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Autismo nível 1: o que você precisa saber!

Já tem um tempinho que venho me dedicando aqui a levar um pouco de informação e vivências do dia a dia da maternidade atípica, como reflexões e fatos que acontecem no nosso cotidiano, até mesmo para inspirar e fortalecer o caminho de outras mães que também fazem este percurso.

Nas próximas edições deste espaço pretendo levar pontos necessários para quem tem interesse de conhecer a fundo o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Antes das minhas leituras e até mesmo como mera desconhecida deste universo, a frase que mais costumo ouvir sobre o meu filho até hoje é: “Ah, mas ele é ‘leve’!”. Leveza é levar vento na cara sentindo a brisa do mar, meu bem.

Autismo é autismo em todos os seus níveis, apenas foi criado um estereótipo, ou diria até um arquétipo, para minimizar o que já é difícil de fato. A “leveza” que o senso comum nomeia se dá pelo fato de que o nível 1 precisa de pouco suporte, ou seja, é o antigo “Síndrome de Asperger” ou autista de alta funcionalidade. O indivíduo apresenta as mesmas dificuldades nos eixos de comprometimento, como comunicação e comportamentos repetitivos e estereotipados, porém, com menor comprometimento. Justamente por não compreender melindres linguísticos e sociais, sou categórica em dizer: o leve passou longe.

Hoje meu filho tem 7 anos e percebo que entre os pares ele já apresenta dificuldades quanto a compreensão de regras sociais que estão implícitas em nosso meio. Por exemplo: ele não entende como iniciar uma conversa com os colegas, ou permanecer engajado nas atividades propostas, como também em entrar em lugares não permitidos e manipular objetos que não lhe pertencem. Por mais que a gente o oriente a fazer, esbarramos nesse entendimento (que ele não tem ainda) de copiar o modelo e observar pela imitação o que fazer em determinadas situações.

Você já se imaginou conviver em um meio social onde não entenda linguagens do tipo: “José chutou o balde!”, “Maria pagou o pato”, “Dar uma mãozinha”, “Estar com a cabeça nas nuvens”, etc? Poderia passar horas aqui colocando várias. Essas expressões são chamadas idiomáticas, que são linguagens habituais da nossa cultura para nos comunicar. Elas ganham sentidos conotativos ultrapassando significados literais e é justamente neste quesito que os autistas têm grande dificuldade.

Percebem as sutilezas da linguagem e traquejo social? Coisas que nós, pessoas típicas, conseguimos nos virar bem sem problemas de grandes dimensões, para um autista podem gerar desconfortos. Este é apenas um dos vários problemas que enfrentam os autistas de suporte 1, portanto, o que menos existe nesse universo é leveza. Leve essa informação para vida!

Vale salientar também um grande mito que permeia o autismo nível 1 é de que todos são superdotados ou supergênios. Isso não é uma realidade absoluta dentro desse público, pois a literatura mostra dados de que alguns indivíduos têm associado como comorbidade a deficiência intelectual, portanto, sobrepujar mais esse estigma pode dificultar ainda mais o processo de inserção na sociedade.

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AUTORA POTIGUAR GANHA DESTAQUE ESCREVENDO LIVROS NO SUDESTE DO PAÍS.

Quantos livros escritos por mulheres você já leu ao longo de toda a vida? Sempre teve essa atenção ou foi lendo a partir da forma naturalizada e imposta pelas circunstâncias históricas, onde os homens ainda predominam na cena literária? Sem julgamentos, ou medo da resposta, não é de nosso interesse o confronto. A grande verdade é que, a escrita já nasceu querendo nos calar, basta rememorar escritoras que viveram no anonimato, pois do contrário, não seriam publicadas, e se fossem, sofreriam retaliações. Pensemos em Jane Austen do século dezoito, autora de clássicos como “Orgulho e Preconceito”, que enquanto viva, nunca publicou nenhum romance assinado com o próprio nome. Em marcha, nós, mulheres, caminhamos em disparada para chegarmos aqui, quebrando parâmetros de editoras e de uma sociedade estruturalmente machista, repleta de barreiras. Nomes como o de Conceição Evaristo, Djamila Ribeiro, Naomi Wolf, entre outros tantos, abrem espaço para o potencial de novas mulheres na escrita. Mulheres potentes.

