Enegrecer a leitura antirracista à luz de Sueli Carneiro

Filósofa, Doutora em Educação, fundadora da Organização Geledés – Instituto da Mulher Negra, Sueli Carneiro é uma das nossas principais  referências na luta e nos estudos das humanidades. É uma escritora e intelectual negra extremamente comprometida com a transformação social. Possui uma marcante história de militância e organização das mulheres negras, especialmente no combate à violência racista. Sendo um dos maiores nomes do movimento negro do Brasil.
Ao lermos diversos de seus textos sobre trajetória e militância, conhecemos essa importante pensadora no nosso tempo, sobretudo no que diz respeito à questão de enegrecer o feminismo cuja centralidade do debate coloca as especificidades das mulheres negras brasileiras e a construção de políticas públicas visando a superação das desigualdades.
Foi na leitura de seus escritos que conhecemos uma imensa  e importante produção com olhar para a valorização e o potencial do  lugar das mulheres negras, especialmente acerca de enegrecer o feminismo, texto no qual apresenta forte debate “Enegrecendo o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero”, a fim de romper o privilégio da branquitude que ainda se perpetua no ser mulher na sociedade.
Parafraseando Carneiro, qual o sentido dessa luta? É alcançarmos a igualdade de direitos de sermos mulheres sem sermos somente isso. De sermos mulheres negras sem sermos somente mulheres negras. É termos oportunidades e possibilidades  para além de gênero e raça. É sermos humanos em nossa plenitude.
Nesse contexto,  é impossível falar em leitura feminista e antirracista sem nos inspirarmos em Sueli Carneiro, no entendimento do contexto histórico, discursivo e social que nos atravessa enquanto mulheres negras numa sociedade machista, racista e homofóbica. Assim, diante de muitas inquietações, lermos Sueli, como uma filósofa de escrita insurgente, é entender que “(…) ser uma mulher negra é experimentar essa condição de asfixia social”.
Nesse sentido, deslocamos a expressão
“enegrecer o feminismo” para apontar possibilidades e circulação de uma prática discursiva de leitura enegrecida, no sentido de tornar visível a intersecção fundamental da leitura antirracista e tratamento da questão de raça e gênero, a fim da luta pela eliminação do preconceito e diversas formas de discriminação, assim como do epistemicídio. Ou seja, as práticas que nos negam a condição de conhecedoras, produtoras de ciência e cultura,  como nos assevera Carneiro.
Por fim, refletimos sobre enegrecer a prática discursiva de leitura a partir de pensarmos a luta antirracista empreendida por Sueli Carneiro, dando visibilidade às mulheres negras na identidade que as constitui.
Pensarmos em aproximar o enegrecer desta pensadora ao trabalho da leitura como uma prática discursiva, em ambientes escolares e não escolares, é fundamental no debate entre antirracismo, antisistema opressor e linguagem porque significa ampliar as possibilidades e alternativas para além de modelos que privilegiam os racialmente hegemônicos frutos do racismo. Portanto, o enegrecer passa pelas nossas relações entre brancos e negros em busca da pluralidade e diversidade.
É pensarmos modos de subjetividade e resistência. É buscarmos combater o racismo na produção do conhecimento. Por conseguinte, problematizarmos: quantos autoras e autores enaltecem a memória e história de homens e mulheres negras? Quantos autores/as negros/as já lemos? Quantos livros desse autores/as já buscou conhecer ? As mulheres negras são as mais invisibilizadas no sistema racista e patriarcal. Por isso, enegrecer a leitura é um ato de amor, é um ato político. Nessa luta, resistiremos com ousadia na valorização da negritude. Viva Sueli Carneiro, inspiração e passos que vêm de longe. Gratidão!
Para pensar:
“O racismo é um sistema de dominação, exploração e exclusão que exige a resistência sistemática dos grupos por ele oprimidos, e a organização política é essencial para esse enfrentamento”.
(Sueli Carneiro)
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