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Colunistas Destaque Fernanda Valéria

Leituras da vida: feliz 2022, sobreviventes!!!

Caminhamos para 2022 como soldados que retornam de uma guerra. Aterrorizados pela destruição, gratos por estar vivos e sem entender muito bem como agir no futuro. Embora não tenhamos travado uma luta bélica, envolvendo as forças armadas, vivemos, nos dois últimos anos, os sentimentos de quem é arremessado num campo de batalhas. Dias e dias com medo da morte, sem saber quem seria a próxima vítima da Covid-19 e com a possibilidade de sermos também abatidos por ela.

Bateu muitas vezes o desespero diante de tantas imagens de caixões, famílias chorando a perda de uma, duas, três ou mais pessoas queridas. Sem mesmo ter o tempo da despedida, massacramos o luto, o adeus foi chorado em poucos minutos, dali da calçada ao ver passar um dos seus entes no ataúde lacrado e até ensacado.

A demora na chegada da vacina, a descrença nela e a aplicação lenta minava a esperança, enquanto o número de óbitos crescia. Entre janeiro e maio de 2021, tivemos mais mortes que o ano de 2020 inteiro e não parou: já ultrapassamos as 619 mil e quase todos os dias perdemos guerreiros. Apesar de se pensar em recomeço no Brasil, pais, filhos, mães, avós, tios, amigos de alguém não terão essa chance. Voltaram as confraternizações e, em muitos lares, um lugar ou até mais à mesa está vazio.

Além dessa doença devastadora, fomos também acometidos pela fome, mais de 19 milhões de brasileiros fazem uma refeição por dia, os dados são da Rede Pessan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), no inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da Pandemia de Covid no Brasil, realizada em dezembro de 2020. “Do total de 211,7 milhões de brasileiros(as), 116,8 milhões conviviam com algum grau de insegurança alimentar e, destes, 43,4 milhões não tinham alimentos suficientes e 19 milhões de brasileiros (as) enfrentavam a fome”, diz o relatório.

A situação não mudou muito, após um ano, ainda continuamos com 12,1% de taxa de desemprego no país, segundo o IBGE, e tendo que lidar com uma inflação estimada pelo Banco Central em 10%. Situação que onera os preços da cesta básica, aluguel, gás, água e luz, itens essenciais de sobrevivência.

Um campo de batalha resiliente agora também devastado por água. A Bahia, maior estado da região Nordeste está embaixo d’água e tem mais de 400 mil pessoas afetadas com as enchentes e 21 mortos, cidades inteiras foram atingidas pela destruição que pode parecer natural, mas que sabemos é resultado da destruição da natureza pela mão e consciência humana.

Não bastasse o estado de tragédia constante, não temos um líder, temos um figurante a presidente ocupando a cadeira de quem poderia ter agido como o cargo exige. Na contramão do que se espera, suas ações, todas, foram fortalecedoras do caos que nos assola.

Caro leitor, não fique chateado com o pesar destas poucas linhas, não sei por qual das citadas acima, foi você atingido, mas se está aqui lendo é porque é um sobrevivente e como não temos outra escolha a não ser nos agarrar à esperança, Feliz 2022.

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Colunistas Fernanda Valéria

Leituras da vida: a indevida apropriação do termo liberdade de expressão na disseminação do ódio

Quando foi que adquirimos o direito de ofender o outro com o entendimento de que a opinião umbilical está resguardada sob a proteção da liberdade de expressão? Eu mesma respondo: nunca. Não vou aqui citar os casos recorrentes de crimes de ódio que se acham protegidos na aba deste direito constitucional para evitar dar palco aos protagonistas e reverberar tais  discursos.
 
Tendo a curiosidade de saber de que episódios da vida real estamos falando, procure os casos do jogador de vôlei, Maurício Souza, e tudo o que rolou na internet após o anúncio da bissexualidade do personagem Superman. Vou dar um spoiler aos desavisados, Superman não existe.
 
A Constituição Brasileira, no artigo V, considerado o mais importante da nossa Carta Magna, em se tratando dos Direitos e Garantias Fundamentais, diz que “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente da censura ou licença;”
 
No entanto, não existe nenhum direito irrestrito, embora alguns nunca tenham atingido tais restrições. Um dia ou outro, os deveres e responsabilidades de cada um podem ser acionados, basta que o indivíduo em exercício dos seus direitos interpele nos dos outros, é o que o diz o inciso X, em outras palavras, claro, do mesmo artigo. “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra, a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
 
 Não quero entrar na complexidade deste limítrofe, porque não sou da área do Direito, e o assunto de que vamos refletir já deveria ter, há tempos, ter ultrapassado a complexidade da polêmica e ter o seu significado consensual: liberdade de expressão! No entanto, uma interpretação equivocada do termo, ou mesmo, mal-intencionada, o usa indevidamente na prática disseminativa do ódio. Os ecos desse sentimento contaminam ou tiram da dormência pensamentos semelhantes, e, aos poucos, uma legião de odiadores da mesma causa se juntam em propagação ainda maior e perigosa.
 
Portanto, o direito à opinião é garantido desde que ela não cause um dano moral, material ao outro,  está aqui o limite. Mas é ainda pior quando ela ultrapassa a característica opinativa e recai dentro da criminalidade. Racismo e homofobia podem dar entre 2 a 5 anos de reclusão segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF). O Senado também já aprovou o Projeto de Lei que torna a homofobia um crime.
 
