Estamos nos aproximando da retomada de mais um ano letivo, momento instigante, de expectativas e também de desafios tanto para nós professores quanto para nossos alunos. Novas perspectivas, novos docentes, mudanças, recomeços. Quem nunca quando criança não aguardou ansiosamente o primeiro dia de aula, rever os colegas, conhecer os novos, começar a usar livros e cadernos? Tudo novo, mesmo que seja em um ambiente já conhecido.
Mas, e as nossas crianças autistas? Já pararam para pensar como eles veem esse “novo”? Eu diria assustador. Indivíduos no espectro são apegados à rotina e previsibilidade, coisa que em um primeiro dia de aula é quase impossível termos controle de algumas situações. A literatura diz que o cérebro autista reage de maneira diferente às pessoas neurotípicas, gosto sempre de fazer analogia a um programa de computador. Por exemplo: o pacote office, da Microsoft, vem com diversos dispositivos que utilizamos no dia a dia, como: Word, Excel, Power Point. Já o sistema Linux é um software livre, distribuído gratuitamente, porém pouco acessado pela maioria das pessoas por diversas situações. Ou seja, os exemplos dos dispositivos são para externar que ambos têm diferenças, basta empenho e estudo para que consigamos operacionalizá-los bem. Assim é o cérebro autista, realmente age de maneira diferente.
Os autistas têm um processo sensorial diferente quanto às sensações que chegam ao cérebro, sendo divididos em 7 sentidos: visual, olfativo, tátil, gustativo, auditivo, proprioceptivo e vestibular. Você pode estar estranhando esses dois últimos! Eu também não os conhecia até começar a estudar e entender a perfeita conexão entre eles. Muitas pessoas no espectro têm Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), que é quando muitos desses sentidos funcionam de maneira desordenada; podendo apresentar hipo (baixa) ou hiper (alta) sensibilidade. De todos eles talvez os mais disseminados sejam os auditivos e gustativos, os dois quando são hiper trazem enormes prejuízos a própria pessoa e aos familiares, pioram muito a qualidade de vida. Barulhos intempestivos como sirenes, buzinas e fogos de artifício podem causar muito sofrimento acarretando até crises autolesivas. O gustativo também é um grande problema pois pode trazer seletividade alimentar ocasionando deficiência de algumas vitaminas, causando prejuízos nutricionais.
Voltando ao ambiente escolar, explicarei sobre o proprioceptivo e vestibular, talvez desconhecidos para a grande maioria. O primeiro é a capacidade de localização do corpo no espaço, por exemplo: o professor tem um aluno que é um pouco descoordenado, não tem noção de força para sentar em uma carteira, abraçar… já no segundo sentido, o aluno tem verdadeira aversão a tudo que o coloque em movimentos bruscos e abruptos, como: subir ou descer em brinquedos do parquinho, pular, girar, etc.
Após um breve apanhado para entendimento do quanto é complexo e rico um ambiente escolar, aí vão algumas dicas valorosas para que você dessensibilize o retorno do seu filho à escola.
- Faça dele ator principal no processo: dependendo da situação e estudando a possibilidade, leve-o para escolher alguns itens do material escolar. Ele se sentirá importante!
- Leve-o à escola antes do início das aulas, faça-o ver as pessoas que lá trabalham, se possível mostre foto e nome da nova professora, mostre a nova sala de aula;
- Mostre o fardamento, vista-o, faça o percurso alguns dias para dar previsibilidade;
- Faça um novo quadro de rotina em casa bem estruturado mostrando as mudanças;
- Prepare-se para repetir várias e várias vezes a mesma coisa e também responder diversas vezes as mesmas perguntas. Paciência é a alma do negócio;
- Esta última é especialmente para você, pai, mãe ou responsável: algumas vezes as coisas parecem não estar sob nosso controle (e nem sempre estão), mas acredite no processo, ele acontecerá da melhor maneira possível. Acredite em seu filho (a) e em você!
A transformação será linda!
Bom ano letivo a todos (as)!