Suelly Lucas, a escritora que apresentaremos nesta reportagem, demorou em descobrir o interesse pela escrita, embora conte que, costumava escrever por qualquer motivo, “foi à partir dos 15 anos que senti estar voltada para escrever e, só então, comecei prestar atenção em mim”, revela. A descoberta da jovem moça que aos 15 descobre a afinidade com as letras, resultou no lançamento de dois livros e em projetos que vislumbram um terceiro e, outros que já estão desenhados na mente. Inspirada nas riquezas do cotidiano, no verde das plantas conservadas em uma casa na grande São Paulo, nos mistérios presentes em cada felino que cruza seu caminho, e nas poderosas relações familiares, Suelly brinca com as palavras e constrói frases, que juntas formam livros.

A primeira obra foi lançada em 2016, pela Editora Book Express Eireli, e chama-se: Frases Tocantes. Mais tarde, em 2018, o livro ganha uma segunda edição, dessa vez pela Editora Ledriprint , com o mesmo título, “os dois livros tem poesias, cifras e pensamentos. São frases que me identifico muito, uma delas é: “ninguém é forte o tempo inteiro, muitas vezes silenciamos na nossa dor ou mesmo numa saudade, para podermos nos passar por valentes e demonstrar aquilo que nem sempre somos”, é uma realidade”, compartilha.

Além de fazer link com o cotidiano, Suelly conta que armazena em seu patrimônio intelectual influências de escritoras como a paraibana Socorro Silva e Cora Coralina: “encontrei na literatura a liberdade, a sensibilidade e a sutileza. Eu passei a me conhecer melhor, antes estava escondida de mim, hoje sei bem quem sou, e acho que me surpreendi comigo mesma”, e isso aconteceu através da leitura e produção da escrita. Para a escritora, quando uma mulher encontra seu caminho no mundo, estamos falando sobre dois pontos de vista diferentes: independência e autonomia. São palavras quase sinônimas, uma diz respeito a poder ir e vir, e a outra, fala sobre emancipação, querer ir ou ficar, compreender que temos escolha diante da vida e dos acontecimentos. Foi pelo caminho da autonomia que Suelly decidiu seguir e permanecer. Nascida em Mossoró, aos 25 anos foi morar em São Paulo, e lá tem construído sua fortaleza, “acredito que existem dificuldades, mas não podemos deixar de correr atrás, é preciso agir”, reforça. A potiguar relembra que seu sonho de ser autora publicada, recebeu o incentivo de outras mulheres, amigas que suavizaram o caminho. Além disso, Suelly faz questão de citar o marido, “que representa um suporte, e sempre foi um incentivador”, afirma.

De acordo com a autora, a terceira obra já está sendo gestada, e deve nascer ainda este ano, ou comecinho de 2023. Os projetos abrem espaço para a realização de outro sonho, que é realizar o lançamento do terceiro filho em Mossoró-RN, e na cidade de São Bento-PB, onde também guarda parentes. Para conhecer o universo de frases e o pensamento dessa escritora potiguar que produz no “sul” do país, é só entrar em contato através das redes sociais: Instagram: @Suellyxavierlucas, ou Facebook:  Suelly Xavier Lucas. Fica o convite para que possamos ler mais mulheres, mais nordestinas, e novas escritoras. E tem mais, como escreveu a inesquecível Toni Morrison, “se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então você deve escrevê-lo”, e é pra já!. Enquanto mulheres leitoras ou escritoras, o nosso lugar deve ser ocupado e preservado.