Sejam bem vindes! A partir de hoje estaremos juntes nessa coluna destinada ao esporte. Já confesso a vocês que meus estudos e minha paixão são dedicados ao futebol, principalmente ao futebol de várzea, e aos diversos tipos de futebol praticados na praia, nos campos de terra, na rua. Um futebol verdadeiramente coletivo, onde a sociabilidade é mais importante que a vitória. Dito isso, espero trazer a vocês discussões variadas sobre outros esportes, mas já peço desculpas se me ocupar muito tempo com o futebol!!! Além disso, ao ler meus textos você, talvez, se pergunte: mas, afinal, o tema não era esporte? Pois é, pra mim não há separação, esporte e política se misturam, o esporte é realizado por homens/mulheres/pessoas não binárias vivas e ativas, logo suas determinações não estão separadas do cotidiano.
Tanto não estão que repito o título – O gol vale mais que sua vida! O futebol espetacularizado jogado por homens “declarados” heterossexuais, esse futebol que passa na TV e que mobiliza dinheiro e multidões, finge que não existe violência contra as mulheres. Seus praticantes (jogadores, técnicos, jornalistas, entre outros) possuem uma espécie de blindagem e estão imunes a qualquer tipo de julgamento, ou seja, há uma distinção entre a carreira de jogador e a vida “privada”. Isso quer dizer que hoje temos jogadores que cometeram algum tipo de violência contra mulher e estão firmes nas suas equipes. Recentemente o jogador Robinho seria (re) integrado a equipe do Santos F.C., a euforia tomou conta da torcida masculina, e de alguma parte da feminina, a lembrança dos feitos realizados pelo jogador na equipe praiana fez esquecer a condenação por estupro coletivo, quando era jogador no Milan na Itália. “Especialistas” em direito italiano, eufóricos, diziam que não era bem assim, que o processo estava em andamento, que a moça (vítima) era interesseira etc., etc., etc. A verdade é que o jogador havia sido condenado em primeira instância e havia recorrido da sentença. Vozes isoladas contrarias a contratação foram silenciadas e somente após a divulgação dos áudios entre os acusados que as empresas que patrocinavam o time pressionaram para romper o contrato. Alguns torcedores argumentavam que a emissora que divulgou os áudios queria derrubar o Santos F.C. e boa parte finalmente percebeu a gravidade da situação. O Santos F.C. recuou na contratação e aguardou o julgamento do recurso para romper o contrato. A condenação de 09 anos de prisão se manteve e o contrato com a equipe foi rompido. Na ocasião escrevi um poema que apresento a vocês, infelizmente um poema que se reatualiza todos os dias, são Maris, Marias, Mulheres violadas todos os dias, com seus agressores sem qualquer tipo de responsabilização.
Título pra Que?
A camisa se confundia com a pele.
Esqueciam seu nome, só sabiam Santista.
O coração com defeito aprendeu a bater pênalti.
Seu corpo acostumou com o suor escorrendo na virilha na hora do gol.
Xingava baixinho porque mora entre muitos.
Ateia, fazia promessa pro santo,
pedia pra Deus iluminista
e ainda implorava a Exu pra aparecer
um menino ou um milagre
que salvasse da vergonha e da segunda.
Vibrou paulista,
foi louca por tri em 2011
e em 2002 finalmente acabava a gozação.
A viúva do Pelé agora era a rainha do seu tempo.
Porém em terra que arqueiro alimenta cães com mulheres,
o príncipe pelado custará 10 reais.
Condenado na terra da pizza,
pedala rumo à baixada
para ter proteção na terra das laranjas.
A bancada perderá os pés daquela que alucinava
mesmo cansada da serra.
O rosto acostumado com a brisa da Vila entrará numa eterna
negação da negação.
Desligará a caixa de cores,
para evitar os dribles.
Será incapaz de olhar no campo
pois a cada lance
retornará
o toque que rasgou sua imagem.
Oxalá o gol não saia da bicicleta
que um dia aplaudiu.
Não há ópio que curará sua dor.
Porque a cada menina-mulher violada
é parte dela que
cai.