Aqui está quem, mesmo intocado e quieto, mesmo tão forte para fazer-se e desfazer-se
mensalmente, não tem um segundo de paz social.
É um tal de “- Não precisa mais dele… só é útil para gerar filhos”; ou também: “- Ah, que saco!
Lá vem esse inchaço indesejado! QUERIA TER NASCIDO HOMEM”; ou ainda: “- Tá perdendo a
validade, hein? Quando vai resolver ter um filho? O tempo corre!!!”
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhh! Dá pra ter respeito, por favor? Paciência tem limite.
Saiba você que, além de ser uma cavidade fecunda, mantenedora da vida, eu também tenho
sentimentos. Ou melhor: recebo o impacto direto deles. Não é legal ‘ouvir’ essas coisas.
Também não é legal ser maltratado. Fossem apenas as opiniões externas… Mas não são: falta
cuidado, sobram comportamentos agressivos, medicamentos e materiais tóxicos, descaso
continuado. Se é verdade que sou frágil, então cuidem de mim!
Tô falando assim, cheio de exclamações porque estou exausto; de verdade. Se algo não está
bom, se a alimentação não foi adequada, se há um embuste escroto na área, logo tenho que
suportar carregar aquele sangue todo sem conseguir descamar. Daqui a pouco eu mesmo crio
um mioma e nem percebo! Meu papo reto é para que parem de me diminuir. Parem de querer
me programar como a um computador. Apenas parem.
Sou força viva. De pequeno viro gigante, nutro, sustento, cocrio. O chakra do ventre é vital
para manter a sua alegria e energia; sou – jovem ou velho – essencial para você.
Meu manifesto é para que cuide de mim. Para que honre meus portais de vida; para que,
cuidando de mim, você conheça (e não esqueça) o seu valor.
Meu grito é para que grite, sempre que quiser. Para que saiba-se leoa, rainha de si e do seu
poder. É para que não me maltrate, e nem se perca.
Meu canto disfarçado de texto é para que dance. E dançando renasça. E renascendo, leve a
cura para outros ventres. E diga-lhes desde cedo: Você tem valor. Sacrário vivo, microuniverso,
vida em sua forma mais pura, plante e replante amor. A começar em si.
Com amor e coragem,
Seu útero.
Para ouvir: A começar em mim – Vocal Livre
Obs: Performance “Pater, Patrimônio Abandonado” de Magui Kampf, 2019. Registro fotográfico de Melissa Braga.