Foto: TV Globo

Natália Deodato, BBB e o racismo estrutural: sobre o auto ódio da negritude e a falta de consciência racial

Texto de Luane Fernandes.

No Big Brother Brasil, um reality show de grande alcance nacional – e até internacional – uma das participantes, Natália Deodato, é uma mulher negra que já teve até vídeo íntimo exposto em menos de uma semana de programa. Talvez, mais um dos sintomas do que é ser uma mulher negra nesse país. Foram mais de 300 anos de escravidão que deixaram marcas incuráveis na negritude brasileira e são poucos os brasileiros racializados que foram educados para compreender essas questões.

Natália Deodato teve falas bastante equivocadas no programa, e, sem dúvidas, a sua falta de consciência racial foi um dos principais motivos que a levou a ser uma das escolhidas para ganhar o prêmio. A participante disse que não concorda com o dia da consciência negra e ainda buscou motivos para justificar a escravidão. Longe de mim defendê-la, mas não é o caminho certo apontarmos o dedo para a participante, se vivemos em um país estruturalmente racista, que jamais educou a sua população sobre racismo. Afinal, foi nessa mesma semana de equívocos de Deodato que a Folha publicou uma matéria afirmando a existência do racismo reverso.

Como falar de consciência racial em um país que só aborda esse assunto no dia 20 de novembro? Como cobrar de uma mulher negra de pele escura e cabelos crespos, que obviamente sofreu racismo durante a sua trajetória de vida, que ela adquira consciência racial e ame a sua negritude? Como cobrar isso, em um país que estuprou as suas mulheres negras, em busca de embranquecer a população e as ensinou o lugar de outra, de servidão e subalternização?

O lugar de doméstica, no Brasil, é ocupado majoritariamente por mulheres negras. Isso é uma herança escravocrata e colonial, pois eram as mulheres negras que cuidavam da casa, dos filhos da branquitude e ainda eram estupradas pelos senhores da casa branca. No ensino básico brasileiro, a colonização é legitimada, somos ensinados a partir do olhar do colonizador, que “descobriu” o nosso país. Na tv aberta brasileira, as mulheres negras são expostas seminuas no carnaval, como um produto de exportação.

Diante disso, sabemos que amar a negritude não é uma tarefa fácil, principalmente em um país que discute a existência do racismo reverso, e não sobre consciência racial. Segundo bell hooks: “Em um contexto supremacista branco, ‘amar a negritude’, raramente é uma postura política refletida no dia a dia. Quando é mencionada, é tratada como suspeita, perigosa e ameaçadora.”

Que passemos a nos olhar com mais amor, pois amar a negritude é um ato de revolução! E que possamos ter uma educação cada vez mais transgressora, pois é ela que irá nos ajudar a descolonizar nossas mentes, corpos e olhares.

“Amar a negritude” é esse ato de descolonizar e romper com o pensamento supremacista branco que insinua que somos inferiores, inadequados, marcados pela vitimização”. (HOOKS, 2019).

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