Racismo linguístico e opressão sofrida

No momento em que li sobre racismo linguístico desvelou-se uma abordagem de diversos aspectos da linguagem social. Pensamos nas relações entre mulheres negras e brancas por que vivemos no cotidiano de nossas vidas inúmeros acontecimentos que vão se naturalizando por meio da linguagem e em suas intersecções.  Como uma noção chave no âmbito do racismo epistêmico, o racismo linguístico nos conduz para além das vivências, mas nos coloca diante de tensões e enfrentamentos diários.

Todos os dias assistimos episódios produzidos e reproduzidos como este do Programa “É de Casa”, exibido no sábado, dia 11/06, que gerou ampla repercussão nas mídias digitais e jornalísticas com análises trazendo a discussão do racismo estrutural. Certamente, temos posições sujeitos entre uma mulher branca para com uma mulher negra. Isso faz reaparecer enunciados já ditos e não ditos numa ordem discursiva. Daí vem a pergunta: por que esse enunciado e não outro em seu lugar? Sem dúvida, mais uma vez, a mídia mostrando a sua influência em naturalizar práticas de racismo e suas variadas faces sistêmicas.

Isso se dá pela linguagem e sua relação entre saber e poder. É o racismo (re)abre em nós as marcas, as dores. E como diz Grada Kilomba “por vezes dói sempre, por vezes infecta e outras vezes sangra”. Isso abrange professores em ascensão social, professores, estudantes e militantes pela promoção da igualdade racial. Será que se a dona Silene fosse branca, teria sido pedido a ela para servir?

Nesse sentido, o racismo na dimensão linguística, abre a compreensão do papel da linguagem e das práticas discursivas. É importante e assume lugar central, pois são nos usos que discriminamos direta ou indiretamente. Vamos validando a construção ou desconstrução de discursividades e enunciados racistas. É por meio da e na língua que o sujeito negro, as mulheres negras encampam uma luta constante e enuncia a resistência, a liberdade e contra a dominação. Essa dominação vem desde o Brasil colônia e se perpetua até os dias de hoje. Como nos diz a filósofa Angela Davis, as mulheres resistentes e desafiando a escravidão o tempo inteiro e a repressão sofrida. Todavia temos atos de resistência, já nos mostra Lélia Gonzalez.

O professor Gabriel Nascimento faz uma contextualização teórica e analítica, defendendo uma perspectiva raciolinguístico. Isso nos fornece as condições históricas, linguísticas e sociais acerca da relação entre raça, discurso e racismo. Evidencia o que é racismo linguístico e os modos como ocorre. Considerando o universo da linguagem, preconceito que se constituem pelas línguas e seus usos.  Para nós mulheres negras, o tema se reatuliza no fardo e luta pela igualdade, pois numa sociedade opressora, a desumanização persiste.

Em síntese, nós mulheres negras também vivenciamos o racismo linguístico. São situações nas quais nossos conhecimentos são postos em dúvidas ou tidos como menos válidos na sociedade. Esse racismo linguístico, portanto, vai normatizando práticas discursivas na vida pessoal e profissional. A fim de que estabeleçamos a necessária articulação entre linguagem, discurso, raça e racismo em nossos processos educativos é evidente que, o trabalho é todo dia. Lutamos (nos indignamos) pela desconstrução de discursos eurocêntricos de base excludente. A luta é todo dia.

Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on whatsapp
WhatsApp
Share on telegram
Telegram