Marleide Cunha – Uma Maria na luta por igualdade social

Por Sayonara Amorim

Uma vida inteira marcada pelo trabalho e pela luta por igualdade social. Uma mulher que aos 13 anos de idade iniciou sua trajetória de trabalhadora como operária em uma fábrica de doces. Sempre estudou em escola pública, mas precisou conciliar os estudos com o tralho e enxergou na educação uma saída para transformar realidades. Maria Marleide da Cunha Matias, mulher, mãe, trabalhadora, potiguar, nordestina, brasileira. Uma Maria que, assim como muitas outras Marias, conhece muito bem os efeitos que a desigualdade social causa na vida dos brasileiros pobres, em especial das mulheres.

Professora e mestre em educação, Marleide adotou como bandeira de luta a defesa dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores. Hoje vereadora de Mossoró pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em seu primeiro mandato, a parlamentar que tem como característica forte a fala incisiva em defesa dos menos favorecidos continua sendo alvo de ataques e tentativas de calar sua fala. “Eu sempre vou ser alvo de violências porque eu não me calo”, revelou Marleide, se referindo aos ataques que sofre e sempre sofreu por denunciar, defender e revelar casos de injustiças e desigualdades contra as trabalhadoras, os trabalhadores e a população menos favorecida.

“Eu sempre vou ser alvo de violências porque eu não me calo…”

Há pouco mais de uma semana, a vereadora Marleide Cunha foi duramente atacada de forma verbal em pleno parlamento por se posicionar contrária a um fato exposto durante a sessão na Câmara de Mossoró. O agressor, um colega vereador, não mediu palavras e, em uma clara demonstração de ódio, a taxou de cadela ao comparar sua fala com latido de um cão. Porém, nem mesmo a gravidade da agressão foi capaz de sensibilizar os demais colegas, com exceção de um casal de vereadores que se manifestou para defender a mulher política que estava, tão somente, exercendo o seu direito de expressão.

Marleide relata, durante entrevista para a revista Matracas, que os ataques contra ela fazem parte de sua trajetória. “Quando adolescente eu não pude participar dos movimentos estudantis, porque precisei trabalhar, mas sempre me engajei nas lutas sindicais porque eu sabia que precisava lutar para garantir meus direitos de trabalhadora e de toda a categoria. Portanto, desde que comecei como integrante dos sindicatos, sofro ataques porque sempre enxerguei as injustiças e nunca me conformei com elas”, declarou.

“Quando adolescente eu não pude participar dos movimentos estudantis, porque precisei trabalhar…”

“PERSONA NON GRATA”

Persona non grata é uma expressão em língua latina cujo significado literal é “pessoa não agradável”, “não querida” ou “não bem-vinda”. De todas as violências sofridas até então, receber esse título foi marcante para Marleide. O fato aconteceu no ano de 2019, durante uma luta dos trabalhadores da educação. Na época, Marleide era também a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação. O título de “Persona non grata” foi concedido pelos vereadores de Mossoró.

Foi exatamente nesse período que, apoiada por seu companheiro (in memoriam), Marleide tomou a decisão de se candidatar à vereadora. “Eu não me conformei com aquele título e me perguntava o tempo todo: meu Deus o que eu fiz de tão grave para receber essa denominação? Enfrentei a campanha, venci e quando me tornei vereadora a Câmara teve que retirar esse título que havia sido atribuído a mim. Eu não me conformei, porque sabia que não havia feito nada de ruim para merecer ser chamada de persona non grata. Felizmente esse título foi retirado e eu continuo lutando por dias melhores, por igualdade, pela não violência, por políticas públicas e por respeito”, declarou.

“Eu não me conformei, porque sabia que não havia feito nada de ruim para merecer ser chamada de persona non grata…”

REPRESENTATIVIDADE FEMININA

Em 1995 foi criada uma legislação específica que prevê cotas eleitorais: a Lei 9.100, que estabeleceu normas para a realização das eleições municipais de outubro de 1996, dispondo sobre a reserva do percentual mínimo de vinte por cento (20%) das vagas para candidaturas de mulheres. Para a vereadora Marleide, a criação da lei é importante no sentido de que antes não existia nada, porém, ainda não conseguiu atingir o propósito e parece distante de grandes mudanças nesse cenário.

“A gente considera importante porque antes não existia nada…”

No contexto local, por exemplo, a política continua sendo um espaço de dominação masculina e isso tem consequências diretas na institucionalização da democracia representativa.

Marleide identifica esse problema com muita preocupação. Segundo ela, a falta de representatividade das mulheres no Legislativo em Mossoró, por exemplo, é sentida no debate público em torno de questões que envolvem a mulher, de projetos que muitas vezes não são considerados pela bancada masculina como importante e acaba havendo uma resistência na aprovação desses projetos. Uma realidade que chega a outras esferas de poder.

Ela acrescenta que as mulheres ainda têm dificuldade de se inserirem nesses espaços e isso se deve, também, à exclusão histórica das mulheres na política e que, embora venha progredindo essa participação, ainda está longe do desejado e do que é preciso.

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