Vida além do autismo sim!

Passado o baque do diagnóstico vem um turbilhão de emoções e perguntas inquietantes, como algumas destas: “E agora, como vai ser?”, “Por onde começar?”, “Será que meu filho (a) irá se desenvolver, falar…? Dentre tantas, a mais recorrente: “E quando eu não estiver mais aqui?”. Esta é a mais doída e inconsistente pois a morte é nossa única certeza neste plano. É quase inevitável que em algum momento da vida não passe essa questão em nossa cabeça, mas, quando há um filho com limitações, essa é a mais latente preocupação.
Essas perguntas mostram uma evidente realidade, isso acaba
refletindo na vida de muitas famílias, surgindo conflitos conjugais, financeiros, falta de vida social e libido… O choque da descoberta, divergência entre um dos genitores para aceitação, passando pelas dificuldades financeiras em manter terapias e as rotinas que elas nos impõem. A vida após o autismo é dura, mas não é uma sentença de morte ou incapacidade para quem tem e para quem convive.
Esses gatilhos acabam nos levando à exaustão física e mental, pois
somos instigadas a fazer o que estiver ao nosso alcance para o bem-estar da cria. É instintivo. Porém, o que precisamos entender é que nós somos o piloto da aeronave e para estarmos bem para conduzir o voo, em caso de turbulência, é necessário pôr a máscara de oxigênio em você primeiro para em seguida colocá-la em seu filho (a). É o cuidado com quem cuida. Até chegar esse entendimento é difícil e desgastante, pois infelizmente muitos casais não se sustentam à pressão e acabam se divorciando.
Certa vez li um artigo de opinião que citava uma pesquisa feita nos
EUA, no Journal of Autism and Developmental Disorders, que comparava o cansaço e nível de estresse de mães de pessoas com autismo comparado a soldados em guerra. Segundo os responsáveis pelo estudo, o efeito a longo prazo sobre a saúde das mães poderia afetar níveis de glicose, funcionamento do sistema imunológico e atividade mental.
Até nisso temos que filtrar muito bem as informações que nos chegam.
Este é um dado relevante, mas não dá para fazer tudo e nem pensar muito, os “se” ficam suspensos, pela nossa saúde mental. Muito tempo e água passaram embaixo da ponte até que pude chegar a pensar em mim, enquanto mãe e mulher, mas até lá ouvi verdadeiros absurdos que todos os dias tentaram me arrastar como âncora; o pior é quando ouvimos das próprias mulheres: “Ah, tá reclamando de quê?, “Você não quis ser mãe, agora aguente!”, “Tá cansada de quê?”, “Muitas queriam estar no seu lugar”, “Hum, saiu, e quem ficou com as crianças?”. Estes comentários são só a ponta do iceberg que enfrentamos por sermos mães e mulheres, uma recomendação: FAÇAM TERAPIA, se puder, claro! Pois, como já dizia Belchior, “a minha alucinação e suportar o dia a dia…”
Tem dias difíceis, chuvosos, cinzentos, mas também tem dias
ensolarados e de arco-íris para continuar. A terapia tem me ajudado muito a me reconhecer, me aceitar e aceitar o outro, conviver com as circunstâncias que não me compete intervir e mudar e tudo bem. Vivo todas as minhas emoções sem culpa e continua tudo bem. Não sou modo mãe/profissional o tempo todo e continuo vivendo, pois “amar e mudar as coisas me interessam mais…”

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