Fevereiro traz a rememoração do nascimento da intelectual Lélia Gonzalez, que deixou um legado importante, no que diz respeito à luta pela liberdade na comunicação escrita e falada, construindo importantes discursividades e análises. Isso nos inspira na contemporaneidade, sobretudo diante da violência racista à população negra. Contra o racismo e o sexismo.
Inegavelmente, ela foi intelectual negra, professora e ativista, sendo uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado. Neste texto refletimos o discurso do “pretuguês” sob o aspecto da existência da mulher negra na sociedade na luta por transformação social nos espaços de dominação e como possibilidade agregadora de momentos históricos e linguísticos, lócus do nosso lugar, sob o qual se dá práticas sociais de sentidos na e pela linguagem.
Na relação entre discurso e posicionamento político, o discurso de Gonzalez é determinado historicamente no nosso tempo e nos influencia sobremaneira nos estudos e caminhos novos possíveis. Por conseguinte, seu pensamento sobre o “pretuguês”, diz respeito à africanização do português falado no Brasil e desperta um debate sobre a relação entre linguagem e racismo.
Nossa pretensão, de forma breve, é mostrar que essa é uma questão relativamente recente nos estudos acadêmicos e nos objetos de pesquisas linguísticas e discursivas. Logo, temos muito a aprender com esse conceito e compreendermos a riqueza de vozes negras na universidade e sociedade, no sentido de uma educação linguística antirracista.
Desse modo, se fizermos uma leitura do pensamento de Lélia, também iremos compreender a discussão sobre interseccionalidade entre gênero e raça, além da extrema referência sobre a negritude, como uma pioneira que foi, em complexas redes de construção de sentido em variados acontecimentos, bem como a categoria de amefricanidade. Evidentemente, nessa intensa produção intelectual, por exemplo, aprendemos com Lélia sobre o lugar da mulher negra numa sociedade machista e racista, mulheres ainda estereotipadas e invisibilizadas na cultura brasileira. Em suma, vale a pena buscar suas produções, artigos, revistas e jornais contendo suas escritas e falas.
Reiteramos que, dessa pensadora negra advém o ponto de vista dos falares amefricanos, o que a autora denomina a língua portuguesa em nosso país de “pretuguês”. Assim, como professora negra e pesquisadora, ela afirma o uso de termos e expressões, algumas de origem africana. Portanto, analisa-se uma escrita alternativa diante da academia, usando a forma mais coloquial a fim de se comunicar de forma mais ampla, especialmente com as mulheres negras, populares e de periferia, além de auditório variado, como jornalistas e políticos.
No atual cenário marcado por projetos políticos de retrocesso da nação nos moldes do fascismo, ecoamos a memória e dizemos viva a Lélia Gonzalez, uma mulher comprometida com a transformação social e contra as desigualdades. As mortes brutais fruto da violência racista cotidiana no Brasil mostram o quanto precisamos discutir sobre justiça para o povo negro nesse país. Nesse sentido, temos a agradecer a Lélia Gonzalez por tematizar questões acerca da realidade das mulheres negras, ladino amefricanas.
Por fim, as palavras de Gonzalez são elucidativas a respeito da importância do discurso e prática do “pretuguês” na construção de sujeitos sociais populares, porque contribui para a conservação da história e da memória, em particular por intermédio da linguagem e da qual não podemos ser prisioneiras na construção da consciência negra, antirracista e do cuidado de nós mesmas. Viva Lélia!