“Que nada nos defina, que nada nos sujeite.
Que a liberdade seja a nossa própria substância,
já que viver é ser livre.”
(Simone de Beauvoir)
Cada mulher, com útero ou não, deveria se juntar às outras mulheres para aprender que todas podem dizer “não” ao patriarcado; além disso, deveria tentar compreender que o tempo da alma é Kairós e que o senhor do relógio é Chronos e que ninguém tem o controle de nenhum deles.
Toda mulher deveria se autoanalisar e perceber que o poder é dela; que o útero é uma benção; que a força é a sua aliada, mas que esta não deve escravizá-la.
Toda mulher deveria ressignificar alguns sintomas ao observar o próprio corpo, ao revisitar as suas vivências, ao encarar, frente a frente, a vida.
Toda mulher deveria reinventar o seu existir ao escutar a voz interior, ao sentir o coração, cheio de amor, que bate em seu peito…
Toda mulher deveria reavaliar as suas feridas, olhando com carinho para as suas cicatrizes…
Toda mulher deveria ver beleza em cada história que viveu e em todas as formas de resiliência que conseguiu fazer acontecer.
Toda mulher deveria enxergar a sua própria potência; sentir os abraços sinceros de outras mulheres; moldar o seu olhar com carinho, cuidado e amor para consigo e para com outras mulheres.
Toda mulher deveria cuidar do feminino que pulsa dentro de si; apurar a força Yang e a força Yin que se complementam sem dar nós.
Toda mulher, cada uma, com a sua presença feminina, deveria se afirmar como pessoa, mostrando os seus poderes e a sua própria dignidade ao mundo.
Toda mulher deveria se conectar com os quatro elementos da natureza – Terra, Fogo, Água e Ar -, os quais se revelam presentes e vivos, dentro e fora, na vida dela e de todas as mulheres.
Toda mulher deveria dançar, cantar, rezar, chorar, de maneira intensa, forte, sem medo de julgamentos, desatando os nós que nos prenderam às crenças limitantes, impostas socialmente.
Todas nós, mulheres do Leste, do Oeste, do Sul e do Norte, nos fazemos retalhos para formar uma colcha linda chamada “feminino”. Em nome desse feminino, deveríamos, sempre, balançar os chocalhos para saldar a deusa Afrodite e as demais deusas que habitam em cada uma de nós, regendo as nossas histórias.
Todas nós, mulheres, devemos aprender a respirar, a dançar, a escutar, a sensualizar…a se embelezar diante do patriarcado, que tenta nos paralisar.
Todas nós, mulheres, deveríamos seguir criando vínculos, acolhendo com o olhar, abraçando com carinho as outras mulheres que carregam dores e sabores de uma vida.
Desejo que, cada uma de nós, mulheres, tenha a força do feminino habitando dentro do coração, fazendo morada constante; que nunca nos afastemos, uma das outras; que sempre possamos desaguar em nossa própria foz!