Caminhamos para 2022 como soldados que retornam de uma guerra. Aterrorizados pela destruição, gratos por estar vivos e sem entender muito bem como agir no futuro. Embora não tenhamos travado uma luta bélica, envolvendo as forças armadas, vivemos, nos dois últimos anos, os sentimentos de quem é arremessado num campo de batalhas. Dias e dias com medo da morte, sem saber quem seria a próxima vítima da Covid-19 e com a possibilidade de sermos também abatidos por ela.
Bateu muitas vezes o desespero diante de tantas imagens de caixões, famílias chorando a perda de uma, duas, três ou mais pessoas queridas. Sem mesmo ter o tempo da despedida, massacramos o luto, o adeus foi chorado em poucos minutos, dali da calçada ao ver passar um dos seus entes no ataúde lacrado e até ensacado.
A demora na chegada da vacina, a descrença nela e a aplicação lenta minava a esperança, enquanto o número de óbitos crescia. Entre janeiro e maio de 2021, tivemos mais mortes que o ano de 2020 inteiro e não parou: já ultrapassamos as 619 mil e quase todos os dias perdemos guerreiros. Apesar de se pensar em recomeço no Brasil, pais, filhos, mães, avós, tios, amigos de alguém não terão essa chance. Voltaram as confraternizações e, em muitos lares, um lugar ou até mais à mesa está vazio.
Além dessa doença devastadora, fomos também acometidos pela fome, mais de 19 milhões de brasileiros fazem uma refeição por dia, os dados são da Rede Pessan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), no inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da Pandemia de Covid no Brasil, realizada em dezembro de 2020. “Do total de 211,7 milhões de brasileiros(as), 116,8 milhões conviviam com algum grau de insegurança alimentar e, destes, 43,4 milhões não tinham alimentos suficientes e 19 milhões de brasileiros (as) enfrentavam a fome”, diz o relatório.
A situação não mudou muito, após um ano, ainda continuamos com 12,1% de taxa de desemprego no país, segundo o IBGE, e tendo que lidar com uma inflação estimada pelo Banco Central em 10%. Situação que onera os preços da cesta básica, aluguel, gás, água e luz, itens essenciais de sobrevivência.
Um campo de batalha resiliente agora também devastado por água. A Bahia, maior estado da região Nordeste está embaixo d’água e tem mais de 400 mil pessoas afetadas com as enchentes e 21 mortos, cidades inteiras foram atingidas pela destruição que pode parecer natural, mas que sabemos é resultado da destruição da natureza pela mão e consciência humana.
Não bastasse o estado de tragédia constante, não temos um líder, temos um figurante a presidente ocupando a cadeira de quem poderia ter agido como o cargo exige. Na contramão do que se espera, suas ações, todas, foram fortalecedoras do caos que nos assola.
Caro leitor, não fique chateado com o pesar destas poucas linhas, não sei por qual das citadas acima, foi você atingido, mas se está aqui lendo é porque é um sobrevivente e como não temos outra escolha a não ser nos agarrar à esperança, Feliz 2022.