalmente naquelas em que homem está ocupando uma posição mais favorável que as mulheres. Algumas atitudes como tentar justificar a roupa de uma vítima de assédio, acreditar que homens precisam colaborar com serviços em casa, quando na verdade também é obrigação deles, são alguns exemplos que revelam o machismo presente diariamente em nossas casas. 

E qual mulher nunca ouviu as seguintes frases: “mulher só serve para pilotar fogão”, “azul é para meninos e rosa para meninas”, essas frases compõem o que chamamos de sexismo, que pode ser definido como o conjunto de ideias ou ações que discriminam ou privilegiam um indivíduo em relação ao outro pelo sexo, gênero ou ainda também pela orientação sexual. Através do sexismo, delimitam-se papéis que devem ser assumidos por homens e mulheres levando em consideração unicamente o gênero. Dirigir um carro é para homens. Mulher deve cuidar de atividades relacionadas ao lar. Parece estranho essa afirmação, principalmente porque a mulher já conquistou diversos espaços, contudo essas mulheres ainda ganham menos que os homens e sofrem assédio muitas vezes no ambiente de trabalho. 

O sentimento de ódio, juntamente com o desprezo e repulsa, é definido como misoginia. A palavra misoginia, que tem sua origem no grego e significa ódio à mulher, surgiu a partir do termo misogynia​, ou seja, a união das partículas miseó, que significa “ódio”, e gyné, que se traduz para “mulher”.

E por que da necessidade de apresentar a definição desses termos? A explicação dos conceitos se faz necessária para entender um fato que recentemente ganhou repercussão na internet e chegou a virar notícia em diversos veículos de comunicação. Givaldo Alves, até pouco tempo atrás, era uma pessoa completamente anônima, mas em poucas semanas se tornou uma espécie de subcelebridade. Há alguns dias, ele estava morando na rua, assim como vários outros brasileiros que ficaram sem trabalho, renda e consequentemente sem um lar, porém a realidade da sua vida mudou e hoje frequenta festas, recebe beijo, atenção por onde passa, convite para se tornar candidato a deputado, conta no instagram com mais de 300 (trezentos) mil seguidores e até mesmo proposta de publicidade.

Mas o que aconteceu para em tão pouco tempo ganhar notoriedade e tanto espaço na mídia? A resposta é simples e também absurda, de acordo com o ponto de vista de muitas pessoas que se indignaram com as declarações polêmicas. O Givaldo manteve relações sexuais com uma mulher e expôs detalhes sobre os fatos. Especificou como era o corpo, deu detalhes sobre a relação, entre outras informações, que expuseram a mulher que se encontrava em surto e teria o conhecido na rua.

Ao verificar todos os holofotes que foram dados ao Givaldo, nos vem a pergunta: “qual valor nossa imagem tem para outras pessoas?”. Todos esses elementos, suas declarações, alimentaram uma população que em grande maioria despreza, menospreza, subjuga a mulher em todas as suas formas. Esse fato não é exclusivo em termos de depreciação à mulher, nossa cultura está cheia de exemplos de ações que expõem, sensualiza ou até mesmo ridiculariza a imagem da mulher. Veja as diversas músicas nos mais diversos ritmos, veja os comerciais de cerveja. Você já entrou numa feira de carros, qual a imagem é mais utilizada nessas exposições? Diariamente, devemos praticar o exercício  da reflexão de tudo que é feito quando o assunto é uma mulher, principalmente se buscamos reconhecimento. 

Não há dúvida que depois de muitos anos de reivindicações e lutas, temos conquistado direitos e a própria sociedade vem mudando a postura em relação à valorização e respeito a nossa imagem. Vejo meninas, adolescentes, que não se calam diante de atitudes machistas por parte de colegas da mesma escola ou bairro. Temos uma geração saindo do forno, cada vez mais consciente do seu papel e que não vai se calar e nem apoiar um homem que usa da exposição de detalhes íntimos de uma relação como meio de promoção pessoal. Em contrapartida, gerações de outras épocas insistem em continuar reproduzindo atitudes consideradas machistas, sexistas e misóginas. Uma mudança de postura sempre é possível, afinal todo dia é dia de se desconstruir o machismo estrutural.

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Por que a violência doméstica e outros tipos de violência contra a mulher ainda são temas discutidos?

Um tema recorrente em publicações científicas e também em diversos meios midiáticos, a violência contra mulher, segue em destaque na atualidade. Essa forma de violência, que é fruto de uma construção de décadas, continua deixando suas marcas no século XXI. O ciclo  parece não ter  fim, e mesmo quando o país avança, através de leis e políticas públicas voltadas ao combate desse tipo de violência, os números de vítimas só aumentam, principalmente, nos dois últimos anos, período da pandemia do Covid 19. Um contexto que levou as mulheres a permanecerem mais tempo em casa com seus agressores. 

A figura feminina sempre sofreu restrições, como a falta de poder de decisão sobre casamento, trabalho, sobre seu próprio corpo, entre outros tipos de liberdade.  A mulher foi historicamente oprimida por questões relacionadas à sexualidade, privadas do direito a herança em algumas sociedades antigas e, sobretudo, de outros direitos como o voto, por exemplo. Em diversas culturas, considerada incapaz de tomar decisões pessoais. E foi dentro desse contexto de desigualdade que homens e mulheres foram assumindo papéis diferentes dentro de uma sociedade em que a mulher deveria se preparar para cuidar da casa e dos filhos, e o trabalho externo seria de responsabilidade masculina.  Essa desigualdade de gênero, construída há séculos, e que perpetuada por gerações, tornou-se o principal combustível que alimenta a violência doméstica. Alguns homens, criados dentro da visão patriarcal e machista, ignora direitos e liberdade adquiridos pelas mulheres ao longo de muitas lutas. A liberdade de se vestir, de saírem de casa e exercerem uma atividade profissional, de tomarem decisões individualmente e de forma coletiva. 

A temática da violência doméstica continua sendo pauta de destaque, sobretudo, devido a uma série de fatores ligados principalmente à cultura na qual toda a sociedade está inserida. Uma cultura de opressão às escolhas das mulheres, a liberdade, ao poder de decidir. Poder este conquistado ao longo de muitas lutas.

As Leis existentes em nosso ordenamento jurídico, como a Lei Maria da Penha (Lei n° 11.340/2006) e Lei  do Feminicídio (13.104/2015) são instrumentos, assim como os outros, que desde sua origem buscam combater a impunidade as práticas de violência que ainda são disseminadas em nossa sociedade. 

Para que o tema violência doméstica deixe de ser pauta central em muitas discussões é preciso construir hoje o alicerce entre as atuais e futuras gerações, para que cresçam respeitando as mulheres como sujeitos históricos e detentores de direitos individuais e coletivos.   É preciso a formação de uma cultura que não reproduza mais o machismo, e tem que iniciar em casa, nas escolas, nas instituições públicas e privadas, e nos mais diversos espaços coletivos. E é preciso que a sociedade seja capaz de entender a importância dessa transformação. 

Por aqui vou encerando o papo e até a próxima coluna.