AUTISMO E O MITO DA MÃE GUERREIRA

Estamos no mês dedicado às mães. Tudo e tod@s voltados a homenageá-las em suas diversas versões que hoje se configuram na sociedade: mãe solo, avó que é mãe, quem gestou, quem adotou, quem teve parto normal, quem teve cesariana, mãe de um ou de vários, quem amamentou ou deu fórmula; quem teve companheiro (a) no processo, quem voltou a trabalhar ou quem ficou em casa, quem ainda está na expectativa, quem está aprendendo a lidar com o novo corpo, para aquelas que desafiam padrões, a que se despediu do filho cedo demais, para as mães que já se foram… inúmeros contextos com a unidade de uma coisa comum, o amor pela cria.

O destaque de hoje fica com uma que não citei acima, a mãe atípica, nomenclatura utilizada para mães de filhos com alguma deficiência. Hoje as necessidades dessas genitoras e suas famílias é enorme, falaremos um pouco sobre a desmistificação de um falso elogio que ouvimos comumente, o da “mãe guerreira”. Muitas vezes a pessoa que o fala não consegue compreender a dimensão desse termo, colocando a mulher em um papel de super-heroína, inatingível, como se esta não fosse como qualquer outra que cuida de seus filhos e tem uma jornada exaustiva.

Algumas vezes, por conta de inúmeras atribuições (que nunca daremos conta), nos toma um sentimento de frustração, culpa e exaustão por um trabalho que é diário e ininterrupto e a irritação e o choro vêm externalizados em máxima potência. Rejeito esse tipo de nomenclatura pois não creio ser eu (ou as mães que estão neste patamar também) redentoras de algo que não está ao nosso alcance. O que queremos é que propósitos maiores, como as políticas públicas, também apoiem as genitoras e suas famílias na missão que é lidar com as consequências da deficiência de nossos filhos. A missão de toda sociedade é subsidiar e direcionar aplicando práticas já existentes em lei, o processo de inclusão não é só aceitar, requer conhecimento, sensibilização e, principalmente, acolhimento.

Enquanto permearmos esse estereótipo da “mãe guerreira” estaremos adoecendo tantas mulheres que se desdobram para suprir inúmeros papéis, muitas vezes sem rede de apoio nem mesmo para autocuidado e lazer, considerados elementos básicos que todo ser humano deveria ter. O estado de alerta é tanto que já ouvi relatos comoventes de mães solo que não conseguem se ausentar nem mesmo para comprar um pão na padaria da esquina, ou até o sono não era dado completo por ter que conter inúmeras crises convulsivas e de insônia. As consequências desses fatores a longo prazo são devastadoras: crises de pânico, ansiedade e depressão são apenas os mais comuns acometimentos de um cuidador, a sobrecarga é intensa, portanto, não há nada de “guerreiro=forte” nisso.

O mito da mãe especial escolhida por Deus, sem dúvida, é o que mais dói. Tenho certeza que Ele tem muitos propósitos em nossas vidas, mas não coaduno com a ideia de que sofrimento, pesar e adoecimento sejam dados pelo Criador. Acredito em espiritualidade permeada de amor, compaixão, perdão, merecimento. Justificar e romantizar as deficiências e seus cuidadores tira o foco do que de fato importa: inclusão e equidade.

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