Apesar disso, a sociedade ainda insiste em se manter conservadora. Após comentários homofóbicos, o jogador já citado ganhou milhares de novos seguidores e até mesmo já foi cogitado a concorrer às eleições representativas do Legislativo. Sabemos: qualquer discurso é uma prática social de persuasão mental, alguns exercem maior influência (para usar um termo da moda) que outros. E sobre o exercício e uso dessa persuasão devemos refletir criticamente, pois a receita do caos está pronta: um odiador com voz agrupa semelhantes e alguém se aproveita da legião em uso político, local simbólico e também atuante de tomadas de decisões que interferem na sociedade.
 
Não é por acaso que, desde 2001, temos um projeto que torna a homofobia crime tramitando na Câmara Federal, esperando ser colocado em andamento. Todo esse tempo de espera vai inclusive na contramão tradicional da Casa que já formou várias leis em proteção às minorias, mas devemos lembrar da representatividade congressista feita por homens héteros, conservadores e defensores de uma família tradicional como única, dificultando as discussões dessas pautas.
 
Por isso, quando discurso e poder se casam para prejuízos da dignidade humana dos cidadãos, precisamos levantar a voz e acionar o que de direito temos para impedir.  Um pedido de desculpas é muito leve para o prejuízo de uma ação criminosa discursiva. É como dito popular diz: palavras soltas, são como penas de galinhas ao vento, não dá para recuperar.
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Como criar o hábito da leitura?

Dia 29 de outubro comemora-se o Dia Nacional do Livro, este senhor que já foi até ameaçado de sumir das prateleiras com o advento da internet e a publicação dos e-books. Mas, para surpresa e alegria de muitos, inclusive, desta pessoa que vos escreve, ele renasce das cinzas como uma fênix. 
Em pesquisa recente do setor editorial brasileiro, divulgada pela Folha de São Paulo, o mercado, somente no primeiro semestre de 2021, vendeu mais de 28 milhões de exemplares, 48% a mais em comparação ao mesmo período do ano anterior. A pesquisa ainda revela um acréscimo de 40% de lucro ao setor na comparação entre os mesmos períodos. 
Mas como andam as suas leituras? Em média, o brasileiro lê até cinco livros por ano, o dado é do Retrato da Leitura no Brasil, divulgado pela Agência Brasil, em 2020. Trata-se de uma média. Sabemos que poucos leem muitos livros, enquanto outros não leem nenhum, o mais importante é não se guiar por nenhum parâmetro e se sentir confortável no hábito de leitura que cada um tem ou quer para si. (Só um aviso – quando a gente começa, não para mais).
Para quem está no início, indico a escolha de temas do seu interesse. Exclua a preocupação de estar lendo os títulos da moda, ou aqueles indicados por pessoas que já têm o hábito consolidado ou por outras com interesses diferentes. Não que você não possa seguir as indicações, o ideal é captar delas, as leituras que lhe despertam o interesse. Sempre tem alguém que ama Literatura, outros, Filosofia, Autoajuda e demais áreas. Você vai escolher o seu nicho. 
Dedique, dentro do seu tempo, um período para a leitura. Como estamos falando de hábitos, o mais indicado é praticar todos os dias um pouquinho. Nada de querer ler um livro em um único dia, dessa forma, o que deveria lhe dar prazer, pode proporcionar cansaço, e aí você desiste. 
Estabeleça metas de leituras, como ler um capítulo por dia, ler durante meia-hora ou até menos – 15 minutos. Desde que não se esqueça da frequência estabelecida. Quando estiver no ritmo, aumentá-las, vai ser fácil.
A próxima dica serve também para os leitores assíduos. Não desperdice tempo e atenção lendo o que não gosta. Passadas as 20 primeiras páginas, a leitura ainda não lhe captou o coração? Feche o livro sem culpa. Existem muitos outros esperando por você no mundo, tenha a consciência de que nunca ninguém lerá tudo, então dedique-se aos que lhe dão prazer. 
Não conseguir dar continuidade a um livro pode ter várias razões: ele pode ser ruim mesmo, mal escrito, não te agrada ou você pode não estar preparado para ele e tudo bem, acontece. Eu mesma passei por isso, levei dois anos para conseguir finalizar o Memória da Casa dos Mortos, de Dostoiévski, não estava pronta emocionalmente para tanta densidade. 
Mastigue as palavras, as frases, os períodos, os capítulos e se permita mergulhar no texto. É preferível absorver o máximo dele e poder lembrá-lo depois a devorar vários e não captar a essência do que está escrito. Francine Prose fala sobre isso no Para ler com um escritor – já é uma dica de leitura.
Apesar do mercado aquecido, os preços continuam sendo altos, se o dinheiro é pouco – de quem não é? – Procure os sebos, compre os livros em promoções, estabeleça uma frequência de compras deles, pegue emprestado com pessoas que têm o hábito da leitura e devolva, por favor!!!! Outra possibilidade é fazer uma lista de desejos e comprá-los todos de uma vez só e ganhar o frete grátis. 
Tem também os e-books. Sim, são livros, o conteúdo é o mesmo!!! Eu passei a ler mais desde quando adquiri o kindle da Amazon, embora tenha o apego incondicional e irracional pelo cheiro das páginas impressas. Trata-se de equalizar o custo-benefício e saber quando é válida a compra do livro físico ou o digital. 
Caso tenha filhos, a prática pode começar cedo, crianças podem ser incentivadas com revistinhas em quadrinhos, de vez em quando é bom levá-las à livraria e deixá-las escolher. Não deixe que leve todos os que querem, combine de comprar outro logo que a leitura for concluída, funciona, hein!! 
Boas leituras, depois me conta se algo deu certo.