Lançada em 1 de outubro desse ano, Maid superou a marca de O Gambito da Rainha e tornou-se a minissérie mais vista da Netflix até o momento. Para além de números e audiência, trata-se de uma história indispensável para todos. Inspirada no livro autobiográfico de Stephanie Land (Superação: trabalho duro, salário baixo e o dever de uma mãe solo) a série nos apresenta Alex, interpretada pela jovem e promissora atriz Margaret Qualley, uma mulher que trabalha como faxineira para pagar suas contas e sustentar a filha Maddy.
A jovem mãe solo lida diariamente com problemas financeiros e familiares, um relacionamento abusivo com o pai de Maddy e demonstra, apesar de tudo, um desejo latente por desenvolver sua escrita como maneira não só de produzir arte, mas de enfrentar os próprios demônios. Embora tenhamos uma história ambientada nos Estados Unidos, a semelhança com a vida das mulheres brasileiras é escandalosa, ao ponto de ter conquistado o público do nosso país e ter alcançado por semanas o top 10 na Netflix.
Maid mostra as diversas camadas e ciclos da violência doméstica que vemos ser perpetuada por séculos de uma maneira que é quase impossível não sofrer junto com Alex todas as suas dores. Torcemos por ela, nos enxergamos nas situações pelas quais ela passa e entendemos suas falhas e quedas. Durante os 10 episódios da minissérie, experimentamos viver um pouco do drama pessoal de uma mulher que poderia muito bem ser alguém próximo de nós e enxergamos como a violência pode aparecer sob as mais diversas facetas.
É incrível e doloroso acompanhar a jornada de crescimento e libertação de Alex, e uma das frases que mais ficou na minha cabeça após terminar a série é quando a protagnista, em certo momento, fala sobre o ex-companheiro: “quero que ele veja que eu não tenho mais medo dele”. A série aborda de maneira incisiva a violência doméstica psicológica, tão nociva e ao mesmo tempo difícil de ser provada nos tribunais ou mesmo fora deles, uma realidade que, infelizmente, sabemos não estar assim tão longe de nós.
É uma forma de violência doméstica muito comum, mas que infelizmente tem pouca visibilidade. Para se ter uma ideia, somente em 2021 foi sancionada a lei que incluiu no Código Penal o crime de violência psicológica contra mulher: A Lei nº 14.188, de 29 de julho de 2021, que adiciona o artigo 147–B ao Código Penal.
Maid conta com um roteiro esplêndido, uma direção certeira e um elenco que rende atuações magníficas, sendo, talvez, uma das melhores produções da Netflix nesse ano. A mensagem, para mim, é clara: mulheres são muito mais do que um dia os homens disseram que elas poderiam ser.
¹SILVA, Mateus Rocha da. Maid: minissérie da Netflix supera audiência de O Gambito da Rainha. Techmundo, 2021. Disponível em: <https://www.tecmundo.com.br/minha-serie/227265-maid-minisserie-netflix-supera-audiencia-gambito-da-rainha.htm>. Acesso em 9 de dez. de 2021.
²BRASIL. Lei 14188 de 29 de julho de 2021, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14188.htm>. Acesso em 13 de dez. de 2021.