Foto cedida.

Sexualidade feminina: os tabus que atrapalham o prazer

A sexualidade feminina é baseada em preconceito, tabus, crenças e muita censura. Numa sociedade machista/patriarcal as mulheres aprendem desde cedo que sua função é proporcionar prazer, procriar, que precisam ser comportadas, não podem falar abertamente sobre sexo, sobre seu próprio prazer e seus desejos. Nesse sistema que ainda se sustenta, as mulheres foram e, apesar de alguns avanços que decorrem das lutas em busca da igualdade de gênero, continuam sendo educadas dentro de uma estrutura conservadora, numa sociedade que julga mulheres que falam abertamente sobre sexo.

O fato é que toda essa estrutura atinge diretamente a capacidade da mulher sentir e viver o prazer sexual, livre de culpas, medo, insegurança. Dessa forma, acarretando uma série de outros problemas que chegam a interferir na sua qualidade de vida. Algumas mulheres não tem receio de procurar ajuda de um profissional quando sentem que existe algo de errado com sua vida sexual. Porém, existem as que não conseguem e acabam convivendo com alguns transtornos, as vezes até sem ter consciência de que se trata de um problema de saúde.

Quando falamos dos problemas que afetam a vida sexual das mulheres, não há como não evidenciar a questão das disfunções sexuais que muitas vezes são frutos desse tipo de educação pela qual passam as mulheres. A dispareunia (dor durante o ato sexual), ausência de desejo, falta de lubrificação e anorgasmia (ausência do orgasmo) são algumas das reclamações que chegam ao consultório da fisioterapeuta pélvica, Dayse Bezerra.

“Podemos dizer que as disfunções sexuais femininas são condições que afetam a qualidade da vida sexual da mulher, ou seja, condições que afetam o ciclo da resposta sexual. A grande questão aqui é que a maioria das mulheres não compreende essas queixas como um problema de saúde e acredita ser normal conviver com elas. Isso, por sua vez, só agrava o problema, pois elas não procuram tratamento e passam grande parte da vida insatisfeitas sexualmente, podendo desencadear transtornos físicos e até psicológicos”, explica.

Para Dayse, a sexualidade feminina ainda é um tabu e parte das disfunções tem origem na falta de autoconhecimento. “A maioria das mulheres não conhece o assoalho pélvico, tão pouco sabem a sua função e importância e é impossível falar de disfunções sexuais sem falar desse grupo muscular e educação sexual repressora. Nós crescemos ouvindo: ‘tira a mão daí menina!’ ‘Isso é feio!’. Enquanto os meninos são estimulados a adorarem o pênis como um troféu”, diz.

Dayse ressalta que entre as possíveis causas que contribuem para as disfunções sexuais estão: a educação sexual religiosa quando é repressora. “Quem nunca ouviu que masturbação é pecado?”, questiona. A pressão sexual, ou seja, a mulher não sente vontade de transar, mas se vê obrigada a ter relação para agradar o companheiro; condições ginecológicas (quadros inflamatórios e infecciosos); abuso físico (abuso sexual, estupro, toque não consentido, por exemplo) e psicólogo. “Vale frisar aqui a importância de uma avaliação minuciosa do caso de cada paciente, pois não são apenas causas psicológicas que levam as mulheres a desenvolverem disfunções. Tanto existem casos que decorrem da parte psicológica quanto da parte biológica”, explica.

O ponto de partida para resolver o problema, segundo a fisioterapeuta, é a informação aberta e de qualidade. Quanto mais falarmos sobre o assunto, mais mulheres se sentirão acolhidas e buscarão por ajuda. Ela considera indispensável incentivar a mulher a conhecer o próprio corpo.

“Não podemos identificar uma anormalidade se não entendemos o que é normal. Na minha consulta, uma das primeiras perguntas que faço é se a mulher tem costume de olhar a sua vulva no espelho, e muitas relatam que não, e isso independe da idade. Então a minha primeira sessão é toda voltada para a educação em saúde, durante a qual apresento todos os músculos do assoalho pélvico, suas funções, importância sexual, de continência urinária e fecal, e do outro lado da mesa encontro rostinhos maravilhados entendendo o seu corpo muitas vezes pela primeira vez. É incrível vê-las despertando o amor próprio e acreditem, isso interfere e muito no sucesso do tratamento”, revela.

A necessidade das mulheres serem assistidas por profissionais qualificados é mais uma observação importante. De acordo com Dayse não é raro relatos de mulheres que procuraram ajuda e ouviram algo como “você precisa relaxar mais”.

“O tratamento das disfunções sexuais muitas vezes conta com uma equipe multiprofissional de fisioterapeuta pélvico, ginecologista, psicólogo… e cada um exerce um papel de extrema importância no diagnóstico e condução do tratamento. Então, mulher, leia, pesquise em fontes seguras, converse com outras mulheres e faça uma escolha segura quanto aos profissionais que irão te assistir”, orienta.

As disfunções sexuais apresentam sinais e um deles é a dor na relação, podendo ser relatada como uma dor mais superficial ou profunda, conforme explica. “Vou falar uma frase para vocês que deve se tornar um mantra: dor na relação nunca será normal, nunca! Não importa se a dor ‘é só no comecinho’ como eu costumo ouvir no consultório. Nós fazemos sexo para ter prazer, se ele te gera dor, ardência, desconforto, temos aí um sinal de alerta. Procure ajuda!”, explica.

São muitas as dúvidas que norteiam as mulheres sobre seus corpos e seu prazer. Em sua página @simplificando_a_pelve, espaço através do qual Dayse amplia as discussões para além do espaço físico da sua clínica, abordando vários temas relacionados à fisioterapia pélvica e obstétrica, assim como a saúde da mulher em vários aspectos, ela consegue chegar a muitos questionamentos sobre esse universo que é a sexualidade feminina.

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