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Colunistas Destaque Natalia Santos Sem categoria

Swallow: Um retrato da opressão feminina

Swallow1 (2019) é um thriller psicológico de Carlo Mirabella-Davis cuja trama gira em torno da vida de Hunter, uma dona de casa grávida, que, pressionada para satisfazer as expectativas do marido e dos sogros, desenvolve um hábito perigoso de engolir objetos não comestíveis.

Hunter é a figura da “esposa perfeita” dedicada ao lar e ao marido, mas que tem sua personalidade completamente tolhida em função de atender às expectativas impostas por uma sociedade patriarcal. Quando descobre sua gravidez, passa a desafiar o seu corpo engolindo objetos nocivos como forma de retomar o controle sobre sua própria vida.

O filme é recheado de elementos que enfatizam a solidão e o silenciamento da figura da mulher, sendo reforçado, inclusive, com a presença de outras personagens femininas que reproduzem padrões de comportamentos machistas, o que nos faz experimentar ainda mais a sensação de clausura no próprio corpo enfrentada pela protagonista.

Embora tenha uma resolução demasiado simplista para o problema que se propõe a discutir, Swallow é um filme que merece ser visto, discutido e compartilhado, justamente por abordar questões tão frágeis e presentes na vida das mulheres. A atuação de Haley Bennett (Hunter) é um dos pontos altos do longa, juntamente com uma estética e fotografia primorosas. O suspense aqui se constrói de maneira gradativa, mas é impossível não ansiar pelo desfecho da trama.

Engana-se quem pensa que é somente mais uma história de cinema, isto porque muitas mães, avós e tias nossas vivenciaram formas de silenciamento e aniquilamento das próprias escolhas. Nesse ponto, a representatividade no cinema revela-se, mais uma vez, de extrema importância ao dar voz às inúmeras mulheres que sofreram ou sofrem qualquer forma de violência psicológica e opressão, trazendo um pontinho de esperança para nossa luta, que, embora não esteja perto do fim, vem ganhando cada dia mais força.

1. Swallow, palavra do inglês, em português significa engolir, deglutir.

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Colunistas Destaque Rafaela Gurgel

Vida além do autismo sim!

Passado o baque do diagnóstico vem um turbilhão de emoções e perguntas inquietantes, como algumas destas: “E agora, como vai ser?”, “Por onde começar?”, “Será que meu filho (a) irá se desenvolver, falar…? Dentre tantas, a mais recorrente: “E quando eu não estiver mais aqui?”. Esta é a mais doída e inconsistente pois a morte é nossa única certeza neste plano. É quase inevitável que em algum momento da vida não passe essa questão em nossa cabeça, mas, quando há um filho com limitações, essa é a mais latente preocupação.
Essas perguntas mostram uma evidente realidade, isso acaba
refletindo na vida de muitas famílias, surgindo conflitos conjugais, financeiros, falta de vida social e libido… O choque da descoberta, divergência entre um dos genitores para aceitação, passando pelas dificuldades financeiras em manter terapias e as rotinas que elas nos impõem. A vida após o autismo é dura, mas não é uma sentença de morte ou incapacidade para quem tem e para quem convive.
Esses gatilhos acabam nos levando à exaustão física e mental, pois
somos instigadas a fazer o que estiver ao nosso alcance para o bem-estar da cria. É instintivo. Porém, o que precisamos entender é que nós somos o piloto da aeronave e para estarmos bem para conduzir o voo, em caso de turbulência, é necessário pôr a máscara de oxigênio em você primeiro para em seguida colocá-la em seu filho (a). É o cuidado com quem cuida. Até chegar esse entendimento é difícil e desgastante, pois infelizmente muitos casais não se sustentam à pressão e acabam se divorciando.
Certa vez li um artigo de opinião que citava uma pesquisa feita nos
EUA, no Journal of Autism and Developmental Disorders, que comparava o cansaço e nível de estresse de mães de pessoas com autismo comparado a soldados em guerra. Segundo os responsáveis pelo estudo, o efeito a longo prazo sobre a saúde das mães poderia afetar níveis de glicose, funcionamento do sistema imunológico e atividade mental.
Até nisso temos que filtrar muito bem as informações que nos chegam.
Este é um dado relevante, mas não dá para fazer tudo e nem pensar muito, os “se” ficam suspensos, pela nossa saúde mental. Muito tempo e água passaram embaixo da ponte até que pude chegar a pensar em mim, enquanto mãe e mulher, mas até lá ouvi verdadeiros absurdos que todos os dias tentaram me arrastar como âncora; o pior é quando ouvimos das próprias mulheres: “Ah, tá reclamando de quê?, “Você não quis ser mãe, agora aguente!”, “Tá cansada de quê?”, “Muitas queriam estar no seu lugar”, “Hum, saiu, e quem ficou com as crianças?”. Estes comentários são só a ponta do iceberg que enfrentamos por sermos mães e mulheres, uma recomendação: FAÇAM TERAPIA, se puder, claro! Pois, como já dizia Belchior, “a minha alucinação e suportar o dia a dia…”
Tem dias difíceis, chuvosos, cinzentos, mas também tem dias
ensolarados e de arco-íris para continuar. A terapia tem me ajudado muito a me reconhecer, me aceitar e aceitar o outro, conviver com as circunstâncias que não me compete intervir e mudar e tudo bem. Vivo todas as minhas emoções sem culpa e continua tudo bem. Não sou modo mãe/profissional o tempo todo e continuo vivendo, pois “amar e mudar as coisas me interessam mais…”