Você tem que agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E você tem que fazer isso o tempo todo. (Angela Davis)
Iniciar com uma citação de Angela Davis é algo simbólico. É deixar registrado que vozes de mulheres, negras, ativistas, devem ser escutadas. Mas não só isso. É revelar que não só mulheres brancas, de classe média, intelectuais, fazem o Feminismo. Ou poderíamos chamar de “Feminismos” (no plural)? Claro que podemos. Podemos tudo. Não só falar, registrar, revelar, vociferar, transformar, radicalizar. Só não gostaríamos de fazer isso o tempo todo, como a Angela Davis assinalou. Sabe por quê? Porque tem horas que cansamos. Aliás, vivemos cansadas de tudo. Somos, muitas vezes, taxadas de “loucas”, de “insanas”, de “malucas”, de “desajustadas”, de “desequilibradas”, de “tantãs”, de “lunáticas”, de “histéricas”, de “destrambelhadas”, entre outros “elogios” similares, simplesmente porque reclamamos, gritamos, afrontamos o que está posto pelo patriarcado e anunciamos o nosso cansaço. E todos esses adjetivos são utilizados em tom pejorativo, com o vil intuito de machucar as nossas almas e desconfigurar a nossa luta por equidade de gênero.
Agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo, como manifestou Angela Davis em sua frase, é o que mais fazemos no cotidiano. Só não somos, na maioria das vezes, legitimadas. Na atual conjuntura socioeconômica e política, muito menos. E é aí que devemos gritar mais, radicalizar, colocar a matraca para funcionar. E aqui estamos, mulheres feministas ₋ de diferentes credos, cores, áreas de atuação, orientação sexual ₋, colocando as nossas bocas no trombone, prontas para conversar, debater, denunciar e protagonizar uma luta que não pára. “Fazer isso o tempo todo”, como enuncia Angela Davis, é o nosso dever como seres humanos, não só de modo individual, em nosso seio familiar, mas de modo coletivo, unindo forças para alcançar um jeito de viver diferente e bom para todas/os/es.
Que sejamos “loucas”; loucas por um mundo melhor. Que sejamos libertárias, ativistas, como a Angela Davis foi. Que sejamos radicais; radicais na força e na coragem de driblar todos os obstáculos que se impõem a nós, mulheres cis, mulheres trans, mulheres negras, mulheres brancas, mulheres indígenas, mulheres cristãs, mulheres de todas as etnias, de todas as idades, de todos os quatro cantos do Universo (sim, podemos lutar por aquelas que vivem em outros planetas, por que não?! Quem sabe elas existam e estão silenciadas, presas, enclausuradas, como muitas de nós estamos, aqui, no Planeta Terra!).